João Filipe Clemente

Os Shiraz Australianos e Seus Terroirs

A Shiraz virou símbolo dos vinhos da Austrália assim como a Malbec da Argentina, Zinfandel nos EUA, Tannat no Uruguai e, menos bem sucedidas, a Carmenére no Chile e Pinotage na África do Sul. Em qualquer desses países existe uma diversidade bem além dessas uvas, na austrália não é diferente, porém nesta degustação minha intenção é explorar a diversidade de terroirs, no lugar de uvas ,provando alguns belos exemplares do Oeste Australiano, Sul da Austrália e Nova Gales do Sul. Será que as características dos vinhos das diversas regiões são diferentes e se mostram claramente na taça? E de vinhos da mesma região? Serão tão somente 12 lugares disponíveis e antes de publicar este post já tenho quatro reservas então só restaram 8 lugares!

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Dia 16 de Junho (Terça-feira) a partir das 20 horas na Vino & Sapore, promoverei a degustação temática de Shiraz da Austrália com os vinhos abaixo. Importante notar as safras, pois afora avaliar os vinhos poderemos avaliar como estes evoluem em garrafa com fechamento com screw cap x rolha, pois escolhi vinhos na maioria com mais de dez anos com ambos fechamentos ou seja, hora de quebrarmos paradigmas!

West AustraliaMargaret River > The Ripper Shiraz 2004 (R$149) e Sandalford Premium 2004 (R$210)Clipboard
South AustraliaClare Valley > Jim Barry Lodge Hill 2011 (R$199,00)
Barossa Valley > St. Hallett Faith 2004 (R$169,00)
McLaren Vale > Tatachilla 2004 (R$185,00)
Nova Gales do SulRiverina > Calabria 3 Bridges Shiraz 2005 (R$169,00)

Como o papo é sobre a Austrália, os amigos que vierem serão recebidos pelo gostoso Eternity Cuvée Brut elaborado com semillon, preparando o palato para o que está por vir. Custo, já incluso água, queijo, chorizo espanhol, pão e café, R$125 por pessoa (pagos no ato da reserva) lembrando que o estacionamento é na faixa! Estes e outros vinhos (24 rótulos) de Down Under, como os ingleses chamam a Austrália, estão disponíveis na Vino & Sapore em função na nova parceria que fiz com a KMM, a primeira e a principal importadora de vinhos australianos no Brasil

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Não deixe para depois, garanta já seu lugar, as vagas costumam se esgotar rapidamente. Abraço, uma ótima semana e kanimambo e espero vos encontrar nos sabores de Down Under?

Vinho do Porto Branco, Eterno Desconhecido

Bem, pensando bem, são poucos os que realmente conhecem a diversidade dos Vinhos do Porto. A maioria pede um Porto e ponto, sequer sabe a diferença entre Tawny e Ruby e, em muitos casos, os próprios produtores não ajudam muito pois nem sempre deixam claro no rótulo qual o estilo. Bem, aqui no site há amplo material de pesquisa (clique nos links acima ou digite “Vinhos do Porto” em pesquisa) pois os Vinhos do Porto são uma paixão minha, porém nunca dediquei um post aos Brancos.

A maioria conhece os brancos doces sendo o mais famoso deles os Lacrima Christi (o mais doce) que, dizem, Jânio Quadros amava e sempre tinha em seu quarto. Doce demais da conta para meu gosto e hoje caiu em desuso pelo menos por terras brasilis. Bem, a diferença do branco para com os Tawnies e Rubys começa pelas uvas usadas que são brancas; Malvasia fina, Rabigato, Gouveio, Moscatel Galego, Côdega e Viosinho.

São classificados também diferentemente, pelo nível de doçura; Lácrima (muito doce), Doce, Seco e Extra-seco. Envelhecidos em balseiros de cerca de 20.000 litros, não são muitos os produtores de vinhos envelhecidos, safrados (Colheitas) ou de idade (10, 20, 30 ou 40 anos). Nessa lista de poucos, porém “poderosos” produtores desses verdadeiros néctares brancos envelhecidos, que ficam com uma cor bem similar aos tawnies, cito dois; Dalva e Andressen assim como o histórico 1973 da Casa de Santa Eufêmia que quem conhece não esquece e tem “causo” a contar que você pode conhecer clicando aqui. 

Tradicionalmente são vinhos que se tomam como aperitivo, pouco no final de refeições, e eu gosto de os tomar geladinhos sem nada ou acompanhado de amêndoas torradas, salgadinhos e azeitona recheadas, sempre bom ter uma garrafa dessas na geladeira. Há, no entanto, uma forma que se tornou mais popular ultimamente que é no formato de um long drink, um Port Tonic ou Porto Tônica, opção do freguês. Para preparar, é super fácil, eu prefiro usar o extra-seco, mas o seco também vai só que possui um pouco mais de doçura. Então lá vai, para quem estiver a fins de preparar neste final de semana:

http://www.falandodevinhos.com/wp-content/uploads/2012/01/26111557/portonic.jpgQuatro pedras de gelo num copo longo, 30 a 40% (a gosto) de Porto Branco Seco ou Extra-seco, uma rodela de limão siciliano, completa com tônica e um pouco de hortelã. Eu normalmente amasso umas duas folhinhas e completo com uma inteira só para decorar. Muito refrescante, tudo a ver com o verão mas vai bem em qualquer momento e normalmente surpreende quem não conhece, um vai ser pouco!

Bem, mas tem outra forma de servir? Tem diversas e é uma questão de botar sua criatividade para funcionar como, por exemplo, uma bola de sorvete de limão ou outro sabor bem cítrico regado com porto Seco, eu gosto!

Saúde amigos e kanimambo pela visita, aguardo os amigos na Vino & Sapore neste final de semana para abrirmos algumas garrafas. Um ótimo fim de semana a todos e semana que vem mais visitas a bodegas argentinas fruto da viagem de Abril.

Sacando a Rolha de Vinhos Exóticos

Juntos numa mesma noite colocamos; Tahiti, Peru, Venezuela, Mexico, Georgia, Marrocos, Israel e China! Já fazia um bom tempinho que andava juntando com os amigos Uncorking-Old-Sherry-Gillrayda Confraria Saca Rolha alguns vinhos de regiões produtoras pouco ou nada conhecidas, regiões de onde pouco ou nada se espera. Finalmente chegou o dia e surpresas para os dois extremos ocorreram; positivo de onde nada se esperava e negativo de onde algo se esperava, com alguns performando o que esperava deles, um exercício muito interessante este, mas deixo a Raquel contar sua percepção de mais esta agradável noite. Eu apenas tecerei alguns curtos comentários em seu texto, dá-lhe Raquel.
Acho que quase todo mundo tem uma atração pelo exotismo. Seja aquela comida cheia de aromas, aquele país longínquo, com paisagens coloridas que sempre vemos em fotos da Nacional Geographic, ou mesmo aquela pessoa com hábitos diferentes dos que estamos acostumados e que parecem tão naturais à elas. O diferente nos incita a curiosidade pela possibilidade de oferecer uma nova opção de viver sensações de prazer. Por outro lado, também nos causam um certo temor, pois sendo algo desconhecido, exige que sejamos corajosos para o novo experimento.

Por muito tempo, ficaram guardadas algumas garrafas provenientes de lugares diversos, não conhecidos pela produção de vinho. Amigos que viajaram por lugares fora do conhecido eixo “velho e novo mundo” e que se depararam com a bebida, não resistiram e pagaram pra ver o que teriam ali dentro! Ou mesmo aquele presente que um amigo trouxe para surpreender, enfim, a lista foi ficando grande. Eu sempre ouvia da existência dessas preciosidades e que um dia elas seriam abertas todas juntas. E esse dia chegou, virou tema do encontro da confraria!

Estávamos todos munidos de coragem, a mente aberta para novidades, mas sempre com aquele pezinho atrás. Ficamos sabendo que haviam outras garrafas sobressalentes caso tivéssemos uma experiência ruim. Afinal, não poderíamos ficar sem vinho na taça!
Para começar, que tal um espumante da Venezuela?

Venezuela > POMAR – BLANC DE BLANC – DEMI SEC – MÉTODO TRADICIONAL
Brindamos ao grande momento e aos poucos os olhares foram se cruzando como quem busca cumplicidade nas sensações. De coloração amarela intensa e pérlage maior que o comum, os aromas de maçãs foram se desprendendo à medida que as bolhinhas sumiam. E só nessa hora percebemos que tratava-se de um Demi Sec. Muito frutado, pouca acidez, deixando na boca um rastro amargo. Alguns torceram o nariz rapidinho, outros resistiram um pouco mais, enquanto já estava sendo providenciada a garrafa que esperava no banco de reserva.

Chile > SANTA DIGNA –ESTELADO ROSÉ – BRUT – MÉTODO TRADICIONAL
O escolhido não poderia ser algo comum, já que o nome do jogo era exotismo. Era um espumante chileno, feito pelo enólogo espanhol Miguel Torres, e elaborado com 100% das uvas País. O resultado foi bem interessante. Um rosé bem seco, com um nariz floral muito agradável.

Tahiti – DOMAINE DOMINIQUE AUROY – VIN DE TAHITI – BLAN DE CORAIL
Hora de partirmos para os vinhos tranquilos. Um branco do Tahiti. Muito bem feito por uma enóloga que também faz vinhos na Borgonha : Dominique Auroy. As castas Itália e Muscat of Hamburg , juntaram-se com o sotaque francês da polinésia, as frutas tropicais do local e a brisa marinha. O resultado além de exótico foi surpreendente! Um vinho muito fresco, com uma mineralidade forte, além de aromas e sabores frutados como manga, abacaxi e maracujá. Já me imaginei naquela paisagem de águas azuis e límpidas, areia branca e sol brilhando no céu. Com aquelas comidas a base de peixes e frutos do mar então, deve ficar perfeito!(talvez a maior e melhor surpresa da noite, pelo menos para mim!)

Georgia > TELIANI VALLEY – SAPERAVI – 2011
A Geórgia é um país que poucos saberiam dizer onde se localiza no mapa. E muito menos diriam que lá se produz vinhos! Pois saibam que foi exatamente ali o berço da vinificação. Existem evidências arqueológicas de 7000 anos A.C. onde foram encontradas as vinhas mais antigas cultivadas no mundo. Cientistas acreditam que esses são os primeiros indícios de viticultura (plantio de uvas organizadas pelo homem).
Está localizado entre o Mar Negro, Rússia, Turquia, Armênia e Azerbaijão.
O vinho que provamos foi feito com a uva local, Saperavi, cuja característica principal é a cor muito escura da pele e o suco rosado. O vinho tinha aromas intensos de frutas maduras, algo mineral (ferroso), muito encorpado e denso. Uma leve doçura, gordo e pesado. Faltou acidez para levantá-lo um pouco mais. Produzido pela Teliani Valley desde 1997.(pode ter história, mas é fraquinho, fraquinho e não agradou)

Venezuela > RESERVA POMAR – 2006
Resolvemos dar outra chance à Venezuela. Do mesmo produtor do espumante, esse vinho já era conhecido por alguns ali presentes e havia surpreendido muita gente em outra ocasião em que foi colocado à prova. Feito à partir de 60% Petit Verdot, 20% Syrah e 20% Tempranillo. Mostrou uma personalidade própria, com muita fruta, especiarias, madeira molhada e um adocicado ao fundo revelando o álcool residual. Os que já o conheciam disseram que estava muito menos vibrante que o provado anos antes. Talvez já estava em sua fase de decadência.(Em 2009, dois dos presentes confrades e eu, participamos de um Desafio de Vinhos Ìcones em que coloquei esse vinho às cegas. Para surpresa de muitos, este se deu muito bem e você pode ler o que ocorreu naquela época clicando aqui. O vinho já passou o cabo da boa esperança e está cansado com fortes notas evolutivas, porém ainda dava pistas do bom caldo que um dia esteve por lá!)

Exóticos

Peru > INTIPALKA – RESERVA CABERNET SAUVIGNON/SYRAH – 2009
Da Venezuela fomos para o Perú. Esses dois países tiveram as primeiras mudas de vitis viníferas trazidas pelos jesuítas que chegaram junto com os colonizadores espanhóis. O clima tropical, quente e úmido, o solo muito rico em material orgânico, não favoreceu o desenvolvimento das vinhas. Mas as poucos, a busca por locais mais adequados a esta cultura, investimento em tecnologia e know-how importados fizeram com que se desenvolvessem. O Perú tem se destacado no mundo pela sua alta gastronomia. Porque então sua produção de vinhos ficaria para trás? Da bodega Santiago Queirolo, o vinho provado mostrou qualidade. Aromas florais delicados, taninos presentes, porém bem integrados ao corpo e balanceados com a acidez. Gastronômico que seca a boca e pede comida.(gosto e conheço há um tempinho. Seu Sauvignon Blanc também é bastante interessante e num dia que abri às cegas bateu um monte de chilenos!)

CHINA > GREAT WALL Cabernet Sauvignon
Os grandes imperadores chineses já consumiam vinhos e hoje quando se junta na mesma frase “vinhos e China” os números estatísticos são de assustar!
Nos últimos 10 anos a China mais que duplicou o número de hectares plantados no pais (de 300 mil para 800mil) tornando-se o 2º maior produtor de uvas do mundo, ficando atrás da Espanha e à frente da França. Além do seu próprio território, tem comprado terras pelo mundo para a produção de vinhos, como na França, Chile e estão na mira da Austrália e EUA. Esse vinho que provamos é de um grande produtor cuja marca está em 2º lugar em quantidade de vendas no mundo, ficando atrás apenas da americana Gallo, responsável por 1 bilhão de litros comercializados por ano.
Apesar desses números enormes e o grande investimento que estão fazendo o vinho chinês foi o mais decepcionante para todos…(já são os segundos maiores “plantadores” de uvas vitivinífera do mundo, porém a qualidade, pelo menos por este vinho, ainda tem muito chão pela frente antes de chegar a ser razóavel!)

Israel > GOLAN HEIGHTS – YARDEN MOUNT HERMON – 2011
A história de Israel é conhecida desde os tempos bíblicos. O cultivo das vinhas e o consumo do vinho acompanha sua civilização desde então. Passou por várias destruições e guerras, e por volta de 1882 os judeus da Europa do leste voltaram para Israel, empenhados na sua reconstrução. Os altos investimentos feito pelo Barão Edmond de Rothschild foram fundamentais para o desenvolvimento da produção vitivinícola no país. O clima mediterrâneo, seco e frio, com altitudes até 800m e verões quentes com muito sol, favoreceram esse desenvolvimento com qualidade na região da Galileia. O vinho que experimentamos foi elaborado com o clássico corte bordalês (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot). Muito leve, fresco e fácil de beber. (Muito agradável)

México > L. A. CETTO – RESERVA PRIVADA NEBBIOLO 2008
O México foi o primeiro país na América Latina a produzir vinho, com uvas trazidas pelos espanhóis para consumo da Igreja. As principais regiões vinícolas estão na divisa com os EUA, ao sul da Califórnia. O consumo da população é baixo, sendo que a maior parte da produção das uvas vão para Brandy. O restante da produção de vinhos é exportada principalmente para os EUA.
Esse vinho apesar de ser feito apenas com uma uva de origem italiana, a Nebbiolo, tinha um estilo bem espanhol. Austero, com madeira bem integrada, taninos presentes, porém refinados. Bom corpo com muita fruta madura e especiarias. Equilibrado.(já tinha lido sobre este vinho e o vinho esteve à altura dos comentários apurados. Bem feito e quem for ao México já pode pedir, sem medo de errar, um vinho nacional no restaurante. Gostei!)

Marrocos – OULED THALEB – TANDEM – SYRAH DU MAROC 2010
O rótulo diz muito da história deste vinho. Quando um viticultor do vale do Rhône ( Alain Graillot ) viajava de férias pelo Marrocos, durante um passeio de bicicleta conheceu o produtor da Domaine Ouled Taleb. Decidiram fazer um vinho juntos à partir de vinhas localizadas nas imediações de Casablanca, usando os princípios biodinâmicos. O resultado disso foi um vinho elegante, fácil de beber, muito equilibrado que reflete bem os aromas e sabores exóticos daquele lugar. Chamaram-no de Tanden, palavra de origem latina que significa uma bicicleta conduzida por dois ciclista, ou mais genericamente, qualquer veículo conduzido por duas forças, mostrando a ideia de colaboração.(gostei, uma grata surpresa já sendo importada por aqui pela World Wine)

Foi uma viagem e tanto. Muitas histórias para contar e de grande diversidade para os sentidos. O exótico, que parece tão distante à primeira vista, quando se tem uma experiência mais estreita, ajuda-nos a compreender a nossa própria história.
No caso da história do vinho, serviu para ampliar um pouco os nossos conceitos do que significa “velho mundo e novo mundo”. Quando voltamos no tempo e percebemos que existiu um mundo ancestral ao chamado “velho mundo”, como a Geórgia, China, Israel, Marrocos, entre outros, fica mais fácil entender a importância que essa cultura tem na evolução da nossa própria história. E que ela continua caminhando a passos largos como mostra esse “novíssimo mundo” no Tahiti, Venezuela, Perú e México. E através dos seus vinhos podemos ver refletido essa longa trajetória que ainda tem muito chão a ser percorrido.

Para muitos o líbano também é uma região produtora exótica, porém já estão no mercado há anos e não achei que caberiam aqui, pois já possuem produtores consagrados internacionalmente. O que vimos é que não podemos fechar os olhos, nariz e boca a essas regiões. Com os avanços da tecnologia e as mudanças climáticas, muito ainda está por acontecer e somente quem tiver a mente aberta poderá se surpreender.

Saúde e kanimambo.

Um Domingo em Mendoza!

Dia complicado de visitas a bodegas em Mendoza, pois tem gente por lá que também precisa de descansar! Afora isso era dia de eleições locais, mas mesmo assim, dois grandes momentos; a visita á Decero e à O. Fournier onde também almoçamos. No dia anterior tínhamos iniciado nossas atividades com uma visita para lá de especial, à Michelini Bros então estávamos ávidos por mais neste lindo dia de Domingo e as surpesas que ele nos traria.

finca-decero-logo-rgbA Decero é uma Bodega muito jovem começada do zero em 1999 por um casal de Suiços que tinham em mente um projeto especifico a executar e por isso mesmo queriam algo que eles mesmos pudessem moldar ao seu jeito e forma. É linda, perfeitamente integrada a uma paisagem encantadora. Uma voltinha rápida para uma visita às instalações da bodega, prova de barricas com o enólogo residente Tomás Hughes e chegamos numa linda sala de degustações com uma vista que faz com que qualquer vinho tenha um gosto para lá de especial, imagina quando os vinhos possuem esta qualidade!

Os vinhedos chamados de Remolinos, em função dos redemoinhos (foto no slide show abaixo) que se formam no campo, começaram a ser plantados em 2000 e as primeiras colheitas experimentais realizadas em 2004 e 05. Finalmente em 2006 as primeiras colheitas comerciais foram realizadas, lançadas ao mercado dois anos depois e o sucesso veio rapidamente. Hoje se produzem cerca de 420 mil garrafas anuais e os troféus e medalhas começam a se amontoar. Para quem não conhece, recomendo a visita, o lugar e os vinhos merecem atenção sem desmerecer o atendimento muito simpático e eficiente, porque isso é essencial!

Já esteve presente no Brasil, porém em função do fechamento da importadora, busca outro representante para nossas terras e eu espero que achem logo, pois seus vinhos valem muito a pena, dois deles em especial são grandes destaques e vinhos inesquecíveis. Localizada em Lujan de Cuyo em uma de suas principais sub-regiões; Agrelo, só produz vinhos tintos. Você pode ver mais da bodega clicando aqui, mas agora deixa eu compartilhar com vocês os vinhos que lá provamos e nos foram apresentados pela simpática Daiana.

Decero Malbec 2012 – Boa tipicidade, floral, taninos finos bem presentes, boa persistência e harmônico, acidez bastante equilibrada. Bom vinho

Decero Cabernet Sauvignon 2013 – Frutos negros bem presentes, especiarias, jovem, taninos firmes e elegantes, gostei muito e, a meu ver, entre os três desta gama o vinho mais vibrante que mais me entusiasmou mostrando que estas terras de Agrelo realmente dão ótimos Cabernets!

Decero Syrah 2012 – Taninos doces, especiarias, boa intensidade e textura, amável na boca, um vinho bastante agradável, bem feito e fácil de tomar.

Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – somente cerca de 12.000 garrafas produzidas e um vinho surpreendente para a maioria que o prova pela primeira vez. Não é a toa que na safra 2012 levou o Troféu de melhor Vinho de Mendoza na Wines of Argentina Awards e Melhor Vinho Argentino entre USD30 a 50! Absolutamente sedutor, na contramão de tudo o que, a principio, se espera de um varietal 100% desta uva. Sem excessos, fino, nariz intenso e boca extremamente elegante com taninos de grande finesse. Uma garrafa é pouco!!

Decero Amano 2011 – baita vinho, encantador, conheci pela primeira vez na degustação Premium da Wines of Argentina em Setembro/14 (veja aqui meus destaques) e depois voltei a prová-lo em Novembro quando em Mendoza e agora novamente. Em todas as vezes senti enorme prazer ao tomá-lo, um grande vinho, um assemblage de primeira linha em que o viés velho mundista mais tradicional de perfeito equilíbrio, elegância, daqueles vinhos que já nos seduz na primeira fungada! Blend de Malbec, Cabernet Sauvignon, Tannat e Petit Verdot é um grande vinho, complexo e sedoso na boca, fruta exuberante um vinho que me encanta e não é à toa que foi o único vinho argentino a ganhar por três vezes o troféu de Melhor Red Blend acima USD50 na Wines of Argentina Awards!!

Clique na imagem abaixo para ver o slide show da visita à Decero. Dia lindo e a imagem é a vista que tínhamos da mesa de degustações, não é deslumbrante?!

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O. Fournier – saímos da Decero e rodamos pouco mais de uma hora até chegarmos à incrível O. Fournier com seu O Fournier logoprojeto arquitetônico ímpar, moderno e marcante. Conheci a O. Fournier e o José Manuel Ortega Fournier, em uma degustação aqui em Sampa no ano passado (relatado aqui) e me encantei por seus vinhos e diversidade de uvas trazendo um pouco da cultura ibérica para este longínquo recanto de Mendoza no extremo sul do Vale do Uco. Em função do atraso, a visita á bodega e suas instalações foi algo corrido, porém sua estrutura e design, das torres de concreto que são tanques, á enorme e incrível sala de barricas e coleção de arte, um momento realmente marcante que nos deu sede e abriu o apetite para o que estava por vir, um delicioso almoço harmonizado no restaurante Urban capitaneado pela Chef Nadia, esposa do José Manuel.

Deles, no entanto, falo em um post em separado porque este já tá longo demais. Inté, saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer outro lugar de nossa vinosfera. Uma ótima semana para todos.

22 Vinhos Mais Caros do Mundo!

Esta lista tirei do Wine-Searcher e óbvio que poderão existir outros vinhos e outros preços em listas de outras fontes! O Wine-Searcher um site que é uma ótima ferramenta para encontrar vinhos no exterior quando em viagem e que recentemente coloquei o link aqui na coluna do lado em Onde Comprar. Alguns detalhes a considerar nessa lista e também algumas curiosidades.

1 – A tabela foi montada em cima de preços médios encontrados pelo site, independente de safras, elaborada em cima de mais de 50 mil listas de preços em sua base dados do mundo inteiro, totalizando mais de 7 milhões de rótulos. Alguns dos preços máximos encontrados provavelmente são vinhos especiais, de safras antigas ou de coleção, por isso o de alguns preços máximos estarem na casa do chapéu! Eu sempre achei que o DRC era campeão entre os vinhos mais caros do mundo, mas me surpreendi com o vinho mais caro apurado nessa pesquisa. do DRC me lembro de ter visto um 2005 no Free Shop de Dubai por USD25.000 faz uns quatro anos!

2 – Dos 22, a bagatela de 19 são franceses entre eles 16 da Bourgogne, 2 de Bordeaux e 1 do Rhône. Como intrusos nessa lista, dois Alemães (surpresa né?!) e um americano!

3 – Quando estendemos essa lista para os 50 mais caros ou seja, mais 28 rótulos, nada mais nada menos do que 25 deles também são da Borgonha, um de Champagne mais um alemão e um australiano. Coisa de louco esses vinhos da Bourgogne e dos 50 vinhos a França tem na lista 44 rótulos!!!

50 Vinhos mais caros Wine Searcher

Saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer esquina desta nossa vinosfera. Um ótimo fim de semana para todos

 

Encontro com o Alvarinho Pouco Comum e …..

CAM02030Domingo a dois, o que não é muito comum, e o cozinheiro de Domingo lá se meteu a mestre cuca. Como já disse por diversas vezes, me esforço mas sou limitado me falta conhecimento e o talento, no entanto algumas coisa invento e desta vez precisava bolar algo, para variar, porém fácil e dentro de minha limitada capacidade. Trouxe um Alvarinho Pouco Comum, gosto deste vinho e de seu custo, e apesar de poder harmonizar com um monte de pratos, de costelinha na brasa a feijoada, fui mesmo foi no tradicional!

Trouxe da loja um novo produto da Marithimus, peixe e frutos do mar de Santa Catarina, um bacalhau no azeite com azeitona pois já pensei na entrada e deu muito certo, simples bruschettas de bacalhau. Eis a receita para os amigos, fácil e rápido!Marithimus Bacalhoada
Pão italiano, põe no forno para dar uma tostada, tira e esfrega nele (bem delicado para não ficar forte) um dente de alho. Tomate fresco descascado e cortados em pequenos pedaços, um frasquinho de 100grs de Bacalhau Marithimus. Depois da esfregadinha do alho, jogar sobre as fatias de pão, um pouco do azeite do bacalhau e volta para o forno para dar mais uma tostadinha. Retira, coloca o tomate e o bacalhau voltando para o forno para terminar. Não deu 15 minutos para fazer tudo isso e eu fiz tudo no forno elétrico.

CAM02033Enquanto isso, tinha um filé de corvina me aguardando marinando por cerca de uma hora com um pouco de sal, pimenta do reino, um pouquinho de limão e um leve toque de vinho branco. Preparei um refogado de cebola (1/2), alho (1/2 dente grande), dois tomates frescos sem casca cortadinho (parte usei na bruschetta) e azeitona preta portuguesa picada, gosto da Maçarico que é mais saborosa, mas qualquer uma dá. Coloque um fio de azeite na frigideira e dê uma selada no peixe, reserve numa forma. Enquanto isso ligue o forno prepare o refogado. Refogado pronto, coloque em cima do peixe e leve ao forno por cerca de 15 minutos e tá pronto. Sirva com arroz branco, adoro minha panela japonesa que faz tudo solo!

Bruschettas de bacalhau, peixinho no forno, minha loira (rs) e uma garrafa de Alvarinho, nada mau para um Domingo preguiçoso sem computador! Ah, o Alvarinho Pouco Comum, é o nome mesmo, é um dos bons Alvarinhos disponíveis no mercado com preço mais em conta, em torno dos 70/75 reais, e vale muito a pena. O nome Pouco Comum não sei de onde veio não, mas a meu ver ele possui uma acidez mais moderada e maior corpo que a maioria, com bom volume de boca sem perder a tipicidade da casa, então pode ser daí. O produtor é a Quinta da Lixa o que já é, por si só, uma boa indicação de qualidade e eu gosto, não é um Soalheiro, mas é justo e cumpridor! rs

Tá aí gente, dá para qualquer um se divertir e até fazer bonito com quem interessa, basta boa vontade porque o resto é facim, facim! Ah, bagunçou tem que limpar né, essa é a parte mais chata da cozinha, ou não? Kanimambo e no próximo post falarei um pouco da surpreendente Decero e a incrível O. Fournier em Mendoza, um grande Domingo passado lá em Mendoza com os amigos que me acompanharam na viagem de Abril.

Mais Que Vinho, Um Conceito de Vida – Família Michelini

Em Mendoza existe gente fazendo coisas diferentes de forma diferente, só precisa ter a mente aberta e a indicação certa para descobrir essas coisas. Mais do que vinho, este projeto é um conceito de vida então permitam-me lhes apresentar, para quem ainda não conhece, o Matías Michelini e sua família. São quatro irmãos, três enólogos (Matías, Gerardo e Juan Pablo) e o Gabriel, que têm a pureza da terra como preceito maior, seja no vinhedo, na bodega, mesa e na vida como um todo. Mas vão além disso, são revolucionários na busca de suas quimeras e liberdade de criação.

Na primeira parada de nossa visita de Abril a Mendoza, tivemos o privilégio de sermos recebidos pelo Matías Michelini em suas novas instalações em Tupungato, no condomínio The Vines, onde ele mantém a sede da Michelini Bros em que produz com seus irmãos algumas preciosidades em seus tanques de cimento (ovos) e ânforas que ele próprio desenhou. Este novo projeto é todo biodinâmico, buscando a essência e pureza da natureza em volumes limitados. É um local para deixar fluir a inspiração e criatividade num processo de plena liberdade possuindo uma energia especial. Aqui ele pacientemente esperou por nossa chegada com quase uma hora e meia de atraso devido a problemas de voo, nos recebendo com o fogo aceso e uma taça de espumante na mão, incrível simpatia, homem de poucas palavras e muito carismático, cativou a todos os presentes. Por aqui tudo é pequeno; instalações, numero e tamanho de tanques, sala de barricas e produção, as exceções são a grandeza dos personagens e a qualidade de seus produtos.

A comida, tudo orgânico, estava maravilhosa, os vinhos divinos e os convivas radiantes, não poderíamos ter começado melhor e em pouco tempo as agruras da viagem tinham ficado para trás! Hoje, compartilho virtualmente com vocês alguns desses  momentos e os vinhos provados aproveitando para dar uma dica, quando comprarem um vinho, tentem conhecer o enólogo por trás dele. Se estiverem frente a frente com um vinho do Matías, Gerardo ou Juan Pablo podem mergulhar de cabeça pois a experiência certamente será diferente do que estão acostumados a provar de caldos mendocinos! Ainda farei uma matéria sobre eles, mas por enquanto fiquem com seus vinhos e o vídeo abaixo com imagens de nossa visita.

A Passionate Wines é um projeto do Matías tão somente e melhor nome não poderia ter escolhido, pois é fruto de sua paixão e inquietude refletida em cada garrafa. Provamos vinhos dos diversos projetos dos irmãos, porém foi através de minha introdução à Passionate Wines que aqui viemos parar.

Espumante Zorzal Extra-Brut – devido ao atendimento a um de nossos companheiros de viagem que não estava bem, perdi esta prova, porém os comentários de quem o tomou foram altamente elogiosos. Elaborado com Semillon (cerca de  2/3) com Chardonnay. Da El Zorzal e um vinho a rever!

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc – pura mineralidade e sutilezas num vinho único fermentado em tanques de plástico de 1000 litros! É a natureza em sua forma mais pura em Gualtallary, uma das partes mais altas de Mendoza no Vale do Uco na base dos Andes, onde a acidez também aflora. A uva é colhida em 5 diferentes momentos durante o mês de colheita, de forma a poder-se retirar delas diversas características que comporão esta obra de arte engarrafada. Limitado a 5000 garrafas ano, é um vinho único e diferenciado até no teor alcoólico, meros 9,5%!! Vibrante, sutil e elegante, adoraria ter sempre em casa! Projeto Passionate Wines

Matias Clipboard Bodega

Calcáreo Bonarda – fermentado em ânforas desenhadas pelo próprio Matías, únicas no pedaço, uvas advindas de um vinhedo orgânico de Gualtallary plantado em 2005, amadurece em barricas de 1º e 2º uso francesas passando posteriormente por um estágio de 6 meses de garrafa antes de finalmente chegar a nossas taças. A Bonarda em sua quintessência, uva de pouco valor até cerca de 15 anos atrás, mostra aqui todo o seu valor de forma apaixonante e marcante. Mineral mostrando bem seu terroir, fruta abundante, ótima estrutura tânica e textura agradável que enche a boca, alguma especiaria, concentrado longo, um belo vinho que surpreendeu a maioria dos presentes e precisa de tempo para mostrar todo seu esplendor. Projeto Michelini Bros e produção limitada a apenas 6.000 garrafas por safra.

Demente – um projeto demente de unir uvas provenientes de quatro vinhedos distintos de Cabernet Franc e Malbec, de Diferentes alturas e solos. Depois, colhidas em tempos diferentes e adicionadas ao mosto já em fermentação. Um vinho decorrente da liberdade de criação e veia revolucionária de um enólogo em constante busca do diferente, do inusitado. O vinho arrebatou os presentes, eu já conhecia, confirmando toda a exuberância que eu já relatei; uma paleta olfativa intensa, um verdadeiro bosque de frutos silvestres com nuances florais. Entrada de boca marcante, ótima textura, acidez gostosa se fazendo presente e pedindo um teco de bife de chorizo (rs), taninos finos, final longo algo mineral e muito apetitoso. Doze meses de barrica francesa e limitado a apenas 3.000 garrafas e difícil de achar até por lá!

Já quase meia-noite e nós lá! Dó do anfitrião e sua equipe que tão bem nos recebeu, mas ele ainda tinha mais asas na manga. Como costume de alguns na Argentina, terminou a degustação com um branco seco que acompanharia a sobremesa, pouco doce, e daria uma refrescada na boca após dois vinhos tão intensos. Acho interessante esse conceito que vale usar em degustações.

Via Revolucionaria Semillon Hulk – não pela força, mas pelo verde! Sim, aqui a acidez é bem acentuada, vido de um vinhedo com pouco mais de 40 anos, sem passagem por madeira e com uma produção ínfima, não passa de 500 garrafas. Com apenas 11% de teor alcoólico, colhido cedo, preservou a fruta em sua essência. Nuances florais, cítrico, fresco e muito bem balanceado, só lamento que tão tarde e no final de uma incrível refeição e grandes vinhos tintos, muita emoção à flor da pele, não tivemos tempo de apreciá-lo com o devido cuidado. Na próxima passagem por lá vou querer comprar algumas par melhor curtir o vinho.

Matias Clipboard jantar

Bem, primeiro dia finalizado e de cara mostrando toda a diversidade de uma região produtora. Sem nenhum Malbec, viriam às taças em outros dias, mas descobrindo novos sabores pelas mãos de alguém muito especial e de uma família, tanto quanto ele, sonhadora e sem medo de ousar, nos presenteando generosamente com os frutos dessa picardia, da liberdade bem manejada e com conhecimento. Verdadeiros vinhos de autor, vinhos com alma que me fazem finalizar este texto de hoje, citando Gerado Michelini no livro do Matías (Los Otros):

Los padres son la tierra, el suelo, la raiz.
Los hermanos las ramas, los cargadores, la fuerza.
Nuestras mujeres, grandes compañeras, la brisa fresca de la mañana.
Nuestros hijos, la flor, la fruta dulce, el racimo que crece
El vino es el encuentro

Por hoje chega, já fiquei com uma saudade danada deste momento! Um ótimo fim de semana e kanimambo pela visita.

Fotos minhas e do amigo e companheiro de viagem, Godinho. Para ampliar clique nelas.

Enogastronomia Portuguesa = Diversidade!

Diversidade, acho que está no sangue, esse é meu brado, esse é meu lema e não abro mão! Falo muito sobre o assunto porque é algo inerente ao meu ser e quando vejo a mesmice em que se coloca a gastronomia portuguesa, me deixa algo P da vida porque há muito mais por lá do que só Bacalhau, Sardinhas e Caldo Verde! Como no vinho e na enormidade de uvas autóctones portuguesas que enriquecem sobremaneira a vitivinicultura lusa, assim é a gastronomia do país, pequeno mas vasto em sabores! Um amigo me enviou em pdf, um livro intitulado Receitas e Sabores dos Territórios Rurais editado pela Minha Terra – Federação Portuguesa de Associações de Desenvolvimento Local que é uma preciosidade. Por sinal, o livro entrou em meu wish list! Se alguém estiver indo a Portugal e quiser me trazer um livro desses, pago na entrega aqui! rs

O papo hoje vai longe, então prepare-se, mas creio interessante para os amantes da boa gastronomia que, em Portugal vão achar uma diversidade de sabores incrível. A regionalização enogastronomica portuguesa é imensa e passa por fortes influências das ex-colônias. Cada região tem seus pratos e suas peculiaridades, sua cultura e hábitos baseado em seu meio ambiente típico, o que costumamos chamar de terroir, conceito este ampliado á gastronomia. Achei bastante interessante o que Maria Proença, da Idade dos Sabores, expôs em suas notas introdutórias ao livro:

Decido começar por onde deveria, talvez, terminar: sublinhar as palavras de Stefano Padulosi – “levar um garfo ou uma colher à boca é a última etapa dum percurso demarcado pela história e pela geografia”. E eu acrescentaria: pelas tradições, pelas crenças, pela carência ou pela abundância, pela necessidade ou pela festa, pela partilha.
Julgo que esta formulação enquadra bem o lugar da cozinha no contexto dum território, porque aqui a cozinha não se dissocia do seu meio mas é nele que se inspira e se alimenta. A noção de território implica uma interação, uma dialética entre a paisagem, o clima, as atividades dos homens, as suas práticas, o seu saber-fazer, e ainda o resultado dessas mesmas práticas: os produtos agrícolas locais.
A propósito, Laurence Berard afirma: “Existe uma grande familiaridade entre os produtos e as pessoas. Importa identificar estas produções para as dar a conhecer e melhor as valorizar: assim podemos contribuir para voltar a dar sentido ao território”. Digamos, pois, que cada território é um espaço socialmente decifrado, apropriado e construído.
Neste livro é o conceito de território que ganha destaque, entendido que deve ser como um campo complexo que obriga a um método de análise e de interpretação multidimensional: recursos ambientais, economia, cultura, política, história e identidade, tradições e saberes, informação e divulgação. É neste contexto que a gastronomia local recupera algumas das ideias que a devem nortear. A cultura alimentar encontra a sua diversidade na manutenção e valorização do território, na especificidade e qualidade dos seus produtos, na promoção do que é genuíno ao mesmo tempo que desenvolve estratégias para a sua inserção num espaço mais amplo.

Tudo isto para chamar a atenção para diversas outras deliciais regionais da gastronomia fora os já para lá de manjados bolinho de bacalhau, pratos de bacalhau e caldo verde que todos conhecem. Preparem-se para curtir uma imensidão de sabores quando de visita à terrinha, aproveite e explore alguns destes pratos dependendo da região em que estiver:
Região Norte – Trás os Montes, Minho, Douro:
Arroz de lebre, Perdiz Estufada, Guisado de javali, Migas de peixe, Ensopado de Borrego,, Presunto cru de Chaves, Javali no pote com castanhas, Cozido Barrosão, Folar, Lampreia, Sável no forno, Cabrito assado, Arroz de Cabidela, Alheiras de Mirandela com grelos, Arroz de Favas, Bifes de Alvarenga, Cabrito da Gralheira, Broa (pão) e os doces Toucinho do Céu, Leite Creme, Pudim de castanhas, Rabanadas, Pudim Abade de Priscos entre outros.

Região Centro – Dão, Bairrada, Beiras
Sopa do Vidreiro, Enguias fritas, Leitão à Bairrada, Arroz de lampreia, Morcela de arroz de Leiria, Arroz de mariscos, Vitela de Lafões, Escabeche de trutas, Arroz de Zimbro, Queijo da Serra, Cabrito recheado, Pão da Mealhada, Borrego estufado, Chanfana, Bucho recheado, Arroz de miúdos, Sopa de Castanhas, Coelho à caçadora, Feijoada de Lebre, Borrego assado, Morcelas, Panela de forno e os doces Tigeladas, Pudim de requeijão, requeijão com doce de abóbora, arroz doce e pastéis de Vouzela entre outros.

Região Lisboa, Setúbal e Ribatejo:
Migas de bacalhau, Cabrito de Torres Novas, Queijo do Azeitão, Caldeirada do mar, Sopa de Saramagos, Sopa de Pedra, Ostras de Setúbal, Carne de Porco com enguias, Pombo estufado, Cabrito assado, Fataças, Ensopado de enguias, Açorda de Savel, Açorda de camarão, Coelho bravo frito, Carneiro guisado, Fritada de camarão com açorda, Sardinhas assadas, Frango na púcara e do mar os tradicionais chocos,ameijôas, navalhas, berbigão, camarões e lagosta. Doces; Fios de ovos, Fatias de Tomar, Figos, Fogaças de Alcochete, Pastéis de feijão, Celestes de Santa Clara, Lampreia de ovos, Pastéis de nata (Belém) e barrigas de freira entre outros.

Região Sul, Alentejo e Algarve:
No Alentejo reina o porco preto e ótimos queijos. Cachafrito de Cabrito, Sarapatel, Assada de peixe, Sopa de lebre, Ensopado de Borrego, Carne de Porco à Alentejana, Arroz de lagosta, Ensopado de enguias, Sopa de lebre, Açorda á Alentejana, Cozido de grão, Arroz de lampreia, Lombinhos de javali, Borrego estufado, Açorda de ovas, Veado com castanhas, Pato bravo com mostarda, Perdiz de escabeche, Fritada de porco, Sopa de tomate, Papas com conquilhas, Mioleira de porco, Arroz de pombo, Cataplana Algarvia, Lulas recheadas, Arroz de polvo, Lombo de porco na banha, Galinha cerejada e os doces; Manjar branco, Ovos de Portoalegre, Bolo da sogra, Sericaia com ameixas d’Elvas, Trouxas de ovos e Fatias do Céu entre outros.

Na próxima vez em Portugal, ouse! Visite seu porto seguro, mas descubra novos sabores sempre acompanhados de vinhos regionais que certamente harmonizarão à perfeição. Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui.

Fim de Semana de Dia das Mães – Amor, Pão e Vinho!

Fim de semana longo porque se iniciou na Sexta com meu aniversário de casamento e um jantarzinho a dois, preparado a quatro mãos. Um fim de semana para lá de gostoso, pois pude celebrar duas vezes e compartir com minha loira e filhos o amor que nos une e mantém unidos há 39 anos de meus 41 de Brasil!

Na Sexta iniciamos nossos “trabalhos” tomando este espumante argentino pelo qual me apaixonei em minhaCAM01985 última viagem à Argentina com a Wines of Argentina em Novembro do ano passado. O mais recente lançamento da Norton na Argentina é o Cosecha Especial Vintage 2010 Brut Nature, elaborado com 60% Chardonnay e Pinot Noir, sur lie de 18 meses, método champenoise, é um tremendo de um espumante que escolhi para celebrar este momento especial! Páreo duro, pois fiquei em duvida entre os, Cave Geisse Terroir Brut Nature e o Orus Rosé Pas Dosé, os melhores espumantes nacionais em minha modesta opinião. Como as qualidades eram parelhas, valeu o preço já que o comprei na Bodega quando de minha última visita faz algumas semanas. De produção limitada, algo ao redor de 16 mil lindas (rs) garrafas, é marcante tanto no visual, levemente rosado, como no nariz e boca, complexo, notas cítricas misturadas a brioche, pão tostado, perláge intensa e “inacabável” , persistente final de boca, muito boa acidez e bem balanceado, um espumante digno de celebração que é consumido todo por lá mesmo não chegando ao Brasil. Em nossa opinião, de minha loira e eu, uma ótima escolha e na próxima viagem terei que comprar algumas garrafas mais para a deixar feliz! Caso esteja por aquelas bandas um dia desses e aprecie espumantes, ponha um desses em sua lista de compras eu garanto que não vai se arrepender.

CAM01982Ah, o jantar! Bem, apesar da foto, tirada à meia luz com meu celular mequetrefe, um delicioso prato de Camarões á Piri-piri acompanhado de risoto siciliano com um toque de brie. Modéstia á parte, ficou da hora e a companhia ressaltou mais ainda o sabor do prato! Para acompanhar esse prato um vinho alemão, esperavam um português né, da uva pouco conhecida Muller-Thurgau, o Horst Sauer Esherndorfer Furstenberg Kabinett Trocken da região de Franken e daí o formato da garrafa. Um daqueles que estava na promoção de inicio de ano e que, em não saindo (azar de quem não levou), cumpri com meu compromisso e o trouxe para casa aguardando o momento certo que foi este! Sem madeira, boa acidez, complexo e de bom volume de boca, já que em sendo de 2010 já apresentou uma certa evolução, casou muito bem com o prato e uma sábia decisão.

Pois bem, assim começou meu fim de semana de Dia das Mães, que terminou com um belo exemplar de Brunello di Montalcino 2007 e as últimas gotas de meu Secret Spot Casco VII Moscatel do Douro 40 anos com pasteis de Belém e Travesseiros de Sintra, mas esse é assunto para outro dia.

Kanimambo pela visita e uma ótima semana para todos. Cheers e vamos nos encontrando por aqui, na Vino & Sapore ou qualquer outro canto de nossa vinosfera !

Dia das Mães – Singela Homenagem a Todas as Que me Acompanham

Um dia especial, de festejos, celebrações e saudades para alguns, pois, como li há dias no face, dia dos namorados sem namorado não dói, o que dói mesmo é Dias Das Mães sem Mãe! É dia de ser piegas, de voltar a sentar no colo e agradecer sempre por tudo aquilo que elas representam em nossas vidas .

É dia de dar carinho e demonstrar todo o amor que merecem, um beijo carinhoso a todas, que seja um dia lindo de paz, amor e alegria. Costumo homenagear todas lembrando da minha que tanto amo e que já não pode compartilhar do momento faz 20 anos, porém hoje quis mudar um pouco a mensagem  e esta canção veio a calhar porque diz muito do significado das Mães na vida de cada um, um amor incondicional sempre de mão estendida ajudando a levantar, a mostrar o caminho! Mais do que parabéns pelo dia hoje, vamos agradecer por tudo e não esquecer nunca!!

Voltando à minha infância, o primeiro poema que aprendi lá pelos meus oito anos; “Com três letrinhas apenas se escreve a palavra MÃE, Que é das palavras mais pequenas a maior que o Mundo tem”, beijo no coração e maningue (muito) kanimambo (obrigado), que sejam especialmente felizes hoje mais do que nunca.