João Filipe Clemente

Um Borgonha 1er Cru, Porque Eu Merecia!

É, de vez em quando porque o bolso anda curto, mas eu também mereço um carinho na taça! Quando me dei conta vi que não tinha tirado a foto com a taça, mas esses momentos têm dessas coisa, nos tiram o foco, rs. Bem, Borgonha 1er Cru é vinho para mais de 600 pratas, mais próximo aos 1000, porém há opções outras quando a gente garimpa um pouco e este fica abaixo das 400 pratas se conseguirem achar por aí. Segue sendo uma bela grana, porém já dá para uma eventual extravagância volta e meia, nem que seja numa confraria!

Les Clous Monthelie 1er Cru Pinot Noir 2008 – um Borgonha de muito bom nível com um preço bem camarada dentro desse mundo mais exclusivo. A AOC Monthelie possui algo ao redor de 120 hectares (nada!) de menor notoriedade que seus vizinhos Meursault, Pommard e Volnay, por isso mais em conta. Deste, apenas 36 hectares são denominados como 1er cru distribuídos em 15 climats* e este vem de Les Clous, elaborado por Domaine Reyane & Pascal Boulley, quinta geração, pequeno produtor com apenas 10 hectares distribuídos entre Monthelie, Beaune, Volnay (sede) e Pommard. Colheita manual com fermentação em cubas abertas (moda antiga), com maturação em barricas francesas por 18 meses, das quais somente 25% novas. Um vinho pronto a tomar, mas que vale até guardar por mais um par de anos porque certamente irá evoluir muito bem.

Boa intensidade aromática com bastante frutos do bosque (cerejas, mirtillos) ainda bem vivos, sous-bois (terra molhada) e um sutil toque floral, na boca taninos ainda bem presentes e finos, muito rico meio de boca, taninos elegantes e delicados mas bem presentes, aveludado, alguma especiaria, notas de bosque final bem prolongado, mineral e balanceado. Difícil encontrar este patamar de qualidade da Borgonha nesta faixa de preço e eu gostei muito. Quem conseguir segurar a garrafa por um tempo certamente se dará ainda melhor

*Climat – de acordo com a revista Adega, “Enquanto o terroir pode ser definido como o conjunto de tipo de solo, de clima, características da região e da interferência do homem, o climat pode ser considerado um aprofundamento desse conceito em cada parcela de vinhedo.” Para simplificar consideremos um climat como uma forma de um zoom, de filtro mais micro de uma região

Este foi um de meus vinhos selecionados para o Frutos do Garimpo do mês. Por hoje fico por aqui, kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer curva desta nossa vinosfera.

Saúde

Merlot é Vinho de Mulherzinha.

Quem já não escutou isso?? Eu já e um monte de vezes, mas, cá entre nós, tremenda asneira e mostra que quem eventualmente tenha expressado tal ideia não entende nada, nem de mulher e muito menos de vinho!! rs Brincadeiras à parte, cansei de ouvir gente dizer que não gosta de Merlot e a estes sempre respondo de uma só forma, “que pena, ia te dar um Petrus”! Sim, para quem não sabe este ícone de Bordeaux e mundial é elaborado com 100% de merlot, salvo um ou outro ano em que até 5% de Cabernet Franc podem ser usados.

Mas porquê do titulo deste post, afora chamar sua atenção obviamente (rs)? Porque fui convidado pelo amigo Walter Tommasi (editor de vinhos da Go Where Gastronomia) a participar de um encontro de uma de suas confrarias da qual fazem parte alguns outros amigos. Tema, Merlots com mais de 10 anos, ás cegas obviamente. Afora o enorme prazer de rever os amigos, mais uma confirmação de que a Merlot pode e gera alguns vinhos de muita estrutura e bem longevos como em Bordeaux, margem direita onde ela está mais presente, que mostra isso faz décadas. Como com qualquer casta, o que ocorre com o vinho tem a ver com terroir e muito com o que o enólogo quer extrair dela. Sim, existe um traço, uma característica, uma linha mestra que pode estar presente na maioria dos vinhos de uma mesma casta, mas as variáveis são tão grandes que, pelo menos eu, evito generalizar e dizer, “olha os vinhos desta uva são assim” da mesma forma que não dá para fazer isso com gente de uma região, de um país, de uma religião ou de uma preferência política, não acredito nisso!

Nesta degustação, essa premissa esteve bem presente, vinhos bem diferentes entre si expressando a vontade do terroir e, certamente, do enólogo. Painel muito interessante, uma confirmação e um desejo que vai ficar na minha lista de a realizar. Eis um resumo do que provei na ordem de serviço:

SIMSIC Teodor Rdcec 2006 – da Slovenia, fechado nos aromas, boca bem frutada, equilibrado, final longo com um toque especiado, taninos bem integrados e macios. Leva 15% de Cabernet Sauvignon e para mim se mostrou o mais pronto de todos os vinhos provados. Meu quinto vinho, sendo que para o resto do pessoal ficou em quarto.

Cholqui Tres Palacios 2006 – do Chile, mostrou-se mais químico no nariz, na boca é gordo, toque vegetal mais presente, taninos rústicos, boa estrutura, mais pegada, parecia mais jovem do que é. Meu terceiro colocado com 90 pontos, mas para a maioria ficou em segundo.

Podalirio da Quercetto de Castellini 2005 – IGT da Toscana, um tremendo vinho (pensei que fosse Bordeaux), nariz intenso com notas florais, boca firme, terroso, bom volume de boca, taninos firmes mas muito finos, alguma especiaria, ótima persistência deixando um gostinho de quero mais na boca. Baita vinho e na minha avaliação o melhor vinho da noite, dei-lhe 92 pontos, o que acabou sendo vero também na contagem geral da turma. De longe o melhor Merlot italiano que já tomei e meu desejo, mas deverá ter que vir de fora, porque acho que ninguém o está trazendo.

Storia Merlot 2005 da Valduga – não o reconheci, mudou desde a última vez que o provei já lá vai um par de anos. Sua pontuação, no entanto, foi igual há que lhe dei nessa última avaliação 91 pontos e sempre que o provo fica por aí, entre 90 a 92 pontos. Na minha opinião um vinho especial de uma safra especial, mas que nunca mais conseguiu o mesmo êxito mesmo seguindo sendo um belo vinho. Denso, frutos negros suculentos, taninos ainda bem presentes e aveludados mostrando que há ainda potencial para evolução, nariz intenso, notas achocolatadas, primeira linha e meu segundo colocado no painel, terceiro para a maioria. A confirmação.

Antenata Bindella 2007 –  mais um italiano da Toscana. Jovem, bem jovem ainda com muitos anos pela frente. Taninos bem presentes ainda por integrar, nariz tímido, na boca muito boa estrutura, algo rústico mostrando uma acidez acentuada, algo vegetal, muito bom vinho, mas vai melhorar mais com um bom par de anos pela frente. Foi meu quarto vinho e quinto do resto da turma.

Chateau Ampelia 2000, Cotes de Castillon, Bordeaux – algo químico, acetona me veio à mente, corpo médio, álcool mais presente, notas herbáceas, faltou personalidade e ficou entre os meus últimos colocados do painel acompanhando a maioria.

Nelson Neves 2009 – um representante luso da região da Bairrada. Boa tipicidade aromática, mas sutil, de baixa intensidade, algo tímidos. Na boca seus 14,5% de álcool estão bem aparentes afetando o conjunto, vegetal bem presente, especiarias, taninos mais rústicos e bem presentes, para mim o vinho de pior nota. Tem qualidades, porém a meu ver com muitas arestas, quem sabe precise de mais tempo para se encontrar ou, quiçá, para eu entendê-lo! rs

Chateau de Millery Saint Emilion Grand Cru 2004, Bordeaux – esta propriedade pertence ao Chateau Figeac (um dos grandes de Bordeaux) e é composto de Merlot com um toque de 10% de cabernet Franc. Para simplificar e ir direto ao ponto, um vinho difícil. Frutos negros com notas terrosas, duro na boca, fósforo, álcool aparente, taninos ainda bem presentes, madeira por integrar, um vinho que não me empolgou e e fiquei um pouco frustrado ao saber a quem pertence. Foi o último colocado da noite, para mim o penúltimo.

 

Por menos generalizações e preconceitos para com determinadas cepas, afinal as variáveis na vinificação e terroirs são tão grandes! Uma ótima semana para todos e kanimambo pela visita.

Saúde

 

 

Nem Todo o Dia é Dia!

Tem gente que acha que só porque militamos neste vasto mundo do vinho, todo o dia abrimos uma garrafa de vinho e, quando o fazemos, são sempre grandes vinhos. Bem, certamente haverão algumas poucas estrelas de nossa vinosfera que eventualmente o façam, especialmente “se me dão” (rs), mas eu e a maioria sabemos que na verdade isso não passa de apenas mais uma imagem equivocada que se faz de nós. Sim, na maioria bebemos bem, não muito, porque nossa “litragem” nos permite garimpar bons vinhos a bons preços, sim porque também os compramos!

Desde que comecei a escrever sobre vinhos há mais de dez anos, sempre dividi os vinhos por classes; os do dia a dia, os do fim de semana que volta e meia são os do dia a dia, os do mês e os para ocasiões especiais que são os vinhos do topo da pirâmide e que volta e meio abrimos também porque simplesmente merecemos! rs Galgando degraus e preços, tomando menos por vezes, porém melhor porque a vida é curta demais para tomar vinho ruim!

Recentemente fui almoçar na casa de minha filha e genro (o que sabe cozinhar!! rs) que mais uma vez se esmerou e fez um panelão de um tremendo de um arroz carreteiro de lamber os beiços! O moleque é bom de cozinha, sem frescuras, cozinheiro raiz que, como eu gosta mesmo é de PC, vulgo Prato Cheio!

Queria algo singelo, sem grandes complexidades, algo que harmonizasse e não complicasse o momento e tão pouco os tomadores presentes. Optei por este Malbec Prisionero, que a Galeria de Vinhos traz, e caiu que nem uma luva. Vinho de gama de entrada da ótima Vicentin Family Wines do Vale do Uco em Mendoza, prima acima de qualquer coisa pelo equilíbrio entre a simplicidade e a qualidade. Um vinho pode ser bom, bem feito e barato, este custa menos de 50 Reais, havendo momentos em que qualquer coisa mais complicada pode estragar o momento, este se encaixa nesse perfil. Um vinho simples mas apetitoso, 100% Malbec de San Raphael com passagem de seis meses em barrica (imagino que de terceiro ou quarto uso), fácil de agradar, taninos aveludados e bem integrados, muita fruta mas sem ser aquela coisa madura excessiva que enjôa, alguma especiaria e uma ótima acidez completam o quadro. Corpo leve para médio, com o arroz ficou da hora e é uma harmonização que poderei repetir quantas vezes meu genro quiser! rs

Obviamente que ainda saí com marmita e deu para mais duas refeições, estava bom demais como sempre. Bem, fico por aqui com mais esta dica onde o menos é mais, sem frescuras assim é nossa vinosfera, apesar de alguns teimarem em a complicar, deu prazer cumpriu seu papel! Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou, quem sabe, você não vem comigo explorar os Vinhos de Altitude de Santa Catarina comigo!

Saúde

 

Descobrindo os Vinhos de Santa Catarina Comigo, Vem?

MUDANÇA DE DATAS

Gente, mais uma vez montando um grupo limitado a 14 pessoas para explorar o que de melhor é produzido pelas vinícolas de Santa Catarina, os Vinhos de Altitude brasileiros. De 14 a 21 de Novembro circulando entre São Joaquim e Caçador de micro ônibus com ar condicionado, toalete e wi-fi a bordo, visitaremos 9 vinícolas, jantaremos com um produtor, degustaremos mais de 70 vinhos entre eles os CINCO selecionados entre os TOP 10 da ViniBraExpo 2018 recentemente realizada no Rio. Encerrando a viagem, um jantar harmonizado diferente para quem ficou praticamente uma semana explorando a vinosfera catarinense, um mergulho no mundo da cerveja artesanal da Beerbaum em 13 Tílias!

Todas as degustações e visitas foram montadas de forma exclusiva com vinhos escolhidos por mim em comum acordo com o produtor, só o melhor porque se não nem saio! rs Seis almoços harmonizados em vinícolas, dois jantares, cuidamos de quase tudo. Via aérea até Lages, voltando de Chapecó sendo que eu acompanharei a viagem do inicio ao fim. Sabe aquela viagem que você tinha programado para o exterior e que com o dólar nas alturas se tornou inviável, então! Pense que com menos de USD1200 (para efeitos comparativos apenas pois o preço é em Reais) você pode fazer tudo isso e ainda deve sobrar uns trocados sem contar que se usar o cartão na viagem não tem nem IOF nem o risco do susto com o câmbio na hora que a fatura chegar!! rs Está interessado, então não dê mole não e peça os detalhes do roteiro através de comentário abaixo, as vagas são poucas e você pode vir de qualquer lugar do Brasil ou até do exterior, VEM COMIGO, VEM!

 

Marilla, Mais Que Um Nome, Um Grande Vinho!

No Brasil não tenho provado vinhos doces, de sobremesa nada a ver com os tais de suave por aí (rs), que tenham me entusiasmado mesmo sendo um fervoroso apreciador destes vinhos. Me lembro de uns anos atrás de um delicioso Icewine produzido na Pericó, um projeto louco que deu muito certo, mas o problema é o clima que propicia isso muito raramente, acho que neste caso só uma única vez. Tem também um Licoroso, mais simples mas muito surpreendente de meu amigo Gustavo da Bella Quinta aqui mesmo pertinho de casa, em São Roque, que quebrou as pernas de muito “especialista” às cegas! rs

O VG Marilla é fora da curva e o conheci pela primeira vez na visita que fiz à Villaggio Grando em Fevereiro de 2016, nessa época ainda não pronto, uma amostra de barrica que mostrou estarmos diante de um grande vinho em ebulição e na época já o listei como um de meus destaques daquele Tour Pelos Vinhos de Altitude Brasileiros. Pois bem, finalmente e depois de dois anos volto a provar o vinho (lançado em 2017) na presença do orgulhoso amigo Guilherme Grando que o apresentava com toda a pompa que a criação merece, mas falemos um pouco mais do vinho.

Vinhedos das uvas Petit e Gros Manseng originariamente do sudueste francês, e plantado aqui a cerca de 1300 metros de altitude há 17 anos atrás. O projeto era desenvolver um vinho de sobremesa no estilo dos vinhos doces do Jurançon e para tanto, entre outros investimentos, o know how e experiência do conceituado enólogo português Antonio Saramago mestre na elaboração de grandes vinhos Moscate de Setúbal, entre outras preciosidades. Nas palavras do Guilherme Grando, ” Este vinho é da colheita 2012 após as primeiras geadas em final de Maio, portanto bastante desidratrada e concentrada. São 3 kg de uvas para poder produzir uma garrafa de 500 ml e o vinho é fortificado com um brandy produzido na própria Villaggio Grando (Água Doce no Oeste Catarinense próximo a Caçador), atingindo 17,5% de teor alcoólico. fermentação em tanques de aço inox passando posteriormente por um estágio de 3 anos em barricas francesas de tostagem leve. A filtragem é bem “fraca”, queremos um vinho mais natural possível e por isso acaba aparecendo alguma borra na garrafa mas sabemos que isso é de suma importância para sua perfeita evolução.”

Quantidade limitada a 3.500 garrafas ano, todas numeradas para os poucos dispostos a desembolsar R$300,00 por esta preciosidade e a encontrá-la já que não está disponível em qualquer lugar não, certo mesmo só na vinícola. Baunilha, mel, aromas e sabores amendoados, toque de damasco, acidez em perfeito equilíbrio com a doçura. Esse equilíbrio é o que faz com que este estilos de vinhos sejam palatáveis e quanto maior harmonia “mais grande” (rs) são os vinhos, este está soberbo, não cansa! Para quem gosta de Sauterns e Tokaji, guardadas as devidas proporções e limitações de terroir, eis aqui um vinho a provar e, provavelmente, se surpreender!

Antes que me perguntem do porquê do nome já vou informando que é o nome da irmã do Guilherme. Como meu amigo Didu costuma dizer, ainda bem que não falamos nem vendemos parafusos porque momentos como este não existiriam! Coisa boa Guilherme, grato pela oportunidade.

Kanimambo pela visita e um ótimo fim de semana.

Explorando Novos Sabores na Vino & Sapore!

Dia 29 de Setembro a Vino & Sapore, no centrinho da Granja Viana, promove mais um Wine Tasting, mas vai além porque todo o amante de vinhos é também um apaixonado por boa gastronomia. No mesmo espaço e limitado a tão somente 50 pessoas para não virar zorra, juntei dois de meus fiéis parceiros no mundo do vinho com alguns quitutes a mais que valem muito a pena provar.

 

A Almeria do amigo Juan Rodriguez irá trazer de cinco a seis rótulos, alguns que recém chegaram em seu portfolio, de vinhos para prova. A Lusitano do amigo Fernando Rodrigues, também seguirá a mesma linha e entre os dois teremos de 10 a 12 rótulos em prova entre vinhos portugueses, espanhóis e chilenos. Afora isso um azeite português não filtrado de lamber os beiços!

Mestre Queijeiro, o Bruno sempre presente nestes eventos com queijos diferenciados de muita qualidade, para prova e venda direta dele.

Raquel Pães, amiga granjeira e parceira de há muito com seus pães artesanais com fermento natural e receitas diferenciadas são sempre um despertar de sensações gustativas únicas.

Pé de Geléia, geléias fora da curva que a Carla elabora artesanalmente aqui na Granja mesmo, é fruta fresca e açúcar demerara, nada mais!. Tanto para acompanhar aquela torrada matinal como para servir com queijos e até carnes. Coisas do tipo, Melancia com Pisco Sour, Tangerina com Água de Rosas, Cebola ao Vinho, Melão com Gengibre, Frutos Amarelos, Frutos Roxos, Limão siciliano entre outras.

Dependendo ainda podem pintar outras gostosuras, mas se quiser participar não hesite e garanta logo seu convite comprando-o antecipadamente. Valor dessa experiência? Apenas 45 Reais dos quais 15 voltam como desconto na compra de qualquer um dos vinhos (somente os vinhos) em prova no dia. Estacionamento gratuito, e início das atividades às 16 indo até as 19:30h. Aguardo você na Vino & Sapore aqui no centrinho da Granja Viana, acesso pelo km 24 da Rodovia Raposo Tavares sentido Cotia/SP. Entrou á direita já está na Rua José Felix de Oliveira e até o número 875 é um piscar de olhos! rs Só não esqueça, reserve seu lugar ou periga de chegar e não conseguir entrar!!

Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou, quem sabe, porquê não dia 29 de Setembro?? Saúde

 

 

Surpresa no Desafio de Cabernet Sauvignon do Novo Mundo!

Um Desafio de Vinhos às cegas é sempre um enorme ponto de interrogação, tudo pode acontecer. rs Se isso já ocorre quando ditos “especialistas” se reúnem, imagina quando reunimos 12 seguidores de Baco em volta de uma mesa para exercer a função de jurados de uma contenda dessas!. Eu adoro, porque são essas pessoas que compõem o tal de “mercado”, que fazem a roda girar e que, em última instância, são para quem os vinhos são produzidos.

A escolha pelo tema foi a vontade de mostrar como a uva se manifesta nos mais diversos terroirs e idades. Vinhos de 96 a 198 Reais, para que pudessem também avaliar o quanto o preço influencia ou não, porém só após as notas terem sido dadas! No “octógono” seis desafiantes sob pressão, jurados com as taças a postos e deu-se inicio à contenda. Como eu estava de juiz de campo (rs), não anotei nada então de memória vai aqui minha curta opinião sobre a performance na taça de cada um dos desafiantes na ordem em que entraram:

1 – Da Nova Zelândia (Hawkes Bay Ilha no Norte) e sem raka (rs) o desafiante foi o Brookfield Ohiti Estate 2012 – show de elegância e finesse, toque final com uma pimentinha gostosa, cor clarinha longe do que se espera de um Cabernet, ótima fruta, para tomar de golão com enorme prazer, gostei demais, porém contradiz os que apreciam um Cabernet pancadão!! Peso, 198 pratas.

2 – Da Argentina (Mendoza) Carmello Pati 2008 – veio só para este embate e esperava muito dele, conheço produtor e vinho, mas nesta noite não se mostrou bem. Acontece, mas nada que denigra a imagem que tenho dele e com um tempo em taça melhorou mostrando uma fruta bem presente e volume de boca com taninos aveludados, mas não o bastante para virar o jogo. Peso, 175 pratas

3 – Do Brasil (SC) o Torii 2008 – conheço a fera desde Fevereiro 2016 quando estive descobrindo a região produtora Catarinense com um grupo de aficionados pelo vinho. Do vinhedo mais alto do Brasil a 1427m de altitude, o desafiante entrou pesado no tatame mostrando que vinha com grandes intenções. Cor escura, denso, equilibrado, halo aquoso e cor já demonstrando seus anos de luta, mas ainda vendendo saúde. Ótima paleta olfativa já tendendo para aromas terciários onde o couro, curral, fazenda tendem a se projetar, mas a fruta ainda presente na boca em profundo equilíbrio. Brigou bem a fera, mesmo sendo um dos mais idosos, será que foi por isso que me atraiu?? rs Peso, 96 pratas.

4 – Da África do Sul (Paarl) chegou o Mont du Toit Les Coteaux 2010 – uau, violáceo e que riqueza de sabores, meio de boca marcante, fresco, frutado, sedutor, chega chegando! rs Confesso que a escolha foi no escuro, pensem o que quiserem (rs), mas a forma como se apresentou mostrou que a escolha foi acertada e que estávamos frente a frente a um potencial vencedor do Desafio, uma bela surpresa para mim de uma região onde o que manda são os Syrahs e Pinotages. Peso, 198 pratas

5 – Do Uruguai (Canelones) vem o Pisano RPF 2011 –  há poucos meses tive a oportunidade de estar com um 2009 na taça, muiiito bom. Para desafiar essa seleta seleção de adversários, o desafiante veio com aromas químicos que destoaram da maioria de seus opositores, mostrando uma certa rusticidade nos taninos e não muito equilibrado. Pelo que conheço deste desafiante, sei que este não foi um de seus melhores dias porém a voz do povo é a voz de Deus, então aguardemos o veredito dos jurados, eles que mandam! Peso, 150 Pratas

6 – Do Chile (Colchagua) veio o Casa Silva Los Lingues 2012 – figura mais conhecida, porém nem tão reconhecida na taça pela maioria, mostrou-se como esperado de um veterano de qualidade comprovada. Aromas típicos dos Cabernet chilenos com notas vegetais bem presentes e fruta abundante. Na boca médio corpo, bom volume, fruta madura, acidez equilibrada e taninos com final aveludado. Um bom exemplar desta casta no Chile e o destaque para muitos, mas o revés também ocorreu pois foi defenestrado por outros! rs Barato estes testes, me divirto até mais que os “jurados” presentes ao evento.

Ao final, somei as notas dadas pelos jurados, eliminando a maior e a menor nota dada a cada vinho. O resultado mostrou ser uma grande surpresa para a maioria, não pelo vinho que foi muito bem avaliado por todos com notas bastante parelhas entre todos, mas mais pela origem e preço.

6º lugar – Pisano RPF com 144 pontos

5º lugar – Carmello Pati com 155,5 pontos

4ºlugar – Brookfield Ohiti Estate com 193,5 pontos

3º lugar –  Les Coteaux com 197,5 pontos

2º lugar – Casa Silva Los Lingues com 200 pontos

GANHADOR – MELHOR VINHO DA NOITE – MELHOR RELAÇÃO PQP (preço x qualidade x prazer)

1º LUGAR – HIRAGAMI TORII 2008

Com 208 pontos, o ganhador, um brasileiro e o mais barato no embate dos desafiantes. Às cegas o jogo é diferente e a voz do povo assim decidiu, show! rs Na foto abaixo os participantes na ordem de premiação com primeiro colocado à esquerda e o corpo de jurados em plena avaliação!

Valeu aos amigos que estiveram presentes abrilhantando a noite em mais uma agradável noite de descobrimentos e novas experiências vínicas na Vino & Sapore, adoro esses momentos! Kanimambo aos amigos e uma ótima semana a todos.

Saúde

Pecorino na Taça, Pode?

Todo mundo conhece o queijo Pecorino né, mas não é dele que vou falar não, é do vinho produzido com a uva xará! Para quem não sabe Pecorino tem a ver com gado, ovelhas, daí o queijo Pecorino elaborado com o leite delas. O porquê da uva ter esse nome? Não obtive muita informação, porém a que se mostrou mais plausível dentro do que pesquisei é de que o nome tenha surgido porque as ovelhas da região se alimentavam dessas uvas quando passavam pelos vinhedos nas trocas de pastagens. Por falar em ovelhas, sabia que em Portugal há uma casta de nome “rabo de ovelha”?

Voltando à Pecorino, uma cepa branca, esta quase entrou em extinção em função de sua baixa produtividade tendo boa parte dos vinhedos sido trocados por Verdicchio e Trebbiano de maior produtividade e potencial comercial. Hoje existem apenas cerca de 1200 hectares plantados a sua maioria na região de Marche (de onde é nativa) e Abruzzo na região adriática da itália. Há vinhedos também na Umbria, Lazio e Toscana, porém em menor quantidade e tende a ser mais usada em cortes em função de sua boa acidez, intensidade aromática e um teor alcoólico um pouco mais elevado.

O Primeiro Pecorino (vinho) que provei não esqueço e olha que já faz um tempinho! rs Foi numa feira de vinhos promovida por meu amigo Simon Knittel em sua linda loja na Av. Angélica, a Kylix que lamentavelmente já fechou suas atividades físicas. Foi lá nos idos de 2009 num Wine Day por ele promovido quando entre outros ótimos vinhos descobri o Casal Vecchio Pecorino que foi para mim o vinho mais surpreendente da mostra. Sumiu do mercado por um bom tempo, porém hoje há bem mais opções no mercado e a cepa voltou à minha taça recentemente.

Arenile*, da Cantina Ripa Teatina é um vinho em que o primeiro impacto é literalmente esfuziante pois seus aromas intensos e florais, são inebriantes e tomam conta de nossas sensações. Flores brancas do campo, frutas brancas, pêssego, é uma festa! rs na boca muita fruta com a nectarina se impondo na entrada de boca, numa segunda camada me dei conta de pera, talvez melão, final seco, acidez muito boa e sem excessos, notas minerais completam um conjunto deveras agradável e sedutor de final seco e fresco. Daqueles vinhos que uma pessoa não sabe se funga ou se bebe, na dúvida muito de ambos!! rs Um vinho marcante que comentei aqui em Janeiro de 2018 mas que há tempos não passava por minha taça, estava com saudades e não posso mais deixar tanto tempo passar sem ele! Preço mais que justo, em minha opinião, entre R$75,00 a 80,00 no mercado de São Paulo, vale muito a pena e é algo diferente sensorialmente falando.

Um ótimo fim de semana, kanimambo pela visita e saúde!

 

 

Paul Hobbs, a Cara de um Enólogo e Seus Vinhos.

Tenho tido alguma dificuldade de participar de uma série de degustações que aguçaram minha curiosidade e sede de saber! rs O bom é que tenho amigos que na hora H me socorrem e a Raquel Santos, autora deste texto sobre Paul Hobbs, é uma delas, kanimambo amiga! A Raquel foi em meu lugar e se apaixonou pelo trabalho do Paul que se reflete de forma peculiar em seus vinhos, na verdade os grandes enólogos chegam a um ponto na vida que podem, com menos pressão, se dedicar a colocar sua personalidade em seus vinhos, foi isso que vi neste gostoso post que agora compartilho com os amigos. Os vinhos falam muito de seus lugares, mas os bons falam também de

seu criador!

“Em julho/2017 e recentemente, julho/2018, participei de uma apresentação dos vinhos elaborado pelo enólogo e produtor Paul Hobbs, promovido pela importadora Mistral.

Esses dois panoramas me fizeram refletir o quanto a linha de conduta, movida por um objetivo pessoal, pode ser importante no resultado final de um produto.

Paul Hobbs, um americano nascido ao norte de Nova York em uma família de fazendeiros produtores de maçã, sem nenhum histórico na produção ou contato com vinhos, foi levado por seu pai, produtor agrícola à iniciar  uma plantação de uvas viníferas para posteriormente produzir vinhos. A mãe, uma dona de casa, que segundo ele teve muita influência na sua maneira de manter tudo limpo e organizado, não era afeita a bebidas alcoólicas. Seu pai então, para convencê-la de que o vinho tratava-se de um produto interessante levou para a família experimentar uma garrafa de Chateau d’Yquem , o que obviamente  foi um argumento incontestável.

Porém,  as intenções da família caíram por terra quando viram o tamanho do investimento necessário para iniciar uma produção de vinhos. Se por um lado eles se depararam com um impedimento real, por outro acho que que a decisão de trabalhar inicialmente em uma vinícola já estabelecida foi a coisa certa a ser feita. Depois de sua graduação em biologia na Univerdidade Notre Dame ele completou uma pós graduação na Davis de enologia.  Em 1978 Hobbs foi trabalhar com Robert Mondavi no projeto do  Opus One. J

À partir daí foi uma sequencia de acertos e aquisição de experiências que o levaram à América do Sul, mais precisamente ao Chile e Argentina. Nessa época o Chile vivia tempos difíceis com a ditadura de Pinochet, o que facilitou sua escolha pela Argentina. Convidado por Jorge e Nicolás Catena tornou-se consultor da Catena Zapata em 1989. Sua passagem foi transformadora para a produção dos vinhos na Argentina, principalmente em Mendoza,  onde a  elaboração de vinhos em terroir únicos, varietais, valorizando as características locais com o máximo de refinamento, reforçaram ainda mais o conceito de “vinhos do novo mundo”, corrente na Califórnia. Desenvolveu a casta Malbec que lá já existia, modernizando-a e aprimorando-a.  Criou a Viña Cobos e sua 1ª colheita em 1999 colocou seus vinhos varietais de Malbec nos holofotes mundiais.

Foi com essa bagagem que ele voltou ao EUA , criando a Paul Hobbs Winery em Sebastopol, CA. Depois disso desenvolveu vinhedos em Sonoma, Russian River Valley, Napa Valley, mas sua busca incansável por novos terroir não pararam por aí. Usando da sua expertise, associou-se à Bertrand Gabriel Vigouroux em Cahors na França para trabalhar a casta Malbec na sua origem. Lá criou a Crocus, onde a modernidade e a tradição se encontraram.

Atualmente desenvolve um projeto na Armênia. A Yacoubian-Hobbs, localizada em uma região onde a cultura da produção de vinhos existe há 6000 anos. À partir de variedades ancestrais e solos ricos  em minerais , na província de  Vayots Dzor. Seu novo desafio será explorar a versatilidade desse terroir e dessas uvas nativas e internacionais. 

Na 1ª apresentação que fui foram degustados os seguintes vinhos:

  1. Crocus Atelier 2012
  2. Crocus Prestige 2011
  3. Crocus Grand Vin 2011

Esses 3 primeiros, Malbec de Cahors, demonstram toda a tipicidade do terroir francês, cada um com suas próprias características, mas sempre dentro do conceito “potência com elegância”.

  1. Paul Hobbs Pinot Noir Russian River Valley 2012
  2. Crossbarn Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012
  3. Paul Hobbs Cabernet Sauvignon Napa Valley 2011

Os 3 últimos, Californianos, mostram muito bem a vocação de cada solo para com as castas. A Pinot Noir se desenvolveu magnificamente em Russian River Valley assim como a Cabernet Sauvignon em Napa Valley. Aqui percebe-se a arte do enólogo. Extrair todos esses potenciais, cada um com suas diferenças, valorizando a casta, o solo e obtendo o máximo de expressividade do terroir.

A 2ª apresentação contamos com os seguintes vinhos:

  1. Crossbarn Chardonnay Sonoma Coast 2016
  2. Crossbarn Pinot Noir Sonoma Coast 2014

Essa região, Sonoma Coast recebe influência do Pacífico, sendo muito fria e úmida. Inicialmente se notabilizou pela boa adaptação da Chardonnay e pela semelhança com os solos pedregosos da Borgonha. Por conseguinte a casta Pinot Noir também demonstra toda a sua tipicidade nesse vinho proveniente de vinhedo único. Ambos são extremamente elegantes, sofisticados, com expressões de frutas maduras, mineralidade e textura persistente.

  1. Paul Hobbs Pinot Noir Russian River Valley 2014
  2. Crossbarn Cabernet Sauvignon Napa Valley 2012
  3. Crocos Atelier 2012
  4. Crocos Prestige 2011″

“A alma de um vinho é quando ele fala de algum lugar. Se você não tem isso, então perdeu tudo.”

Paul Hobbs

Penne com Bacalhau e Chianti!

O Chianti óbviamente na taça! rs Num desses domingo fui visitar meu filho e minha netinha e optei por almoçar lá, porém para me garantir eu cozinharia, rs, brincadeira, foi um bem bolado. Levei o bacalhau e o vinho, pedi para que ele comprasse o Penne e o brócoli já que esse seria o prato do dia. Bem, foi quase isso pois o o brócoli faltou, porém e mesmo assim ficou bem bom e a companhia ajudou demais! Como meu filhote disse, faltou o brócoli, ressaltou o bacalhau!! rs

Para acompanhar levei um bom Chianti Colli Senesi da Montechiaro, o 345, tradicional corte de Sangiovese (70%) com Canaiolo, Colorino e outras castas regionais em menor proporção, passa 12 messes em barricas francesas de segundo e terceiro uso, mais seis meses em garrafa antes de sair ao mercado.

A região de Chianti tem diversas sub regiões afora as mais conhecidas Chianti e Chianti Classico, são 9 no total. O Chianti, mesmo DOCG, varia muito de qualidade e produz por muitas vezes vinhos mais comerciais e menos expressivos havendo a necessidade de se garimpar bastante para não comprar gato por lebre. As sub regiões Colli (7) são vinhos de diversas colinas que permeiam a região e costumam gerar vinhos de melhor qualidade com maior ênfase no terroir distinto de cada uma e normalmente passam por um maior período de amadurecimento seja em barrica seja em garrafa. Os melhores na minha opinião são os Colli Fiorentini, Colli  Rufina e Colli Senesi. Este vinho é um exemplo disso e ainda prefiro os cortes mais tradicionais como este sem o uso de castas internacionais como a Cabernet e/ou Merlot que cada vez mais tomam conta da produção da região.

A harmonização, modéstia ás favas (rs) ficou muito boa. A boa fruta da Sangiovese estava bem presente com aromas intensos, boa textura com taninos macios, rico meio de boca, fruta moderada, corpo médio, boa acidez e sedoso final de boca fazem com que uma garrafa acabe muito rapidamente! Um bom vinho na casa dos 100 a 110 Reais, que me agradou muito.

Por hoje é só, em breve mais algumas experiências a compartilhar. Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui. Boa semana a todos, saúde!

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