O que são esses Desafios de Vinho e porquê da existência deles? Na minha coluna no Jornal Planeta Morumbi (já falecido) e posteriormente aqui no blog, uma dúvida sempre pairava em minha cabeça, como os vinhos se comportam para nós seguidores de Baco se omitirmos rótulo, safra, origem desse vinho? Foi dessa duvida que nasceram os Desafios de Vinhos às cegas que posteriormente vim a estender, de forma algo mais didática, nas confrarias que administro e que recomendo a todas.
Como implementar? Encontrei diversos parceiros com espaço e que ao final serviam um prato (pago pelos participantes), eu entrava com os vinhos, em parceria com os importadores e produtores, e taças. Quis sempre executar esses Desafios com uma mescla de experts e “simples” enófilos chegados nestes caldos e muito dos resultados foram enorme surpresas. Entre a turma presente a estes encontros, os enófilos José Roberto Pedreira, Dr. Luis Fernando Leite de Barros e Fábio Gimenes / os blogueiros Álvaro Galvão (Divino Guia), Daniel Perches (Vinhos de Corte), Alexandre Frias (Diario de Baco), Cristiano Orlandi (Vivendo Vinhos), Evandro Silva e Francisco Stredel (Confraria 2 Panas), Claudio Werneck (Le Vin au Blog) / os lojistas e profundos conhecedores Simon Knittel (Kylix) e Emilio Santoro (Portal dos Vinhos) / o restauranteur Ralf Schaffa / a Denise Cavalcante na época assessora de imprensa e amiga, convidados eventuais como os experts Eduardo Milan, José Luiz Pagliari e Breno Raigorodski entre outros perfazendo sempre um grupo entre 10 a 14 participantes na banca degustadora.
Na Retrospectiva 10 Anos, um dos melhores desses Desafios foi o de Uvas Ìcones realizada nas instalações da Zahil em Setembro de 2009 em que um vinho VENEZUELANO surpreendeu! Este post copio abaixo, porém ao final dou uma série de links para quem quiser explorar outros desses momentos e ver algumas das gratas surpresas encontradas.
Agora quero compartilhar a experiência, comentando um pouco sobre os vinhos conforme a ordem em que foram servidos, lembrando que notas e comentários são a média e coletânea do que colhi nas planinhas de degustação há época (Set/2009) e os preços, óbviamente, não são mais válidos. Ao final listo o vinho preferido de cada degustador e a nota dada por ele. Foi uma tremenda experiência sensorial em função da diversidade de uvas representando cada país e um intruso!
Barbera Le Orme 2006 de Michele Chiarlo (Zahil) representando a Itália, com 88 pontos da Wine Spectator, é um vinho da região de Asti mostrando bem sua tipicidade com uma cor rubi, brilhante com bastante fruta vermelha ao nariz. Na boca é macio, sedoso e equilibrado, rico com um final muito fresco pedindo comida. Um vinho gastronômico, mas versátil que também se toma muito bem sozinho ou acompanhado de um bom prato de queijos e frios, sendo fácil de agradar desde os mais neófitos dos enófilos até aos mais tarimbados. Muita elegância num vinho que costumo denominar como amistoso e confirmou minha opinião anterior. Obteve a média de 85,73 pontos e custa R$79,00.
Touriga-Nacional Reserva 2005 da Quinta Mendes Pereira (Malbec do Brasil) representando Portugal, recebeu 16,5/20 pontos da Revista de Vinhos portuguesa, tendo-se mostrado á altura das expectativas. De nariz intenso, fruta confeitada e algo balsâmico com sutis nuances florais . Na boca apresentou-se com taninos firmes porém finos, harmônico, saboroso, complexo, acidez no ponto mostrando-se também bastante gastronômico (arroz de pato?) com um final de boa persistência. Um belo vinho que alcançou a pontuação média de 86,36 e custará, assim que chegar, por volta de R$90,00. (Importador mudou)
Zinfandel Pezzy King 2005 (Wine Lover’s) o competidor mais difícil de conseguir já que quem tinha não quis participar e quem queria não tinha o rótulo disponível. Ao falar com a Giselda, por indicação do amigo Álvaro, no entanto, a coisa mudou de figura. Não são muito os rótulos disponíveis no Brasil e, consequentemente, não são sabores a que estejamos acostumados. Este possuía uma paleta olfativa muito intensa e convidativa onde se destacavam toques de licor de cereja, fruta em compota e amoras. Na boca segue intenso, de bom volume de boca, taninos maduros e sedosos, harmônico com um final algo adocicado com coco e chocolate perfeitamente balanceado por uma acidez correta que deixa um retrogosto de quero mais. Belo Vinho que obteve a média de 88,91 e custa R$110,00. Tem uma história de que cliente VIP tem 20% de desconto, então vale conferir no site deles. (hoje tenho na Vino & Sapore safra 2009)
Tempranillo Sierra Cantabria Crianza 2004 (Peninsula) foi o desafiante espanhol que veio com um senhor retrospecto, o de ter obtido 90 pontos da Wine Spectator e ficando entre os top 100 de 2008 dessa conceituada revista. Acho que os 40 minutos de decantação foram pouco para este renomado vinho que se apresentou fechado, nariz tímido em que aparecem aromas de fruta vermelha fresca (ameixa) e algum tostado. Na boca segue fechado, algo austero, taninos ainda jovens e firmes ‘pegando” um pouco, acidez muito boa que convida a comer e pede um prato com “sustança”. Final de boca mostra um certo desiquilibrio, coisa que um tempo mais em garrafa, ou o dobro do tempo em decanter, devem harmonizar mostrando todo o potencial do caldo. Obteve uma média de 83,41 pontos e custa ao redor de R$109,00. Um vinho que necessita de uma segunda visita!
Carmenére Ochotierras Gran Reserva 2005 (Brasart), o representante Chileno desta cepa que possue amantes e ferrenhos opositores. Eu não sou fã, mas gosto de alguns rótulos, entre eles este. Vinho pronto não devendo melhorar mais do que já está. Nariz balsâmico com nuances vegetais e alguma especiaria. No palato apresenta-se redondo, macio, equilibrado com taninos sedosos, boa acidez e estrutura mostrando-se muito elegante e saboroso. Obteve a média de 84,68 pontos e custa em torno de R$90,00. (importador fechou)
Pinotage Morkell PK 2004 (D’Olivino), o desafiante sul africano desta cepa que também é pouco conhecida por aqui com muita coisa bastante rústica e barata (existem exceções) e caldos como este, com muita qualidade, um vinho que enobrece a casta. Classificado por alguns membros da banca como, misterioso e intrigante, mostra no olfato aromas complexos em que aparecem com maior destaque cacau e frutas secas, com boa evolução em taça. Na boca é harmônico, boa estrutura, denso e rico de sabores com um final muito agradável com toques de especiarias. Vinho para tomar com calma e mais uma boa participação dos vinhos desta importadora. Obteve a média de 87,73 pontos e custa ao redor de R$120,00. (Importador fechou)
Pomar Reserva 2006, o nosso vinho surpresa da noite, e que surpresa! Da Venezuela, Bodegas Pomar, região de Lara a 480mts de altitude vem este saboroso corte de 60% Petit Verdot, 23% Syrah e o restante de Tempranillo, um assemblage diferente e criativo que surpreendeu a todos tendo sido escolhido por um dos membros da banca, como o melhor vinho da noite. Como vinho surpresa, posso introduzir qualquer coisa no painel, então a escolha por um vinho que não fosse varietal, mas que trazia consigo uma enorme dose de exotismo. Por ser um corte foi fácilmente identificado pela maioria, porém a sua origem deixou a todos perplexos. Fruta madura, ervas e alguma especiaria compõem uma paleta olfativa muito agradável que convida levar a taça à boca onde se mostra muito equilibrado, elegante, complexo com boa evolução em taça, taninos aveludados e muito gostoso. Um conjunto sem arestas que obteve o reconhecimento de quase todos, houve uma única nota mais baixa, que resultou numa média de 86,45 pontos e não está disponível para venda.
Pinot Noir J. Cacheux Bourgogne Les Champs D’Argent 2006 (Decanter), nosso desafiante francês e talvez o vinho mais fácil de identificar pois já no exame visual se mostrava com toda a sua tipicidade com uma cor rubi clara, brilhante, quase clarete. Nos aromas muita sutileza com a presença de frutos do bosque como morangos e framboesas assim como leves nuances florais. Na boca, taninos finos e sedosos ainda bem presentes, rico e complexo mostrando nuances de salumeria, um vinho sedutor como são a maioria dos bons Pinots, em especial os da Bourgogne. Obteve a média de 86,45 pontos e custa ao redor de R$119,00.
Shiraz Bridgewater Mill de Adelaide Hills 2005 (Wine Society), o representante da Austrália onde essa cepa virou rainha. De boa tipicidade, nariz discreto mostrando alguma fruta vermelha e especiarias. Na boca aparece uma madeira mais presente, porém sem subjugar o caldo, e álcool um pouco saliente sem ofuscar um conjunto muito agradável, de bom corpo, taninos presentes, aveludado e macio, acidez moderada, elegante com um final bem saboroso que satisfaz e nos faz pedir mais. Obteve 86,91 pontos e custa ao redor de R$87,00. (Importador fechou)
Malbec Rutini 2006 (Zahil), o nobre desafiante desta cepa que já virou sinônimo de Argentina, mesmo sendo francesa (como a maioria), mas que vem crescendo também no Chile e até aqui no Brasil já começam a aparecer alguns exemplares. Rubi violáceo, bem típico da casta, apresenta um perfil aromático composto de frutas escuras, algo vegetal e nuances florais que despistaram muitos da banca. De boa estrutura, no palato é suave, com taninos finos e sedosos, elegante, equilibrado com um final muito agradável e levemente frutado mostrando boa persistência. Um Malbec algo diferenciado que obteve 85,59 pontos e custa R$119,00.
Merlot Valduga Storia 2005 (Portal dos Vinhos), uma cepa que já se tornou símbolo da Serra Gaúcha. Eu que adoro este vinho, não o dentifiquei em função de uma intensidade aromática muito além do que tinha experimentado em vezes anteriores. A forte presença de café tostado, moka, que impacta a primeira “fungada” mostra a forte presença de madeira e a necessidade de um período maior de decantação para que o vinho encontre seu melhor equilíbrio olfativo quando aparece um pouco mais os aromas frutados com nuances florais. Na boca, alguma fruta negra, leve toque químico, untuoso, rico e complexo com um final algo tânico com retrogosto que nos lembra caramelo e muito boa persistência. Obteve uma média de 88,14 pontos e custa algo ao redor de R$110, porém devido à raridade, já se houve falar de R$130 e mais!
Tannat Abraxas 2002 (Dominio Cassis), rótulo premium do produtor, do qual somente 600 garrafas foram produzidas numa região diferente das tradionais áreas produtivas no Uruguai, em Rocha. Mais um dos vinhos que mostraram bem o que são, muita tipicidade num tannat de prima que ainda se apresenta fechado com taninos ainda bem presentes e firmes, porém sem qualquer agressividade, mostrando que ainda tem muito anos de vida e avolução pela frente. Nos aromas, algo herbáceo com nuances frutadas ainda tímidas que evoluem na taça. Na taça é uma explosão de sabores, rico e complexo com alguma madeira ainda por integrar, mas sutil, dando suporte a um conjunto gordo e harmonioso que enche a boca de prazer e ainda promete mais para daqui a alguns anos. As garrafas rareiam por aí, eu ainda tenho uma, e acredito que em 2012 estaremos perante um verdadeiro néctar. Obteve 86,77 pontos e custa por volta de R$105,00. (Hoje o 2011 tem na Vino & Sapore)
Apurados os resultados, o grande campeão da noite, o Melhor Vinho foi o Pezzy King Zinfandel (atropelando por fora). Pelos pontos obtidos e bom preço, a Melhor Relação Custo x Beneficio ficou com o Barbera D’Asti Le Orme e o vinho considerado como a Melhor Compra, o Bridgewater Mill Shiraz. Na segunda colocação no rol dos Melhores Vinhos da noite, o nosso Valduga Storia Merlot, seguido do Morkell PK Pinotage, do Bridgewater Mill Shiraz e completando o podio, o Abraxas Tannat 2002. O nosso vinho surpresa vindo da Venezuela direto para este Desafio de Vinhos na Zahil, obteve um honroso oitavo lugar entre vinhos e países produtores já consagrados mundialmente. Mas quais foram os vinhos preferidos de cada membro da banca de degustadores? Pois bem, para matar a curiosidade dos amigos, aqui está:
- Emilio Santoro – Pezzy King Zinfandel – 89 pontos
- Marcel Proença – Pezzy King Zinfandel – 93 pontos
- José Luiz Pagliari – Morkell PK Pinotage – 91 pontos
- Francisco Stredel – Pezzy King Zinfandel – 93 pontos
- Evandro Silva – Bridgewater Mill Shiraz – 90 pontos
- Ralph Shaffa – Storia Merlot – 91 pontos
- Ricardo Tomasi – Storia Merlot – 91 pontos
- Cristiano Orlandi – Rutini Malbec – 93 pontos
- Fabio Gimenes – Pomar Reserva – 92 pontos
- José Roberto Pedreira – Pezzy Kink Zinfandel – 92 pontos
- Simon Knittel – Storia Merlot – 88,5 pontos
- João Filipe Clemente – Pezzy King Zinfandel – 89 pontos
Como prometi, eis alguns links para outros interessantes Desafios de Vinho realizados:
Desafio de Vinhos Portugueses Agosto 2009
Desafio Alentejo x Douro Outubro 2009
Desafio de Bordeauxs abaixo de R$100 Julho 2009 – Surpresa com um intruso brasileiro
Desafio Decanter de vinhos Syrah Maio 2009 – um dos preferidos do Zé Roberto e Fabio Gimenes
Desafio Merlots do Mundo Junho 2009 – o Brasil dando as cartas
Desafio Luso x Brasileiro de Espumantes, em Lisboa Fevereiro de 2010 – memorável momento compartilhado com colegas blogueiros portugueses Pingas no Copo e Copo de 3! Saudades dos amigos.
Desafio de Petit Verdot Maio 2010
Blends do Novo Mundo que Cabem no Bolso Junho 2009 – vinhos do novo mundo até R$85,00 e mais uma vez aparecendo a força brasileira.
Divirta-se! kanimambo pela visita e um ótimo fim de semana. Segunda tem mais, fui!
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