Não é de hoje que falo do Uruguai e seus vinhos. Minha relação com esse país nasceu antes do vinho com diversas viagens a seu pólo de moda com ótimos agasalhos e casacos de preços em conta, falo de cerca de 18 anos atrás. Daí comecei a descobrir o lugar e sua gente, especialmente sua gente!
O vinho e a Tannat vieram parar aqui no blog em Abril de 2008, já lá se vão mais de sete anos, quando pouco se falava dessa casta e menos ainda da região, a não ser pelos eternos Luis Horta e Didu que já naquela época falavam da revolução vitivinícola que ocorria por lá. O post, clique aqui para ver, está um pouco desatualizado e precisa de uma revisão, mas as informações ali contidas dão uma boa mostra do que acontece por lá nesse mundo regido por Baco. Todo esse preâmbulo para chegar no Tannat Tour que recém visitei, lamentavelmente com pouco tempo para exploração da diversidade de produtores presentes.
Antes de falar do que vi e provei, quero ressaltar o fato de que o Uruguai não é só Tannat, assim como a Argentina não é só Malbec e o Chile só Carmenére e Cabernet Sauvignon! Vale explorar a Petit Verdot, Sangiovese, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Torrontés, Albariño e Viognier entre outras castas gerando belos vinhos num estilo mais velho mundista que novo mundo, mais elegantes e finos, de menor teor alcoólico. Tão perto, mas tão diferentes! Tenho montado algumas degustações de vinhos uruguaios em diversas confrarias e a surpresa tem sido enorme, abra a mente e explore esta região vale muito a pena!
Bem, como já disse participei do Tannat Tour e da Master Class onde tive a oportunidade de conhecer alguns grandes vinhos e, como tal, com preços algo altos. Para quem, todavia, só exporta cerca de 5% da pequena produção, é entendível mesmo que não desejada. Alguns destaques:
Bodega Artesana Reserva Blend de Tannat com Zinfandel e Merlot safra 2013 – o braço importador da Enoeventos do Oscar Daudt trás este vinho, o mais em conta entre estes destaques. Pequena produção (1.300 gfas), 22 meses de barrica francesa de nova imperceptíveis e muito bem usada. Blend muito bem bolado e único com a presença surpreendente da Zinfandel, de nariz muito agradável, na boca prima pelo equilíbrio, macio e algo cremoso, muito agradável. R$110,00
Pizzorno Family Estates Primo 2008, Tannat com Cabernet Sauvignon, Merlot e um toque de Petit Verdot que sempre faz uma bela diferença, com 24 meses de barrica francesa. Me encantou desde sua atraente e sedutora paleta olfativa e na boca explode em complexidade e riqueza de sabores. Um dos melhores, mas o preço na casa das 400 pratas desanima! Só 2.000 gfas e quando engarrafado já está quase todo vendido, oferta x demanda! Vem pelas mãos da Grand Cru.
De Lucca Rio Colorado 2008, mais um blend (não adianta sempre me chamam mais a atenção), desta feita de Tannat com Cabernet Sauvignon e Merlot com 18 meses de barrica sendo 60% francesa e o restante americana. Mais um grande vinho que no nariz me pareceu mais sutil, porém ao primeiro gole mostra a que veio! Muito vivo, marcante entrada de boca, taninos muito finos, elegante, rico, longo um vinho que mostra uma personalidade diferente e se destaca. Preço na casa dos R$280,00 trazido pela Premium.
Prelude Barrel Select 2009 da Familia Deicas, um clássico entre nós já faz anos. Nunca me entusiasmou nem entendia do porquê de tanto auê sobre este vinho. Humm, mudei de ideia! Este 2009, não sei se já tinha antes, leva Petit Verdot e se tem esta casta no corte, pode esperar por coisa boa. Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot e Marselan passando 24 meses em barrica e uma produção algo maior, já na casa das 24 mil unidades. Nariz potente e complexo, excelente na boca onde mostra uma textura e riqueza de meio de boca marcantes, taninos aveludados, longo, que grata surpresa. Na casa dos 290 Reais e é trazido pela Interfood.
Deixei por último dois puros tannats, um é Clássico e o outro Inovador. De um se produzem cerca de 15 mil garrafas do outro umas 3 mil. Ambos muito bons, mas muito diferentes entre si.
Carrau Amat 2011, de Rivera (morro Chapéu) fronteira com o Brasil, 24 meses de carvalho e mais um em garrafa antes de sair ao mercado, o Clássico, dos quais se produzem algo ao redor de 15 mil garrafas anuais. Sempre um vinho bem feito, irrepreensível , de nariz agradável que convida a taça à boca onde ele se mostra elegante, muito equilibrado, acidez muito bem colocada, gastronômico, como um clássico tem que ser, grande sem ostentação! Trazido pela Zahil, custa ao redor de R$200,00.
Viña Progreso Sueños de Elisa Tannat 2011 do jovem Gabriel Pisano, um inovador em sua bodega experimental. Fermentado em barrica aberta, maceração a frio usando garrafas geladas (!), estágio nas próprias barricas em que fermentou porém agora fechadas, explorando limites! Somente seis meses de estágio em barrica e 3000 garrafas produzidas, gamei e se pudesse …..!! Nariz complexo e intrigante, boca excepcionalmente sedutora com taninos muito bem trabalhados, fino, elegante, sedoso, ótimo volume de boca, um tannat encantandor onde afora os frutos negros típicos da casta aparecem notas terrosas, um vinho inebriante que custa algo em torno de R$270,00 na Vinci que é quem traz essa belezura!
Houve um comentário sobre a dureza dos taninos destes Tannats e a pergunta quanto ao tempo que eles necessitavam para se integrarem e se tornarem algo mais palatáveis? Na verdade creio que esta pergunta paira sobre a cabeça da maioria e aqui vai minha opinião em cima do que o Gabriel respondeu, depende de como você gosta de seus vinhos. Tenho um gosto pessoal por vinhos de bom corpo e estrutura tânica, porém com elegância e taninos sedosos, primando pelo equilíbrio do conjunto fugindo dos vinhos de maior extração e teor alcoólico mais altos, no entanto gostei de todos os vinhos acima mencionados, cada um em seu estilo. Óbvio que se for acompanhar algum prato, aí há que se ter mais cuidado na harmonização, mas achei os taninos, a nível geral, muito bem trabalhados e integrados ao conjunto. Aliás, essa constatação ficou clara nas degustações que promovi com vinhos uruguaios onde até quem tinha resistências se dobrou à prova na taça!
Tendo dito isso, sobrou o vinho mais velho para comentar, o Antologia 2004 de Juan Toscanini que está sem importadora no Sudeste, mas presente em alguns supermercados da região Sul do Brasil. Deste vinho não vem nenhuma garrafa das apenas 2.000 produzidas, então não adianta procurar. De todos os vinhos provados, o mais pesado de todos e, se fosse tomado às cegas, provavelmente seria indicado pela maioria com um dos mais novos em prova. Aqui sim, taninos poderosos, robustos, denso e mastigável, para comprar, se achar, e jogar na adega por mais uma meia dúzia de anos. O mais Madiran de todos.
Cacilda, falei demais! Não que isso seja uma surpresa para a maioria dos amigos leitores,rs, mas é que tinha muita coisa que merecia meus comentários e olha que ainda faltou. Kanimambo e não deixe de se cadastrar na Confraria Frutos do Garimpo clicando no banner aqui do lado. Leia mais sobre esse novo projeto meu no post de ontem.