Um dia, na loja, ouvi uma pessoa descendo a lenha na cidade de Mendoza dizendo como era feia. Não sei onde a levaram, mas certamente não foi na cidade que eu conheço! Cidade limpa, ampla, verde, simpática, bons restaurantes e bodegas nem se fala! Enfim, como no vinho, cada um tem lá seu gosto então respeitemos, mas que quanto mais vezes eu lá vou mais me enamoro, disso não restam duvidas.
Enfim, retornamos depois de cinco intensos dias programados, que viraram seis devido a cancelamento de voos, que demandou resistência física de todos os presentes nesta verdadeira esbórnia enogastronomica que envolveu a prova de 66 diferentes vinhos, visita a 9 bodegas, das mais comerciais ás mais familiares e minimalistas, 4 almoços e 2 jantares harmonizados em bodegas, mais uma incrível viagem pela cozinha e sabores de diversas regiões argentinas. Ufa, muita coisa para comentar e muita foto a publicar (vou precisar da ajuda dos amigos que me acompanharam) o que demorará um tempinho, porém quero hoje fazer alguns comentários sobre , talvez, o maior destaque da viagem, a alma no vinho!
Vinho com alma, já ouviram falar? Pois bem, mais do que nunca ficou claro como isso pode mudar toda nossa percepção sobre um vinho. Digo isso porque a alma é colocada na taça por gente, vinho é um estado liquido derivado do mosto fermentado da uva e algumas cositas más, entre elas gente, parte integrante de qualquer terroir! Visitas com provas de grandes vinhos sem pessoas apaixonadas fazendo o elo entre eles, os vinhos, e nós, perdem um pouco da graça mesmo que sejam caldos excepcionais pois falta-lhes alma, emoção! Gente como a Cecilia da Catena que me devolveu a fé na bodega, Andrea da Dominio del Plata com sua sempre radiante e simpática energia, a presteza e hospitalidade da Constanza da El Enemigo, Matias Michelini da SuperUco e Passionate Wines (nome mais apropriado impossível) foi de uma atenção ímpar, Florencia da Casarena que nos incentivou na elaboração de nossos próprios vinhos, a jovem e dinâmica Daiana da linda Decero, Pablo del Rio do incrível Siete Cocinas, entre outros de que agora não me recordo (sorry) fizeram a diferença, obrigado. Essas experiências foram prova cabal de que o componente humano é essencial e não deve ser deixado de lado, pois corre-se o risco de perder boa parte do “sabor” na taça sendo tão importante como a fruta exuberante, os taninos bem colocados e o equilíbrio da acidez!
Isso vale para o vinho, mas vale também para quase tudo mais na vida, já que onde existe paixão pelo que se faz, faz-se melhor! Por hoje é só, mas pensem um pouco nisso. Pensem nos restaurantes ou lojas que frequentam, no médico com que se consultam, no hotel onde se hospedam, etc. e busquem locais com alma, eles fazem a diferença, garanto!
Cheers, kanimambo e nesta semana voltando ao normal, sexta tem mais.
Ps. no site luso-poemas.net achei esta tradução de um poema escrito pelo poeta francês (falecido em 1867) Charles Baudelaire que quis compartilhar com os apreciadores do gênero que hoje me visitam
“Homem, ó deserdado amigo, eu te compús,
Nesta prisão de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico em que há só fraternidade e luz!Bem sei quanto custa, na colina incendida,
De causticante sol, de suor e de labor,
Para fazer minha alma e engendrar minha vida;
Mas eu não hei de ser ingrato e corruptor,Porque eu sinto um prazer imenso quando baixo
À guela do homem que já trabalhou demais,
E seu peito abrasante é doce tumba que acho
Mais propícia ao prazer que as adegas glaciais.
Não ouves retinir a domingueira toada
E esperanças chalrar em meu seio, febrís?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Tu me hás de bendizer e tu serás feliz:
Hei de acender-te o olhar da esposa embevecida;
A teu filho farei voltar a força e a cor
E serei para tão tenro atleta da vida
Como o óleo que os tendões enrija ao lutador.
Sobre ti tombarei, vegetal ambrosia,
Grão precioso que lança o eterno Semeador,
Para que enfim do nosso amor nasça a poesia
Que até Deus subirá como uma rara flor!”
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