Segredos da Garrafa
Porquê a garrafa padrão é de 750ml e não um litro ou meio? Porquê tem fundo côncavo em vez de reto, isso implica em qualidade? Porquê da cor? Se pararmos para pensar são inúmeras as duvidas que podem pairar sobre o tema e na Vino & Sapore volta e meia essas perguntas pintam no pedaço.
1 – Porquê da garrafa ser de 750ml. A definição mais aceita é de que a Inglaterra, que por um longo tempo, sempre foi grande importador de vinhos de Bordeaux e de Portugal, sendo que esta sempre teve um sistema de medidas diferente da grande parte do mundo inclusive França, então os países produtores se adaptaram à demando de seu maior mercado. Na Inglaterra, se usava o “galão Imperial” que correspondia 4,54609 litros e 750ml facilitavam a conta, 6 garrafas! Na época os vinhos de Bordeaux eram transportados em barris de 225 litros ou cerca de 50 galões imperiais correspondente a 300 garrafas de 75 cl (750 ml). Só por curiosidade, preço médio de uma barrica nova de carvalho, média tem para menos e para mais dependendo de origem e qualidade, USD900 ou cerca de USD3 por garrafa.
2 – Fundo de garrafa determina qualidade do vinho? Quanto mais fundo melhor é o vinho? Nada a ver e ainda tem gente que acha fino enfiar no dedo no fundo para servir, argh! rs O fundo a principio tem esse formato concavo para lhe dar melhor estrutura, especialmente nos espumantes em função da pressão interna, e para facilitar a estocagem em caves pois dá melhor apoio e equilíbrio ao se colocar o gargalo encaixado no fundo de uma segunda ou terceira garrafa. Maior estabilidade no transporte.
3 – Cor da garrafa, o fato dela ser âmbar ou verde, tem a ver com proteger seu conteúdo da luz, como o azeite por sinal, seu maior inimigo especialmente nos vinhos de guarda. Por outro lado, há também uma razão de marketing porque em vinhos brancos mais jovens, de não guarda, as garrafas tendem a ser transparentes para se apresentarem “mais bonitas e coloridas” ao mercado. rs Quem não lembra das famosas garrafas azuis de vinhos baratos alemães? Puro marketing!
As cores empregadas tradicionalmente, de acordo com Elano Marques do blog Vino Divino Vinno no Jornal Tribuna do Norte, são:
Em Bordeaux : garrafas de verde escuro para os vinhos tintos; verde claro para os vinhos brancos e secos e translúcidos para os vinhos doces.
Na Borgonha e Rhône: garrafas verde escuro
Na Alsacia e na região de Mosel: garrafas verde claro e algumas de cor âmbar
No Novo Mundo: garrafas verde escuro para os vinhos tintos e garrafas translúcidas para os vinhos brancos.
4 – O peso da garrafa demonstra qualidade? Não, apesar de muitos fazerem essa relação e essa percepção acabou influenciando também o marketing de alguns produtores. Quer valorizar seu produto, aumente o peso da garrafa! rs Por outro lado, a principio, ninguém vai investir numa garrafa dessas, aumentando seus custos, para colocar qualquer zurrapa dentro pois pode queimar sua reputação, então é algo a se pensar.
Na verdade historicamente produtores de vinhos de longa guarda usavam garrafas mais resistentes em função desse tempo de maturação esperado em garrafa, porém nada comparado às armas (nas mãos erradas podem ser letais! rs) que são algumas garrafas hoje em dia. De acordo com a Revista Adega, “pesquisa feita em Oxford chegou à conclusão de que os consumidores acreditam que garrafas mais pesadas têm vinhos melhores e mais caros. O estudo realizado em um mercado, com cerca de 100 consumidores, também mostrou que os compradores se surpreendem quando esses vinhos têm preços mais baixos.
“A relação peso-qualidade é vista em diferentes categorias de produtos desde chaves de carros até controles remotos. Nos vinhos isso pode ser histórico, vinhos mais caros eram colocados em garrafas mais fortes para ficaram mais protegidos”, disse o chefe da pesquisa, Prof. Charles Spence.
Ele ainda lembra que garrafas mais pesadas são realmente mais caras, mas que isso tem relação com os custos extras da produção e não com a qualidade do produto. E que, por conta da associação do cérebro, a percepção pode deixar o vinho com um sabor melhor.” Hoje em dia, em função da onda de preservação ambiental e custos de transporte, há uma busca inversa por garrafas mais leves especialmente para os vinhos mais em conta.
Os resultados, publicados no Jornal Food Quality and Preference, mostraram que grande parte dos consumidores comuns é mais propensa a ser influenciada pelo peso da garrafa na hora de comprar vinhos. Perguntados, em uma escala de um a nove, se garrafas mais pesadas tinham vinhos mais caros (e de maior qualidade), os consumidores responderam com uma média de 7.1 para o primeiro quesito e 6.6 para o segundo.
Para quem viaja e compra vinho para trazer, uma dica, evite essas armas em função de peso e calcule 1,2 a 1,4 quilos por garrafa de 750ml em média. Afinal com a cobrança pesada sobre a bagagem há que se tomar cuidado dobrado com isso!
5 – Tamanhos de Garrafa. O que isso influência no vinho, o mesmo vinho numa garrafa de 375ml e numa de 3 litros será igual? Não existem estudos que cientificamente deem resposta a esta pergunta, porém o bom senso e experiência indicam que se abertos jovens, com seis meses de vida por exemplo, eles serão iguais. Com o tempo, todavia, isso muda em função do volume de vinho na garrafa que tende a evoluir mais lentamente e por isso as garrafas grandes serem tão valorizadas. Para quem não conhece, há garrafas que chegam a 30 litros eis a classificação toda, porém os formatos mais conhecidos são a Magnum e a Jeroboam mais conhecida como Double Magnum. Quanto maior a garrafa menos será a quantidade engarrafada sendo as de 30 litros verdadeiras raridades.
6 – Formatos da Garrafa. Na maioria das vezes não há uma obrigação da região demarcada (exceto por regiões mais antigas, clássicas e tradicionais do velho mundo) e tende a ser algo mais regional e cultural, porém em função da “supremacia” de mercado dos vinhos europeus (velho mundo) espalhados pelo mundo essa influência “pegou” e existem alguns conceitos técnico para isso também a considerar. No blog da Valduga; ” A garrafa mais tradicional é a Bordalesa, originária de Bordeaux, o formato dessa garrafa é desenhado para acumular melhor os resíduos sólidos ou borras, gerados pelo envelhecimento do vinho, pois no momento em que o vinho é servido na taça, estes resíduos ficaram presos nos “ombros” e os vinhos de Bordeaux possuem essa característica.
Os diferentes modelos de garrafas podem ter sido criados para preservar as características de cada bebida, mas eles também refletem especialmente as áreas em que essas uvas foram plantadas. Outras garrafas famosas no mundo são as de Barolo, da Itália, que possuem recomendações técnicas específicas para que o vinho possa receber a classificação regional.
As garrafas da Alsácia (França), Mosel e a maioria das outras regiões produtoras Alemãs são mais alongadas e longilíneas tendo influenciado o mundo inteiro quanto a garrafas de Riesling. Vale também para os Vinhos Verdes em Portugal,. Já as de Chianti, originárias da Itália, são chamadas de fiaschi e se caracterizam por serem bojudas e revestidas com palha, porém estão em desuso nos últimos anos tendo se optado (na maioria) pelo uso de garrafas bordalesas, as mais comuns no mundo..
Para vinhos de Pinot Noir, a garrafa escolhida é a borgonhesa de ombros mais suaves e corpo mais largo, pois nesta região em que se elaboram os mais famosos Pinots do mundo, isso porque os vinhos são menos tânicos e encorpados acumulando menos resíduos sólidos com o envelhecimento ” Apesar disso, nada impede que se encontre Vinhos Verdes ou Pinots de diversos outros lugares do mundo em outro formato de garrafa, salvo onde isso seja norma regional. Ah, antes que me esqueça porque já vi publicado por aí, o formato da taça de vinho não tem nada a ver com o formato da garrafa, ok?
Tem algo a adicionar, quer saber mais, tem mais dúvidas, então coloque aqui em comentários. O que souber respondo de bate pronto e o que não corro atrás e aprendo junto! Fui, ótimo final de semana acompanhado de qualquer uma dessas garrafas. Kanimambo pela visita e nos vemos por aí nas estradas de nossa vinosfera e, porquê não, na Vino & Sapore. Saúde!