Reflexões do Fundo do Copo – A Literatura e o Vinho
Mais um delicioso texto do amigo e colaborador de todos os sábados, Breno Raigorodsky. Para acessar seus textos anteriores, clique em Crônicas do Breno, aqui do lado, na seção – Categorias
“O Vinho Mais Caro da História” de Benjamim Wallace (editora Zahar)foi meu livro de cabeceira, nos últimos dias. Apesar de ser chato, ele me pegou e só larguei depois que acabei de ler suas 252 páginas mal escritas. Por que fui até o fim, eu que sou conhecido como um impiedoso larga-livros, que jamais leio até o fim coisas que não me prendem a atenção? Perguntem para o Joyce se li seu Ulisses até o fim, perguntem para o Guimarães Rosa quantas vezes tentei ler sua história sobre Diadorim até finalmente conseguir…
Pois bem, li este Benjamim Wallace porque, talvez tenha sido a fonte mais precisa do porque vinho custa o que custa… Este absurdo disparatado que concorre diretamente com os preços das relíquias mais valiosas, quando – mesmo nos mais caros e cuidadosos processos – não custa sequer 1/20 do preço que tem nas prateleiras. Descubro pelo livro, que jamais um vinho tinha superado os US$500,00 até 1970 ou próximo disso.
Descubro então, que o vinho vira moda e que torna interessante a sua entrada no mundo dos leilões, o que vai alimentar uma espiral de preços que levou, em 1985, aos tais US$150.000,00, que justificam o título do livro. Em menos de 10 anos, mais de 30.000% de valorização, números que nem os bancos brasileiros conseguem atingir em termos de lucro! Os ricaços americanos e alemães, alguns até interessados em vinho e não apenas em aparecer, principiaram um processo de degustações infindável, consumindo, como se fosse água, vinhos da era pré-filoxera, ou seja, vinhos anteriores ao fim do século XIX, já que a praga exterminou praticamente toda produção mundial de uvas ditas apropriadas para o vinho, exceção feita às vinhas do Chile.
Gente importante como Jancis Robison e Robert Parker, entraram de bocós neste processo de valorização sem medidas e sem respaldo na realidade. O livro trata das dificuldades em determinar o falso, mas deixe entender que falso mesmo não são garrafas e conteúdo, mas as motivações, pois a relação que cria com Thomas Jeferson – embaixador da novíssima república americana em solo francês – nada mais faz do que conduzir o fio da meada, que leva à prova de falsificação de uma parte importante de vinhos neste período.
O que mais incomoda é que aquela gente esbaldou-se de beber os grandes vinhos anteriores à II Grande Guerra, mas quem paga a conta, até hoje, somos nós!
Breno Raigorodsky; filósofo, publicitário, sommelier e juiz de vinho internacional FISAR