De Olho na Toscana
Há poucos dias tive oportunidade de tomar dois vinhos da região da Toscana/Chianti e me surpreendi. Não que não esperasse algo de qualidade, muito pelo contrário, porém nem tanto e, em especial, me surpreendi pela maciez desses vinhos em sua tenra idade, pois ambos eram de 2006. Para um ainda não existe importador, um Chianti Colli Fiorentini DOCG muito agradável, sedoso e fácil de tomar e o outro um Chianti Clássico de primeiríssimo nível que me encantou por sua textura e complexidade. Ambos vinhos firmes que certamente terão uma longa vida de guarda, o Classico um pouco mais, porém já prontos a beber com um equilíbrio e harmonia impressionantes. Deste ultimo, o Clássico, sobre qual falarei mais tarde junto com algumas boas novas que trarei ao longo do mês, me despertou ainda mais a curiosidade e me deixou intrigado pois esperava algo diferente em função de sua juventude, talvez um vinho mais fechado com taninos adstringentes o que não foi o caso. Aliás, esta me parece uma característica dos grandes vinhos em grandes safras, o fato de que, mesmo sendo de média para longa guarda, já são profundamente amistosos na boca com apenas dois ou três anos de vida.
Neste fim de semana passado, morgando após cansativos feriados de Natal e Ano Novo, lia uma edição da Wine Spectator e BINGO! Ali estava a explicação, duas incríveis safras seguidas para as quais temos que botar as barbas de molho e ficar de olho, pois os vinhos estão realmente excelentes, como há muito não se via, ou melhor, provava. Pela matéria da Wine Spectator, da qual extraí a tabela de safras abaixo por sub-região, existe uma séria controvérsia entre os produtores quanto a qual a melhor safra se de 2006 ou a de 2007, porém é unânime a constatação de que há muito a região não tinha duas safras seguidas com tanta qualidade exceto, talvez, há uma década nos anos de 97 e 98. Stefano Frascolla da Tua Rita (Expand), acredita que seu Syrah de 2007 talvez venha a ser o melhor vinho que ele jamais produziu, com uma impressionante paleta aromática e enorme riqueza e harmonia.
James Suckling, degustador oficial da Wine Spectator para vinhos italianos, afirma que as quatro notas mais altas dadas por eles em 2008, foram exatamente para vinhos da região, especificamente o Testamata de Bibi Graetz 06 (98), Tua Rita Redigaffi 06 (97), Marchesi de Frescobaldi Giramonte 06 (97) e Antinori Solaia 05 (97). Guardadas as devidas proporções, para nós proletários do vinho interessa saber que a máxima de que; em safras de grande qualidade podemos comprar bons vinhos de segunda linha dos grandes produtores ou primeira linha de produtores médios e nos darmos muitíssimo bem por preços mais acessíveis, tem que ser perseguida nestas safras de 06 e 07. Grandes vinhos dos grandes produtores, todavia, ficarão por preços além do imaginável, acessível só a bolsos extremamente bem recheados ou a cartões corporativos de plantão. Eu vou, certamente, me deliciar com chiantis de qualidade pelos próximos dois a três anos, disso podem ter certeza, e o resultado do garimpo publicarei aqui!
Ano |
Bolgheri e Maremma |
Brunello |
Chianti e Chianti Classico |
2007 |
|
|
88-92 |
2006 |
92-96 |
92-97 |
93 |
2005 |
91 |
88-92 |
88 |
2004 |
92 |
92-97 |
89 |
2003 |
88 |
88 |
91 |
2002 |
85 |
78 |
79 |
2001 |
96 |
98 |
92 |
2000 |
89 |
88 |
88 |
1999 |
93 |
97 |
94 |
1998 |
98 |
91 |
89 |
1997 |
97 |
99 |
97 |
Salute e bom garimpo nos chiantis. Espero ainda este mês fazer uma matéria com um novo importador que traz alguns néctares por preços bem razoáveis. O Clássico que tomei é deles e me deixou caidinho! Só um toque, a sub-região de Bolgheri é mais afortunada ainda com 4 anos seguidos de boas safras, bom para garimpar.
Neste Sábado a volta da Coluna do Breno, no Domingo Noticias do Mundo do Vinho e na Segunda volto com mais Melhores de 2008, desta feita na faixa de R$50a 80,00! Bom fim de semana.
Oi João,
Vc sabia que na “receita” original do chianti era permitido o acréscimo de uma uva branca? Eu tô quebrando a minha cabeça e não me lembro qual era, será que era malvasia??? A fórmula original está numa carta que é um dos documentos mais antigos da região.
Bjos
Ivania
http://www.ivini.com.br
Oi Ivania, até hoje é permitida esse corte, porém se não me engano, fica restrito a 6%. A principal cepa branca é a Malvasia e a secundária é a Trebbiano.
Salute
Olá, João!
Estou começando agora a apreciar vinhos, e um dos primeiros que comprei foi um Chianti Bellosguardo 2006 que ainda está guardado em casa. Ele também é da região da Toscana? Por acaso fui agraciado por uma ‘sorte de principiante’, ou a Bellosguardo não é um produtor bom/médio?
Ah, só como curiosidade, o real motivo de ter começado com um Chianti foi a famosa cena de O Silêncio dos Inocentes. 🙂
[]s
Oi Vinicius, sim Chianti é uma sub-região da Toscana. Se quiser conhecer mais, dê uma olhada nas matérias aqui editadas sobre a Itália (http://falandodevinhos.wordpress.com/2008/09/19/italia-regioes-cepas-e-vinhos-parte-i/) tem parte 1, 2 e 3. Quanto ao vinho, não conheço, mas me parece ser um vinho simples, mais para o dia-a-dia o que não quer dizer nada. Tem vinhos muito saborosos nessa faixa. Só há um jeito de saber, abrindo e tomando, salute!
Ps. Depois nos fala o que vc achou.