Vinhos do Piemonte

Piemonte Além do Barolo

Depois de um encontro do terceiro grau com incríveis Rosso e Brunello di Montalcino e outro de Barolos, a confraria Saca Rolha está difícil de largar da Itália! Desta feita, Piemonte sem Barolos que é para descobrirmos o que mais esta incrível região de 16 DOCGs e 52 DOCs (salvo engano) tem a nos oferecer. A cada 100 hectares de vinhedos um DOC ou DOCG, é diversidade para ninguém botar defeito! Vamos ver o que a amiga, confreira e porta voz do grupo Raquel Santos tem a nos dizer sobre mais essa experiência:

Em nosso encontro anterior, o foco principal foi o mais famoso representante da região do Piemonte: O Barolo, porém nem só de Barolos (e Barbarescos, seu irmão menos famoso), vivem os vinhos que representam essa região italiana. Além da Nebbiolo, outras castas também importantes, produzem vinhos de alta qualidade, únicos no mundo, de muita personalidade e caráter. Desta vez, fizemos uma incursão pelas Barbera, Dolcetto e novamente a Nebbiolo, porém produzida em outras denominações de origem. Provamos três vinhos elaborados com a uva Barbera, um com a Dolcetto e dois com a Nebbiolo: (clique nas imagens para ampliá-las)

Piemonte Map ClipboardFuturosso de Monferrato 2011 – do produtor Marchesi Incisa Della Rochetta
Da região de Asti (DOC Barbera d’Asti), corte de Barbera com Merlot, mostrou primeiramente aromas terrosos e muita fruta. Médio corpo, leve e fácil de beber. O equilíbrio entre a acidez, taninos redondos e frutas maduras fazem dele um bom acompanhamento para refeições.

Barbera d’Alba Annunziata 2009 – do produtor Rocche Costamagna
Como o nome já diz, proveniente da região de Alba (DOC Barbera d’Alba), com as características próprias regionais: Aromas de terra molhada, madeira de bosque e especiarias. Muito fresco, demonstrando boa acidez, frutas pretas, como amoras e ameixas. Bem estruturado, taninos fininhos e apesar de pouco extrato, tem longa persistência na boca.

Barbera Langhe Casaret 2012 – do produtor Marziano Abbona
Esse produtor chamou atenção já de início, pelo lindo rótulo com desenhos de pássaros da fauna da região (DOC Langhe). Em relação aos anteriores, mostrou-se mais potente e encorpado. Aromas e sabores de frutas(groselhas) e grande evolução na taça. Com o tempo mostra um caramelado sem ficar enjoativo por conta da boa acidez. Muito equilibrado.

Dolcetto di Dogliani San Luigi 2012 – do produtor Marziano Abbona
Pequena região demarcada como DOCG, que lhe confere um grau maior de qualidade. Aromas discretos, verdes, de ervas aromáticas, frutas vermelhas (geleia de cerejas)e especiarias (menta, hortelã) conferem a esse vinho uma boa harmonia entre frescor e doçura de frutas. Um vinho leve para acompanhar antepastos e beber descompromissadamente.

Nebbiolo d’Alba Brico Barone 2011 – do produtor Marziano Abbona
Muito aromático, fresco e equilibrado. Notas de especiarias, ervas aromáticas (vermute), cânfora e final longo. DOC Nebbiolo d’Alba.

Barbaresco Dezzani 2008
Os vinhos de Barbaresco (DOCG), assim como os Barolos, são feitos 100% com a Nebbiolo. Apresenta muita estrutura e equilíbrio entre corpo, acidez e taninos. Álcool e madeira bem incorporados. Grande leque de aromas que evoluem muito com o tempo na taça. Notas de ervas aromáticas, frutas vermelhas, cogumelos e “sur bois”. Características gastronômicas com muita elegância.

Durante essa degustação, observei que ninguém, em nenhum momento mencionou a palavra “taninos”, “acidez” ou “álcool”. Suponho que deve-se ao fato dos vinhos serem muito equilibrados. Enquanto a conversa corria solta, e os antepastos à mesa eram consumidos sem cessar, fomos chegando ao fim com gostinho de quero mais….e eis que lembraram de uma aposta feita anteriormente, por ocasião da Copa do Mundo, onde alguém apostou um Barolo! Aposta feita, aposta paga!

Piemonte Seleção Saca RolhaO fato dos vinhos da região do Piemonte virem sempre associados à comida não é à toa. Assim como em toda a Itália, a culinária está muito presente na cultura do seu povo. Ingredientes locais, como as famosas trufas brancas de Alba, os azeites de oliva, os queijos, as ervas aromáticas e os assados por longo tempo, sempre evocam uma atenção maior ao momento de comer.

O movimento internacional “Slow Food” originou-se ali, na cidadezinha de Bra, fundado por Carlo Petrini. Portanto, você que neste momento está lendo esse texto, diminua seu ritmo e faça como os piemonteses: primeiramente escolha um vinho. Pode ser um Dolcetto, que é um vinho leve, suave, para ser consumido no meio do dia, acompanhado de antepastos. Ou um Barbera, que como o Dolcetto, é também leve, suave, com um pouco mais de acidez, e acompanha bem uma refeição. Se sua comida for um pouco mais elaborada, aconselho um Barbaresco, que faz bonito tanto num almoço quanto num jantar sem pressa. Agora, se for um jantar, numa ocasião mais formal, com pratos mais marcantes, escolha um Barolo. O mais importante no entanto, é que possamos dar a devida atenção a esse sublime momento de comer e beber.

Salute, Kanimambo e uma ótima semana para todos. Para mim e para a Raquel será, pois Quinta-feira desembarcamos em Mendoza de onde eu, espero, postarei sobre nossas visitas.

Sabores do Piemonte – Últimas 4 Vagas!

No próximo dia 26 de Junho, realizarei na Vino & Sapore uma degustação harmonizada de dar água na boca! Como já de praxe, todo o mês uma degustação de alto nível num encontro gostoso e descontraído harmonizando Vinho, Comida e Pessoas! Desta feita vamos mergulhar nos Sabores do Piemonte porém, como o vinho é servido ás cegas, haverá um intruso nesse exercício, um vinho fora da região. Nestes encontros mensais, exploramos a riqueza dos sabores do vinho e o resultados destes quando colocados juntos com boa gastronomia e um ingrediente essencial, o grupo de pessoas que temos o privilégio de juntar nesses eventos  Desta feita nossa viagem pelos sabores da enogastronomia nos leva ao Piemonte e seus soberbos vinhos, assim como o clássico Ossobuco que será acompanhado de Risoto Milanese elaborado pela hábeis mãos do amigo Ney Laux (Restaurante do Ney no Pattio Viana) cuja cozinha dispensa apresentações sendo seu restaurante considerado uma das 10 maravilhas da Granja Viana com história para contar!

       Seis vinhos, cinco do Piemonte mais um, sempre tem que ter uma surpresa, todos provados ás cegas.  Primeiro uma rodada para avaliar os vinhos, depois nova rodada, desta feita acompanhada do prato para avaliarmos a  harmonização. O que será melhor, a típica harmonização dos sabores regionais ou o intruso levará?! Para finalizar a viagem, Tiramissu com espumante Asti (será que harmonizará?) e nosso delicioso café do Ateliê do Café. Eis a lista de vinhos que estaremos colocando nesta degustação:

  • Dezzani L’Assiona Monferrato  (4 “grappoli” em 5 no guia Duemilavini) – um vinho delicioso e intrigante elaborado com uma uva pouco conhecida da maioria, a Albarossa. Esta cepa é fruto do cruzamento das castas Nebbiolo e Barbera, um vinho que por si só já vale a experiência.
  • Prunotto Mompertone Monferrato Rosso – um campeão de vendas e saborosissímo blend de Barbera com Syrah, vinho que pode surpreender mesmo que sem a fama de seus outros concorrentes da noite.
  •  Dezzani Barbaresco (2 estrelas em 3 no guia I Vini di Veronelli) – 100% Nebbiolo, a mais representativa casta da região, numa versão mais light do que os barolos, mas não por isso menos prazerosa!
  •  Piero Busso Barbera d’Alba (4 estrelas de 5 na revista inglesa Decanter) – 100% Barbera. A barbera vive uma crise de identidade e há de tudo no mercado, dos mais ralinhos aos mais encorpados e complexos até os carregados de madeira! Este rótulo é produzido por um pequeno produtor ôrganico e mostra todo o esplendor que essa uva pode gerar com um vinho de muito boa concentração e produção limitada.
  •  Cascina Ballarin Tre Ciabot Barolo (3 “grappoli” em 5 no guia Duemilavini e Wine Spectator 90 pontos para a Safra de 2003) – um “affordable” Barolo pronto a beber em seus 4 anos e pouco de vida, uma mescla de uvas de três diferentes vinhedos, entre eles um da importante sub-região de La Morra., é um despertar para os grandes e carissímos Barolos de guarda.
  •  Intruso – no mesmo patamar de qualidade e altamente respeitado em nossa vinosfera, permanecerá nas sombras (rs) sem se identificar até ao final da degustação que, obviamente, se dará ás cegas.

      Investimento de retorno garantido para no máximo 13 pessoas dos quais 9 já reservaram, então só sobraram cinco! O custo será de R$190,00 com os já costumeiros 10% de desconto para casal ou grupo de amigos. Fico no aguardo de vossa manifestação e reservas, lembrando que as atividades se iniciarão às 20 horas e nos sentaremos á mesa impreterivelmente ás 20:30. Ligue para (11) 4612.6343/1433 ou envie mensagem para comercial@vinoesapore.com.br .

Salute e kanimambo!

Mais um Azarão Faturando uma Degustação às Cegas

breno3O amigo e colaborador Breno Raigorodsky volta e meia retorna a este blog com crônicas e relatos que deixam sempre algo para se pensar, não fosse ele também um filósofo! Neste momento em que o trabalho, aquele que rende (!), toma conta de todo o meu tempo e a inspiração teima em não aparecer, o Breno nos envia este interessante texto. Aproveitem o fim de semana para ler e reler tirando suas próprias conclusões. Salute e kanimambo.

          “Espero que você não fique angustiado com o que vai ler a partir daqui, pois suas certezas mais uma vez irão parar no lixo. Quem deveria ganhar esta degustação, o vinho mais caro ou o mais barato? Quem deveria estar no topo, o famoso Barbaresco, o consagrado Barolo o simples Nebbiolo, ou ainda o mais improvável Barbera? Numa degustação anterior, quando o mundo dos vinhos do sul do Rhone ganhou uma amplitude muito maior do que se esperava ao vermos os Côte de Ventoux mostraram-se a altura de qualquer disputa regional, desbancando os vinhos mais notáveis da degustação Chateauneuf-du-Pape incluso, ocorreu algo igual.

       Mas não, não me sinto nem um pouco privilegiado pela originalidade com estas surpresas. Agora mesmo corre pela internet um vídeo no youtube de uma degustação feita com gente muito séria e competente, onde um vinho de 14 Euros (Chateau Reignac) tirou segundo lugar, numa prova às cegas onde estavam presentes alguns dos maiores monstros sagrados da literatura específica, grandes Bordeaux, como Petrus, Lafite, Latour, Ausone etc. todos eles custando acima de 700Euros, numa desproporção que “echape”! Desde 1976, aliás, desde que os californianos bateram os franceses em terra gaulesa, as surpresas nas degustações não pararam mais.

 Agora, me permitam esticar um pouco mais esta digressão.

       Somos um poço de inseguranças trasvestidas em certezas, quando se trata de impressões sensoriais e nas degustações às cegas isso fica super evidente. Tateamos claudicantes por um castelo de cartas sempre muito disposto a desabar, feito por expectativas. Sintomático é o caso que apareceu há meses no Estadão de uma experiência feita nos EUA, onde experientes degustadores foram chamados a escolher entre dois vinhos, sabendo que o primeiro custava o quádruplo do segundo, US$80,00 e US$20. A preferência massacrante caiu sobre o primeiro, apenas por conta da excitação que a relação preço/qualidade cria em nossos neurônios porque eram exatamente iguais, eram gêmeos em garrafas diferentes, como se mostrou aos degustadores no fim do teste, para total insatisfação e incredulidade desses!

       Estas inseguranças se escondem sob a forma de informação adquirida em literatura. De fato, um vinho é melhor que o outro por várias razões bem objetivas – complexidade, tempo potencial de guarda, afinamento em madeira nova, afinamento em garrafa por determinado tempo, qualidade da vinificação, solo, clima e plantação em condições ideais, etc. E, no entanto, essas condições serão apenas percebidas como atributos positivos se forem perfeitamente alinhados com condições subjetivas tão importantes quanto – o perfume conhecido exalado pela cepa reconhecida, a cor, a untuosidade e a densidade esperados, servido na temperatura e nas condições reconhecidas ou esperadas.

 Desta feita, numa aula sobre vinhos do Langhe Piemontês, a coisa se complicou por várias razões –

  1. Lá se produz alguns dos vinhos mais desejados do planeta, aspiração dos amantes do vinho em geral, parte componente de um grupo de vinhos que sempre foram muito queridos, desde os tempos que a burguesia queria consumir o que era privilégio da aristocracia. Barolo era o vinho da corte italiana, o “vino dei re, Il re dei vini”. Se não fosse por outra razão, ele se revestiu sempre de uma aura de qualidade apenas abaixo dos vinhos dos reis vindo de Bordeaux e da Borgonha.
  2. Frustrados ficaram os que esperavam mais do Montestefano, por exemplo, um vinho que se sai com 93 pontos dados pelo Robert Parker e o que tem a melhor avaliação entre os degustados é visto assim pela equipe do Wine Advocate: “O Barbaresco Riserva 2005 Montestefano apresenta um núcleo de rosas maduro, pleno de framboesas e especiarias em torno, um vinho redondo e sensual, um Nebbiolo. A complexidade continua com couro, alcaçuz e anis num acabamento sublime e outras nuances. É um grande vinho…”
  3. Ao mesmo tempo, ao contrário dos vinhos franceses mais importantes, cuja cepa e vinificação vêm sendo imitadas e recriadas ad nauseum não apenas no Novo Mundo mas também no Velho Mundo, os grandes italianos do norte são quase desconhecidos, pois suas uvas não pululam por aí. Portanto, os degustadores esperavam afirmar impressões literárias e menos reconhecimentos sensoriais.
  4. Ao contrário dos Barolo e Barbaresco, mas na mesma força em vetor apontado para o outro lado, os Barbera e Langhe Nebbiolo, são percebidos como menores pela literatura. Portanto havia de se esperar menos concentração, menos complexidade. Aqui também, o número de goles destas uvas por participante estava abaixo de duas taças, vida afora!
  5. Os vinhos de hoje estão diferentes dos vinhos de ontem. Mesmo um Barolo, mesmo um Bordeaux, com toda a sua imponência, não resiste aos apelos do mercado comprador, bastante diferente do de 20 anos atrás. Faz-se grandes vinhos muito mais leves e amistosos, assim como se faz vinhos com as uvas menos nobres com toda a nobreza possível na vinificação, exigências do mercado! Ou seja, nebbiolo trabalhado com menos pompa e circunstância, Barbera tratado como se fosse uma uva cujo potencial não tinha sido ainda explorado. Eu, que ousei gostar demais do Barbaresco Santestefano, não o reconheci Barbaresco por um minuto sequer, menos pela complexidade de frutas e florais característicos, mas pela aparência transparente e o sabor muito pronto. Me enganaram direitinho, pois juraria que ele era um Langhe, jamais um Barbaresco, com seus 30 meses de madeira e 24 de garrafa!

 O campeão foi um Barbera D’Asti, desbancando o citado Barbaresco Montestefano e o Barolo Camilano, vinhos que custam entre duas e três vezes mais. Eis todos os rótulos que estiveram presentes na degustação, pela ordem:

  1. Barbaresco Montestefano 2005.
  2. Tenuta Carreta Barbaresco Garassino 2004.
  3. Tenuta Carreta Nebbiolo D’Alba Tavoleto 2008.
  4. Barolo Camilano 2001.
  5. Barbera D’Asti Superiore Valfieri 2005.
  6. Massolino Barbera D’Alba.

     Todos foram degustados pelos 10 participantes em duas passagens às cegas, uma primeira a pão e água, uma segunda com a colunata ou bresaola e o plin regado a azeite de trufas que o Pier Paolo Pichi nos serviu, e finalmente uma terceira passagem, então sem a proteção de alumínio, e acompanhada pelo pato, que fechou a nossa bateria de pratos salgados.

      O nº5 ganhou nas duas primeiras passagens com alguma folga (6 votos e 7 votos, contra 3 votos para o nº4), embora a disputa fosse intensa, já que todos foram unânimes ao dizer que esta foi das degustações mais equilibradas das 10 que já fizemos.”

Mais um texto do amigo e colaborador, Breno Raigorodsky; 59, filósofo, publicitário, cronista, gourmet, juiz de vinho internacional e sommelier pela FISAR. Para acessar seus textos anteriores, clique em Crônicas do Breno, aqui do lado.