A Vitivinícultura no Brasil
Você sabia que as videiras chegaram ao Brasil pela mãos de Martin Afonso de Souza em 1532? Eu não! Aliás como não sei um monte de coisas sobre a vinicultura Brasileira. Mais ainda, acho que tem pouca gente que sabe realmente o que acontece por aqui e, se sabe, pouco divulga. Como a informação é essencial para expansão de consumo de qualquer produto, o consumidor brasileiro segue sendo um neófito sobre os produtos de seu próprio país! Bem, ainda não é hora de espinafrar nem reclamar, vamos dando seqüência à história por trás do presente. Acho que esta matéria vai ser bastante polêmica, mas vamos lá.
Quem primeiro iniciou o cultivo de vinhas e elaboração de vinhos no Brasil, foi Brás Cubas e depois os jesuítas em 1616, mas os projetos não vingaram por diversos motivos, entre eles o protecionismo comercial de Portugal tendo a corte chegado ao ponto de proibir o cultivo de uvas no Brasil em 1759. A introdução êxitosa de plantio de videiras, realmente ocorreu com a vinda de emigrantes italianos em 1875 que chegaram com diversas mudas trazidas de sua terra natal, em especial da região do Vêneto. A forte cultura de produção e consumo de vinhos trazido pelos colonos italianos serviu como uma forte alavancagem da produção de vinho, porém as videiras finas não se adaptaram bem às condições climáticas tropicais e de muita umidade tendo-se perdido quase que totalmente. Foi com uvas americanas, não viníferas, que a região se expandiu produzindo vinhos rústicos, de baixa qualidade e sem grandes atrativos.
Somente a partir de 1970 com a chegada de alguns grupos produtores internacionais, é que algo começa a mudar na vinicultura brasileira, à época muito centralizada na serra Gaúcha onde os colonos italianos se instalaram. Foi, no entanto, a partir de 1990, com a abertura do mercado, maior concorrência e necessidade de aprimorar produtos, que se iniciou um processo de reformulação da vitivinicultura brasileira. Grandes investimentos em tecnologia, equipamentos, vinhedos, clones mais adequados ao clima, descoberta de novos terroirs, nos trazem aos dias de hoje com enorme evolução e vinhos de grande qualidade com especial destaque para nossos ótimos espumantes de Garibaldi. Cada vez mais, pequenos produtores deixaram de produzir para as grandes vinícolas, alçando vôo próprio reduzindo ou deixando de suprir as grande vinícolas fortalecendo a disseminação de pequenas vinícolas familiares.
A região central, o núcleo de nossa história vitivinicola, tem origem numa área de cerca de 82 quilômetros quadrados na região da Serra Gaúcha a 130 kms de Porto Alegre, o nosso conhecido Vale dos Vinhedos que abrange parte dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. Esta região, é a única no Brasil, com regulamentação e reconhecimento de Indicação de Procedência, um primeiro passo no caminho de se conseguir a denominação DO (Denominação de Origem). Como já vimos no primeiro post de introdução, no entanto, a vinicultura brasileira não está mais restrita a Bento Gonçalves tendo se expandido sobremaneira, alcançando inclusive o Nordeste num projeto impensável. Aliás, me faz lembrar aquele que “por não saber que era impossível, foi lá e fez”! Incrível o que uma pitada de ousadia, alta tecnologia e grande investimento podem realizar quando aliados a uma forte determinação na busca de um objetivo, mas isso fica para um outro dia. O importante é saber que nossa fronteira vinícola se expandiu e estamos fazendo grandes e ótimas descobertas que ainda nos trarão muitas alegrias.
Lamentavelmente, os dados disponíveis sobre estas regiões é muito escasso e mal gerido. Tente levantar quantos hectares de uvas viniferas estão plantados por região. Melhor ainda, busque informações sobre a produção anual de vinhos finos por região, ou quantos produtores, gente não existe! Nem Embrapa, nem Ibravin, nem Uvibra, ninguém tem esse número. Isso quando os números não são de cinco ou seis anos atrás. O que temos são dados generalizados, onde aparecem números genéricos do país sem qualquer detalhamento. Não sabemos quais as principais características de cada terroir, nem quais as principais uvas nele plantadas. Para quem busca informação, parece que para a industria brasileira do vinho, um vinho fino produzido em Pernambuco é de características similares aos de Santa Catarina ou do Vale dos Vinhedos, e isto não me parece a forma mais adequada de tratar estas informações. Por outro lado, pode ser que o problema seja meu e eu é que não tenha conseguido localizar as informações. Quem poder contribuir me informando o caminho ou quiser compartilhar dados, por favor não hesite em comentar, o espaço está aqui para isso.
Denominação de vinhos no Brasil. Neste sentido ainda estamos engatinhando, porém começamos no caminho certo com a primeira Indicação de Procedência para o Vale dos vinhedos em 2002. Pelo que pude ler, não muito conciso, existem já outras solicitações em processo de análise. Pela legislação brasileira de 2004, vinho é uma bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto simples de uva sã, fresca e madura. Vinho fino é aquele no qual somente são usadas uvas Vitis Viníferas. Eis a classificação vigente:
-
Vinho de mesa – Teor alcoólico de 8,6% a 14%
-
Vinho frisante – Teor alcoólico de 7% a 14% , natural ou gaseificado.
-
Vinho fino – Teor alcoólico de 8,6% a 14%, elaborado exclusivamente de variedades Vitis Vinífera do grupo Nobres.
-
Vinho de mesa de viníferas – Elaborado exclusivamente com uvas das variedades Vitis vinífera.
-
Vinho de mesa de americanas – Elaborado com uvas do grupo das uvas americanas e/ou híbridas, podendo conter vinhos de variedades Vitis vinífera.
-
Vinho leve – Teor alcoólico de 7% a 8,5%, obtido exclusivamente da fermentação dos açúcares naturais da uva, produzido durante a safra, vedada sua elaboração a partir de vinho de mesa.
-
Espumante ou Espumante Natural – Vinho cujo gás provém exclusivamente de uma segunda fermentação alcoólica do vinho em garrafas (método Champenoise/tradicional) ou em grandes recipientes (método Chaussepied/Charmat Teor alcoólico de 10% a 13%
-
Moscatel Espumante – Vinho cujo gás provém da fermentação em recipiente fechado, de mosto ou de mosto conservado de uva moscatel, Teor alcoólico de 7% a 10% Mínimo de 20 gramas de açúcar natural remanescente
-
Vinho Gaseificado – Teor alcoólico de 7% a 14% cujo gás vem da introdução artificial de anidrido carbônico puro
Doravante, sempre e quando me referir aos vinhos nacionais, estarei falando de vinhos finos destacados em negrito acima. Destes vinhos, em 2007 foram produzidos algo ao redor de 43 milhões de litros, aparentemente os vinhos de mesa de Vitis Viniferas estão inclusas, contra uma produção de 45 milhões em 2005 e 32 milhões em 2006. O total de vinhos, todos os tipos, produzidos chega a pouco mais de 318 milhões de litros. Dos 43 milhões de litros produzidos, aparentemente cerca de 21 milhões advém do RS, de acordo com os números disponíveis no site da UVIBRA, dos quais aproximadamente 18 milhões de vinhos engarrafados e o restante a granel. Se olharmos as planilhas da UVIBRA com os dados de importação, podemos concluir que o total de vinhos finos engarrafados no Brasil, incluindo-se os espumantes, totalizam algo ao redor de 29.5 milhões de litros, ou seja, algo próximo a 32% do consumo brasileiro de vinhos finos que totalizam cerca de 90 milhões de litros. O interessante é verificar que, enquanto nos vinhos tranqüilos a participação nacional vem caindo e hoje chega a cerca de 26% do total, nos espumantes a situação se inverte com um total aproximado de 73% do consumo dos cerca de 11 milhões de litros. Se considerarmos estes números de consumo de vinhos tintos, chegamos a um consumo per capita anual de menos de 0,5 litros. Quando consideramos a produção de todos os tipos de vinho mais importação, chegamos a um consumo per capita aparente de 2,12 litros o que continua sendo um número extremamente baixo mostrando o enorme espaço para crescimento que o mercado possui se devida e eficazmente traballhado.
Valores aproximados de consumo e produção anual de vinhos finos no Brasil | |
Origem | Litros |
Importados | 60.875.073 |
Nacionais RS | 19.952.097 |
Nacionais Outros | 2.593.773 |
Espumantes | 8.300.000 |
Total | 91.720.943 |
Fontes – Ibravim, UVIBRA e Embrapa Referência 2007 |
Bem, por hoje é só que isto já vai longe. Considerando-se a falta informações disponíveis, a ausência de inspiração, a ansiosidade e angustia gerada pela confraternização do próximo dia 5,esperando que tudo saia a contento, até que consegui gerar bastante matéria. Ou será que enrolei demais? Bem, de qualquer forma, na Segunda tem mais com os primeiros Tomei e Recomendo e depois a seqüência sobre as regiões e vinhos de nosso país, Boas Compras com nossos parceiros, etc.. No fim de semana, a coluna do Breno e as noticias e novidades de nossa Vinosfera. Aproveitem e até Segunda.
Salute e kanimambo!
E eu achando que estarias ocupado demais!
Que aula!! Muito obrigada!
beijo grande.
Prezado Sr. João Felipe, que aula o senhor nos deu.
Mas a surpresa será que haverá, em breve , um terroir da serra da mantiqueira ( São bento do Sapucaí -Estado de São Paulo-BR).
Um abraço,