Confraria Saca Rolha

Um Banho de Sauvignon Blanc no Saca Rolhas

 Sauvignon-blanc-wine-and-grapes-770x537 - wine folly A Confraria Saca Rolhas aproveitou o verão quente para se refrescar numa viagem pelas diversas faces desta saborosa e fresca casta de uvas brancas. A meu ver, a Sauvignon Blanc é, entre as uvas brancas mais conhecidas, a que melhor absorve as características de cada terroir em que é plantada, especialmente quando vinificada sem madeira como é a maioria. Nesta saborosa viagem guiada por Baco, pudemos ter um pouco dessa experiência inclusive com a presença de dois vinhos que fiz questão que estivessem presentes pelo fato de me terem impressionado muito bem em recentes degustações, o chileno Terrunyo e o surpreendente Bellavista Estate Bueno.  A uva proporciona vinhos bastante agradáveis em todas as faixas de preços então neste verão há muito o que explorar e nós fizemos isso! Tendo feito este comentário, transfiro a palavra para a porta voz da confraria, a amiga e confreira Raquel Santos que compartilha conosco suas impressões de mais uma agradável noite de alegria e confraternização. Clique na imagem para maiores informações sobre a uva e suas características de acordo com o site Wine Folly.

Com esse calor estonteante que vem fazendo em São Paulo, quando se pensa em vinhos, a primeira ideia que vem à cabeça são os brancos geladinhos, frescos e leves.

         Optamos por conhecer melhor a uva Sauvignon Blanc, que tem como característica principal, a sua refrescância e jovialidade. Os vinhos provenientes desta casta, raramente passam por madeira e salvo algumas exceções, devem ser consumidos jovens. A peculiaridade da Sauvignon Blanc começa no seu amadurecimento, no vinhedo, que é mais rápido que as outras uvas brancas. Desenvolve-se melhor em regiões frias, onde demora mais para amadurecer, ganhando assim mais tempo para adquirir estrutura e complexidade.

         Sua origem se divide entre Bordeaux e o Vale do Loire, na França. Em Bordeaux, tornou-se importante, quase sempre associada a Sémillon na produção de vinhos brancos secos, mais austeros e densos, bem ao estilo dos bordaleses, e doces, como os famosos Sauternes. No Vale do Loire, seus vinhos feitos somente com a SB, são os Sancerre e Pouilly-Fumé. Em duas colinas de calcário e argila, cortadas pelo rio Loire e entremeadas por florestas, que num clima continental, frio, com muita névoa, a Sauvignon Blanc encontrou seu lar perfeito. Seus vinhos expressam esse terroir com tanta naturalidade que quando os provamos, eles nos transportam para aquela paisagem verdejante, como nos contos de fadas, com direito a castelos e lufadas de vento no rosto.

          Fora da França, a Sauvignon Blanc encontrou na Nova Zelândia o clima favorável onde conseguiu mostrar todo seu esplendor. Na ilha do sul, em Marlborough, região setentrional, com muitos ventos vindos do Oceano Pacífico, os dias longos com noites frias, outonos secos, foram propícios para que as uvas amadurecessem lentamente. Nesse clima a Sauvignon Blanc atingiu seu apogeu, resultando em vinhos extremamente vivazes, de grande qualidade que destacaram a Nova Zelândia no mundo. Existem, no entanto, outros lugares onde são produzidos vinhos com a Sauvignon Blanc com qualidade. Nas regiões frias do Chile, África do Sul, e com controle de técnicas de cultivo na Austrália, Califórnia e até no Brasil.

 DOMAINE COLLIN CRÉMANT DE LIMOUX BRUT CUVÉE TRADITION

                 Antes de começarmos a degustação propriamente dita, preparamos nossas papilas com esse ótimo Crémant de Limoux, da região do Languedoc. Trata-se de um espumante elaborado pelo método tradicional, com as uvas Chardonnay, Chenin Blanc, Pinot Noir e Mauzac. Muito fresco, aromático e leve. Além da boa acidez, bom corpo e sabores cítricos, pêra e maçã. Foi uma bela introdução para vinhos de verão.

Saca rolha - Sauvignon Blanc

MAISON SCHRÖDER&SCHŸLER CHARTRON LA FLEUR BORDEAUX SAUVIGNON BLANC 2011

                O 1º vinho da noite veio de Bordeaux, da região chamada Entre-deux-mers, que é o triangulo entre os rios Dordogne  e Garonne, e onde se produz a maioria dos vinhos brancos secos de lá. Esse vinho já havíamos provado no desafio de Bordeaux-margem esquerda x margem direita. Mas sempre é bom repetir o mesmo vinho, porém em um contexto diferente. Nesse caso, ele mostrou toda a personalidade que está impressa no estilo de Bordeaux, com as características da Sauvignon Blanc. Ou seja, muito aromático e fresco, apesar da estrutura densa, encorpada e boa persistência. Um vinho bem complexo, que vai evoluindo sempre. Ótima acidez, que o faz um bom acompanhante de comida e no final, sem perder o frescor, mostrou seu lado mineral, com um sabor de cinza ou fumaça. Muita elegância!

 WILD ROCK INFAMOUS GOOSE SAUVIGNON BLANC 2012

         O 2º vinho, veio justamente fazer um contraste, em relação ao anterior, mostrando a versatilidade que uma única casta, com tratamento diferente (clima, solo, cultura, etc ) proporciona vinhos com a mesma característica, porém com personalidade diferente. Da Nova Zelândia, região de Marlborough, esse chegou marcando  presença! Com uma vivacidade incrível, aromas típicos herbáceos da SB de grama cortada, mineralidade de maresia, cítricos e acidez que fazia salivar. Com o tempo apareceu algo defumado que foi evidenciado pela mousse de haddock e salmão defumado que tínhamos para acompanhar os vinhos. Grande persistência!

 BELLAVISTA ESTATE BUENO SAUVIGNON BLANC 2012

          O 3º vinho, veio da região da Campanha Gaúcha no Rio Grande do Sul. Fruto da fusão entre a Miolo e a Bellavista Estate, de propriedade do Galvão Bueno (o jornalista esportivo ) que se aventurou no mundo dos vinhos e criou a linha Bueno. Contou com a assessoria do enólogo Michel Rolland, e investiu na produção de vinhos de qualidade Premium. Esse, 100% SB, no início causou uma certa estranheza no nariz, algo químico, canforado. Talvez uma mineralidade, que logo foi se transformando. Apareceram ervas aromáticas ( funcho, manjericão ) e um leve frutado ( marmelada ). Boa acidez, bom extrato com frescor. Um vinho muito agradável!

 CASA SILVA COOL COAST SAUVIGNON BLANC 2012

         O 4º vinho, do Vale do Colchágua, no Chile, que é sub dividido em três regiões: Costa ou Paredones, nas escarpas da cordilheira dos Andes. Entre Cordilheiras, zona plana e central e Andes, região de altitude onde está a sub região de Apalta. E foi na região da Costa ou Paredones, de frente para o Oceano Pacífico, que a SB de adaptou melhor por ser uma região mais fria, menos ensolarada, que recebe os ventos oceânicos, além do solo pedregoso. De lá pudemos provar um vinho quase transparente, muito fresco, cítrico, mineral e com ótima acidez. Apesar de sua leveza, tinha uma forte presença aromática e estrutura na boca com certa cremosidade e longa persistência. Acompanhou bem o queijo de cabra, mas acho que escoltaria bem desde  pescados simples, até pratos mais cremosos. Muito versátil!

 JOSE PARIENTE SAUVIGNON BLANC 2009

         O 5º vinho veio de uma região que não tem a tradição da Sauvignon Blanc. Na Espanha, em Castilla y Leon, uma grande planície ao longo do rio Duero, encontra-se uma D.O. (denominação de origem) chamada Rueda. Nesse local a uva principal é a Verdejo, mas a SB também é autorizada. Aqui mais uma vez, o clima é o grande determinante na produção de uvas com qualidade para criação de vinhos frescos e bem estruturados. Com dias de grande amplitude térmica, verões quentes e longos, e invernos muito frios, influência marítima do oceano Atlântico pelos ventos que se guiam através vale do rio Duero (o mesmo que atravessa Portugal, como Douro ).

         Esse vinho começou timidamente mostrando alguns aromas vegetais, herbáceos e com algum tempo, toda a tipicidade do SB apareceu com força. Muito bem equilibrado na acidez, corpo, e sensação alcoólica na boca de calor. No final, me pareceu um pouco pesado (acho que o fator idade influenciou), deixando de lado aquele frescor que sempre se espera desse tipo de vinho.

 CONCHA Y TORO TERRUNYO SAUVIGNON BLANC 2011

          Nosso 6º vinho veio do Chile, mais precisamente do Vale de Casablanca. Trata-se da linha Premium da gigante Concha y Toro, que possui vinhedos nessa região, com vocação para o cultivo das castas Chardonnay e Sauvignon Blanc. Suave no nariz, mostrando muita elegância e sutileza. Sem arestas que chamem a nossa atenção para algo, a despeito de qualquer outra. É o que se pode dizer de um vinho com equilíbrio. Acidez e frescor que cumprem a expectativa que se espera de um Sauvignon Blanc.

CHATEAU DE TRACY MADEMOISELLE “T” POUILLY FUMÉ 2011

               O 7º, e último vinho da noite! Voltamos  à região onde tudo se originou. Pouilly-Fumé, no Vale do Loire na França. São vinhos excepcionais e profundos, principalmente como de uma maneira natural, simples e direta, conseguem descrever, todo aquele “terroir” presente ali há tantos anos. Seus SB são secos, minerais e refrescantes com um leve toque defumado e esse não fugiu à regra. Um vinho para viajar! 

          A Sauvignon Blanc, depois da Chardonnay, é a casta branca mais conhecida e plantada no mundo. Os vinhos elaborados com ela, apresentam grandes variações, expressando as características dos diferentes terroir aos quais ela encontra facilidade em se adaptar. Gosta de climas marítimos, frios, nebulosos, solos calcários e arenosos. Os vinhos geralmente são frescos, sem amadurecimento em madeira, para serem consumidos jovens, com comidas leves. Por isso são ótimos no verão e combinam muito com o nosso clima e a nossa culinária costeira de peixes e frutos do mar.

         Aproveite esse verão, que pelo jeito será longo, e ponha sua garrafa de SB no gelo e refresque-se! ”   Bem meus amigos, por hoje é só e semana que vem tem mais. Falando de vinhos, Garimpando Gostosuras com a amiga Rejane, dicas e curiosidades de nossa vinosfera e “otras cositas más”! Um ótimo fim de semana para todos, salute e kanimambo.

        

  

   

 

 

Merlots Premium Brasileiros ás Cegas

Começamos o ano de 2014 encarando paradigmas sobre o vinho brasileiro. Decidimos provar alguns dos principais e mais conceituados Merlots nacionais colocando-lhes um adversário no mesmo patamar para que tivéssemos um real parâmetro comparativo, um exemplar da Patagônia argentina. Pessoalmente, acho que na relação Qualidade x Quantidade, temos hoje o melhor Merlot da América latina, quiçá das Américas. Há ótimos vinhos chilenos, argentinos e até americanos, porém a média de nossa produção é realmente muito boa e com os mais diversos estilos, afinal Michel Rolland andou por aqui e deixou seu legado, sendo vinhos aos quais os seguidores de Baco deveriam dar um pouco mais de atenção enterrando seus preconceitos. Não acredita?! Tudo bem, mas pelo menos lhes dê uma chance; prove e às cegas!! .     

         Tendo dito isso, vou deixar a amiga e confreira Raquel Santos, a porta voz da Confraria Saca Rolhas, nos passar sua opinião sobre o evento e vinhos e no final dou um pitaco sobre o que provamos. Diz aí Raquel!

          No nosso primeiro encontro do ano, resolvemos começar pondo o pé no chão e ordem na casa.  Não que o ano que passou tenha sido ruim, longe disso. Basta ver quantas vezes a Confraria Saca Rolhas foi citada na lista dos “Deuses do Olimpo” neste blog! Realmente foi muito bom. Ótimas degustações, ótimos vinhos!

         Resolvemos fazer uma degustação às cegas, com vinhos nacionais, equivalentes, de qualidade premium e elaborados com a uva Merlot, das safras entre 2005 a 2008. Sabíamos que entre eles havia um intruso e isso sempre é bom para desequilibrar as referências pré concebidas e mexer um pouco com nosso sensorial.

         O fato de conhecermos melhor o que temos por aqui, poderia nos dar parâmetros para compará-los com outros merlots já degustados em outras ocasiões, do mesmo nível, em termos de qualidade, faixa de preço, e perceber da evolução da produção brasileira. A uva Merlot, proveniente da região de Bordeaux na França, proporciona vinhos com taninos macios, aromas elegantes e sabores frescos, frutados que evoluem muito com o tempo. Atualmente já é consenso entre os enólogos que é a casta que melhor se desenvolveu na serra gaúcha.

         Pudemos comprovar isso na taça com os belos exemplares que nos foram selecionados:

Salton Desejo 2006 – Aromas muito frescos de ervas, especiarias, cítricos ( lembrando casca de laranja). Na boca era suave, com média acidez, taninos finos e pouco corpo. Com o tempo, evoluiu bastante na taça, mostrando outro lado, mais consistente de madeira, couro e chocolate. Bento Gonçalves/RS. Preço médio: R$75,00

Miolo Terroir 2008 – Ataque alcoólico com presença de acidez e taninos. Na boca é muito frutado e vai se equilibrando cada vez mais com o tempo. Vale lembrar que esse vinho foi promovido pelo produtor como “melhor Merlot do mundo” depois de vencer uma competição internacional em sua faixa de preço. Vale dos Vinhedos/RS. Preço médio: R$130,00

 Pizzato DNA 99 2005 – Sua primeira safra, proveniente de um único vinhedo, que gerou seu famoso Merlot de 99, mereceu destaque pela qualidade e complexidade. De aromas frescos, mentolados e elegantes. Muito equilibrado, e grande potencial de evolução na taça. Foi se modificando incessantemente, com sabores e aromas sedutores. Vale dos Vinhedos/ RS. Preço na Vinícola: R$170,00

Valduga Storia 2006 – Muito aromático, com especiarias, madeira e frutas. Na boca, a madeira se confirma e aparecem nuances de caramelo, tostado, chocolate amargo, etc….. evolui muito na taça. Muito equilibrado! Bento Gonçalves/RS. Preço médio R$160,00

 Patritti Primogénito 2009 – À primeira vista, ou melhor, à primeira fungada, causou estranheza, por algo químico ou muito forte que não conseguimos identificar. Pareceu-nos bem diferente dos anteriores. Sabores marcantes de especiarias (anis), pinho, ameixas, frutas vermelhas e madeira bem incorporada. E apesar da potencia inicial, demonstrou bom equilíbrio e vocação gastronômica, com destaque para a acidez que pedia algo que o acompanhasse ou fizesse um contraponto. Esse era nosso intruso, que chegou metendo o pé na porta, mas depois se comportou muito bem! Patagônia/ Argentina. Preço médio: R$110,00

Merlots na Confraria Saca Rolhas

 Ao fim da degustação, algumas características ficaram evidentes para nós: Houve uma significativa evolução dos vinhos de qualidade em nosso país. Apesar de não se mostrarem desde o início, na taça, deixam claro seu potencial evolutivo, porém ao mesmo tempo que crescem na taça, também se cansam  logo. São como crianças felizes e saudáveis, que depois de um dia de brincadeiras agitadas, caem no sono instantaneamente em qualquer canto.

         Outra questão que me chamou atenção, depois pesquisando o assunto, foi a tentativa da mídia ou mesmo do produtor, de equiparar o produto nacional com o estrangeiro. A ideia de igualar seu produto a um Bordeaux ou promover um vinho como “o melhor Merlot do mundo”, soa, a meu ver,  um pouco exagerado. Eu, defensora que sou do vinho brasileiro, acho que temos muito à caminhar nesse sentido. Além disso temos a questão do custo Brasil, onde os impostos aqui aplicados não são nada incentivadores, tanto para produtores como para consumidores. Enfim, isso é assunto para muitos outros posts e que temos que continuar pensando e adequando à nossa realidade.

         Essa foi uma degustação para refletirmos o que foi, o que é e o que poderá ser, no futuro a produção de vinhos no Brasil. Se olharmos para trás, nos anos 80, quando a produção era ínfima e o que é hoje, podemos ver que existe uma grande evolução. E se compararmos com os países que produzem vinho à séculos, nós estamos apenas começando.  

       Como disse deixei para o fim meus pitacos sobre mais este encontro da Confraria. Como a degustação foi ás cegas, deixei para abrir os rótulos somente após uma votação quanto ao melhor vinho da noite. Houve uma clara divisão, porém a maioria optou pelo vinho mais pronto e mais redondo de todos, o Salton Desejo, seguido do DNA e do Primogênito. Pessoalmente, achei que o DNA e o Primogênito roubaram a cena um degrau acima dos demais, mas isso é muito pessoal! Incrível a vida ainda presente nesse DNA com já oito anos nas costas e que ainda promete grande evolução na garrafa, quem conseguir guardar verá! Por outro lado, afora o posicionamento de preço do Desejo da Salton que está muito em linha com o mercado, o restante está num patamar que realmente pretende ser exclusivo, vinho para poucos e, considerando que cada um monta a estratégia que lhe for mais interessante, algo que temos que respeitar ainda mais quando vendem tudo o que colocam no mercado.

     Não podia deixar de ressaltar que o Storia 2005 segue sendo imbatível. Já tinha provado o 2008 e agora o 2006, mas ficaram bem aquém da primeira edição deste ícone da Valduga, uma raridade no mercado que quando achado passa das absurdas 400 pratas! Enfim, mais uma noite muito agradável em que aprendemos um pouco mais das coisas desta nossa complexa vinosfera com toda a sua diversidade e variáveis, tendo tido como abertura o saboroso e fresco Angas Brut, o espumante australiano mais exportado, que preparou nosso palato para o que estava por vir. Kanimambo, salute e um ótimo fim de semana para todos lembrando que ainda temos algumas poucas vagas disponíveis para dia 13 na Vino & Sapore.

 

      

A Rioja Classica, a Rioja dos Viña Tondonia!

        Mais uma grande noite na Confraria Saca Rolha que se reúne mensalmente na Vino & Sapore, para explorar alguns dos muitos mistérios por trás de alguns rótulos de grande renome e prestigio em nossa vinosfera. Explorar vinhos de mais idade então, essa é uma experiência que me encanta e seduz, especialmente quando falamos de um vinho branco de 20 anos. Daqueles vinhos únicos que revertem regras e mudam conceitos, mas deixemos nossa porta voz, a amiga, confreira e sommelier Raquel Santos, falar por nós:          

         Em nosso encontro anterior, tentamos desbravar a região de Rioja na Espanha. Digo “tentamos” porque nesse mundo, dos vinhos, isso é uma tarefa quase que impossível de se conseguir em apenas uma vez.

         Passamos pelas principais regiões e conhecemos produtores importantes. Vimos também que uma das características desses vinhos é sem dúvida a arte do envelhecimento em barricas, e posteriormente, o tempo de maturação nas caves, inclusive para seus vinhos brancos. Foi Tondonia cemitérioexatamente aí que ficou faltando uma dose maior de investigação. Alguém lembrou do mítico Tondonia que tem um dos brancos mais originais dessa nossa vinosfera. Esse vinho é produzido pela família López de Heredia desde 1877 na cidade de Haro, capital de La Rioja. Combinamos então uma degustação dos  branco e tinto Reserva que passam 6 anos em barricas de carvalho. Além desse longo tempo que ficam em contato com a madeira, são vinhos de vida extremamente longa. Suas caves de crianza (envelhecimento) com seus nichos peculiares lhes deram fama e o nome sugerido de “o cemitério”, enfim, estamos diante de mitos a serem venerados e desfrutados.

         Confesso que a oportunidade de conhecer o famoso Tondonia me deixou bem ansiosa alguns dias antes. Era como ficar cara a cara com um ídolo, ou alguém que só se conhece de ouvir falar, e de repente todo aquele imaginário que vivia em minha cabeça pudesse se tornar realidade, ou não! São vinhos caríssimos e a ideia de compartilhar uma garrafa dessa nos permite por à prova esses mitos, uma das inúmeras vantagens de fazer parte de uma confraria.

         Como de costume, sempre iniciamos com um espumante, que nos ajuda a preparar as papilas, enquanto esperamos a presença de todos e vamos colocando a conversa em dia. Brindamos com o espumante Campos de Cima Extra Brut da vinícola do mesmo nome. Da região da Campanha Gaúcha, quase na fronteira com o Uruguay. Bem refrescante, frutado e seco. Para quem não conhece, vale a pena experimentar. Mais um exemplar entre muitos outros bons espumantes brasileiros.

         O próximo vinho, veio para acalmar os ânimos e concentrar a atenção do que teríamos pela frente: Vilarino 2012, da região de Vinho Verde – Portugal – elaborado com a casta Azal. Leve, floral, com um toque vegetal, porém com presença marcante. Boa acidez e bastante frescor.

         Enfim chegamos, era a hora do Viña Tondonia Blanco Reserva 1993.

Tondonia Branco 93         Na taça mostrava-se de um amarelo âmbar dourado, típico de vinhos envelhecidos. Afinal estávamos falando de um vinho branco de 20 anos!  Enquanto era servido, já podia-se sentir os aromas que invadiram o ambiente. Todos tentavam decifrar aqueles aromas e expressavam ao mesmo tempo, admiração, espanto e um certo olhar desconcertante de uns para os outros. Realmente era algo diferente! Revelava-se em camadas sucessivas que iam nos distraindo e faziam adiar o primeiro gole a cada aproximação da taça. Na boca, o primeiro ataque nos traz a boa acidez da Viura muito bem incorporada com uma untuosidade cremosa, rica em sabores cítricos, florais, minerais, etc….O tempo na taça só fazia aumentar a riqueza de aromas e sabores que evoluíram para especiarias (erva doce, anis), palha, flores secas, frutas cítricas. Tudo isso sem perder a vivacidade e o frescor, e evidenciando  mais ainda os seus coadjuvantes (presunto de Parma, azeite e pão). Verdadeiramente um vinho único que todos desejavam repetir a dose. Resolvemos então dar sequencia na degustação enquanto outra garrafa era providenciada e colocada na temperatura ideal de serviço.

                  Viña Tondonia Tinto Reserva 2001.

         Um típico Riojano, feito com as típicas castas: Tempranillo, Garnacha, Graciano e Mazuelo.Tondonia tinto 2001 Como  o branco, passa 6 anos por barrica de carvalho , o que torna seus taninos finíssimos e muito elegantes. Mostra grande evolução de aromas e sabores de especiarias, frutas vermelhas em geleia, tabaco, etc. Muito bem estruturado, com ótimo corpo e carácter austero, ainda mostra-se com muito frescor. Apesar dos seus 12 anos, ainda é uma criança com muita vida pela frente. Eu já ouvi por aí que esse vinho não envelhece nunca!

        Depois dessa dupla, acho que todos precisavam de um tempo para digerir  essa experiência com vinhos tão ricos e poderosos. Foi então sugerido colocar à prova mais dois vinhos intrusos, de regiões diferentes.

        

O primeiro foi o italiano Gianni Rosso di Montalcino 2010.

         Bem equilibrado, com presença de madeira, cerejas e muito aromático.

O segundo foi o francês Perrin & Fils Vinsobres Les Cornuds 2009 da região do Rhône. 

         Um vinho bem típico daquela região. Notas de frutas vermelhas (cerejas), algo picante, como uma pimenta do reino, e álcool aparente, mas não incômodo.

         Dois ótimos vinhos, dentro de suas características. Com certeza quero dar mais atenção a eles outro dia.

Clipboard Saca rolhas Rosso e Cornuds

          Voltamos no Blanco! Eu, que sempre fui defensora dos “branquinhos”, estava adorando ver aquele riquíssimo exemplar afrontar qualquer tinto que pusessem na sua frente!

         Foi bom ter reservado um tempo para os vinhos da Tondonia. Aliás, tempo é a palavra mágica quando se fala de vinhos evoluídos, elegantes e com personalidade forte como estes, é o mínimo sinal de respeito que devemos a eles. Afinal demoram tanto tempo presos naqueles tonéis ou nas garrafas para atingir seu apogeu, que quando chega o momento de libertá-los, precisamos ter calma, paciência e também elegância pois assim como nas mil e uma noites, o gênio tinha poderes ilimitados. Garanto que eles retribuem em dobro. E com alegria, compartilham conosco toda a sabedoria que adquiriram em sua longa jornada.

Rioja e seus Vinhos

Hoje a Espanha amplia seu leque de regiões produtoras para o mundo, porém Rioja sempre será a marca principal e símbolo de um país que gera grandes e inesquecíveis vinhos, haja visto que o melhor vinho do ano para a revista especializada Wine Spectator, foi exatamente um Gran Reserva de Rioja, o Cune Imperial 2004 que, em 2011 e com outra safra, já fez parte de meus Deuses do Olimpo!  No encontro deste mês da Confraria Saca Rolha, foi a vez de conhecermos e provarmos alguns destes vinhos e, através deles, tentar conhecer um pouco da história por trás da região, seus sabores e mistérios. Eis o que nossa porta voz e confreira, Raquel Santos, tem para nos relatar sobre o encontro e os vinhos.  

        Mais um encontro da confraria, final de ano chegando e  todos esperam que o calor chegue também, certo? Errado! Nosso começo de primavera tem sido bem atrapalhado, com ondas de frio pegando todo mundo de calça curta…..Por outro lado, veio a calhar a nossa escolha do tema desse mês: Vinhos da Espanha. Mais precisamente da região de Rioja. Digo isso, porque se existisse uma só palavra que definisse o estilo desses vinhos, seria “versatilidade”. São vinhos de personalidade forte, mas que se adaptam muito bem às circunstâncias.

         A região, que está localizada ao norte do país, recebe a influência dos climas atlântico e mediterrâneo. Abrigada ao norte pela Sierra rioja-map by Quentin Sadler-2013Cantábria e ao sul pela Sierra de la Demanda, é cortada pelo Rio Ebro. As temperaturas variam de acordo com as sub-regiões: Rioja Alta – com clima Continental, e influência do mar Cantábrico, tem invernos muito frios e verões quentes e secos. Rioja Alavessa – com clima de influência atlântica e mediterrânea, com invernos frios e chuvosos e verões amenos. Rioja Baja –  influência mediterrânea, com clima mais quente e seco.

         Além do clima, convivem ali diferentes culturas. Rioja Alavessa, do lado norte do rio Ebro, a província de Álava é basca, com sua própria língua, e politicamente luta para ser um país independente. Do outro lado do rio, Rioja Alta, na província de San Vicente de la Sonsierra (oeste) e Rioja Baja na região de Logroño (leste). Contudo, essas diferenças parecem desaparecer quando se fala da uva Tempranillo.

         Muito versátil, ela ocupa quase todo esse território e reina soberana. E ainda mostra-se muito amigável com outras variedades que  complementam e valorizam suas qualidades: A Garnacha, a Mazuelo e a Graciano. Com elas, produzem vinhos que podem variar de delicados a potentes, dependendo da maturação, evolução e envelhecimento nas barricas de carvalho.

         Igualmente acontece com sua principal casta branca: A Viura, que juntamente com a Malvasia de Rioja e a Garnacha Blanca, resultam num vinho fresco, fácil de beber e acompanham bem uma refeição. Por outro lado, é tradicional na Rioja o processo de passagem por barricas também para os brancos. A evolução é surpreendente, resultando vinhos muito vibrantes e ricos em sabor.

         Esse processo de afinamento que consiste na maturação do vinho, depois da fermentação, em barricas de carvalho é uma técnica que os espanhóis dominam como ninguém. O objetivo é enriquecer o conjunto sem ofuscá-lo. O passo seguinte é o tempo que o vinho depois de maturado, clarificado, filtrado (ou não) e engarrafado ficará  “envelhecendo” na cave antes de ser comercializado.

         A classificação de qualidade dos vinhos da Espanha é baseada nesse processo de elaboração, e foi dividido em quatro categorias:

   Joven ou Cosecha: Brancos e Tintos – sem passagem por barrica

  Crianza: Brancos – mínimo de 6 meses em barrica

               Tintos ( 2 anos)– mínimo de 12 meses em barrica + 12 meses em garrafa

  Reserva: Brancos ( 1 ano)– mínimo de 6 meses em barrica + 6 meses em garrafa

             Tintos ( 3 anos)– mínimo de 12 meses em barrica + 24 meses em garrafa

  Gran Reserva: Brancos (4 anos)– mínimo de 12 meses em barrica + 36 meses em garrafa    

                   Tintos (5 anos)- mínimo de 24 meses em barrica + 36 meses em garrafa

          Começamos a degustação com um branco fermentado em barrica:

    Rioja - Luis Canas Viura Barricado II     Luis Cañas 2010 – Da Rioja Alavessa, elaborado com 90%Viura e 10% Malvasia. Um branco fermentado em barrica sobre as lias, onde permanece por 3 meses. Muito fresco, com aromas florais e baunilha. Na boca lembra abacaxi e casca de limão. Enche a boca com ótimo extrato. Bem típico da região.

         

O segundo vinho da noite foi um 100% Tempranillo, da região de Rioja Alta:

         Sierra Cantabria Selección 2011. Bem frutado, com especiarias e chocolate. Na bocaRioja - Sierra Cantabria seleccion aparece uma mineralidade quase que salgadinha. Muito equilibrado e madeira bem incorporada. Acompanha bem uma refeição, aperitivos, ou mesmo sozinho para relaxar. Leve, gostoso e despretensioso. Lembram quando falei de vinhos versáteis? É esse!

         

O terceiro foi um Crianza, 100% tempranillo, também de Rioja Alta:

Rioja - Finca Nueva Crianza         Finca Nueva 2007. A madeira é o que aparece primeiro dando as boas vindas! Depois, muito suavemente e em camadas aparecem aromas de tabaco, folhas de chá, alguma erva mentolada (cânfora). Na boca se mostra mais frutado, com álcool presente, mas bem colocado juntamente com os taninos finos e boa acidez. Um vinho bem instigante…e o rótulo é lindo!

          No quarto vinho o assunto foi ficando mais sério:

         Marques de Murrieta Reserva 2007. Um vinho tradicional da região de Rioja Alta, nas Rioja - Marques de Murrietaproximidades da província de Logroño. Elaborado com 85% Tempranillo, 8% Garnacha, 6% Mazuelo e 1% Graciano. Permanece 20 meses em barrica e 24 meses em garrafa. Muito equilibrado, com ótima acidez, taninos macios e corpo que permanece um bom tempo na boca. Vai se mostrando aos poucos, nuances de fruta madura, um leve defumado, um toque de madeira abaunilhado, ervas perfumadas que remetem à vinha d’alhos… enfim, uma nebulosa caminhada que exige tempo e paciência para percorrer. Aos que se dedicarem a ela, a recompensa será infinita, pois permanece na memória por muito tempo.

          O quinto e último vinho, para encerrar a noite com chave de ouro:

 Rioja - Lan Gran Reserva        Lan Gran Reserva 2003. Mais um de Rioja Alta, este vinho foi feito com 85% Tempranillo, 10% Mazuelo e 5% Garnacha. Antes da comercialização, passa por 24 meses em barricas de carvalho e depois mais 36 meses em garrafa. Um belíssimo exemplar, que apesar dos seus 10 anos, ainda demonstrava muito potencial para evoluir. O mérito de um Gran Reserva não é o tempo que passa em barrica e sim se há extrato suficiente no vinho para receber essa longa permanência. Esse conseguiu e ainda está em fase de crescimento.

          O tempo de vida de um vinho depende de vários fatores. Quanto maior for seu extrato, volume de álcool, acidez, açúcar e taninos, maior será sua durabilidade. É um erro pensar que quanto mais velho, melhor é o vinho. Cada vinho tem seu tempo certo de vida e assim como as pessoas, uns envelhecem bem, outros nem tanto. Todo vinho tem sua infância, juventude, maturidade e velhice. O momento em que podemos encontrar seu esplendor, é uma tarefa difícil, que funciona como um belo aprendizado na base da tentativa e erro. Tanto um vinho bem jovem pode ser encantador, nos mostrando sua vivacidade e inquietude, quanto um envelhecido que mesmo já tendo passado do seu ápice, retratando suas “rugas”, ainda pode ser uma experiência interessante. Nessa hora, o caráter ou a personalidade é que conta. A diferença pode ser algo bem parecido entre brincar com uma criança de 1 ano ou conversar com uma pessoa de 100 anos!

         A decisão do melhor momento para apreciar um vinho está nas nossas mãos. Enófilos  como na nossa confraria, curiosos e apreciadores de um bom vinho em geral, nunca faltarão. E se depender de mim……

Só Borgonha 1er Cru na Saca Rolha

Mais uma vez a confraria Saca Rolha se reuniu para desfrutar amizade, alegria e vinhos. Desta feita elevamos o patamar e por decisão unânime decidimos juntar alguns bons borgonhas e mais, só rótulos 1er Cru! A Raquel, nossa porta voz , dá aqui seu testemunho do evento porém antes deixem-me dar só uma interessante informação sobre a região. Recentemente vi uma lista dos 50 vinhos mais caros do mundo e dos top 10, oito, repito, oito são da Borgonha inclusive os primeiros dois! Vamos ao relato da Raquel:

A Borgonha divide com Bordeaux a notabilidade de região produtora de vinhos na França. Se por um lado, Bordeaux bourgogne_mapimprime seu caráter austero e tradicionalista, personificado através de seus châteauxs e suas grandes propriedades, a Borgonha se mostra principalmente pelas características agrícolas, com pequenas propriedades de gestão quase sempre familiar. Para seus produtores, a importância do “terroir” é o que diferencia e dá identidade ao vinho, sendo seus vinhos produzidos com apenas duas castas, Pinot Noir e Chardonnay, em suas principais sub-regiões de; Chablis, Cotes de Beaune e Cotes de Nuit sendo que na Cotes Chalonnaise também são autorizadas as brancas Pinot Blanc, Pinot Gris e Aligoté assim como a tinta Gamay que reina quase que absoluta nas regiões sul de Maconnais e Beaujolais.

            Quando surgiu a ideia de fazermos o encontro da confraria só com vinhos da Borgonha, a primeira preocupação foi o custo. Sim, são vinhos caros e sempre assustam os que querem se aventurar por essas pequenas parcelas de terra, que os “bourguignon” chamam de “Crú” e que tratam como se fossem seu solo sagrado! Desde o Século XI, os monges da Abadia de Cluny começaram a estudar e desenvolver a vitivinicultura nessa região, baseando-se principalmente na influência que as diferenças do solo exerciam na qualidade das uvas. Até hoje,  esses estudos são aprimorados e mapeados minuciosamente, mostrando cada vez mais  as diferenças geológicas, e o respeito pela excelência de cada terroir, principal fator que qualifica a produção desses vinhos. Cada “Crú” é dividido em “Climats” , lotes de vinhas, que por sua vez são divididos em “Lieu-dit” , que são vinhas com uma designação própria.

            Além disso, adotam uma classificação de qualidade com regras rígidas, onde se leva em consideração o tipo de solo, drenagem, insolação, densidade de pés por ha, rendimento por pés, etc….. que se divide entre os Comunais ou Villages, que é a maior parte da produção. Premier Crú (apenas 10%) e Grand Crú (apenas 1,7%). Por aí, já dá para entender um pouco o porque do altíssimo preço! A produção além de artesanal, é muito pequena. Só para se ter uma ideia, as vinhas do famoso “Romanée-Conti” , limitam-se a uma área de 1,62ha (16.200m2).

           É nessa escarpa, resultante de uma anomalia geológica, que mais parece uma colcha de retalhos que vamos nos divertir! E como diversão pouca é bobagem, nossa confraria munida de todo hedonismo que tem direito, escolheu degustar apenas vinhos de qualidade Premier Crú.

            Como sempre, começamos com um espumante e desta feita da região:

         Crémant de Bourgogne François Labet – elaborado pelo método tradicional com uvas Chardonnay. Cor amarelo palha, bem clarinho. Delicado e seco na boca. Tem a mineralidade típica do solo dessa região.

SR - Mercurey

           Próximo a Auxerre, está a região de Chablis. Possui um tipo de solo único, que lhe caracteriza e imprime em seus vinhos, uma identidade inimitável. Seu solo Kimmeridgiano do período jurássico (150 milhões de anos atrás) é formado de conchas  pré históricas. Dessa região provamos o Chablis Montée de Tonnerre 1er Cru 2009 – do produtor Billaud-Simon. Muito fresco e aromático. Boa acidez, bom corpo e longa persistência. Um vinho com alma marinha que combina com um final de tarde de verão na praia. Se tiver um prato de ostras frescas por perto, melhor ainda!!

             Na parte central da Borgonha, próximo a vila de Chalon-sur-Saône, está a Côte Chalonnaise. De lá, veio o Le Clos du Roy Mercurey 1er Cru 2009 –  produzido pela Domaine Faiveley. Bem clarinho na taça. Aromas frescos florais e de especiarias. Na boca mostrou-se bem diferente da expectativa incitada pelo nariz. Mostrou-se mais robusto e duro, com as mesmas especiarias, porém de maneira mais pungente. Frutas vermelhas compotadas dividiam sua doçura com a acidez, dando um equilíbrio no todo. Um vinho inquieto como a juventude. Acho que se for lhe dado um tempo de guarda deverá ter grande evolução.

             Foi chegada a hora da surpresa da noite. Estava previsto um Pinot Noir intruso para ser degustado às cegas. A primeira impressão, ainda na taça , era de um vinho mais turvo, sem o brilho do anterior. No nariz mostrava aromas suaves, vegetais, florais e animais. Em boca era bem frutado (frutos vermelhos maduros), algo lembrando vermute. Taninos macios , bom extrato e acidez bem colocada. Os que apostaram na América do sul acertaram : Este veio do Chile – Little Quino 2012 – Elaborado por William Févre,  importante produtor de Chablis. Evoluiu bem na taça, apesar de tratar-se de um vinho jovem.

             Voltando à Borgonha, mais precisamente ao norte de Beaune, está a vila (ou comuna) de Savigny-les-Beaune. Tomamos o Savigny-les-Beaune “La Dominode” 1er Cru 2008 do Domaine Pavelot. A primeira impressão desse vinho foi um enorme frescor nos aromas. Algo lembrando mentol, lavanda e sensação gelada. Sua cor, rubi  muito vibrante e luminosa. Boa acidez de frutinhas de bosque (framboesas, cerejas) , taninos suaves e corpo médio , mas com persistência. Com o tempo os aromas e sabores foram evoluindo com muita complexidade. Podia-se sentir um pouco de couro, terra molhada e um fundo floral. Um vinho que estava pronto!

             Na sequência do nosso tour enófilo, caminhamos para o sul de Beaune, onde encontramos a vila de Volnay. O escolhido foi o Volnay 1er Cru-Marquis d’Angeville 2008. Pudemos notar que nesse caso não foi especificado no rótulo o nome do 1er cru de onde se originou suas uvas. Depois pesquisando sua ficha técnica descobri que nesse caso ele é feito com uvas de três vinhedos diferentes. Ou seja, um assemblage de três “climats”,1er Cru. Assim como o anterior, o primeiro ataque dos Borgonhas é sempre muito fresco e perfumado. É como se nos convidassem a um encontro elegante e sedutor. Poderia ficar divagando horas à respeito das sensações desse vinho! Mas isso foi a minha experiência e evidentemente cada um tem a sua.

            O final do passeio foi em Côtes de Nuit , mais precisamente em Gevrey-Chambertin tendo degustado o Gevrey-ChambertinLe Champeaux” 1er Cru 2005 de Olivier Guyot, um produtor biodinâmico. A primeira coisa que me chamou atenção nesse vinho foi o rótulo. Apesar de muitos desprezarem essa informação, a mim ela diz muito, afinal é a roupagem que o produtor dá ao seu produto. Garanto que alguém pensou muito na escolha de uma imagem, que conseguisse transmitir ao menos no primeiro contato, um pouco daquele conteúdo. E nesse caso, a imagem de um camponês , com seu cavalo, trabalhando a terra, mostra bem a importância que a agricultura tem na região da Borgonha. É um rótulo simples, mas elegante, onde em primeiro lugar vem o nome do produtor, depois o ano da colheita, e em seguida o Cru e o Climat. Depois das apresentações, vamos às taças! Logo já podíamos notar uma cor mais acobreada  por tratar-se de um vinho mais evoluído (2005). Nariz discreto, mas dando dicas que está tudo ali. Aquele frescor mineral, quase um vento gelado, trazendo depois um floral, muitas frutas, ervas do campo, terra úmida, etc…….No primeiro gole, toma conta da boca uma sensação aveludada que aos poucos, vai confirmando todas aquelas dicas preliminares. Um vinho redondo, sem arestas que chamem a sua atenção a um detalhe especifico. É tudo junto e misturado e loooongo. Equilíbrio perfeito.

            Os vinhos da Borgonha, principalmente os de Pinot Noir, encontram a perfeita harmonia com o solo e clima. Sua exuberância e plenitude é copiada no mundo todo. Os que buscam um “estilo bourguignon”, em outras terras, lutam por algo que não existe nem lá. A palavra estilo só pode ser usada quando se faz o mesmo vinho todo ano e na Borgonha estão interessados no caráter de cada terroir. No vinhedo, as uvas recebem o mínimo de intervenção possível. E foi nesse pedacinho de terra, ela que é tão sensível ao clima, encontrou seu perfeito habitat. Gosta do frio, que proporciona amadurecimento mais lento dando-lhe tempo para desenvolver todo seu potencial. Por outro lado, sua casca fina, precisa de muito sol, pois o frio continuado a deixa exposta a fungos e outras doenças. Ou seja, busca por locais onde haja grande amplitude térmica. Dizem que a Pinot Noir é uma uva feminina. Delicada e melindrosa, ela dá trabalho a quem quer cultivá-la. Exige obstinação, perseverança e principalmente entendimento da natureza. Mas estando no lugar certo, e sendo muito bem cuidada, devolve com alegria tudo que recebeu.

           Para finalizar uso as sábias palavras de Carlos Drummond de Andrade que um dia disse: “Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.”

Uma Noite Portuguesa Com Certeza!

DSC02922A confraria Saca Rolha comemorou seu segundo ano de vida em grande estilo e as taças que aguardavam por nós nesse dia, eram muitas! A amiga Raquel, nosso porta voz aqui no blog, deu um show com seu texto aqui abaixo, mostrando bem o que aconteceu nessa noite tão especial. Um momento para lá de saboroso com a sempre gostosa companhia dos confrades e confreiras, bons vinhos e interessantes experiências enogastronomicas. Enfim, fiquem com o texto da Raquel que está maravilhoso e também me despertou saudades!

A emoção é um estado momentâneo em que o indivíduo que se expõe a uma experiência qualquer, se manifesta através de reações somáticas. Essas reações podem ser medo, alegria, raiva, etc… Isso tudo são explicações técnicas, psicológicas, mas e quando se tem a sensação nostálgica de algo que nunca vivenciamos? Como por exemplo: Saudade de Portugal, suas paisagens, cheiros, cores e sabores.  Esse é o ponto! Eu nunca estive em Portugal, e de alguma forma, matei as saudades de lá! Foi numa noite de comemoração com amigos, em volta de uma mesa portuguesa com certeza!Colina Brut Nature

            Logo que chegamos, brindamos ao encontro com o excelente espumante Colinas Reserva Brut Nature. Elaborado pelo método tradicional, super aromático, lembrando avelãs, creme pâtisserie, biscoito e um delicado floral ao fundo. Na boca, ao contrário do que sugeriam os aromas adocicados, era sequinho, com boa pérlage e longa persistência. Quem ainda não conhece os espumantes portugueses, não sabe o que está perdendo!

            Hora de sentarmos à mesa e para a surpresa de todos, a imagem de uma enorme garrafa alongada (Magnum), típica da região de vinho verde, nos deu a dimensão do que ainda estaria por vir!  Era um Soalheiro 2011, 100% alvarinho, que fez par perfeito com os camarões empanados e fritos. O Soalheiro é reconhecidamente um clássico dessa região, onde a ótima acidez, corpo, aromas frescos, cítricos, minerais e herbáceos, são perfeitamente equilibrados. Eu já me daria por satisfeita ali mesmo, mas o show devia continuar.

soalheiro magnum

            Esperávamos por uma harmonização inusitada: caldo verde e vinho verde tinto. Para acompanhar, foi-nos apresentada a famosa broa portuguesa que nada mais é que um pão camponês feito de farinha de milho branco. Apesar de já ter ouvido falar desse pão, que aparece como ingrediente nas receitas de bacalhau, é muito raro ser encontrada por aqui. Mesmo com tantas padarias e seus proprietários lusitanos em São Paulo, apenas uma delas fabrica a broa portuguesa como na sua origem, estilo camponês com sua côdea (casca crocante). Esse pão era um dos ingredientes da “sopa do cavalo cansado”, que os camponeses comiam regado pelo vinho verde tinto (quente e polvilhado com açúcar), Linhares Tintodepois de um dia de trabalho duro. Essa sopa levantava até defuntos!

            O vinho verde tinto tem sido menosprezado por sua rudeza. Com alta acidez, taninos potentes e baixa graduação alcoólica, faz dele um vinho duro e áspero. Por essa razão os produtores tem dado preferência aos brancos onde se consegue melhor qualidade. O vinho escolhido foi o Quinta de Linhares 2010, região do Minho. Como já era de se esperar, um vinho “duro” com taninos ásperos, boa acidez e bem aromático. Muitos torceram o nariz pra ele, até a hora de harmonizá-lo com o caldo verde, a partir daí, tudo ficou mais macio e principalmente dentro do contexto: A broa, azeite, caldo verde e o vinho. Não ficou difícil enxergar coerência nisso tudo. Os hábitos culturais aparecem ao acaso, mas não permanecem por acaso.

             Depois dessa imersão cultural (será que foi lavagem cerebral, rs..rs..), já estávamos até com sotaque(e saibam que portugueses de verdade lá só haviam 2!).

Então foi chegada a hora do Bacalhau. Muito bem executado, de maneira simples, com muito azeite, alho, cebolas e suas batatinhas. Para acompanhá-lo, três regiões importantes: Dão, Alentejo e Douro.

Clipboard Portugal & Bacalhau

            Casa da Passarela – Vinhas Velhas – 2008.(Dão)

            Aromas inebriantes logo de cara! Um leque enorme que alternavam-se com o passar do tempo na taça. Muito equilibrado na acidez, taninos macios e ótimo extrato. Um vinho que me surpreendeu pela elegância. Não dividiria a atenção dele com mais nada. Talvez……… só um queijinho da Serra da Estrela, rs..

            Herdade deSão Miguel  – Touriga Nacional  2010. (Alentejo)

            Mostrou-se bem discreto no nariz. Já na boca, cheio de fruta, bem encorpado e equilibrado. Junto com o bacalhau, salientou as ervas que temperavam o prato.

            Altano Reserva – Quinta do Ataíde -2008. (Douro)

            Produzido pela família Symington, um dos maiores produtores do Douro e  famosos pelo Porto Graham’s. Esse vinho, também elaborado com Touriga Nacional, mostrou aromas de azeitona, frutas secas e alguma mineralidade. Denso, enche a boca, com notas de madeira bem incorporadas. Quanto a harmonização, as opiniões divergiram. Eu gostei mais deste com o bacalhau.

            Depois de muito comer e beber, gostar mais desse ou daquele vinho, tínhamos que tirar a prova dos nove, certo? Pensando nisso, um dos confrades nos agraciou com um bônus e tanto!

           Casa Ferreirinha – Reserva Especial – 2003.Casa Ferreirinha

            Esse vinho é um ícone da região do Douro ao lado de seu irmão-mor “Barca Velha”. Os dois são produzidos a partir de uvas do mesmo vinhedo, são envelhecidos em barricas de carvalho, engarrafados e depois de anos, dependendo da qualidade da safra, são rotulados. As safras excepcionais serão Barca Velha e as outras Casa Ferreirinha. Só posso dizer uma coisa: se o Ferreirinha já é um vinhaço, imagino o outro!!!!!  Na taça ele já mostra uma cor intensa e escura. Aromas extremamente frescos e elegantes que vão evoluindo com o tempo, como se pedindo a nossa companhia, fica nos entretendo o maior tempo possível. Amável, robusto, cheio de sabor. Um vinho de caráter que valeu muito conhecer.

            E para encerrar a noite com chave de ouro, o vinho mais dourado que já provei!

            Quinta do Portal – Moscatel do Douro – Reserva 2000.

            Dizem que a primeira impressão é a que fica. Talvez……mas a última faz com que uma história tenha começo, meio e fim. E quando o fim é bom, vamos lembrá-la para sempre. Acho que nesse caso, esse Moscatel só deixou boas lembranças. A começar pela cor , um alaranjado brilhante, incrível. Os aromas, voluptuosos, de amêndoas, erva doce, anis, mel, etc… Por mais que eu tente descrever, jamais conseguirei chegar perto das sensações que vivi. Acompanhou como um imã o toucinho do céu.

             Comecei esse texto falando de emoções, nostalgia de lugares nunca antes visitados. Há quem diga que a linha que separa a fantasia da realidade é muito tênue. Partilhar algum tipo de experiência, que envolva a boa mesa, bons vinhos com bons amigos, nos ajuda a vivenciar situações inesquecíveis. Afinal, navegar é preciso!

Quinta do Noval Moscatel 2000 com Toucinho do Céu

Bem, depois disso, só me resta dizer um kanimambo especial à Raquel por esta descrição tão saborosa dos momentos vividos nesse encontro, e desejar que tenhamos condições de celebrar nosso terceiro ano com as mesmas emoções. Salute e uma ótima semana para todos com, preferencialmente, mais vinhos de Portugal.

 

 

 

Blends: Desafio às Cegas – Argentina x Chile

               Mais um muito saboroso e agradável encontro da Confraria Saca Rolha reunida na Vino & Sapore. Não falei no post anterior que participo de diversas! Nossa porta-voz é a confreira e sommelier Raquel Santos que reproduz aqui sua visão dessas experiências que vivemos com bastante intensidade e alegria em nossos encontros mensais. Pois bem, embarquemos nos relatos dela, que já tem seus seguidores aqui no blog, e ao final dou meu pitaco.

Quando se fala em vinhos de corte (blends ou assemblage), há que se comparar com os varietais. Durante séculos, na produção de vinhos, poucas pessoas sabiam quais variedades de uvas existiam na bebida que consumida. Os principais produtores do velho mundo utilizavam as uvas que melhor se adaptavam à terra, misturando-as, como numa fórmula mágica e secreta, com a intenção de extrair o melhor resultado final possível. A melhor expressão da terra, clima e certamente a mão do homem, na produção de um vinho, chamou-se de “terroir”.

            Nessa época, ao se referir a algum vinho, falava-se em Bordeaux, Bourgogne, Barolo, Barbaresco, Rioja, Douro, etc. Era mais importante constar no rótulo a D.O.C. – denominação de origem controlada, junto com o nome do produtor, do que as castas utilizadas. Isso já estava implícito pela procedência e podiam variar de acordo com o clima daquele ano. Quando começou a produção de vinhos, no que chamamos hoje de “novo mundo”, optou-se por identificá-los pela variedade da uva como um fator de qualidade, já que eram mudas importadas das tradicionais e nobres castas europeias. Nós, consumidores, passamos a nos identificar com os estilos de cada uva, que por sua vez, definiria o estilo do vinho.

            No encontro da confraria de Julho, pensamos em confrontar duas regiões produtoras, muito bem conhecidos por nós : A Argentina, que se destacou principalmente pela Malbec, e o Chile, pela Carmenére. Só que, nesse desafio, optamos por vinhos de corte (blends), onde essas uvas aparecem associadas a outras. A ideia aí foi que mesmo com presença de outras castas, o resultado final não deixasse de evidenciar as características e o estilo dos vinhos dessas regiões.  

            Uma degustação às cegas, é sempre divertida, e fazia parte da brincadeira descobrir, dos vinhos degustados, quais eram argentinos e quais eram  chilenos. Para facilitar, foram servidos em pares (1 argentino e 1 chileno) por faixas de preços: (clique na imagem para aumentar)

Blends - Argentina - Chile

             1A. Estampa Gold 2009.

Muita fruta, madeira e especiarias(alcaçuz/cânfora…).Toque mineral, meio salgado que fazia contraponto com uma doçura alcoólica. Bem encorpado, boa acidez, com notas de tomate e pimentão.

Chile – Carmenére/Cabernet Sauvignon/Cabernet Franc/Petit Verdot.

            1B. Finca Agostino Família Gran Reserva 2008.

Suave no nariz, frutas maduras, ervas, eucalipto. Taninos suaves, mas presentes. Toque de menta, mate e amêndoas.

Argentina – Malbec/Petit Verdot/Cabernet Sauvignon/Syrah.

             2A. Aluvion Gran Reserva 2008.

Ataque floral no nariz(lavanda/violeta…), cânfora, noz moscada. Bem equilibrado, complexo e  bom corpo.

Chile – Syrah/Cabernet Sauvignon.

            2B. Norton Privado 2007.

Herbáceo com um leve mentolado. Muito potente em boca (acidez/taninos/álcool). Persistência longa, sobrando doçura. Pede comida.

Argentina – Malbec/Merlot/Cabernet Sauvignon.

             3A. Bressia Profundo 2007.

Muito suave no nariz. Com o tempo foi-se abrindo, demonstrando uma enorme gama de aromas: florais, vegetais, defumados, etc… Muito equilibrado na boca. Macio, encorpado e longo. Boa acidez o que denota um bom acompanhante gastronômico. Esse vinho levantou muitas ideias de harmonização!

Argentina – Malbec/Cabernet Sauvignon/Merlot/Syrah.

             3B. Caballo Loco Gran Crú Apalta 2010.

Esse é um vinho diferente. Produzido pela vinícola Valdivieso desde 1994. Muito potente e robusto, como o nome já diz, pode-se ver um cavalo selvagem de muita raça ali dentro da taça! Para domá-lo, dê o tempo que ele merece. É um desafio que sempre deixa um gostinho de “quero mais”, pela enorme gama de aromas,  sabores e sensações que vão se revelando pouco a pouco. 

Chile – Cabernet Sauvignon/Carmenére.

             No final da degustação, foi chegada a hora de revelar os rótulos provados e para surpresa do nosso anfitrião, tivemos quatro acertadores! Isso mostra que vinho argentino não é só Malbec e o chileno tampouco será só Carmenére. O estilo deles sempre estarão ali, marcando presença.  O prêmio, mais uma garrafa de vinho (é claro, rs..rs…), foi dividida entre todos! E não sei se foi proposital ou não……..querem saber qual foi o vinho?

            Um VARIETAL de uva Merlot, italiano.

            Poggio del Sasso 2011 – Cantina di Montalcino – Toscana.

Um vinho proveniente de onde as leis foram adaptadas ao gosto moderno. Os produtores da costa Toscana introduziram a uva Merlot e Cabernet Sauvignon na região dominada pela Sangiovese, ignorando a rígida classificação de DOC, e criando os chamados “Super Toscanos”.

            Os defensores dos vinhos varietais argumentam que estes são os que melhor expressam a verdadeira essência do terroir, através dos sabores da terra, o comportamento do clima e a ação do homem que traduz tudo isso de uma maneira mais verdadeira. Já os que preferem os blends, além de valorizarem o modo ancestral da vinificação, acham que a mistura de castas diferentes proporcionam vinhos de melhor qualidade, ou seja, favorecendo seu equilíbrio, corrigindo defeitos, e onde não só a matéria prima que a natureza nos oferece é utilizada para criar um vinho. A interferência do homem que o faz torna-se de grande importância se a ele é dada essa liberdade.

            Atualmente , a produção de vinhos no mundo, tem evoluído sempre no que diz respeito a tecnologia, do plantio até a distribuição. Temos desde vinhos artesanais, de pequenos produtores, naturais, orgânicos, biodinâmicos, com mais ou menos interferências no seu feitio. E dentre eles temos os blends e os varietais.

            Qual é o melhor? Temos que provar para saber…….essa é uma busca incessante que sempre existirá, graças a Deus!   

Cada um dos flights de vinhos, foi escolhido tendo como parâmetro uma determinada faixa de preço (80 a 90 / 100 a 120 e 190 a 210) para ver como a complexidade dos vinhos cresce conforme os preços o fazem. Caro não quer dizer bom e muito menos que seja do seu gosto, porém na maioria das vezes é fato consumado, quanto mais caro vinho melhor e mais complexo. Bons vinhos de cabo a rabo, mas a meu ver a Argentina ganhou (há controvérsias no grupo – rs) e esse Bressia Profundo, um grande vinho, foi para mim o melhor da noite!

Salute e kanimambo       

Rhône e seus Vinhos na Confraria Saca Rolha

Mais uma vez a amiga e confreira Raquel Santos nos relata sua experiência em mais um agradável encontro desta nossa gostosa Confraria. Mais que os vinhos, a oportunidade de pelo menos uma vez por mês podermos desfrutar da companhia dos amigos. Desta feita “viajamos” para a região de Côtes-du-Rhône na França e, para variar, uma diversa e saborosa seleção de rótulos culminando com uma soberba surpresa! Vejamos o que a Raquel tem a nos dizer:

  “O vale do rio Rhône, está localizado entre os Alpes Suíços e o mar Mediterrâneo. Ao norte, está a cidade de Lyon, que além de ser um polo industrial, também possui um entorno rural que abastece toda a região com uma produção de excelente qualidade. Ao sul, está a cidade de Avignon, que se desenvolveu quando no século XIV o Papado mudou o Castelo de Roma para a região e começaram a cultivar as primeiras videiras.

Mapa do Rhone - Dobra Vinoteka

Percorrendo os vinhedos que margeiam o rio Rhône de norte a sul, pode-se perceber uma grande diferença de clima, solo, e variedade das uvas. Ao norte, (Rhône Setentrional), o clima é continental com verões bem quentes e invernos frios. As videiras são plantadas em penhascos pedregosos de granito, entremeados de florestas de carvalho que refrescam o ar pela neblina ao amanhecer. A uva predominante é a Syrah. Resultam em vinhos robustos, de cor escura e longevos. Para os brancos, destacam-se a Marsanne, Roussanne e Viognier.

 Desta região, degustamos um “ Brunel de la Gardine” – 2007 – da região de St-Joseph.

        Syrah 100%, aparentemente um pouco fechado, mas aos poucos foi mostrando uma riqueza de aromas e sabores que seduziu os mais incrédulos. Talvez pelo equilíbrio, ficou mais difícil identificar uma característica isolada. Aromas de frutas, frescor e um leve defumado, alternavam-se com com a textura macia na boca sem perder intensidade.

        Continuando o passeio, em direção ao sul, (Rhône Meridional), podemos notar que à partir de Montélimar as características da região se transformam. O clima passa a ser mediterrâneo, com influências do mar. Os verões são quentes e o inverno ameno, mas as vezes chega a 0 grau. Os ventos frios que vem do sul (Mistral) fazem as chuvas serem fortes e rápidas, baixando a temperatura rapidamente à noite. Os vinhedos se expõem ao sol forte durante o dia, que também aquecem as pedras que cobrem todo o solo, protegendo a videira do frio à noite. Aqui predomina a uva Grenache que junto com a Mourvèdre, Cinsault, e também a Syrah. Das variedades brancas, encontra-se a Marsanne, Roussanne, Viognier, Clairette, Bourboulenc, entre outras que são vinificadas para tintos, brancos e rosés.

Clipboard Rhone

            Além das diversidades de solo e clima, a região do Rhône meridional, é mais recortada no que diz respeito às apelações de origem. A mais comum delas é a de Côtes du Rhône, usada genericamente. As denominações que indicam o nome das comunas provenientes, representam um fator de maior qualificação. É o que acontece no caso dos Côtes du Rhône-Village, que representa 95 comunas qualificadas.

Degustamos o “Clos Petite Bellane“-Valreas –  Um Côtes du Rhône-Village de 2007.

Logo já percebemos um aroma bem frutado, característica das castas mediterrâneas (Grenache/Syrah). Boa acidez, taninos presentes, porém delicados. De médio corpo e mostrou muita evolução na taça. Aromas herbáceos com algumas especiarias (pimenta verde e anis).

De outras duas pequenas propriedades (Cru), incrustradas entre Côtes du Rhône e Côte du Rhône-Village, foram degustados:

“Château Saint Roch Brunel” – Lirac -2008.

Aromas florais e frutas vermelhas. Bom equilíbrio entre acidez, taninos e extrato. Madeira bem incorporada. Corte de Syrah/Grenache/Mourvèdre.

Domaine la Monardière Les 2 Monardes” – Vacqueyras -2006.                                                            

Ataque floral, sobrando um pouco de álcool. O mais austero deles. Acidez e taninos bem  incorporados que alternavam com um sabor picante e frutas doces e maduras. Aromas que evoluíram bem na taça.

          Ainda circundando a região do Rhône Meridional, não poderíamos deixar de conhecer a região icônica de Chateauneuf du Pape. Conhecida não só pela sua história, mas também pela qualidade, produz vinhos com até treze castas, embora, na prática, nunca se utilize todas elas. A Grenache domina nos tintos. Os brancos, produzidos em menor quantidade, são encorpados e estruturados, com aromas delicados e grande persistência gustativa. A região demarcada fica ao norte de Avignon, onde está localizado o Castelo Papal de verão em ruínas. O clima é muito árido, pedregoso, onde só os arbustos de lavanda e tomilho selvagem, sobrevivem ao vento e a grande amplitude térmica do dia. Foi com grande prazer que conhecemos dois exemplares desse terroir:

“Domaine Font de Michelle” – 2010–

Elaborado com 70% Grenache/10% Syrah/10% Mourvèdre/10% outras: Cinsault/Counoise/Terret/Muscardin. A primeira sensação no nariz, é de frescor, ervas  aromáticas (alecrim/tomilho) e florais. Na boca, revelou-se voluptuoso, apesar de ser jovem. Me pareceu um pouco tímido (sem ser um defeito), necessitando que déssemos mais tempo a ele. Elegante muito bem equilibrado, com vocação gastronômica pela acidez bem incorporada. Grande potencial de guarda.

“Château de Beaucastel” – 2001

Essa preciosa garrafa veio da adega dos amigos Luiz e Ana, que gentilmente nos presenteou. O Beaucastel, juntamente com o Clos des Papes, são os únicos que ainda usam as 13 variedades das castas permitidas em Chateauneuf du Pape. Diferentemente do anterior, já mostrou todo seu potencial de prazer! Muito aromático (flores, frutos vermelhos silvestres, fruta seca, amêndoas, baunilha, etc….etc….e etc….). Na boca confirmava todas essas qualidades com muita elegância, mostrando através da rica paleta gustativa, as cores, sabores, e cheiros daquela paisagem.

O vale do Rhône  tem a questão do clima muito presente. Através dos seus vinhos pode-se viajar, como num filme, que nos conta a história e ensina a cultura de uma civilização. E o melhor dessa historia é quando nos identificamos com ela e temos a impressão que também podemos pertencer um pouquinho à tudo aquilo.

 Basta descobrir o caminho das pedras. “.

Confraria Saca Rolhas Bordeaux – Margem Direita x Margem Esquerda

     Mais um gostoso texto da amiga confreira e sommelier Raquel Santos sobre nosso último encontro em que provamos vinhos de Bordeaux:

  Quando se fala da região de Bordeaux, logo pensamos nos grandes “Châteaux” como Petrus, Margaux, Mouton Rothschild, Lafite, Cheval Blanc, etc… rótulos que só de olhar, nos fazem suspirar! Talvez pelo peso da tradição que carregam, pelo preço altíssimo que custam ou pelo mito de perfeição em forma de vinho. Sonho de consumo para poucos, mas para nós, simples apreciadores de vinho que queremos conhecer essa região, há opções mais em conta que nos permitem mergulhar na imensa produção bordalesa, que certamente irão expressar o caráter deste terroir.

Em Bordeaux, é preciso saber que seus vinhos sempre são elaborados em corte. Basicamente com as castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot, (para os tintos) e Sauvignon Blanc e Semillon (para os brancos). Geograficamente a região localiza-se a oeste da França, próximo ao oceano Atlântico e é cortada pelo estuário formado pelos rios Gironde, Garonne e Dordogne. Daí a origem do nome: “au bord de l’eau”(a beira da água).Seu vinhos ganham identidade própria, dependendo da sua localização em relação aos rios: margem esquerda (onde está localizada a cidade de Bordeaux ), margem direita (onde está a cidade de St. Émilion) e Entre-deux-mers (região entre os rios Garonne e Dordogne). As regiões de maior destaque da margem esquerda são: Médoc, Graves e Sauternes. Na margem direita: Blaye, Bourg, Fronsac, Pomerol, Saint-Emilion, entre outras.

Bordeaux_Map

Diante de tanta tradição e nobreza, é comum sentirmos uma certa intimidação em relação a essa região. O termo “vinho complexo” é aplicado muitas vezes quando degustamos um Bordeaux. É uma sutileza que se revela aos poucos, sempre com elegância. São vinhos que exigem a nossa atenção. Mesmo aqueles mais simples, que nos acompanham em momentos de descontração, uma hora ou outra vão te alertar : “Oi! Eu sou um Bordeaux!”

Pensamos então em fazer um desafio entre a “margem direita” e a “margem esquerda”, passando pela região “entre-deux-mers”.Você quer saber quem ganhou essa batalha? Claro que fomos nós!!!!

Quando falamos de  Bordeaux podemos ver com clareza o que significa cultura, tradição e refinamento. Começando pelo “estilo” da garrafa alta, com ombros retos. O rótulo, quase sempre em preto e branco, com a ilustração do “Château” do produtor e  informações escritas com letras em estilo clássico. Esse padrão é seguido sempre. Dos vinhos mais simples até aos mais elaborados. A classificação dos níveis de qualidade é rígida e segue uma normatização local.

Quanto `as diferenças entre a margem direita e esquerda, sabemos que a casta Cabernet Sauvignon desenvolve-se melhor no lado esquerdo e a Merlot no lado direito. Mas o estilo da “assemblage” é mais importante como identidade dos Châteaux do que as características da uva em si. A mão do homem que cria o vinho tem um peso grande nesse caso. E é claro que em Bordeaux esse “peso” não permite criações ousadas, mas sim a busca incessante pela expressão mais límpida de sua cultura, tradição e refinamento com o máximo de elegância.O privilégio de degustar vinhos dessa região, nos ensina que estão aí para nos surpreender, sejam eles quais forem. E que não devemos nos acanhar diante dos ícones.

Foram estes os rótulos degustados, pela ordem:Como de costume, iniciamos a degustação  com um espumante, brindando o reencontro dos amigos.  

VEUVE ELISE Brut –   um vin mousseaux, tipo blanc de blanc, produzido na Le  Caves de Landiras, ao sul da região de Bordeaux.

Com boa vocação para acompanhar aperitivos, mostrou-se muito fresco na boca, com pérlage fina, boa acidez e aromas delicados de frutas brancas (maçã, pera) e panificação. Um corte inusitado das castas ugni blanc com airen.

 CHARTRON LA FLEUR BLANC 2011 – Sauvignon Blanc . Produzido por Schroder & Schyler, na região Entre-deux-mers.

O único branco da degustação. Agradável, muito aromático e bem estruturado. Acidez que pede comida. Ficou ótimo com um queijo gorgonzola.

 BELLEVUE DE LUGAGNAC 2010 – Bourdeaux Superieur – Merlot/Cab.Sauv  produzido pelo Chateau de Lugagagnac na região Entre-deux-mers.

            Bem leve, para momentos descontraídos.

 CHATEAU GRAVES DU BERT 2006 – Grand Cru – Merlot/Cab. Franc.produzido pela família Lavigne-Poitevin em Saint Emilion (margem direita).

Na taça, já pode-se ver uma evolução pelo alo alaranjado. Aromas “complexos”, prometendo evolução. Frutas maduras, especiarias, e taninos finos com uma sensação aveludada na boca.

 L’ORANGERIE DE FERRAN 2008 – Cab. Sauv./Merlot – Prod. : Beraud Sudreau em Pessac-Leógnan (margem esquerda)

Estruturado, equilibrado, muito suave na boca. Notas de especiarias, que prometem evoluir se lhe dermos tempo.

 CHATEAU PEYMORIN VILLEGEORGE 2009 Cru Bourgeois – Cab. Sauv./Merlot Prod.: Marie-Laure Lurton no Haut-Médoc (margem esquerda)

Super equilibrado, macio, com ótimo corpo. Aromas que vão evoluindo com o tempo na taça e que se confirmam na boca. Esse foi o meu preferido. Para apreciar sozinho, mas com uma carne com molho denso deve ficar ótimo!

 CHATEAU DE VIAUD-LALANDE 2009 –Merlot/Cab. Sauv. – Prod.: Gabart Laval em Lalande de Pomerol (margem direita)

Disseram que 2009 foi um bom ano em Bordeaux. Aqui podemos confirmar isso! Assim como o anterior, só que os aromas eram mais frutados e deixou uma sensação mais alcoólica na boca. Acho que estava pedindo mais tempo para degustá-lo. É…….como sempre digo: os vinhos falam e as vezes dão uma bronca na gente!

Mais um agradável encontro que só mostrou que regras no vinho não existem. Que mesmo a Merlot sendo a principal uva da margem direita, foram os vinhos desta região que apresentaram maior estrutura mostrando que a mão do enólogo faz muita diferença. Salute e kanimambo

Borbulhas na Confraria Saca Rolhas por Raquel Santos

       A Confraria Saca Rolha se encontra mensalmente na Vino & Sapore para degustar e descobrir novos sabores assim como, vez ou outra, rever alguns que deixaram saudades. Uma das participantes é a amiga Raquel Santos, formada sommelier pela escola da competente e mui respeitada Alexandra Corvo, que convidei para ser nossa porta voz e compartilhar com os amigos as experiências sensoriais desses encontros. Este é o primeiro de seus posts num espaço que espero venha a ser mais regular e vire uma coluna muito em breve. Seguem suas impressões sobre nossa reunião “borbulhante” do mês passado.

 Era uma segunda feira de tempo fechado e chuvoso, mas a noite prometia. Na agenda cintilava mais um encontro da Confraria  Saca Rolhas. O tema não podia ser mais animador, espumantes! Quem não se entusiasma diante dessa possibilidade? Confesso que a oportunidade de comparar vinhos que possam parecer equivalentes, ejam pela mesma casta, mesma região ou mesmo método de vinificação me atiçam a curiosidade. É a maneira mais eficiente de  perceber como cada vinho é único, tem vida própria, como  pessoas…

Com os espumantes, eu diria que esse encontro envolve também um certo “glamour”. Quando olhamos a garrafa, já podemos ver que trata-se de um vinho em traje de gala. Na taça, os diferentes tons de dourado, com as borbulhas fazendo aquele som frizzzzz…….temos a certeza que chegamos à festa!  Nosso anfitrião, João Filipe, já havia enviado à todos um e-mail para confirmação da presença com alguns toques do que seria degustado (só para ficarmos sem chance de recusa…rs..rs..) e manter o alto nível de expectativa. Chegando lá, garrafas no gelo e taças à mesa!

Espumantes

Depois de uma prévia apresentação, confesso que a escolha dos vinhos  superou todas as minhas expectativas! Eram oito espumantes, sendo sete safrados! Foi meu primeiro contato com tantos vinhos desse nível ao mesmo tempo. Enfim, começamos os trabalhos com um Cava da região do Penedés:

            1. CAVA (NU) Reserva Brut –  feito pelo método tradicional pela Bodegas Maset – Espanha . Nariz cítrico com alguns toques florais. Na boca bem seco, pérlage fina com acidez e álcool presentes, porém suaves e equilibrados. No final revela os aromas de fermento, típicos do método tradicional/champenoise.

Uvas: Xerel-lo, Macabeo e Parellada.

Para ser apreciado numa tarde de verão, em momentos descontraidos, pelo frescor que proporciona. Preço ao redor de R$ 65,00

            2. HERDADE DO PERDIGÃO Bruto 2009– Espumante Brut  feito pelo método clássico (tradicional) – Portugal/Alentejo. Aromas frescos, marinhos e minerais. Na boca boa pérlage, maçãs em compota, boa acidez e final harmonioso.

Castas regionais: Antão Vaz e Arinto. Preço ao redor dos R$ 100 a 110,0

          3. COLINAS BRUT NATURE -2008– Portugal/Bairrada. Feito com as tradicionais castas para elaboração de espumantes ( Chardonnay e Pinot Noir) onde se agrega Arinto para aporte de maior frescor e vivacidade. Aromas tímidos e muito suave na boca. Boa pérlage e acidez “seca”. Preço por volta dos R$ 95,00.

Dentre esses dois espumantes portugueses, achei muito interessante o primeiro (Herdade do Perdigão), talvez por expressar muito bem a tipicidade da região do Alentejo que tem influência dos ventos vindos do Atlântico.

Continuando a nossa sequência, era chegada a hora dos tão bem falados Espumantes Brasileiros! Não é de hoje que se ouve falar que a vocação do terroir do Rio Grande do Sul tende cada vez mais para a produção desse vinho.

          4. CAVE GEISSE TERROIR ROSÉ -2008– Brasil/Pinto Bandeira. Método tradicional, aromas expressivos de frutas vermelhas e cítricos. Na boca muita pérlage (enche a boca). Acidez e álcool equilibrados e final frutado de morango e framboesa. Muito gastronômico e festivo! 100% Pinot Noir. Preço ao redor de R$ 120,00.

         5. ÓRUS ROSÉ PAS DOSÉ -2009- Brasil/Garibaldi – Produzido pelo enólogo Adolfo Lona, pelo método tradicional, com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Merlot, não leva licor de expedição (extra brut). Tem 12 meses de contato com as leveduras e outros 12 meses de descanso na garrafa. A cor em taça é bem interessante! Tons acobreados e alaranjados. Aromas suaves com complexidade, lembrando frutas secas e fermentos lácteos. Na boca é elegante e refrescante, com final floral, frutas brancas (maçãs/peras), evoluindo para notas amendoadas. Para ser apreciado com tempo. Das 578 garrafas produzidas, provamos a de nº 371. Preço por volta dos R$ 120,00

Dois produtores de peso: Mário Geisse e Adolfo Lona. Todo conhecimento e tecnologia aliado a matéria prima que encontraram por aqui, além de muita perseverança em acreditar que seria possível sim, produzir vinhos de altíssima qualidade em terras brasileiras resultaram nesses dois maravilhosos exemplares! Orgulho!

          6. FERRARI PERLÉ BRUT – 2004 – Itália/Trento. Espumante Blanc de Blanc (100% Chardonnay) , tem 5 anos de autólise ( contato c/ as leveduras ) , o que lhe confere uma grande complexidade de aromas e sabor. Aromas potentes de pão doce, creme patissier, frutas e flores brancas. Acidez, alcool, pérlage presentes e equilibrados. Final longo, mantendo toda a sua intensidade por bom tempo. Preço: R$ 198,00

       7. LOUISE BRISON – 2004 – França/Champagne. Elaborado com 50% Chardonnay e 50% Pinot Noir, por um pequeno produtor de apenas 13 hectares. Adepto da política da viticultura sustentável e que consegue manter a tradição dentro da modernidade. Muito elegante e pérlage intensa. No nariz lembra fermento de pão, frutas brancas e um floral suave de campo. Em boca os aromas se mantem presentes, compondo com sabores delicados e final longo. Preço ao redor dos R$ 200,00.

Impossível  comparar esses dois espumantes de altíssima qualidade! Seria como comparar um italiano/a e um/a frances/a. Eles tem a mesma idade, mas o italiano é falante e gesticula muito as mãos. Demonstra inteligência, sofisticação e não faz questão nenhuma de esconder suas qualidades. Sua vibração é contagiante e todos querem ficar ao seu lado. Já o francês, demonstra que tem também muitas qualidades. Porém apresenta-as com sutileza e mais finesse. Vai se revelando aos poucos, o que o torna muito instigante e misterioso. Ele atrai pela curiosidade de desvendá-lo. Difícil escolher entre um ou outro! Se puder fique com os dois…..rs..rs…

        8. CUVÉE EDMOND BARNAUT GRAND CRU  BRUT – 2006 – França/Champagne. Corte tradicional de Champagne (40% Chardonnay, 40% Pinot Noir e 20% Pinot Meunier), é um dos únicos 17 produtores que recebe a classificação ” Grand Crú” e também o único nesta seleção que levou a uva Pinot Meunier no blend. Na taça apresenta uma cor palha dourada com intensa pérlage, remetendo imediatamente ao clima festivo de grandes comemorações! Aromas sutis de brioches, flores e frutas. Na boca é intenso e ao mesmo tempo macio, pela quantidade de borbulhas finíssimas e delicadas. Boa acidez com um toque de mineralidade. Muito fresco, elegante, equilibrado e gastronômico. Final longo, demonstrando potencial para evoluir ainda mais! Preço: R$ 240,00

Encerramos com ” chave de ouro”! Um grande Champagne, para uma grande noite!

         Foi uma oportunidade única que mesmo numa situação de análise dos vinhos em que nos encontrávamos, (confraria) que é sempre diferente de quando estamos bebendo, comendo e conversando por puro deleite, fomos levado para uma viagem onde pudemos conhecer 8 tipos de espumantes, sendo 7 safrados ( 2004, 2006, 2008, 2009 ), 1 espanhol, 2 portugueses, 2 brasileiros, 1 italiano e 2 franceses. E o melhor foi que “o deleite” que falei acima, não ficou fora da viagem! Ainda tivemos comidinhas para fazer um contraponto de sabores entre um vinho e outro. Além de muita conversa, risadas, enfim………um clima alto astral que só as borbulhas dos espumantes podem proporcionar. Afinal, acho que é exatamente isso que as pessoas procuram quando pensam em espumantes. E esses mostraram a que vieram!

Fui dormir feliz e mesmo na cama, ainda podia sentir as famosas estrelas no céu da boca!