Tokaji e seus Puttonyos
Tokaji, o vinho de Tokaj ou Tokay, meras variações idiomáticas do lugar, é o nome desse inesquecível elixir dos Deuses! Até o ano passado ainda não tinha tomado um vinho de Tokaj e muito menos um seis puttonyos ou um Eszencia. Finalmente alcancei o nirvana ao provar o Pendits Eszencia 2000, que se tornou o melhor vinho que já tive oportunidade de saborear tendo me deixado deveras emocionado. Daqueles que, literalmente, deveria vir acompanhado da famosa almofadinha para nos ajoelharmos em longas preces de agradecimento! Absolutamente divino, emocionante e inesquecível. Dizem que harmoniza com sobremesas e queijos tipo roquefort e stilton, mas a meu ver isso me parece uma heresia. Melhor tomá-lo só, ele como protagonista maior sem nada para atrapalhar essa ligação direta entre ele e sua alma!!!
As pessoas acham que, só porque habitamos e exploramos com uma certa regularidade nossa vinosfera, sabemos e já provamos tudo. Ledo engano!! Existem sim uma dúzia de privilegiados que militam um patamar superior da critica e que sim, a convite na grande maioria, já tiveram a oportunidade de provar alguns desses grandes néctares como Chateau Petrus, Romanée Conti, Chateau d’Yquen, Chateau Margaux, Opus One, Penfolds Grange, Vega Sicilia Único, etc.. a maioria de nós no entanto, exceto talvez os mais endinheirados, nem rolha cheirou!
Bem, mas finalmente cheguei lá e degustei esses vinhos, um dia ainda preciso tomá-los, hoje, no entanto quero decifrar o que é um Tokaj, Puttonyos e o tal de Aszú que aprece nos rótulos desse néctar de origem Húngara.
Os vinhos são elaborados com uvas de uma região demarcada no nordeste da Hungria, conhecida como Tokaj-Hegyalja (colinas de Tokaj) e daí seu nome. Interessante que esta região está encostada na fronteira com a Eslováquia havendo um acordo para que esse país possa também produzir esse néctar, porém com um volume prédifinido que não pode ultrapassar 10% do total. Isso, no entanto, parece que está passando por reforma já que os eslovacos colocam pressão para mudar esse status-quo. Se alguém tiver mais informações, por favor colabore através de comentários.
As uvas usadas são essencialmente a Furmint e eventualmente a Hárslevelu com as quais se faz um vinho básico seco ao qual se adicionam cestas da uva botrytizada (Aszú) com capacidade de 20 a 25kgs. Quanto mais cestas destas, os famosos Puttonyos, são acrescidas às barricas de 136 litros (Gönci) mais intenso e mais doce será o vinho em função do aumento de açúcar residual. A categorização por níveis de Puttonyos se inicia no 3 e exige no mínimo um residual de açúcar de 60grs (6 a 9%). Veja o restante:
- 4 Puttonyos – Minimo 90grs (9 a 12%) de açúcar residual .
- 5 Puttonyos – Mínimo 129grs (12 a 15%) de açúcar residual .
- 6 Puttonyos – Mínimo de 150 grs (15 a 18%) de açúcar residual.
- Tokaj Eszencia Aszú – Minimo 180grs (mais de 18%) de açúcar residual.
- Tokaj Eszencia – rarrissímos e caros exemplares com mais de 400grs (40 a 70%) de açúcar residual.
Alguns produtores se modernizaram e usam tanques, sendos puttónyos meras medidas de açucar residual. Para efeitos comparativos, os não menos famosos Sauternes possuem um residual de açúcar similar aos Tokaj de 4 Puttonyos. Vinhos tão doces seriam, na percepção geral da nação, caldos extremamente enjoativos o que não é verdade em função de sua enorme acidez que balanceia essa doçura de forma espetacular. Esse alto teor de açucar e acidez colaboram para o tornar um dos vinhos mais longevos do mundo.
A primeira fermentação, em conjunto com o vinho básico, dura pelo menos oito horas e pode ir até três dias. A segunda fermentação, é lenta em função das baixas temperaturas das frias e humidas caves cavadas nas colinas, ainda na época das invasões Turcas, e o alto teor de açúcar. No caso do Tokaj Eszencia, produzido do caldo que escorre lentamente do acumulado de uvas colocadas nos tóneis, em grandes safras e sem qualquer pressão mecânica somente pela própria pressão do peso das uvas, gerando mais de 40% de residual de açúcar, a fermentação pode demorar anos e gera teores de álcool extremamente baixos.
Um vinho excepcional que obrigatoriamente tem que entrar no wish list de todos os amantes do vinho. Quem sabe 2011 não lhe traz essa “graça”? Eu torço por isso e recomendo os produzidos pela Pendits (Decanter) ou Oremus (Mistral), verdadeiros vinhos de reflexão.
Salute e kanimambo!
Fontes de pesquisa: WWW.tokaji.com e a Biblia do Vinho de acordo com Karen Macneil entre outros.
Caro João,
Realmente os vinhos Tokaji merecem figurar com destaque no panteão dos “vinhos deuses”! Apesar de fazer parte da multidão de simples mortais que consumem vinhos “comuns”, não dispondo de bala na agulha para aquisição de vinho$ ícone$, já tive o prazer de fazer uma degustação em “crescendo” dos vinhos da citada Pendits.
Comecei com o “semi-deus” Tokaji Furmint Édes 2007 (beirando um 4 Puttonyos – fica apenas 0,4g/l do valor mínimo) e já fui arrebatado de cara. Daí pra frente, foram outras duas maravilhas, uma atrás da outra (não sem a devida meditação e cuidado para com cada um e seu momento): Tokaji 6 Puttonyos 2001 e o Aszú Esszencia 200.
O que dizer? Só posso afirmar que são vinhos para se degustar, sentir e meditar. Há que se sorvê-los, prestar atenção e admirar. Simplesmente maravilhosos!! Figuram fácil, fácil entre os melhores caldos que bebi na vida! Que seus votos se realizem e que 2011 traga essa “graça” de novo!!
São de facto uma maravilha. Poucos destes género já provei mas a verdade é que marcam e ficam na memória por muito tempo. Simplesmente divinais.
Deixo uma das minhas experiencias com um Tokaji
http://comerbeberlazer.blogspot.com/2011/01/oremus-tokaji-2007-late-harvest.html
Carlos Janeiro
JFC,
Notícia publicada no blog da Tribuna do Norte, colunista Elmano Marques, em 11.11.2012:
“O Tribunal de Justiça Europeu rejeitou uma ação movida pela Hungria contra a Eslováquia sobre a disputa da nomeação de vinhos da região de Tokaj, que fica na fronteira entre os dois países. A disputa centrada no nome oficial dos vinhos produzidos na região, que é conhecida por seus vinhos doces botrytizados feitos de furmint e harslevelu. Em 2006, a pedido da República Eslovaca, a Comissão Europeia registou o nome da Eslováquia para a região, Tokaj vinohradnícka oblast . Mas Hungria lutou contra o movimento. Ela alegou que o seu vizinho não deveria ter sido autorizado a alterar o idioma em que os vinhos da região estão inscritos no banco de dados da União Europeia E-Bacchus, que lista as marcas protegidas da região de origem e do vinho. A Hungria disse que a mudança poderia prejudicar a reputação do vinho húngaro de Tokaj e seus produtores, e insistiu que a Eslováquia usar o nome húngaro, Tokai, para o vinho que faz na região.
Como muitos conflitos na Bacia dos Cárpatos, a batalha sobre o vinho é uma herança dos acordos de paz após a Primeira Guerra Mundial, que cortou em pedaços a monarquia austro-húngara e ex-estados independentes estabelecidas ao longo das novas fronteiras.A região que produz Tokji foi dividida em duas, com a maior parte ficando em território húngaro e uma parte muito menor ao que hoje é a Eslováquia.”
No site da Corte Européia eu só consegui confirmar a existência do processo e de recurso da Hungria contra a decisão da Comissão Européia de registrar o nome ‘Tokaj vinohradnícka oblast’, mas não encontrei a decisão final.
Abs.,
Guilherme
Excelente vinho dispensa comentários
Bicho, só tem um jeito de entender a complexidade dessa região: indo pra lá!!! Acabei de voltar de lá (sim, eu tive a idéia maluca de pegar 3h de trem saindo de Budapest, sem falar uma palavra em húngaro), e descobri um universo muito além dos puttonyos, com szamorodnis, forditás, eszencias e vinhos brancos maravilhosos, não só de furmint e haralevelú, mas tambem de muskotaly, kabar, köversóló, zéta e algumas castas extintas que eles estão replantando…ah e muito além da Oremus, Royal e Disznókó (as três representadas por aqui até então)…enfim, parte do charme de lá, além das obras primas de aszú, é esse mistério todo que ainda paira pela região, diferente por exemplo de Bordeaux, Borgonha, Rioja, Douro, Puglia, etc etc.
Belo começo logo um 6 puttonyos e um eszencia hein? Eu tive que ir na fonte pra tomar meu primeiro!
Égeszegere!