Itália, Regiões, Cepas e Vinhos – Parte IV

            Para finalizar esta série de posts sobre a Itália, falarei um pouco sobre algumas DOCGs e outras curiosidades dos vinhos Italianos que, por muitas vezes nos deixam em duvida sobre seu significado.

Supertoscano – Não é uma denominação regulamentada pelos órgãos oficiais italianos, mas sim pelos próprios produtores e mercado. Em um movimento iniciado pelos vinhos Sassicaia e Tignanello ambos da família Antinori, porém de braços diferentes (primos), no inicio dos anos setenta, saem alguns dos melhores e mais importantes vinhos da Itália. Na busca por vinhos melhores e mais complexos, eles quebraram as regras e elaboraram vinhos na Toscana com uvas não autorizadas e em porcentuais fora da regulamentação o que os colocaria numa vala comum denominada Vino di Tavola. A exuberância desses vinhos, no entanto, gerou uma classe não regulamentada de enorme qualidade e reconhecimento internacional. Entre estes vinhos o Sassicaia e Tignanello (Expand) grandes e espetaculares vinhos, e Solaia, Ornella, Petra, Sangioveto, Sanmarco, Fontalloro e Guado al Tasso Bolgheri são alguns outros destes grandes vinhos.

Amarone – Um vinho tradicionalmente caro e produzido artesanalmente de uma forma diferente do que estamos acostumados a vê, com as uvas regionais Corvina, Rondinella e Molinara. As uvas são colhidas bem maduras, escolhidas cacho a cacho escolhendo-se os melhores em que os frutos não estejam muito próximos um dos outros para permitir uma melhor circulação de ar. Esses cachos são então colocados a secar sobre esteiras por 120 dias, ou algo próximo disso dependendo da safra e do produtor. Nesse processo, as uvas perdem entre 30 a 45% de seu peso quando são então esmagadas e fermentadas a quase seco por um período entre 30 a 50 dias sob baixa temperatura. Após a fermentação, o vinho de baixa acidez e alto teor alcoólico, envelhece em barricas de carvalho por algum tempo, ficando as borras desse vinho para elaboração do Ripasso de Valpolicella.  Ame-o ou deixe-o, estes são os sentimentos da maioria que prova um destes vinhos totalmente diferente e de enorme complexidade. Não tive oportunidade de degustar muitos destes vinhos, mas o que provei – Amarone Clássico Ca ‘del Pipa Cinque Stelle 04 (Decanter) – é de tirar o chapéu, ajoelhar e agradecer aos deuses pelo néctar. Pena que está acima das minhas posses!

Recioto della Valpolicella se a fermentação for parada antes, se produzirá um alto residual de açúcar, superior a 4grs por litro, gerando um vinho tinto doce de grande qualidade e intensidade. I Castei (Decanter) foi o rótulo que provei, divino.

Ripasso de Valpolicella – ou repasse, numa tradução direta, quer dizer que após a fermentação do vinho, este é repassado sobre as borras do Amarone, para uma segunda fermentação em que adquire grande complexidade e concentração de sabores, maior corpo e tanicidade. Nessa re-fermentação, alguns produtores adicionam um pouco de uvas secas, o que reduz um pouco a adstringência dos taninos e lhe dá mais cor, diminuindo um pouco o tempo necessário para que atinja seu apogeu. Normalmente gera um vinho de maior longevidade que necessita de alguns anos em garrafa para evoluir e mostrar todos os seus sabores. Eu gostei muito do Costamaran 04 de Michele Castellani (Decanter), mas dizem que o Campofiorin do produtor Masi (Mistral) é excelente.

Chianti – Entre as regiões de Firenze e Sienna, existem dois Chiantis, o “tradicional” sub-dividido em sete e o Chianti Clássico que é aquele que traz na garrafa o símbolo do Galo Negro. Há uma lenda interessante envolvendo estes vinhos; Em meados do século XVII, as disputas políticas envolvendo as cidades quanto à extensão territorial de cada uma, alcançaram também a denominação dos vinhos. A fim de resolver essa questão, foi proposta a realização de uma prova para a delimitação das fronteira vitivinícolas. A prova, uma corrida, envolveria um cavaleiro de cada cidade que deveria sair em direção à outra assim que o galo cantasse na alvorada. A fronteira seria o ponto onde eles se encontrassem. Acertado isso, o povo de Siena elegeu um galo bonito, jovem, bem nutrido para cantar na alvorada enquanto que o povo de Firenze escolheu um galo negro, magro e mal alimentado. É claro que o galo de Firenze acordou mais cedo, pois tinha fome, e cantou antes do galo de Siena fazendo com o que o cavaleiro de Firenze tivesse boa vantagem. Essa vantagem fez com que os cavaleiros se encontrassem já bem perto de Siena e, como consequência, a cidade de Firenze conquistou um território maior que a vizinha. Dizem que essa disputa também levou para Firenze a exclusividade do nome Chianti que é representada nas garrafas por um galo negro. Lendas à parte,afora o Chianti Clássico que exige um mínimo de 80% de Sangiovese, existem sete sub-regiões de Chiantis; Colli Aretini, Colli Fiorentini, Colli Senesi, Pisane, Montalbano, Montespertoli e Ruffina nos quais a exigência mínima de Sangioves é de 75%. Dos que tomei, tenho gostado muito dos Colli Senesi e dos Ruffina, este último com vinhos um pouco mais encorpados. Os Riservas necessitam de pelo menos dois anos de envelhecimento antes de ser colocado no mercado.    

Lambrusco – Produzido na região de Emilia-Romagna, provoca muita confusão entre os consumidores brasileiros que, por muitas vezes, o confundem com um vinho espumante e não um frizzante, que é o que realmente é, pois possui somente uma a duas atmosfera de gás carbônico enquanto os espumantes exigem no mínimo três. O “verdadeiro” Lambrusco é elaborado tão somente com a uva tinta Lambrusco com, dependendo da região, Fortana e Malbo Gentile em pequenas quantidades. É produzido tanto na versão branca, rosé e tinto, sendo um vinho para consumo rápido já que não suporta envelhecimento. O que mais se exporta para o Brasil é vinho de baixa qualidade, muitas vezes gasificado artificialmente, corte de diversas uvas não autorizadas, sem grandes pretensões e muitas vezes estocados na porta de entrada do estabelecimento tomando sol isso quando já não tenha viajado em container normal, no convés do navio sofrendo com todas as entepéries numa viagem de 20 dias e, Deus sabe lá, quanto tempo no porto. Não dá para se esperar muito de um vinho assim. Os melhores são os DOC que também são um pouco mais caros, e é um vinho muito mais elaborado. Prefira comprar sempre produtos importados por empresa idôneas, como este da Expand, o bom Concerto tinto do respeitado produtor Medici Ermete. O maior consumo no Brasil é do branco (blanc de noir já que a uva é originalmente tinta) enquanto que na Itália é de, principalmente, tinto. Devido a sua forte acidez e presença de gás, é um vinho que acompanha bem refeições com bastante gordura, típica da região em que é elaborado, como a comida tradicional Mineira, ou uma boa feijoada. Não são grandes vinhos, mas podem ser alegres companhias para momentos descontraídos ou beira de piscina. Quer conhecer mais, clique em http://www.tutelalambrusco.it/.

Amanhã, o inicio de nossos posts com destaques e dicas de bons vinhos italianos por bons preços em Boas Compras que nossos parceiros sugerem entre os rótulos em seus portfolios. Como sempre, algumas preciosidades e valiosos achados. Acompanhem. De resto, salute e uma boa semana.

Kanimambo