Um Branco Com 24 Anos, Pode!
É, sempre falaram para você que vinho branco tem que ser tomado jovem, gelado e ser bem clarinho né? Pois é, não se for um Viña Tondonia Reserva Branco! Existem diversos brancos que envelhecem bem, mesmo sendo a minoria, porém este vinho é para lá de especial e, como me falaram há dias numa degustação, “é um branco que é tinto”!! Lógico que não na cor e tão pouco nos seus aromas e sabores, mas em sua complexidade e conceito. Chega a ser um vinho cult, objeto de devoção de muitos, inclusive eu que o acho bem superior à sua versão tinta.
Este ano já o coloquei em duas degustações Best of 2014 e em ambas ele roubou as atenções o que não é coisa fácil já que vem à mesa com outros grandes vinhos e, tenho que reconhecer, só é batido na hora em que sirvo o fantástico Henrique e Henriques 15 Anos Bual, um madeira excepcional que obteve minha indicação como melhor harmonização do ano em 2014, com uma torta de figos, maçã e nozes obra do amigo Ney Laux.
Quem não conhece pode estranhar a cor, os aromas e, até, os sabores. É um branco com alma de tinto e quem o experimenta tem que estar preparado para algo muito diferente para que, como já aconteceu com um amigo, não o descartar no ralo pensando estar estragado devido à cor e ao forte aroma de oxidação que são sua marca registrada. Notas salgadas, uma complexidade aromática e de boca ímpares, untuoso, acidez ainda bem presente formando um conjunto de muito equilíbrio, sensações difíceis de serem transformadas em palavras! Meu sonho ainda é abrir um Grande Reserva, será que consegue ser melhor?! Quem sabe um dia quando o bolso o permitir ou conseguir um portador da Espanha? De resto, é puro gozo, uma experiência hedonística que precisa ser vivida, mais do que lida.
O produtor desde 1877, R. López de Heredia, cidade de Haro em Rioja, a tradição como fonte de inspiração e filosofia enológica. Ali, 12900 barricas guardam preciosidades em cave subterrânea cavada num bloco de pedra de arenito a mais de 10 metros de profundidade. Fermentação em tonéis de madeira de 60.000 litros, leveduras naturais, seis anos de barricas de carvalho americano de 225ltrs e mais alguns anos de garrafa até que algumas dessas poucas garrafas, cerca de 10.000 anuais, deem o privilégio de aparecer em nossas taças permitindo que passemos por esses verdadeiros momentos de deslumbramento ao tomar uma verdadeira obra de arte engarrafada!
Acho que matamos este ano duas das últimas garrafas da safra de 1991 disponíveis no mercado. Em alguns lugares a de 1993 poderá ainda ser encontrada, porém não sei que safra a Vinci (importadora desta preciosidade) tem em estoque. Como sempre, servi o vinho com tiras de Jamon Serrano e uns canapés de brie com o mesmo jamon e acho que fica perfeito, em linha com o que faria com um Jerez Manzanilla. Quanto ao restante dos rótulos, todos de grande qualidade e personalidade, a confreira e amiga Raquel Santos falará desse momento em breve aqui no site, ela que é a porta voz da Confraria Saca Rolha.
Kanimambo, salud e não esqueça; dia 18 embarco para Mendoza para mais 5 dias de puro êxtase enófilo e só temos 4 vagas sobrando, vem comigo?