A Importância das Cepas
Qual a importância de se conhecer as cepas nos vinhos que tomamos? Relativa na minha opinião, até que no outro dia assisti à seguinte conversa entre amigos por volta de seus 35 a 40 anos, que apelidarei de Zé, Marcos e Fábio, no supermercado em que tradicionalmente faço minhas compras:
- Zé – Cara não sei que vinho comprar, é tanta uva!
- Marcos – Qualquer coisa meu, é tudo vinho mesmo.
- Zé – Ô, não é assim não, depende da uva e do país as coisas mudam.
- Fábio – É isso mesmo.
- Zé – Estou na duvida; um português, merlot, cabernet, o que levamos?
- Fábio – Vai no português não, os vinhos de lá são muito ruins e esse merlot é uma uva muito pesada, pega um cabernet que é mais suave.
- Zé – Sei não, mas vai lá, acho que levarei este cabernet argentino. Se der errado é culpa sua seu fio …..
- Fábio – Garanto meu, mas da Argentina não dá, de lá só malbec. Pega do chileno que esse não tem erro não, lá só tem vinho bom e esse Privado é da hora.
- Marcos – Pessoal, não tou nem aí, o que pegarem pra mim tá bom, mas vamos logo que eu ainda quero pegar minhas cerva!
Não preciso dizer o quão difícil foi me segurar para não ter um quarto personagem entrando nessa conversa, certo?! Afora a falta de conhecimento, até aí tudo bem e perfeitamente aceitável, ficaram evidentes o fato do neófito ditar regras (na minha terra isso tem um nome que não dá para mencionar aqui) com uma autoridade tremenda e o excelente marketing chileno. Enfim, escutar esse bate-papo assim como na Expovinis em que um cara, ao lhe ser oferecido um Cabernet Sauvignon, perguntou se não tinha só cabernet já que ele não gostava de blends (é vero), despertou em mim a necessidade de falar um pouco mais sobre as cepas disponíveis no mercado, sua tipicidade e o que se esperar de vinhos de cada uma delas. Já fiz uma matéria sobre a Syrah há um tempo atrás, mas não dei seqüência. Agora, fazendo este trabalho, aproveito e também melhoro o meu conhecimento sobre esse vasto tema, até porque existem mais de 3.000 espécies de uvas viníferas, das quais um pouco mais de 150 são usadas comercialmente.
Afinal, qual a importância das cepas no vinho? Nos assemblages, até alguns anos atrás nenhuma! O que importava era o produtor, região e o rótulo, a composição não era importante e, até hoje, é secundário na maioria dos países do velho mundo, especialmente quando nos referimos a vinhos de corte. A necessidade de saber que cepas compõem o vinho tem a ver com a objetividade e pragmatismo dos mercados do novo mundo, em especial dos americanos que pediam essa informação, e os produtores acataram essa demanda do mercado. Com a introdução dos varietais, trazidas com o advento do crescimento da produção do novo mundo na produção mundial, a menção no rótulo se tornou obrigatória. Elaborar varietais de uvas tradicionais (merlot/syrah/cabernet, etc.) é, teoricamente e dependendo da qualidade do vinhedo, mais fácil do que elaborar blends então, nada mais lógico que o Novo Mundo trouxesse à baila este estilo de vinho como um processo de autoconhecimento, tendo influenciado o consumo mundial no processo.
Cada cepa tem uma característica e uma tipicidade, ao saber com que uva o vinho foi elaborado o consumidor tem a sensação de saber o que está comprando, o que não deixa de ter uma certa lógica apesar dos furos nessa afirmação, criando uma expectativa que se espera seja confirmada na boca. Na verdade uma mão na roda para o consumidor que faz uma compra com menor risco. Pois bem, pensando nisso e não tendo tempo hábil para fazer todo o trabalho de pesquisa, convidei a amiga Mariana Morgado que já tinha feito um trabalho similar e, juntos, vos estaremos apresentando uma nova cepa quinzenalmente, alternando os Sábados com as gostosas crônicas do amigo Breno (por sinal a última estava divina). Ao falarmos sobre as características e histórico de cada cepa, também listaremos alguns bons vinhos elaborados com ela, dentro das mais diversas faixas de preço e origens, vinhos que, preferencialmente, já tenham andado por minha taça. A Mariana, para quem não conhece, é uma menina muito capaz e simpática que durante um tempo adornou as hostes da Wine Premium e Expand com sua graça, conhecimento das coisas de nossa vinosfera e eficiência. Roqueira, sonhadora, cheia de energia, parte agora para uma carreira solo com um monte de projetos interessantes que, conforme forem se concretizando, vocês ficarão sabendo aqui no blog. Fiquei super feliz que ela tenha aceitado meu convite e honrado por assinar este artigo junto com ela. Dia 18 já sabem, vai ao ar nosso primeiro post Falando de “ Uvas & Vinhos”.
Por enquanto fica minha dica, evitem generalizar, pois cada vinho é um vinho, cada produtor tem o seu estilo, e cada terroir suas próprias características que influenciam sobre-maneira qualquer cepa. Existem bons vinhos de todas as cepas em todos os lugares e ninguém produz só vinho bom ou vinho ruim. Podemos ter preferências, mas se até o Cristiano (Orlandi do Vivendo Vinhos) descobriu que existem Merlots de que ele gosta (rs,rs), aos quais deu mais de 90 pontos, então abaixe a guarda, livre-se de preconceitos, mantenha a mente aberta e prove, prove muito, pois existe esperança!
Salute e kanimambo
prezados
bebi um vinho merlo chileno, no restaurante artigiano, novidade para mim pois nunca tinha escutado falar, maravilhoso, mas esqueci o nome, alguem pode me ajudar e me enviar por email……obrigado
ats
amauri batista beghini
Amauri, mais fácil vc voltar no restaurante para checar, mas o chilenos produzem sim bons merlos. Nos mais baratos gosto bastante do Cumbres Andinas e nos reservas o Anakena e o Carmen são muito bons sem deixar de lado um grande vinho que é o Marques de Casa Concha!
Veja se entendí!cepas é a composição de como efeito cada vinho?
cada vez mais que leio sobre vinhos masi descubro coisas.é surpreendente!!!
Oi Simone, a cepa é o tipo de uva.
Poxa, ótimo post, sr. João Filipe.
Adorei a matéria, e sempre tive uma certa curiosidade sobre o assunto.
Boa sorte! =D
Caro João Filipe
Sempre li nos textos especializdos sobre vinhos que o preço tem a ver com a qualidade do vinho, sim, o que de certa forma é óbvio.
Como sempre comprei vinhos estrangeiros na faixa de 30 a 50 reais, gostaria de me lançar um pouco além, talvez chegando perto dos 100 reais.
Gosto dos Malbec argentinos e dos brancos alemães.
Você teria algumas sugestões nessa faixa, incluindo também os tintos franceses e italianos?
Um abraço.
Pedro
Pedro, vinho caro não é sinônimo de qualidade, porém não podemos relevar o fato de que nenhum grande vinho é barato, mas há exceções em todas as faixas e a tendência é de o vinho crescer em complexidade conforme cresce o preço, porém há limites e em alguns casos fala mais alto o marketing e a lei da oferta e procura! Neste blog tento exatamente garimpar bons vinhos a bons preços. Se pesquisar em meus posts sobre Melhores de 2010, (veja em categorias aqui do lado) e anos anteriores, certamente vc terá uma enorme quantidade de rótulos que espero lhe dêem o mesmo prazer que me deram.
Olá. Experimentei recentemente e me apaixonei pelo vinho Sangervasio, tinto com as cepas Cabernet Sauvignon, Merlot, Sangiovese e
corte 70% Sangiovese, 20% Merlot, 10% Cabernet Sauvignon.
O que me estranha é que esse vinho custa em média 70 reais, mas encontrei outros com as mesmas cepas e cortes a 20 ou 25 reais. Como faço para saber a diferença entre eles, já que a diferença no preço é muito grande?
Oi Edevaldo, o Sangervasio é um vinho de muitas qualidades. A diferença entre vinhos depende de um monte de coisas; terroir, produtor, enólogo, uso de barrica, tempo de barrica, tipo e tosta da barrica, guarda em garrafa, qualidade do vinhedo e tipo de poda, etc., etc., etc. Ou seja, mesmo que o porcentual de cada cepa usada no blend seja o mesmo, isto não quer dizer que o vinho seja igual, pois as variáveis são imensas, e consequentemente o preço também não. Espero ter ajudado, mas isso a gente só conhece lendo, estudando e, especialmente, provando! Compre esse de R$25 e compare, simples assim, e você sentirá a diferença com resultados bem mais práticos que somente ler esta curta resposta a sua indagação.