Coluna da Eliza – O Languedoc

            Antes dela se apresentar e começar a introduzi-los no mundo enogastronomico do Languedoc, deixa eu falar um pouco da Eliza. Durante muitos anos ela foi a alma e força motora por trás da Lusitana de Vinhos, uma importadora que fechou há uns anos e deixou saudades. Lembro bem dos; Quinta Giesta, especialmente o rosé, vinhos bem honestos da região do Dão, do incomparável e inesquecível S. Leonardo Tawny 20 anos, dos Portos da Quinta de Baldias em especial o delicioso Tawny que mais parecia um reserva e os Barão do Sul e Barão do Sul Reserva que eram incríveis relações Qualidade x Preço x Prazer. Fechou a empresa e a Eliza alçou voo rumo a uma terra distante porém encantadora e repleta de cultura, conhecimento e muito vinho! Agora, enquanto não encontra seu caminho de volta, compartilhará conosco suas experiências. Benvinda amiga e espero ansioso por mais posts.

 

            Atualmente moradora do Sul da França (quelle chance) e completamente apaixonada pela cultura local, aproveito esse espaço (gentilmente cedido pelo queridíssimo João Filipe) para compartilhar com vocês algumas descobertas, minhas impressões e ainda muitas novidades do mundo vinícola francês, disponíveis ou não no Brasil.

            Neste primeiro momento, eu proponho um resumão da história da vinha e do vinho na região Languedoc-Roussillon. Preparados?

            Foram os gregos os primeiros a cultivar a vinha na região méditerrannée, 5 séculos A.C.. Naquela época, o vinho era uma importante moeda de troca e os proprietários das vinhas possuíam poder e prestígio.

            No entanto, quem realmente expandiu a cultura da vinha, desenvolveu o comércio do vinho e até criou as primeiras regras de produção, foi o povo romano. Imaginem que, um século antes do nascimento de Cristo, ao longo de toda a voie domitienne, os centuriões romanos cultivavam a vinha e vendiam o seu fruto mais precioso: o vinho. Mas, como nada dura para sempre, com o declínio do Império, as invasões germânicas e a expansão da presença muçulmana, o comércio se desestabilizou e muitos vinhedos foram esquecidos ou arrancados…

            Por mais de 15 séculos, a região perdeu a sua vocação vinícola… apenas os monges pareciam se interessar pelas práticas vinícolas herdadas da época romana. Muitas Abadias possuíam um pequeno vinhedo, instalações para a vinificação e ainda uma cave para estocar as preciosas garrafas. Mas atenção: tudo isso para consumação própria.

            Foi somente durante os séculos XV e XVII que algumas personalidades se interessaram em desenvolver o comércio no sul da França e, em consequência, a vinha. Mesmo sendo a rota de passagem mais importante entre a Itália e a Espanha, as estradas da região eram muito perigosas e o mar repleto de piratas, o que dificultava énormément o desenvolvimento do comércio. Com a construção do Canal du Midi, em 1681, tudo mudou! A vinha expandiu, expandiu sem parar… o Languedoc tornou-se, em apenas um século, o maio produtor de eau-de-vie, aguardente de uva, do mundo. E, logo em seguida, tornou-se o maior produtor de vinho barato da França. Títulos que marcam a reputação da região até os dias de hoje.

            Mas, atualmente, muita coisa mudou por aqui. Após anos de crise e de falências de caves cooperativas, os antigos produtores preocupados com a quantidade, cederam espaço à uma nova geração de vignerons. A região, enquanto produtora de vinho, se estrutura, descobre seu terroir, tão diverso e tão rico. E nós, hoje, podemos fazer parte dessa história, degustando os vinhos da região, com toda a atenção e o carinho que eles merecem!