Faz já mais de uma semana que vinha ensaiando este post com minhas impressões sobre esse saboroso encontro que tive a convite dos amigos Juan e Javier da Peninsula, importador exclusivo desta conceituado produtor da Ribera Del Duero. Sim, este é mais um post sobre vinhos de Espanha, vinhos que quem não conhece deve colocar em seu wish list.
Falemos no entanto da Ville du Vin, uma das mais importantes redes multimarcas especializadas na venda de vinhos finos com diversas lojas em São Paulo e em Vitória. Recentemente estive em sua bonita loja do novo shopping Vila Olimpia, no bairro do mesmo nome na zona Oeste de Sampa, mas foi na sede da Vila Nova Conceição, onde também existe um bistrô, que a degustação foi realizada. O lugar é muito aconchegante e repleto de bons vinhos e muita diversidade, alguns deles verdadeiras preciosidades. Preços bons, ótimas promoções, um lugar que vale a pena visitar. Fica na Diogo Jácome 361, tel. 3045.8137.
Bem, mas vamos ao que realmente nos interessa, la bodega y los vinos! Considerando-se de onde vem, uma bodega infante nascida em 1992 em La Horra, vilarejo próximo a Burgos no centro da Ribera a cerca de 840 mts de altitude, zona muito fria. Projeto novo, porém de família vinheteira de ligações com a terra desde os anos 50. Com 57 hectares dos quais somente 47 ativos onde se plantam a Tempranillo conjuntamente com Cabernet-sauvignon e Merlot (três das seis cepas autorizadas pela denominação), produção orgânica (ainda não certificada) e uso de leveduras naturais, produz cerca de, apenas 300.000 garrafas ano com um total de 8 pessoas que acompanham as fases da lua no processo produtivo, seguindo importantes parâmetros da biodinâmica também. Operação enxuta que visa qualidade acima de tudo. Quem provar estes vinhos sentirá isso no palato! Provamos quatro de seus seis rótulos, um melhor que o outro, mas desde o “mais simples”, vinhos de grande qualidade e personalidade e claramente diferentes entre si. Digo isto, porque não é tão incomum assim provar diversos vinhos de um mesmo produtor e não conseguir sentir a diferença entre os produtos, numa forma meio padronizada de ser!
Viña Sastre Roble 2008, passa 10 meses em barricas de segundo uso e é elaborado com 100% Tempranillo colhido de vinhedos com idade entre 17 e 30 anos. Surpreendentemente macio e de taninos finos já equacionados, muito saboroso, equilibrado, boa persistência, um vinho difícil de não agradar que tem sido muito elogiado em um dos restaurantes em que o coloquei na carta. Ótima opção de gama de entrada com boa relação custo x prazer, estando no mercado por volta dos R$80,00.
Viña Sastre Crianza 2004, de uma grande safra na região, em podendo é vinho para se comprar de caixa e uma das melhores opções de crianza no mercado, passando 14 meses em barricas novas de carvalho francês . É de lamber os beiços, mas falemos dele. Não é um degrau acima do roble, é uma escadaria e olha que o roble já é muito bom! Produzido com uvas de vinhedos entre 20 e 60 anos de idade, mostra-se muito complexo tanto no nariz como na boca numa harmonia digna de elogios. No palato uma riqueza de sabores ímpar, boa textura e volume de boca, fruta madura, terroso, taninos aveludados de grande qualidade ainda presentes dando-lhe estrutura, boa acidez e um final longo com toques minerais que pede bis. Outros melhores estariam por vir, mas este fez a minha cabeça e me seduziu. Para quem gosta de pontuação, este está no Guia Penin com 91 pontos e custa ao redor de R$130 no mercado, valendo cada tostão! Difícil encontrar outro crianza por esse preço que gere este nível de prazer, pelo menos dos que eu já provei.
Pago de Santa Cruz 2004, entre os quatro, talvez o vinho mais “másculo” dos quais são produzidos tão somente 15.000 garrafas anualmente. Elaborado com tempranillo de videiras com mais de 70 anos advindos de uma só parcela localizada numa colina da propriedade, é envelhecido em barricas novas de carvalho americano onde permanece por 18 meses e mais um período em garrafa antes de sair para o mercado. Já comentei este vinho anteriormente e só veio confirmar todas as minhas primeiras impressões, um grande vinho que consegue mesclar bem potência com elegância, encorpado, musculoso, com grande volume de boca, untuoso e carnudo, taninos aveludados, terroso e um final em que aparecem especiarias e frutos negros com enorme persistência. Um vinho de primeiríssimo nível com preço na mesma linha, cerca de R$420,00.
Regina Vides 2001, se o pago é o vinho “másculo”, este é seu oposto, o mais feminino dos vinhos provados, e que vinho! Somente são produzidas cerca de 6.000 garrafas ano com uvas de mais de 90 anos cultivadas em três parcelas. Fermenta em inox e depois faz a malolática em barricas novas de carvalho francês de primeiro nível. Paleta olfativa complexa, porém com maior destaque para suaves especiarias, fruta madura e algo de baunilha. Daqueles vinhos para sentar e curtir nas calmas, vinho de reflexão, profundamente elegante e fino, frutado ( no nariz é mais compotado do que na boca) grande equilíbrio entre taninos sedosos e boa acidez, rico e um final mineral que seduz. Para quem pode, preço ronda os R$990,00, um grande vinho de uma das melhores safras espanhola de muitas décadas e tendo a acompanhar Parker e Penin que lhe deram mais de 92 pontos.
Tenho um cliente que diz não gostar dos vinhos da região do Douro/Duero. Creio que ainda terei que lhe oferecer um Viña Sastre Crianza às cegas! Grandes vinhos que merecem um espaço em sua adega e na sua taça, na minha já estão. Ah, você pergunta, mas se são todos tempranillo porque produzem Cabernet e Merlot? Boa pergunta que não fica sem resposta. Para elaborar o vinho top da bodega, o Pesus, um dos principais vinhos espanhóis da atualidade o qual ainda não tive a oportunidade de provar, sendo rótulo para um publico muito limitado. Pouquíssima produção, qualidade excepcional e um preçinho que é de doer, inclusive lá!
Salute e kanimambo