Região Vinícola da Borgonha – II

Este post era para ser publicado ontem, mas compromissos familiares me impossibilitaram de finalizá-lo, depois conto. A classificação dos vinhos da Borgonha segue um conceito bem diferenciado do que vimos em Bordeaux e foi, primeiramente, implementada em 1861, com uma revisão em 1935 quando da criação do INAO. Em Bordeaux a classificação é dada para o Chateau/Produtor que tem sua qualidade historicamente reconhecida. Aqui, o que vemos é que vinhedos são classificados, e, como mencionado no post anterior, um vinhedo pode ter diversos proprietários e produtores podendo, e efetivamente ocorre, gerar enormes diferenças de qualidade dentro da mesma apelação (Appelations). Mais do que qualquer outra região, aqui há a absoluta necessidade de se guardar nome e sobrenome do produtor, pois na mesma familia e na mesma comuna podem existir três ou quatro produtores diferentes com nomes muito similares. Gostou do vinho, faça seu registro! Vejamos agora as mais importantes classificações encontradas na região;

  •  Bourgogne Rouge – É o vinho tinto genérico, ou regional, essencialmente elaborado com 100% de uvas Pinot Noir, exceção feita a algumas poucas comunas onde se permite um corte com Gamay. Produzido com uvas de qualquer lugar da região, são vinhos nem sempre à altura do nome, porém existem alguns bons rótulos no mercado, que tive a oportunidade de provar e estarei comentando em meus Posts de Tomei e Recomendo. Estes melhores, estão prontos a tomar entre dois a três anos e não devem envelhecer muito, no máximo uns cinco ou seis anos. No rótulo podem também aparecer como “Bourgogne Pinot Noir ou Pinot Noir Apellation Bourgogne Controlée”
  • Bourgogne Blanc – Elaborado com100% Chardonnay, também de qualquer lugar da região,  a base da pirâmide dos vinhos da Borgonha, vinhos genéricos ou regionais.  Vinhos que não necessitam de tempo em garrafa e possuem uma vida “útil” de estimada em cerca de três a quatro anos.
  •  Bourgogne Aligoté – Produzido com a uva Aligoté, gera alguns bons vinhos especialmente em Bouzeron.
  •  Bourgogne Passe-tout-Grain, um vinho não muito elaborado, normalmente um corte de Pinot com Gamay, não muito comum por aqui e, normalmente caro para a qualidade. Vinho para ser tomado novo.
  •   Village – São vinhos advindos de uvas cultivadas no planalto que antecede as encostas e, normalmente, o rótulo indica tão somente o nome da comuna. Presumidamente, um nível de qualidade acima dos vinhos regionais e o preço já começa a ficar salgado. Garimpando, se encontram bos vinhos por preços relativamente acessíveis.
  •  Premier Cru, a elite dos vinhos da Borgonha dos quais existem mais de 560 em toda a região e obedecem a regulamentação específica. As uvas são plantadas no  inicio da encosta. O preço já pesa bastante no bolso e não é para qualquer um. Saul Galvão, em seu livro Tintos & Brancos, ressalta que, devido ao sistema de classificação adotado, existem muitos vinhos neste grupo que muitas vezes decepcionam embora o preço siga caro. Ou seja, a classificação indica qualidade, não a garante. Pesquise!
  •  Grand Cru, a elite das elites existindo somente quarenta e uma em toda a região, das quais sete em Chablis e trinta e quatro na Cote D’Or. Esta classificação, na Cote D’Or, está geográficamente localizada no meio da encosta, onde obtém a melhor exposição solar, o terreno possue maior drenagem e as condições de solo (Calcário/Marga) ideais. Tanto os vinhedos Premier Cru, quanto os Grand Cru, são plantados nas encostas voltadas para o Leste. Estes Grand Crus são os vinhos mais caros da região, sendo poucos os que têm possibilidade de os comprar e apreciar.
  • Hautes Cotes de Nuit e de Baune. As zonas das encostas voltadas ao Oeste, protegidas por alta arborização. Região difícil devido à menor insolação dificultando a amadurecimento e mais sujeito a geadas. Um pouco acima do nível de qualidade dos genéricos, próximo aos Village, dependendo do produtor e da safra.

Cerca de 65% dos vinhos são de classificação genérica ou regional, 23% de Village, 11% de Premier Crus e somente 1% de Grand Cru. O livro Larousse do Vinho, uma obra de consulta importante para os enófilos terem em casa, mostra bem o corte geológico e posicionamento das classificações nas encostas. Tomei a liberdade de pegar a imagem emprestada;

 

 

 

Em Beaujolais, a relação qualidade / classificação é ainda mais difícil já que, a aplicação da classificação é feita por comuna. De qualquer forma, esta sub-região tem uma classificação diferenciada do restante da Borgonha;

  •   AOC Beaujolais, vinhos advindos de qualquer das sessenta comunas da região. Normalmente são os vinhos mais fracos, leves, alguns até meio ralos. Dependendo do que se quer, podem ser companheiros baratos e frescos, devendo ser tomados refrescados a cerca de 14º e sem compromissos nem grandes expectativas. O Beaujolais Noveau é uma variante desta classificação e é, basicamente, uma grande jogada de marketing como já mencionei no post anterior sobre a região.
  •  Beaujolais Superieur, em principio pouca diferença do AOC Beaujolais, exceção feita à exigência de um maior teor alcoólico. Vinhos simples.
  •  Beaujolais Village fica reservada às 38 comunas da metade norte desta sub-região, onde já se encontram melhores vinhos devido à maior densidade de vinhedos e um subsolo granítico. Representa aproximadamente 25% do total da produção.
  • Crus, seguem sendo vinhos bem mais acessíveis que o restante da Borgonha, porém já possuem um outro nível de qualidade, maior estrutura e intensidade de sabores e aromas do que os Beaujolais mais comuns.  Entre estas cerca de 10 Crus, que aqui são indicativos de 10 comunas situadas no norte, algumas se destacam como; Moulin-a-Vent, Fleurie, Morgon, Brouilly, Juliénas e Saint-Amour todos com vinhos mais elaborados e com maior potencial de guarda podendo evoluir até quatro, cinco anos ou até mais, em especial os primeiros três aqui citados, quando tendem a se assemelhar aos vinhos elaborados com Pinot Noir. Alguns dos vinhos que Tomei e Recomendo, vêm desta região e surpreendem.

É isto meus amigos, na Segunda-feira publicarei meu primeiro post do mês com vinhos destas regiões que provei e aprovei e, no decorrer da semana, darei seqüência com as outras regiões tema deste mês assim como mais Tomei e Recomendo e também destaques de Boas Compras de nossos parceiros e amigos do vinho.

Até lá, salute e kanimambo!