Mais uma vez a confreira Raquel Santos compartilha suas impressões conosco sobre a última reunião da confraria Saca Rolha. Desta feita um clássico da modernidade espanhola, um vinho único na região, uma deliciosa vertical do Mas la Plana. vejam o que ela tem a nos dizer:
“Quem gosta de vinhos, gosta de falar sobre eles. Uma hora ou outra vai querer comparar aquela garrafa que conheceu e gostou, com as experiências de outras pessoas. Esse desejo de partilhar sensações, nos leva a uma eterna busca: “ O vinho essencial “. Aquele que nos transporta a um mundo de experiências agradáveis que tivemos ou ainda queremos ter.
Nas degustações que chamamos de “ verticais “, essa prática pode ser estabelecida comparando o mesmo vinho, produzido em anos diferentes. Ou seja, podemos observar com o passar dos anos, sua maturidade, o potencial de evolução, através da cor, aromas e sabores. No último encontro da Confraria Saca Rolhas, tivemos a oportunidade de conhecer quatro safras do mítico vinho espanhol MAS LA PLANA.
Foi o 1º vinho espanhol moderno que ganhou destaque mundial. Miguel Torres, seu criador, movido por seu espírito inovador, produz um vinho na região do Penedés/ Catalunya – terra dos Cavas – elaborado exclusivamente com a uva Cabernet Sauvignon – terra dos Tempranillos . Em 1979, foi eleito o melhor vinho desta casta na Olimpíada Gaut Millau de Paris, à frente do Chateau La Tour, ambos de 1970. A família Torres produz vinhos desde 1870 na região da Catalunya, mas sua inquietude fez com que estendesse seus domínios ao Chile, EUA e mais recentemente à China.
Todo vinho tem um apogeu, um momento que nunca se sabe quando acontece, a partir do qual traçam uma curva descendente. O tempo de vida de um vinho varia de acordo com a sua qualidade, isto é, vinhos de boa qualidade tendem a ser mais longevos. Daí, a necessidade de prová-los em anos diferentes. As safras degustadas foram: 1996, 1999, 2005, 2007 e a primeira dúvida que tive foi: Qual a ordem da sequência da degustação? Do mais novo para o mais antigo ou o contrário? Decidimos começar pelo mais antigo, já que o mais jovem normalmente tem mais frescor, uma cor vermelha mais vibrante , os taninos mais ásperos, que com o tempo ficam mais macios. Também tendem a serem mais frutados tanto no nariz quanto na boca. Com o tempo seus componentes vão se integrando, tornam-se mais intensos e aprimoram toda a gama de aromas e sabores. Optamos por começar pelo mais antigo que provavelmente seria o mais “ domado “ entre eles.
Mas La Plana 1996
Na taça já se podia ver sua evolução pela cor rubi bem escuro com halo alaranjado. Aromas potentes de frutas negras compotadas e madeira bem integrada. Na boca confirma a presença de frutas com bom corpo, boa acidez e taninos presentes bem finos. Muito elegante e apesar dos seus 17 anos ainda demonstrou capacidade de evolução na taça.
Mas la Plana 1999
Aqui já pudemos ter a perfeita noção do que seria a diferença entre as safras. De cor mais vibrante e aromas um pouco fechados de início, mas que dado o seu devido tempo, revelou-se com muito frescor. Além de frutas, podia-se notar algumas flores e madeira perfumada. Na boca, mostrou bom extrato, além de taninos e acidez presentes, muito bem equilibrados. Notamos que continha a maior graduação alcoólica entre eles(14,7º), porém estava bem integrado e não chegou a interferir. Foi o que mais evoluiu na taça! Com final longo e ( confesso ) deu vontade de parar por aqui mesmo!
Mas La Plana 2005
Sua cor não era muito diferente do anterior (1999). Porém, os aromas apareceram com mais desembaraço. Notei também uma presença mais acentuada de álcool (14º) , que talvez por essa razão, fez com que parecesse algo mais vibrante, mais jovial, porém com muito equilíbrio. Deixou a sensação de que essa safra será igual ao 1999, daqui a seis anos. Um irmão mais novo, mas irmãos podem ser parecidos, nunca iguais!
Mas La Plana 2007.
Apresentou as mesmas características de equilíbrio e elegância notadas anteriormente. Aromas que vão se abrindo pouco a pouco, revelando ótima integração entre madeira e frutas. Taninos finíssimos, porém presentes que vão amaciando cada vez mais com a evolução na taça. Acidez que pede comida.
Este exercício comparativo entre esses quatro exemplares do MAS LA PLANA me fez pensar em várias coisas:
- Uma das qualidades de um vinho é quando identificamos nele uma personalidade, que se mantém, independente das alterações climáticas e a maturação do tempo, senti isso aqui.
- O que os espanhóis chamam de “ crianza “ ou seja “ criação “, está diretamente ligado ao tempo de maturação de um vinho, que quando somados à qualidade da vinha, ao terroir e à mão do seu criador, percebemos suas características e seu potencial de evolução.
- Outra coisa, que chamou a atenção de todos, foi o teor alcoólico, que tende a aumentar cada vez mais com o passar dos anos em função do aumento de temperatura no mundo. As mudanças climáticas estão na nossa taça também!
- E finalmente, que o homem é o elemento mais importante na criação de um vinho. A partir de um desejo, talvez de perpetuar sua passagem pela Terra, movido pela criatividade, e utilizando todas as ferramentas que dispõe para criar algo que se assemelhe o máximo com ele mesmo.”
Valeu Raquel e agora meu comentário pessoal: o 99 está divino e o 2005 segue o mesmo caminho, me encantei com os dois e assino embaixo, dois grandes vinhos! Salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.