João Filipe Clemente

Três Vinhos Que Fazem a Minha Cabeça

Recentemente num gostoso, sempre, Domingo em família aqui em casa tive o privilégio de abrir estes três vinhos que fazem a minha cabeça.

Vallontano L H Zanini Extra Brut safrado, neste caso um 2015. Certamente um dos melhores espumantes nacionais que não faz feio, como a maioria por sinal, perante a concorrência estrangeira nesta faixa de preços. Limitado a pouco mais de 4 mil garrafas e só algumas poucas safras (08,10,11,12,13,15 e 16) no mercado até agora, é um corte clássico de Chardonnay (75%) com Pinot Noir elaborado pelo método tradicional/champenoise. Dois anos de autólise (contato com as leveduras) antes do degorgement (colocação da rolha). Incrível perlage e espuma abundante formam um bonito colar na taça, aromas de brioche compõem com frutos cítricos uma sedutora combinação que nos fazem querer levar a taça à boca sem muita delonga! rs Na boca uma textura deliciosa, cítrico com toque de frutas brancas, as borbulhas intensas “penicam” o céu da boca, como diriam meus colegas e amigos lusos, um verdadeiro gozo que perdura na boca e na memória! Preço na casa das 100 pratas em Sampa, vale cada centavo.

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc já é um habitué por aqui e na minha mesa, sempre que posso peço para alguém me trazer umas garrafas. Clicando aqui dá para ler alguns comentários já realizados, mas este 2017 estava diferente, mais peso e estrutura, álcool bem mais alto do que os primeiros tomados que variavam entre 9,5 a 11% e este, ao que me lembre, bateu os 12%. Continua ótimo, imagino que tenha sido algo a ver com a safra, porém prefiro os de teor alcoólico mais baixo, acho que tem mais a ver com a proposta.

Cara Sur Criolla é mais um daqueles que sempre que posso encomendo com amigos. Não provei até agora qualquer outro vinho elaborado com esta uva que me desse tanto prazer de tomar e é um porto seguro. Também já o comentei diversas vezes então clique aqui para ler mais, porém esta uva está presente toda a costa leste das américas sendo conhecida como Criolla Grande na Argentina, leva o nome de País (Criolla chica) no Chile de onde ainda não consegui gostar de nenhum vinho provado e Mission que é seu nome original trazido pelos colonizadores espanhóis e também encontrada no México e região do Texas nos Estados Unidos. Este Cara Sur é um fetiche vínico para mim, rs, gosto demais. Não é um grande vinho, mas me dá prazer como poucos.

É isso por hoje, achou compra, qualquer um dos três, valem muito a pena e quando lembro deles é que me dou conta do porquê ando por esta vinosfera. Saúde e kanimambo pela visita.

Um Francês no Altiplano Catarinense!

Mais um vinho brasileiro que me impressiona e mais uma grata surpresa na taça, o Elephant Rouge.

Ah, mas esse vinho existe faz tempo podem dizer alguns e sim, existe o nome e o projeto que é do amigo Jean Claude Cara, porém mudou tudo, menos o nome. Há tempos o Jean Claude se aproximou da Larentis em Bento Gonçalves e em parceria produziu um vinho em 2008 e outro em 2011 que levavam esse nome em função de seu restaurante, destino principal do vinho. O primeiro foi elaborado tendo como protagonista a Cabernet Sauvignon associa à merlot e um tico de Pinotage e o segundo seguiu tendo como base a Cabernet Sauvignon porém a Alicante Bouschet  tomou o lugar da Pinotage. Conheci o 2011 e tenho que ser sincero, não fez minha cabeça mesmo sendo um vinho que se deu bem no mercado. Bom, mas a meu ver a fruta muito madura, confitada com taninos algo doces não me entusiasmou, achei um vinho muito tradicional brasileiro, mas que tem seus seguidores. O restaurante foi-se, o Jean Claude foi para Beaune/Borgonha (com períodos por aqui), mas o nome do vinho ficou.

Ao longo do tempo conheci melhor o perfil vínico do Jean Claude, de seu trabalho na Borgonha e achei que este Elephant Rouge 2014 sim, é a cara dele e o novo terroir ajudou muito. Desta feita o parceiro escolhido foi a Villaggio Grando com vinhedos a 1300 metros de altitude no altiplano catarinense em Água Doce, poucos quilômetros de Caçador. Desta feita a coluna dorsal do vinho é a Merlot (70%) associada à Cabernet Sauvignon e 20% de uvas que são o segredo dele e que aguçaram minha curiosidade. Cabernet Franc, Pinot e Marselan me veem à mente como possíveis coadjuvantes nesse blend, será?? Se o Jean fosse João, eu acreditaria em todas essas e mais ainda ou Petit Verdot ou Alicante Bouschet, mas como é Jean … sei lá! rs

Aquela elegância, finesse, equilíbrio e sofisticação que tanto marcam os bons vinhos da Borgonha estão claramente presentes neste vinho, é a marca que Jean Claude quis trazer a este vinho e o terroir da Villaggio Grando ajudou. A fruta presente é fresca, teor alcoólico com  educados 12,5%, a acidez pede a segunda taça e comida, um vinho que foi se abrindo na taça com o tempo e com isso novas sensações, meia hora de aeração é certamente algo que eu recomendaria neste momento de sua vida ou, se não tiver pressa, deixa ir abrindo com calma na segunda e terceira taça. Frutos silvestres frescos, corpo médio, paleta olfativa bem frutada e viva com sutis notas terrosas e algo tostadas, taninos finos e aveludados, final de boca algo apimentado de média persistência, rico, um vinho que me deu enorme prazer tomar e certamente abrirei outras pois mostrou estrutura com potencial de evolução.

De acordo com o Jean é vinho para dez  a quinze anos de guarda e guardarei algumas para checar isso. Não mais dez anos, mas uma a cada 2 por mais seis acho que rola porque depois dos 70 não vou é guardar mais nada! rs O vinho passou por 24 meses de barrica, mas pela sutileza acredito que devam ter sido de segundo ou terceiro uso, com eventual pequeno porcentual de novas, madeira bem trabalhada esta.

Tomado com amigos com quem gosto de fazer o teste de percepção de valor, pessoal chutou entre 90 a 110 pratas. Bem perto da realidade que é entre 100 a 110 Reais em São Paulo e acho que vale.

Bem, por hoje é só, boa semana e bons vinhos. Se não tiver na adega passa pela Vino & Sapore que sempre tenho boas garrafas por onde escolher e com preços camaradas. Saúde

Interessante Painel de Vinhos Brasileiros.

Recentemente na confraria Saca Rolha optamos pelo tema Brasil e sua diversidade. Como sempre, a surpresa com o nível dos vinhos foi grandes, tanto que ao final decidimos repetir o tema com novos rótulos no próximo mês.

Como alguns amigos do Face e Instagram que viram a foto dos vinhos me pediram opinião sobre o que foi provado, optei por compartilhar com vocês aqui também já que muitos não frequentam essas mídias. Como estava servindo e participando, notas não foram tomadas então meus comentários abaixo veem de memória e de forma resumida.

Conti Grechetto 2017 (São Joaquim/SC), um branco para abrir os trabalhos. Uma uva que já não é assim tão conhecida e, acho, a Villaggio Conti é pioneira no Brasil com este varietal. A Conti é uma vínicola que só planta e elabora vinhos com castas italianas elaborando uma série de vinhos muito interessantes para quem curte diversidade. O vinho é fresco, mas vai bem além! rs Boa estrutura, notas amendoadas com final meio limonado, vinho sedutor com notas aromáticas de intensidade média, frutos tropicais e leve floral, acidez balanceada e final seco.

Bassetti Roberto 2015 (São Joaquim/SC), delicioso Sangiovese que já vai na terceira safra (2013/14 e 15). Descobri há 2 anos numa visita e venho acompanhando a produção que se iniciou com pouco mais de 300 garrafas, foi para 600 e agora com a safra de 2015 creio que bateu 1300. São 22 meses de barrica, um vinho de cor clara, corpo médio, muito rico meio de boca, taninos finos que encanta quem o conhece, perfeito exemplar de Sangiovese com ótima textura e frutos silvestres que pedem a segunda e terceiras taças. Boa acidez, tipico dos vinhos de altitude, e persistência.

Cave Antiga Marselan 2007 (Farroupilha/RS), um mostra de que esta uva hibrida do sul da França pode produzir vinhos longevos e de muita qualidade. O ano de 2018 foi pródigo em algumas surpresas com vinhos brasileiros longevos, este foi uma dessas Achou, compre!! Um vinho que está soberbo, rico, equilibrado, fruta madura ainda bem presente, mas algumas notas terciárias já presente lhe aportam bastante complexidade, ótimo volume de boca, um vinho a curtir, eu o faço!

Zanella Porcentual 2014 (Antonio Prado/RS), um blend criativo que foi mais uma das gratas surpresas que tive no ano passado. Corte de majoritariamente Merlot com Cabernet Sauvignon e agora as duas surpresas, Tannat e Alicante Bouschet com passagem de 12 meses por barrica francesa e americana com uma produção limitada a 3000 garrafas. Nariz de boa intensidade com frutos secos, notas terrosas e especiarias, na boca fruto maduro, bom volume, corpo médio mostrando boa estrutura tânica e aveludado, final de boa persistência e acidez equilibrada. Boa companhia para carnes e me deu muito prazer tomar, virei fã.

Para terminar, dois vinhos de maior conceito na mídia:

Miolo Lote 43 2011 (Bento Gonçalves/RS), já virou um clássico, tradicional corte de Cabernet Sauvignon com Merlot elaborado em anos especiais (só 7 em 17 anos) em Bento Gonçalves pela Miolo. Ainda muito vivo, quase jovem, com um montão de anos pela frente. Doze meses de barricas francesas e americanas, paleta aromática complexa de notas achocolatadas misturadas a frutos negros e especiarias cresceu conforme o vinho foi esquentando. Na boca mostra-se muito rico, equilibrado, encorpado, vinho para voltar a provar daqui a mais 6 anos! Sua reputação tem razão de ser.

Guaspari Vista da Serra 2015(Espirito Santo do Pinhal/SP) de terras paulistas, um produtor que já virou referência e mais uma vez fez bonito, Ainda prefiro o Vista do Chá que acho possuir uma acidez mais acentuada que faz feliz! Clássico paulista, virou famoso rapidamente e seu preço acompanha a fama. Syrah clássico com 17 meses de barrica francesa, frutado, especiado, toque tostado, encorpado com notas apimentadas e boas persistência.

Se eu tivesse que dar uma nota média para esta degustação, sobre 10 eu ficaria com algo ao redor de 7,5 a 8 o que demonstra claramente que nossa produção tupiniquim está muito bem obrigado, bastante qualidade mesmo que ás vezes pecando pelos preços exageradamente altos. Gostamos tanto que no próximo mês degustaremos mais uma seleção de vinhos brasileiros explorando regiões e castas diferentes porque há bem mais a ser explorado que Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay mesmo sabendo que temos muito bons exemplares destes e, porquê não, alguns rótulos podem até ser com essas uvas, ou não! rs

Saúde, grato pela visita e nos encontramos novamente por aqui semana que vem. Um ótimo fim de semana e passa neste Sábado na Vino & Sapore porque aí o fim de semana ficará ainda melhor!

A Soberba é uma …

Sintam-se à vontade para completar a frase com o que vos vier à cabeça! rs Há dias, lendo uma matéria no blog do sempre pé no chão Adolfo Lona, enólogo e produtor que dispensa apresentações para a grande a maioria dos leitores, me dei conta de como tem gente que poderia ser pedante e não o é e outros que por outro lado …

Isso vale para todos os segmentos e ambientes tanto profissionais como pessoais, faz lamentavelmente parte da vida e certamente cada um de nós terá sua experiência. Nossa vinosfera não é diferente e tem um bom número de personagens desse calibre. Conhece aquele cara que há dez anos te vê nos eventos, você tenta falar boa tarde e quando você se toca o cara olhou para outro lado ou passou reto e nos deixa falando com as paredes? Não, não quero papo não, só o educado bom dia, boa tarde, boa noite já estava de bom tamanho, sacou? O interessante é o séquito de aduladores que os seguem para cá e para lá e que, por se acharem iluminados pelo profeta, agem igual! Uma pândega como dizem lá por terras lusas, mas o bom é que tem bastante gente por aí que compensa esse grupinho de “iluminados” azedos, peguei bode dessa gente! rs

Alguns até lhes dou o respeito profissional visto sua vasta bagagem, outros nem tanto, mas a todos peço que ao menos sejam educados, cumprimentem quem os cumprimenta, só isso e não aceito timidez como desculpa! Seja a pessoa o Zé Mané da esquina ou o grande produtor que você queira impressionar, educação é essencial. Ressentido, você pode perguntar, não!! Não mesmo, mas indignado e chateado com essa falta de respeito sim, coisas de minha formação, mas essa atitude vai mais além porque essa soberba no relacionamento com as pessoas se reflete no que escrevem, na forma como opinam o que me faz sentir uma saudade danada de meu mentor, o saudoso Saul Galvão que um dia disse; “Nada mais chato que um esnobe do vinho, que fala pomposamente, como se ele fosse o único ungido a entender termos herméticos.”.

Há pouco mais de dois anos escrevi um texto aqui sobre a Soberba, ao qual adicionei um vídeo muito interessante que sugiro aos profissionais do vinho verem, atitude que acho um desserviço ao mundo do vinho pois dessa forma se mantém o vinho como um produto elitizado e assim contribuindo (não é a única razão) para que o consumo siga extremamente baixo. Muito papo sobre desmistificar e descomplicar o mundo do vinho, porém muito pouca ação nesse sentido, uma pena! Desculpem o desabafo, mas precisava botar para fora.  Uma boa semana para todos e kanimambo pela visita e ainda esta semana volto a falar de vinhos, saúde!

Que Belo Viognier!

Há tempos não tomava um Viognier e este me surpreendeu muito positivamente ou melhor, confirmou o que já sabia dele. O conheço de velhos carnavais, mas é safra 2014 quis ver como estava e uau, estava bom demais mostrando que o vinho evolui muito bem em garrafa. Quem estava por perto acabou levando o estoque, abri na Vino & Sapore, e agora chega nova safra, acho que 2016.

Tinha-me esquecido como esta cepa é agradável e como este vinho é bom de boca! A Viognier é originária do norte do Rhône, Condrieu e Cote-Rotie, mas se espalhou pelo Languedoc de onde vem este vinho. Por característica da uva os vinhos costumam ser muito aromáticos, possuir teor alcoólico mais alto, acidez menos acentuada e normalmente apresentam uma certa untuosidade.

Tudo isso está presente neste Paul Mas Viognier 2014 de produção orgânica que encanta nos aromas com um certo floral e fruta amarela, pêssego e damasco. A cor, costumeiramente mais clara, se apresentava de amarelo brilhante mostrando sua maturidade, no palato estava muito balanceado, ótima textura de meio de boca, bom volume, os frutos amarelos se repetem aqui mas ao final aparece um toque cítrico com muito boa persistência mostrando-se muito mais jovem do que a cor indicava. A passagem de 15% do vinho por barrica francesa de primeiro uso por três meses, ajuda a dar-lhe algo mais de corpo e complexidade sem lhe tirar o frescor. Um vinho para encarar queijos, pratos do mar, mas em função da idade achei que encararia bem carnes brancas e comida thai/indiana. Se você não conhece a Viognier e aprecia vinhos brancos, eis aqui uma ótima opção na casa das 120/130 pratas, eu gostei muito e acho que o vou tornar mais assíduo na minha taça.

Andei provando Pinot Grigio e Arneis, mas depois falo desses vinhos, os brancos andam tomando conta de minha taça! rs Kanimambo pela visita, saúde

 

E a Dalva Chega a São Paulo!

Demorou, mas chegou! rs Meu primeiro contato com os vinhos da Dalva foi em 2011 na Expovinis quando declarei, metido eu (rs), o Golden White 63 como o melhor vinho do evento. Me apaixonei e mesmo custando entre 100 a 120 Euros por lá, sempre que consigo juntar uns trocados e tenho portador, faço questão de trazer uma garrafa. Tremendo Porto Branco envelhecido, quem tiver a oportunidade não perca!

Depois, numa outra Expovinis em 2014, me esbaldei com uma seleção de Tawnies Colheita antigos (1967 e 75) e um branco com 40 anos inesquecível!

Agora, pelas mãos da Lusitano Import, ela finalmente chega a São Paulo e eu andei provando algumas coisas, inclusive seus vinhos tintos de mesa DOC Douro que aqui compartilho com os amigos. C. Da Silva (Vinhos) SA é uma Casa de forte tradição no vinho do Porto. Fundada em 1862, o seu nome atual foi definido nas primeiras décadas do século XX, quando o Sr. Clemente (não sei porquê esconde nome tão nobre! rs) da Silva recebeu a empresa através de casamento. Não conhecia seus vinhos de mesa e tão pouco o LBV, me surpreendi!

Dalva Colheita tinto, de vinhas velhas com predominância de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca tem passagem por madeira em barricas de 600 litros de carvalho francês, aparentemente de segundo uso, por apenas seis meses. A madeira no vinho é sutil para não dizer imperceptível, médio corpo, o vinho prima pela fruta intensa e uma acidez que nos faz pedir bis, um vinho vibrante em boca com final levemente especiado. No mercado entre 80 a 85 reais

Dalva Reserva Tinto 2015, com as mesmas uvas de seu irmão mais novo com a adição de Tinta Barroca, porém com mais tempo de barricas de 600 litros, oito a doze meses, o que faz com que ganhe robustez e complexidade. Os taninos estão mais presentes mas aveludados e finos, bom volume e textura, rico meio de boca, notas tostadas, frutos negros (cereja madura, cassis), especiarias, médio corpo para encorpado, elegante, um vinho para beber ou guardar ainda por mais um par de anos. No mercado ao redor de 145,00 Reais acompanhou muito bem o delicioso Filé a Poivre Vert do Cascais, onde o Caio anda mandando bem no fogão!

Dalva Porto LBV 2012 – Equilíbrio é o nome deste belo exemplar de Late Bottled Vintage, um Porto Ruby para ser desfrutado sem parcimônia, podendo ser aberto já ou para guarda por mais uma meia dúzia de anos. Com 92 pontos no Decanter Wine Awards de 2017, este é certamente a estrela desta seleção, até porque não provei o Colheita 2007. Fruto intenso, notas vegetais e um toque de especiarias, prima pelo equilíbrio entre a doçura e a acidez, um belo exemplar que, dizem, era para ser declarado Vintage mas por falta de pedidos acabou ficando e engarrafaram como LBV, realmente muito bom. Bom queijos fortes, torta de chocolate, figos e nozes, chocolate amargo com laranja ou cramberry, bom demais. Preço médio de 185 Reais, excelente relação PQP (Preço x Qualidade x Prazer).

Também me chamou a atenção o Colheita Tawny 2007, na faixa dos 280 a 290 Reais, mas esse não tive oportunidade de provar. Todavia, me baseando no 75 e 67 que tomei na Expovinis de 2014 mais o fato de que a safra de 2007 no Douro foi excepcional, creio que deve estar muito bom e me deixou ansioso por prová-lo. Engarrafado em 2018, arriscaria dizer que para quem gosta de vinhos de guarda 2025 está logo aí, para celebrar meus 70 anos! rs Grande parceiro para sobremesas com frutos secos, torta de amêndoas ou pekan, doces conventuais portugueses, panetone ou colomba. Quem sabe na Páscoa abro uma, acompanhamento não faltará! rs

Tem duvidas sobre o que seja um LBV e um Tawnie safrado, então clica aqui e conheça mais sobre esse incrível mundo dos Vinhos do Porto que não, não são todos iguais. Na lista tem ainda os Ruby e Tawny “básicos”, Branco e Rosé estes último mais próprios para drinks. Kanimambo pela visita e espero que goste da dica, eu gostei e acabei colocando  na confraria Frutos do Garimpo deste mês.

Saúde!

Pinot Bom de Preço e Bom de Taça!

Pinot Noir bom abaixo das 60 pratas não é fácil de encontrar em terras brasilis seja lá de que origem for. Ou é ralo demais ou extraído demais difícil encontrar vinhos equilibrados. Normalmente quando é barato não possui qualquer característica da casta e já me perguntei algumas vezes o que diabo colocam na garrafa, porque Pinot tinha a certeza que não era. Gostava bastante do Maycas Sumaq que era fora da curva, mas não está vindo mais para o Brasil ou mudou de importador não sei ao certo, só sei que fiquei sem! rs Bom e abaixo das 60 pratas, valia muito a pena e tinha que encontrar um substituto à altura, porque barato e ruim tem de montão.

Depois de um bom período sem garimpar nada que valesse a pena, eis que me chega o Nancul Elegant Reserva Pinot Noir que veio atender a meus anseios. Os vinhos da Nancul têm como seu ponto forte uma boa relação Qualidade x Preço e não tem nenhum que eu tenha provado que negasse fogo dentro de sua faixa de preço, este não nega a marca que carrega.

O produtor é Hugo Casanova, uma vinícola do Maule que produz diversas marcas e está presente em todas as faixas de preço com vinhos sempre sempre bem feitos e agradáveis, especialmente nas gamas de entrada. Este Pinot segue essa receita, sendo muito balanceado sem extrações excessivas para que as características de cor e taninos fossem mantidos. Apenas 60% do vinho passa por barricas francesas, que imagino sejam de segundo ou terceiro uso, por cerca de 4 meses o resto em tanques de cimento para preservar a fruta. Não pretende ser um grande vinho, mas é “cumplidor” nesta faixa de preços, fruta abundante, paleta aromática viva, algum floral, mas é na boca que ele mostra ao que veio. Muito agradável de tomar, com taninos sedosos bem típicos da casta, algo de framboesa/cereja madura, boa textura com rico meio de boca, leve sem ser ralo, finalizando com um certo frescor e alguma especiaria.

Gostei, acompanhou muito bem o risoto de calabresa e chouriço português com um toque de pimenta biquinho e finalizado com parmesão ralado que improvisei neste último Domingo. Era para ser de funghi, mas as formigas chegaram antes de mim! rs Enfim, deu certo e certamente será um vinho que frequentará mais minha taça e minha mesa. Preço na casa dos 55 a 60 Reais, aqui em São Paulo, nas boas casas do ramo e restaurantes, recomendo.

 

 

Pinot Grigio, Uma Grata Surpresa na Taça

Também conhecida como Pinot Gris na França, é uma uva acinzentada mutação da uva Pinot Noir de cor mais clara, porém da qual se fazem somente vinhos brancos. Gosta de regiões mais frias e de maior altitude terroirs onde consegue mostrar-se melhor. Entre nós, vinhos de batalha, baratos e aguados têm feito um mal danado a sua reputação, porém garimpando sempre achamos alguns rótulos bastante interessantes. Sempre gostei muito do Mandorla (hoje na casa dos 70 a 75 reais), mas vinha buscando outras opções no mercado e achei.

Na França (Alsácia) as uvas são colhidas normalmente mais tarde resultando em vinhos mais intensos, untuosos e complexos enquanto na Itália (Alto Ádige e Friulli) os vinhos tendem a apresentar maior mineralidade, acidez mais presente resultando em vinhos mais frescos com notas vegetais. Interessante numa degustação colocar um frente ao outro, algo que penso em fazer num dia desses, deve ser interessante. Quem gosta de Sauvignon Blanc certamente deverá apreciar a Pinot Grigio.

Na semana passada provei um Pinot Grigio que me agradou bastante, foi o Foffani Pinot Grigio Superiore 2015. De vinhedos orgânicos situados na região oriental do Friuli o vinho se encontra um degrau acima dos demais que costumeiramente encontramos por aqui no mercado. Está em seu auge e deve ser tomado durante este ano, acredito que passado este ano ele deve entrar num estágio de decadência perdendo o frescor que é peculiar à cepa. Passagem só em tanques de inox, mas passa uns 3 meses sur lie o que lhe aporta mais corpo e complexidade. Grama molhada com nuances cítricas compõem uma paleta de aromas de intensidade média que convida a levar a taça à boca. Na boca um frescor bem presente, notas de limão, maçã verde, corpo médio, meio de boca cativante e um final mineral de média intensidade. Um vinho muito agradável que deve se dar muito bem com os mais diversos pratos de frutos do mar grelhados e fritos num final de tarde na praia em boa companhia! rs Ceviche, sushi, salmão, as opções são muitas, vale experimentar todas!!

Um vinho que fez feliz e me deixou sorrindo o que nem sempre acontece. rs O preço em São Paulo fica aí entre R$90 a 95 pelo que pude pesquisar na net. Fim de semana chegando, boa dica para quem for para a praia. Kanimambo pela visita, saúde e tenham um ótimo fim de semana.

 

 

Vinhos TOP do Ano.

Tema eventualmente polêmico este e sei que certamente vou cutucar alguns, mas a ideia principal aqui é de colocar um desafio especialmente às mídias impressas de nossa vinosfera tupiniquim e, concomitantemente, provocar um momento de reflexão. Não pretendo que seja, e não é, uma crítica a qualquer um porque cada um sabe de si e de seu negócio.

Todos os anos a grande maioria das mídias mundiais que trabalham o vinho publicam seus vinhos TOP do ano. Vale para a Wine Spectator, James Suckling, Wine Enthusiast, Gambero Rosso, Revista de Vinhos (Portugal) e outros tantos espalhado pelo mundo afora. Aqui no Brasil temos os TOP da Revista Adega e da Revista Prazeres da Mesa, comprei as duas este ano, porém não sei se existem outras que ainda publiquem essas listas anuais.

O que sinto falta é de algo que eu fazia até 2014 e a Revista Gula fez pela última vez creio eu em Janeiro de 2010 (ano em que contribui com a lista) com os TOP de 2009, dividir e garimpar preciosidades ao longo do ano por faixa de preço. Acho que a última, pelo menos que eu vi, foi da Gosto em 2015. Hoje ao se ter acesso a essas listas só se vê, salvo pouquíssimas exceções, vinhos de 600, 1.500, 3.000 a 8.000 Reais a garrafa! Para alguns membros da elite econômica do país quem sabe seja útil, porém para a grande maioria isso não diz absolutamente nada e, aqui, expresso apenas minha opinião pessoal compartilhada junto a diversos enófilos de plantão e consumidores em geral com que me relaciono. Algo a se pensar ou não, sei lá, pode ser só rabugice aqui do velho tuga! rs

Falamos muito de descomplicar o vinho, de desconstruir o pedestal em que foi colocado para torná-lo mais acessível, aumentar o consumo per capita, etc.. é tema corrente, mas o que realmente é feito pela mídia e diversos formadores de opinião acerca do assunto? Num mercado de consumo per capita de vinhos finos estagnado há anos em função, essencialmente, de preços altos, ficar aqui falando maravilhas sobre um Mouton 1980 e dando-lhe o status de melhor vinho do ano, por mero exemplo, não agrega absolutamente nada a meu ver. Falamos muito da falta de marketing dos produtores, dos orgãos representativos, dos importadores, mas o que é que quem escreve sobre vinhos está fazendo para trazer o vinho de volta à terra? Lógico que há exceções, porém vejo muito blá, blá, blá e pouca ação efetiva nesse sentido.

Elitizar o vinho como algumas mídias insistem em fazê-lo, respeito porque cada um publica e compra o que quer e aparentemente vão muito bem obrigado, não me traz nada de novo e creio que publicar essas listas dentro de faixas de preço mais acessíveis ao consumidor seria muito mais construtivo. Exemplos: vinhos até 60 Reais, de 60 a 120, de 120 a 180, de 180 a 300, de 300 a 600 e acima disso.

Eu não consigo mais fazer isso porque desde 2015 estou amarrado na loja e pouco saio para degustações que é quando a gente faz a maioria dessas descobertas e também pouca ou nenhuma influência tenho no setor, porém sinto falta de algo mais pé no chão, menos elitizado, algo mais próximo da realidade consumo geral, algo baixo clero! rs

Fica aqui um desafio às revistas especializadas que trabalhem e divulguem mais este segmento pouco ou nada exploradas por elas. Que tal adicionar listas com esta “pegada” ao final deste ano? Uma coluna mensal com achados PQP (Preço x Qualidade x Prazer) e preço mais acessível? Vinhos que a gente, trabalhadores sem cartão corporativo ilimitado, possa bancar mesmo que só algumas poucas vezes, porque cá entre nós um vinho de 6 mil nem rolha né??

Eu chutaria, não tenho dados concretos, que 85% por cento do consumo de vinhos finos no Brasil, provavelmente mais, deve estar numa faixa de preço entre 35 a 150 Reais e o preço médio está na casa dos 45 Reais, então fica aí o recado, algo para refletir e, quem sabe, mudar para este ano? Eu acho que o grande público consumidor e de menor litragem está orfão buscando quem o adote! Pode ser que eu esteja errado e se tiver por favor me indiquem onde encontrar, gostaria de ter acesso.

É isso, fica a sugestão que, se fosse boa, se vendia né?? rs Kanimambo pela visita, saúde

 

Trebbiano & Bacalhau?

Olha, apesar de ter ficado só nos bolinhos de bacalhau, a prova me faz concluir que, definitivamente SIM! rs Para tudo o que é fritura creio que um vinho branco de acidez impactante vai sempre muito bem e tradicionalmente minha escolha recai sobre um vinho verde.

Neste caso os bolinhos foram assados no forno, não fica tão bom nem tão “bronzeado” mas…, porém o resultado teria sido o mesmo, quiçá melhor. Quis enovar,  afinal “navegar é preciso” e eu gosto (rs), tendo gostado do resultado porque este Arenile Trebianno d’Abruzzo produzido pela Cantina Ripa Teatina, uma cooperativa de cerca de 400 viticultores, nos entrega essa acidez bem característica da casta e casou muito bem com os bolinhos.

Esta garrafa é de 2016, tendo se mostrado com uma cor algo mais dourada, nariz cítrico mas tímido, na boca médio corpo, seco, notas amendoadas, maçã verde, porém no final de boca uma “limonada” bem fresca se faz presente dando um up no conjunto, um vinho muito agradável e bem balanceado que se deu bem com os bolinhos e certamente irá bem com outras versões de pratos com bacalhau como pataniscas, Bacalhau na brasa, à Brás, à Gomes de Sá, pil-pil, ouse!

A Trebbiano disputa com a Pinot Grigio a coroa de uva branca mais plantada na Itália e está presente em mais de 80 docs. Na França é conhecida como Ugni Blanc sendo muito usada na produção de Cognac e Armagnac. Na Emilia Romagna é base do azeite balsâmico, ou seja, uma uva bastante versátil que se dá bem numa variedade de terroirs. Eu gosto dos vinhos que trazem a influência do mar Adriático e minha sugestão é buscar exemplares dessas regiões. Este está na casa dos 78 a 84 Reais no mercado de São Paulo e é um bom exemplar da casta. O mesmo produtor elabora um delicioso Pecorino sobre o qual falei aqui, prove ele também, uma dupla que vale muito a pena.