Encontro de Grandes Vinhos do Mundo com o Miolo Lote 43 – Luiz Otavio
Pensando no leitor amigo que me visita com assiduidade, não poderia deixar de buscar e disponibilizar informação interessante sobre alguns dos mais de 20.000 rótulos hoje disponíveis no mercado, mesmo quando meus afazeres profissionais e compromissos pessoais deixam quase que tempo nenhum de sobra para trabalhar no blog. Como não dá para fazer tudo sozinho, conto com a ajuda de amigos que volta e meia me dão uma mão enviando matéria. Desta feita contei com a ajuda do amigo Luiz Otavio (Enopira – Piracicaba) profundo conhecedor, enófilo dedicado e degustador para lá de experiente que mais uma vez promoveu uma prova de dar água na boca. A diferença é que neste caso e a meu pedido, está compartilhando conosco essa experiência. Vejam o que ele tem a dizer sobre esse encontro de grandes vinhos com o Miolo Lote 43 numa prova entre Velho e Novo Mundo.
“Ontem fizemos a degustação de grandes vinhos pelo mundo e tendo em vista o resultado do Miolo Lote 43 no painel do Mosaico Riograndense, resolvi colocá-lo ao lado destes grandes vinhos para ter uma idéia do patamar em que se encontra. Como eu não consigo tirar nota na hora da degustação (estou servindo e atendendo a todos), tirei estas notas durante a aeração dos vinhos, as quais seguem abaixo, lembrando que todos os vinhos passaram por duas horas de cânter sendo servidos a 18º C.
A degustação propriamente dita foi as cegas, com 15 participantes, estando os vinhos devidamente escondidos dentro do seu saco de papel, sendo a ordem de serviço decidida e numerada através da sorte com o uso de um baralho.Foram servidos todos os vinhos e o numero em parêntese abaixo corresponde a ordem de serviço.
ENOPIRA- 02/09/2010
Poeira 2007- DOC Douro (5)- Produtor- Jorge Nobre Moreira- Provesende- Cima Corgo- Portugal. Castas- 2,5ha Vinhas velhas em Field Blend com as castas do Douro; Vinhas novas com Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Sousão e Tinta Barroca. Teor alcoólico- 14% – Amadurecimento- 16 meses em barricas de carvalho Francês (30% novas). Preço- R$ 230,00.
Avaliação:
Cor rubi/magenta, brilho médio para intenso, lagrimas lentas, bem formadas. Nariz com vegetal seco, geléia de mirtilo, groselha, tostado, café, chocolate e especiarias. Na boca mostrou-se muito agradável, viril, frutado, tânico, madeira bem integrada, com sensações de frutas pretas e vermelhas maduras, café, chocolate amargo e especiarias. Alcool levemente quente, adidez adequada, textura macia, tânico ( finos/muito agradáveis), encorpado, equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. Nota 87/17,5
Chateau D’Issan 2006- 3ème Grand Cru Classé de Margaux (8) – Produtor- Chateau D’Issan-Cantenac- Margaux- Bordeaux- França. Castas- 61% Cabernet Sauvignon e 39% Merlot. Teor alcoólico- 12,5%. Amadurecimento- 16 a 18 meses em barricas de carvalho Francês (50% novas). Preço- R$ 360,00.
Avaliação:
Cor rubi com reflexos violáceos, brilho médio para intenso, lagrimas lentas, bem formadas. Nariz com ameixa, pimenta, leve estrebaria, tostado, tabaco e chocolate. Na boca mostrou-se muito agradável, típico, viril, elegante, harmônico, com sensações de ameixa, amora, chocolate ao leite, tostado e pimenta. Alcool e acidez adequada, textura macia, levemente tânico (finos/muito agradáveis), encorpado, muito equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. Nota 87/17,5
Seña 2006 (6) – Produtor- Viña Senã- Panquehue- San Felipe- Valle de Aconcagua- Chile. Castas- 55% Cabernet Sauvignon, 16% Merlot, 13%Petit Verdot, 10% Carménère e 6% Cabernet Franc. Teor alcoólico- 14,5% Amadurecimento- 18 meses em barricas novas de carvalho Francês. Preço- R$ 390,00.
Avaliação:
Cor rubi, brilho intenso, lágrimas abundantes, finas e verticais. Nariz com amora, ameixa, framboesa, tangerina, leve floral, alcaçuz, pimenta, tostado, tabaco, chocolate e madeira. Na boca mostrou-se muito agradável, elegante, harmônico, complexo, com sensações de frutas pretas e vermelhas maduras, notas licorosas, cedro, chocolate ao leite, pimenta, alcaçuz e leve grafite. Alcool e acidez adequada, textura macia, taninos adequados (finos/muito agradáveis), encorpado, muito equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e excepcional, com ótima persistência. Nota 91/18
Aalto 2006 (7) – DO Ribeira del Duero. Produtor- Aalto Bodegas e Viñedos- Quintanilla de Arriba- Valladolid- Espanha. Castas- 100% Tinto Fino (Tempranillo). Teor alcoólico- 14,5% Amadurecimento- 23 meses em toneis de carvalho ( 50% novos Francês e 50% de 1 ano Americano e Francês ). Preço- R$ 329,00.
Avaliação
Cor rubi escuro, brilho médio para intenso, lagrimas abundantes, finas e verticais. Nariz com biju, ameixa, framboesa, alcaçuz, pimenta, tostado, chocolate e bala toffe.Na boca mostrou-se muito agradável, frutado, viril, harmônico, com sensações de frutas vermelhas e pretas maduras, chocolate ao leite, toffe, pimenta, alcaçuze cocada preta. Alcool e acidez adeqauda, textura macia, taninos adequados (finos/muito agradáveis), encorpado, muito equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. Nota 89/18.
Oracle Shiraz 2005 (9) – Produtor-Kilikanoon Wines- Penwortham- Clare Valley- Austrália. Castas- 100% Shiraz, teor alcoólico- 15%. Amadurecimento- 24 meses em barricas de carvalho Francês (50% novas). Preço- R$ 255,00.
Avaliação
Cor rubi escuro, brilho intenso, lagrimas abundantes, finas, longas e verticiais. Nariz com amora, banana passas, licor de cassis, pimenta, caramelo, tabaco, toffe e baunilha. Na boca mostrou-se muito agradável, frutado, harmônico, levemente picante, com sensação de frutas pretas em geléia, licor de cassis, pimenta, menta,chocolate, toffe, caramelo e baunilha. Álcool levemente quente, acidez adequada, textura redonda, taninos adequados (finos/muito agradáveis), encorpado, equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bo, com ótima persistência. Nota 87/17,5
Caymus Cabernet Sauvignon 2005 (2). Produtor- Caymus Vineyards- Rutherford- Napa Valley- Califórnia- EUA. Castas- Cabernet Sauvignon. Teor alcoólico- 14,5%. Amadurecimento- 16 meses em barricas de carvalho Francês. Preço- R$ 265,00.
Avaliação.
Cor rubi escuro, brilho médio para intenso, lagrimas lentas e bem formadas. Nariz com ameixa, pimenta, eucalypto, tostado, tabaco, café, chocolate e baunilha. Na boca mostrou-se muito agradável, fresco, típico, harmônico, com sensação de frutas vermelhas e pretas maduras, chocolate, notas licorosas, leve baunilha, leve canfora, pimenta e café. Álcool e acidez adequada, encorpado, muito equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. Nota 87/17,5
Miolo Lote 43 2005 (3) – Produtor- Miolo Wine Group- Serra Gaucha/RS- Brasil. Castas-50% Cabernet Sauvignon e 50% Merlot .Teor alcoólico- 14%. Amadurecimento-12 meses em barricas novas de carvalho americano (70%) e francês (30%). Preço- R$ 93,00.
Avaliação
Cor rubi escuro, brilho intenso, lagrimas abundantes, bem formadas, finas e verticais. Nariz com amora, ameixa, pimenta, tostado, chocolate, caramelo, cocada preta e leve baunilha. Na boca mostrou-se muito agradável, frutado, viril, tostado e final levemente amargo, com sensações de frutas vermelhas e pretas maduras, cocada preta, tostado, café, chocolate e leve baunilha. Alcool e acidez adequados, textura macia, levemente tânico (bons/agradáveis), encorpado, equilibrado, com evolução muito boa; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. Nota 84/17.
Luigi Bosca Icono 2005 (1) – Produtor- Bodega Luigi Bosca- Lujan de Cuyo- Mendoza- Argentina. Castas- 55%Malbec e 45% Cabernet Sauvignon de vinhas de 90 anos. Teor alcoólico 14,5%. Amadurecimento- 18 meses em barricas novas de carvalho Francês Allier. Preço- R$ 400,00.
Avaliação
Cor rubi, brilho médio, lagrimas abundantes, bem formadas, finas e verticais. Nariz com torrone, tostado, amora, ameixa, tangerina, especiarias, tabaco, madeira e baunilha. Na boca mostrou-se muito agradável, viril, harmônico, com sensações de frutas maduras, cedro, tostado, leve baunilha, especiarias e leve cocada preta. Alcool adequado, acidez levemente acentuada, textura aveludada, levemente tânico (finos/muito agradáveis), encorpado, muito equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. Nota 89/18.
Pupà Pepu IGT 2003 (4)- Supertoscano, produtor- Roberto Bellini- Montalcino- Toscana- Itália. Castas- 70% Merlot e 30% Cabernet Sauvignon. Teor alcoólico 14,5%. Amadurecimento- 15 meses em barricas de carvalho Francês. Preço- R$ 240,00.
Avaliação
Cor rubi com reflexos alaranjados, brilho médio para intenso, lagrimas abundantes e bem formadas. Nariz com bambu, ameixa, cereja, framboesa, nêspera, leve floral, noz moscada, pimenta, tostado e madeira. Na boca mostrou-se muito agradável, viril, elegante, complexo, com sensações de frutas maduras, nêspera, notas licorosas, madeira, tostado, chocolate alpino e café. Alcool e acidez adequada, textura macia, taninos adequados, encorpado, muito equilibrado, com evolução excelente; retrogosto muito intenso e muito bom, com ótima persistência. 89/18.
Nem eu sabia quais vinhos eram servidos, a não ser o Oracle e o Icono, devido as garrafas diferentes, que mesmo dentro do saco, dava para ver qual eram ( formato bourgogne do Oracle e cinco quilos de peso do Icono). Pois bem, depois de servido os vinhos, foi dada uma ficha, para que cada degustador, anotasse os pontos para cada vinho degustado, dando 09 pontos para o primeiro colocado, 08 pontos para o segundo, 07 pontos para o terceiro, e assim por diante até 01 ponto para o nono colocado; e isto na preferência de cada um. Depois que todos entregaram suas fichinhas, o José Henrique de Paula Eduardo, copilou os resultados e com total de pontos de cada um foi-se fazendo a strip-tease das garrafas e revelando os seus nomes.
Campeão da noite pela banca degustadora somando 112 pontos o Oracle Shiraz 2005- Austrália.
Na sequência; Caymus Cabernet Sauvignon 2005- EUA. / Miolo Lote 43 2005- Brasil / Aalto 2006- Espanha / Seña 2006- Chile / Chateau D’Issan 2006- França / Icono 2005- Argentina / Pupa Pepu 2003- Itália / Poeira 2007- Portugal.
Como devem imaginar, a surpresa ao conferir os vinhos na taça e discussão que se seguiu, e a constatação que nas coisas do vinho, estamos sempre sendo surpreendidos e que por mais que saibamos, na taça ele sempre tem algo a nos ensinar. Eu para variar ando meio na contra mão do pessoal e as minhas preferências também não foram as mesmas das nota às claras, quando escolhi na ordem;
- Poeira 2007- evoluiu muito bem no decanter
- Senã 2006- elegante
- Pupa Pepu 2003- por incrível que pareça, mais evoluído que o 2001.
- Icono 2005- esperava uma bomba, mas veio um grande vinho.
- Caymus 2005- evoluiu muito bem no decanter
- Aalto 2006- adoro este vinho, mas não ficou muito bem na seqüência
- Oracle 2005- talvez o vinho mais exuberante.
- Chateau D’Issan 2006- fechado, demorou a se mostrar
- Miolo Lote 43 2005- muito bom; para mim tem algumas arestas de madeira, taninos não tão finos e leve amargor final, que parece, não foi percebido por outros.
Nunca é demais frisar que esta degustação, em outro lugar, com outros participantes, outras garrafas, pode ter resultados completamente diferente, mas ai está o retrato do que foi esta.”
Valeu Luiz e mande mais destas. Incrível a influência dos rótulos mesmo sobre os mais experientes degustadores! É às cegas que os caldos realmente mostram toda a sua personalidade e caráter, então esse é um exercicio que sempre recomendo aos amigos praticarem. É incrível as surpresas com que nos deparamos! Obrigado Luiz e as portas do blog estão sempre abertas ao amigo que faz um trabalho e tanto na região de Piracicaba. Quem é de lá não pode deixar de ir a seus encontros no Enopira que costumeiramente divulgo em minhas dicas da semana. Ligue para (019 ) 3424-1583 e confira qual o próximo evento ainda com vaga.
Salute e kanimambo
Olá João Felipe,
Muito obrigado.
Gostaria de colocar algumas opiniões pessoais sobre os tipos de degustações.
– Concordo que as degustações as cegas são as indicadas, quando se esta numa disputa.
– As degustações as claras são mais didáticas, aonde aprendemos mais sobre os vinhos, especialmente sobre aqueles que nunca degustamos, fixando suas caracteristicas.
– Na minha opinião a influencia dos rótulos se dá mais no contexto de que procuramos as qualidades nos vinhos caros e os defeitos nos vinhos baratos.
– Não concordo que nas degustações as cegas é aonde os vinhos mostram as suas personalidades e carater, mas sim que é nas degustações as cegas que os degustadores mostram os seus gostos pessoais de uma maneira mais clara; aonde normalmente os vinhos mais redondinhos, mais exuberantes, mais diretos, acabam ficando sempre em primeiro lugar.
– Nas degustações as cegas, normalmente o devio padrão é baixo, porque há uma tendencia de deixar os vinhos numa faixa estreita, ninguem se arriscando muito em dar uma alta nota para um vinho barato, ou uma nota baixa para um vinho caro; por isto se colocar um vinho de faixa de preço mais baixa que os demais, ele automáticamente ficará no mesmo patamar dos outros, a não ser que tenha uma qualidade descaradamente inferior.
– Numa degustação as claras, avaliamos todo o contexto do vinho; sua tipicidade, evolução, compatibilidade com a idade, valorizando estes aspectos, se eles corresponderem; isto já não é possivel numa degustação as cegas.
– Eu brinco que numa degustação as claras se avalia os vinhos, e numa degustação as cegas os degustadores.rs
E tudo isto, não tira de modo algum o mérito do Lote 43 2005, e fico muito feliz em contastar esta qualidade, mas acho bom fazer este tipo de esclarecimentos, senão logo vai ter anuncio que temos o terceiro melhor vinho do mundo, o que não corresponde a realidade.
Sante,
Luiz Otávio
De fato, o Miolo Lote 43 é um excelente vinho nacional, mas algumas lojas chegam a cobrar R$ 140,00 por uma garrafa, faixa na qual se pode encontrar produtos superiores.
Mas não me parece um vinho com estrutura para ser guardado por mais de 5 anos, o saudoso Saul Galvão mesmo dizia que não era um vinho para ser guardado.
Quanto ao Seña 2006, já tive a oportunidade de prová-lo, está muito bom, com notas de pimenta e balsâmicas, mas algum tempo a mais em garrafa permitirá uma integração melhor. Pena que seja tão caro por aqui.
Encontros no Enopira!!!
É verdade, já ouvi falar . E Piracicaba é uma forte cidade com tendências a mais enoencontros como estes !
Viva o Vinho!
É Luiz, nunca tinha parado para ver o assunto por esse prisma. Aliás, o Penin segue um pouco a mesma linha, tanto é que ele só cata para seu guia de forma aberta. Tendo a concordar contigo que realmente ás cegas se testa mesmo é o degustador, mas acho também que, despido de rótulos e sem retoques, é às cegas que o vinho mostra ao que veio. Anyway, questão de opinião.
Realmente, muito interessante a degustação.
Muito se diz sobre o preço do lote 43, que dizem ser muito elevado para a qualidade do vinho. Mas pesquisando bem, pode-se encontrar um bom preço.
Comprei uma garrafa da safra 2005 (segundo a Miolo, safra histórica, a melhor dos últimos 50 anos) por 77 reais num site, com 20% de desconto para pagamento no boleto (preço original, 96 reais).
Talvez eu seja um pouco chovinista, mas gosto de valorizar o que temos. Fico muito feliz em termos um vinho que pode competir com outros vinhos de primeira linha (para mim, pobre mortal, que nem em sonhos cogito vinhos acima de 300 reais), mesmo que perca por pouco.
Enfim, acho que é um vinho que vale a pena ter na adega. Gostaria de ver os vinhos nacionais crescendo, então gosto de valorizar as coisas boas que temos (que, em termos de vinhos, na minha opinião, não são muitas).
Lí que o tempo de guarda gira em torno de 10 anos. Alguém tem idéia se a informação é plausível?
Estou com algumas garrafas do Seña 2006, ganhei de meu padrinho. Estou me desfazendo de 06, pois, quero comprar outros ou trocar. Cada garrafa estou ofertando por R$ 222,00. Quem tiver intersse me contate por email.