Na Minha taça

Montes Ermos Códega de Larinho Grande Reserva

Que bela surpresa e um tremendo de um companheiro para seu Bacalhau santo! rs A Códega de Larinho é uma casta pouco conhecida por nós aqui no Brasil, mas isso não é de se estranhar já que acredito que poucos a conheçam também em Portugal. Afinal, a saudosa terrinha tem mais de 250 uvas autóctones então volta e meia acabamos por nos deparar com algo “novo” na taça.

A casta é oriunda do nordeste português em especial no Douro (não confundir com Côdega que na verdade é Siria ou Roupeiro) e em Trás-os-Montes onde costuma participar em blends brancos com a Gouveio e Viosinho sendo pouco comum aparecer em varietal. Boa intensidade aromática, frutos tropicais e floral, é de amadurecimento médio, cachos densos e normalmente apresenta pouca acidez, características estas bem presentes neste vinho.

Monte Ermos Códega de Larinho Grande Reserva 2013, um vinho que na sua maturidade de seis anos, perdeu sua cor citrina adquirindo uma capa amarelo dourado, bonita e brilhante. Monovarietal, já que como sabemos um vinho varietal pode possuir em sua elaboração até 15% de outras castas, o vinho é elaborado com 100% de Códega de Larinho do Concelho de Freixo de Espada à Cinta no Douro superior, pela adega cooperativa do mesmo nome. Toques florais e laranja compotada, sutis notas amadeiradas e lácticas compõem um perfil aromático de boa intensidade. Na boca mostra untuosa textura, bom corpo, acidez balanceada, frutos tropicais maduros, leve abaunilhado e uma dose de mineralidade no final de boca com boa persistência. Muito bom vinho que certamente irá harmonizar com Bacalhau com Natas e receitas de pratos de bacalhau de maior intensidade e estrutura. Preço entre R$130 a 140,00 Reais em São Paulo.

Kanimambo pela visita, saúde e uma ótima Páscoa para todos, volto depois compartilhando mais novidades. Fui!

 

 

Tem Vinhos Que me Deixam Triste!

Quando acabam, vamos deixar claro!! rs Ontem viajei e como já dizia Sócrates, o filósofo grego não o jogador, “só sei que nada sei”. Nesta vinosfera desconfie de quem diz que sabe tudo porque estamos sempre nos deparando com coisas novas na taça sejam elas; uma casta desconhecida, um processo de vinificação, uma origem desconhecida ou até novidades nos vinhedos porque o mundo não pára, hora desenterrando coisas antigas desconhecidas hora fazendo novas descobertas resultado de novos experimentos.

Três amigos, só isso já dá um boost em qualquer momento, em volta de pasta ao pesto e vinho! Depois do vinho que acompanhou a pasta, abrimos uma garrafa da qual tão rapidamente não esquecerei, um tremendo néctar chileno que ás cegas diria ser francês, O Bodega RE Doble Garnacha / Carignan 2015. Bem, mas e daí? O corte não tem nada de diferente, não não tem, a não ser que olhemos suas origens! Um blend chileno formado na parreira e algo que diferencia os gênios da criatividade enológica dos outros, Pablo Morandé extrapolou com este blend de parreira! É, isso mesmo, um blend que se inicia na própria planta.

Já tive a oportunidade de provar outros ótimos vinhos deles, mas este realmente me tirou o fôlego e ai descobri o inusitado, as duas castas são enxertadas num cavalo (raiz) de uva País, naturalmente resistente à Phyloxera, um blend na parreira, não sei se existe no mundo processo igual, para mim é inusitado. A planta gera cachos de uvas de ambas as castas enxertadas que são colhidas e vinificadas junto numa co-fermentação com leveduras selvagens, show, o resultado é um vinho absolutamente sedutor, que você pede para não terminar nunca! Tentei achar uma ficha técnica na internet, o vinho não consta do site do produtor, e o pouco que consegui foi num site americano em que consta que a uvas vêm do Maule (Bodega em Casablanca) é fermentado em barricas e matura por 3 anos antes de ser engarrafado, vindo de uma região de solo granítico o que, creio, responde muito pela boa acidez e frescor que o vinho nos entrega.

Nariz cativante de frutos vermelhos frescos, fruta abundante na boca com uma acidez marcante, educados 13% de teor alcoólico, médio corpo, longa persistência deixando na boca um gostinho de quero mais, madrecita, bom demais!! Tem comentários na rede sobre uma suposta rusticidade dos taninos, não consegui encontrar isto, muito pelo contrário os encontrei REfinados e sedosos, muito bem feito, perfeitamente equilibrado e sedutor. Gosta de vinhos power, de grande extração? Bem, nesse caso este não é seu vinho, aqui a finesse e elegância imperam.

Aparentemente este rótulo não vem ao Brasil, então se estiver lá por terras chilenas “no se olvide” compre umas duas ou três garrafas porque uma é muito pouco, VIU Fábio, e pode me trazer uma de presente só pela dica! rs Preço por lá anda na casa dos 20 a 25 Dólares, vale e muito, se pudesse compraria uma caixa, porque é puro prazer hedonístico!

Kanimambo pela visita, saúde, boa semana e bons vinhos

Três Vinhos Que Fazem a Minha Cabeça

Recentemente num gostoso, sempre, Domingo em família aqui em casa tive o privilégio de abrir estes três vinhos que fazem a minha cabeça.

Vallontano L H Zanini Extra Brut safrado, neste caso um 2015. Certamente um dos melhores espumantes nacionais que não faz feio, como a maioria por sinal, perante a concorrência estrangeira nesta faixa de preços. Limitado a pouco mais de 4 mil garrafas e só algumas poucas safras (08,10,11,12,13,15 e 16) no mercado até agora, é um corte clássico de Chardonnay (75%) com Pinot Noir elaborado pelo método tradicional/champenoise. Dois anos de autólise (contato com as leveduras) antes do degorgement (colocação da rolha). Incrível perlage e espuma abundante formam um bonito colar na taça, aromas de brioche compõem com frutos cítricos uma sedutora combinação que nos fazem querer levar a taça à boca sem muita delonga! rs Na boca uma textura deliciosa, cítrico com toque de frutas brancas, as borbulhas intensas “penicam” o céu da boca, como diriam meus colegas e amigos lusos, um verdadeiro gozo que perdura na boca e na memória! Preço na casa das 100 pratas em Sampa, vale cada centavo.

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc já é um habitué por aqui e na minha mesa, sempre que posso peço para alguém me trazer umas garrafas. Clicando aqui dá para ler alguns comentários já realizados, mas este 2017 estava diferente, mais peso e estrutura, álcool bem mais alto do que os primeiros tomados que variavam entre 9,5 a 11% e este, ao que me lembre, bateu os 12%. Continua ótimo, imagino que tenha sido algo a ver com a safra, porém prefiro os de teor alcoólico mais baixo, acho que tem mais a ver com a proposta.

Cara Sur Criolla é mais um daqueles que sempre que posso encomendo com amigos. Não provei até agora qualquer outro vinho elaborado com esta uva que me desse tanto prazer de tomar e é um porto seguro. Também já o comentei diversas vezes então clique aqui para ler mais, porém esta uva está presente toda a costa leste das américas sendo conhecida como Criolla Grande na Argentina, leva o nome de País (Criolla chica) no Chile de onde ainda não consegui gostar de nenhum vinho provado e Mission que é seu nome original trazido pelos colonizadores espanhóis e também encontrada no México e região do Texas nos Estados Unidos. Este Cara Sur é um fetiche vínico para mim, rs, gosto demais. Não é um grande vinho, mas me dá prazer como poucos.

É isso por hoje, achou compra, qualquer um dos três, valem muito a pena e quando lembro deles é que me dou conta do porquê ando por esta vinosfera. Saúde e kanimambo pela visita.

Um Francês no Altiplano Catarinense!

Mais um vinho brasileiro que me impressiona e mais uma grata surpresa na taça, o Elephant Rouge.

Ah, mas esse vinho existe faz tempo podem dizer alguns e sim, existe o nome e o projeto que é do amigo Jean Claude Cara, porém mudou tudo, menos o nome. Há tempos o Jean Claude se aproximou da Larentis em Bento Gonçalves e em parceria produziu um vinho em 2008 e outro em 2011 que levavam esse nome em função de seu restaurante, destino principal do vinho. O primeiro foi elaborado tendo como protagonista a Cabernet Sauvignon associa à merlot e um tico de Pinotage e o segundo seguiu tendo como base a Cabernet Sauvignon porém a Alicante Bouschet  tomou o lugar da Pinotage. Conheci o 2011 e tenho que ser sincero, não fez minha cabeça mesmo sendo um vinho que se deu bem no mercado. Bom, mas a meu ver a fruta muito madura, confitada com taninos algo doces não me entusiasmou, achei um vinho muito tradicional brasileiro, mas que tem seus seguidores. O restaurante foi-se, o Jean Claude foi para Beaune/Borgonha (com períodos por aqui), mas o nome do vinho ficou.

Ao longo do tempo conheci melhor o perfil vínico do Jean Claude, de seu trabalho na Borgonha e achei que este Elephant Rouge 2014 sim, é a cara dele e o novo terroir ajudou muito. Desta feita o parceiro escolhido foi a Villaggio Grando com vinhedos a 1300 metros de altitude no altiplano catarinense em Água Doce, poucos quilômetros de Caçador. Desta feita a coluna dorsal do vinho é a Merlot (70%) associada à Cabernet Sauvignon e 20% de uvas que são o segredo dele e que aguçaram minha curiosidade. Cabernet Franc, Pinot e Marselan me veem à mente como possíveis coadjuvantes nesse blend, será?? Se o Jean fosse João, eu acreditaria em todas essas e mais ainda ou Petit Verdot ou Alicante Bouschet, mas como é Jean … sei lá! rs

Aquela elegância, finesse, equilíbrio e sofisticação que tanto marcam os bons vinhos da Borgonha estão claramente presentes neste vinho, é a marca que Jean Claude quis trazer a este vinho e o terroir da Villaggio Grando ajudou. A fruta presente é fresca, teor alcoólico com  educados 12,5%, a acidez pede a segunda taça e comida, um vinho que foi se abrindo na taça com o tempo e com isso novas sensações, meia hora de aeração é certamente algo que eu recomendaria neste momento de sua vida ou, se não tiver pressa, deixa ir abrindo com calma na segunda e terceira taça. Frutos silvestres frescos, corpo médio, paleta olfativa bem frutada e viva com sutis notas terrosas e algo tostadas, taninos finos e aveludados, final de boca algo apimentado de média persistência, rico, um vinho que me deu enorme prazer tomar e certamente abrirei outras pois mostrou estrutura com potencial de evolução.

De acordo com o Jean é vinho para dez  a quinze anos de guarda e guardarei algumas para checar isso. Não mais dez anos, mas uma a cada 2 por mais seis acho que rola porque depois dos 70 não vou é guardar mais nada! rs O vinho passou por 24 meses de barrica, mas pela sutileza acredito que devam ter sido de segundo ou terceiro uso, com eventual pequeno porcentual de novas, madeira bem trabalhada esta.

Tomado com amigos com quem gosto de fazer o teste de percepção de valor, pessoal chutou entre 90 a 110 pratas. Bem perto da realidade que é entre 100 a 110 Reais em São Paulo e acho que vale.

Bem, por hoje é só, boa semana e bons vinhos. Se não tiver na adega passa pela Vino & Sapore que sempre tenho boas garrafas por onde escolher e com preços camaradas. Saúde

Que Belo Viognier!

Há tempos não tomava um Viognier e este me surpreendeu muito positivamente ou melhor, confirmou o que já sabia dele. O conheço de velhos carnavais, mas é safra 2014 quis ver como estava e uau, estava bom demais mostrando que o vinho evolui muito bem em garrafa. Quem estava por perto acabou levando o estoque, abri na Vino & Sapore, e agora chega nova safra, acho que 2016.

Tinha-me esquecido como esta cepa é agradável e como este vinho é bom de boca! A Viognier é originária do norte do Rhône, Condrieu e Cote-Rotie, mas se espalhou pelo Languedoc de onde vem este vinho. Por característica da uva os vinhos costumam ser muito aromáticos, possuir teor alcoólico mais alto, acidez menos acentuada e normalmente apresentam uma certa untuosidade.

Tudo isso está presente neste Paul Mas Viognier 2014 de produção orgânica que encanta nos aromas com um certo floral e fruta amarela, pêssego e damasco. A cor, costumeiramente mais clara, se apresentava de amarelo brilhante mostrando sua maturidade, no palato estava muito balanceado, ótima textura de meio de boca, bom volume, os frutos amarelos se repetem aqui mas ao final aparece um toque cítrico com muito boa persistência mostrando-se muito mais jovem do que a cor indicava. A passagem de 15% do vinho por barrica francesa de primeiro uso por três meses, ajuda a dar-lhe algo mais de corpo e complexidade sem lhe tirar o frescor. Um vinho para encarar queijos, pratos do mar, mas em função da idade achei que encararia bem carnes brancas e comida thai/indiana. Se você não conhece a Viognier e aprecia vinhos brancos, eis aqui uma ótima opção na casa das 120/130 pratas, eu gostei muito e acho que o vou tornar mais assíduo na minha taça.

Andei provando Pinot Grigio e Arneis, mas depois falo desses vinhos, os brancos andam tomando conta de minha taça! rs Kanimambo pela visita, saúde

 

Pinot Bom de Preço e Bom de Taça!

Pinot Noir bom abaixo das 60 pratas não é fácil de encontrar em terras brasilis seja lá de que origem for. Ou é ralo demais ou extraído demais difícil encontrar vinhos equilibrados. Normalmente quando é barato não possui qualquer característica da casta e já me perguntei algumas vezes o que diabo colocam na garrafa, porque Pinot tinha a certeza que não era. Gostava bastante do Maycas Sumaq que era fora da curva, mas não está vindo mais para o Brasil ou mudou de importador não sei ao certo, só sei que fiquei sem! rs Bom e abaixo das 60 pratas, valia muito a pena e tinha que encontrar um substituto à altura, porque barato e ruim tem de montão.

Depois de um bom período sem garimpar nada que valesse a pena, eis que me chega o Nancul Elegant Reserva Pinot Noir que veio atender a meus anseios. Os vinhos da Nancul têm como seu ponto forte uma boa relação Qualidade x Preço e não tem nenhum que eu tenha provado que negasse fogo dentro de sua faixa de preço, este não nega a marca que carrega.

O produtor é Hugo Casanova, uma vinícola do Maule que produz diversas marcas e está presente em todas as faixas de preço com vinhos sempre sempre bem feitos e agradáveis, especialmente nas gamas de entrada. Este Pinot segue essa receita, sendo muito balanceado sem extrações excessivas para que as características de cor e taninos fossem mantidos. Apenas 60% do vinho passa por barricas francesas, que imagino sejam de segundo ou terceiro uso, por cerca de 4 meses o resto em tanques de cimento para preservar a fruta. Não pretende ser um grande vinho, mas é “cumplidor” nesta faixa de preços, fruta abundante, paleta aromática viva, algum floral, mas é na boca que ele mostra ao que veio. Muito agradável de tomar, com taninos sedosos bem típicos da casta, algo de framboesa/cereja madura, boa textura com rico meio de boca, leve sem ser ralo, finalizando com um certo frescor e alguma especiaria.

Gostei, acompanhou muito bem o risoto de calabresa e chouriço português com um toque de pimenta biquinho e finalizado com parmesão ralado que improvisei neste último Domingo. Era para ser de funghi, mas as formigas chegaram antes de mim! rs Enfim, deu certo e certamente será um vinho que frequentará mais minha taça e minha mesa. Preço na casa dos 55 a 60 Reais, aqui em São Paulo, nas boas casas do ramo e restaurantes, recomendo.

 

 

Pinot Grigio, Uma Grata Surpresa na Taça

Também conhecida como Pinot Gris na França, é uma uva acinzentada mutação da uva Pinot Noir de cor mais clara, porém da qual se fazem somente vinhos brancos. Gosta de regiões mais frias e de maior altitude terroirs onde consegue mostrar-se melhor. Entre nós, vinhos de batalha, baratos e aguados têm feito um mal danado a sua reputação, porém garimpando sempre achamos alguns rótulos bastante interessantes. Sempre gostei muito do Mandorla (hoje na casa dos 70 a 75 reais), mas vinha buscando outras opções no mercado e achei.

Na França (Alsácia) as uvas são colhidas normalmente mais tarde resultando em vinhos mais intensos, untuosos e complexos enquanto na Itália (Alto Ádige e Friulli) os vinhos tendem a apresentar maior mineralidade, acidez mais presente resultando em vinhos mais frescos com notas vegetais. Interessante numa degustação colocar um frente ao outro, algo que penso em fazer num dia desses, deve ser interessante. Quem gosta de Sauvignon Blanc certamente deverá apreciar a Pinot Grigio.

Na semana passada provei um Pinot Grigio que me agradou bastante, foi o Foffani Pinot Grigio Superiore 2015. De vinhedos orgânicos situados na região oriental do Friuli o vinho se encontra um degrau acima dos demais que costumeiramente encontramos por aqui no mercado. Está em seu auge e deve ser tomado durante este ano, acredito que passado este ano ele deve entrar num estágio de decadência perdendo o frescor que é peculiar à cepa. Passagem só em tanques de inox, mas passa uns 3 meses sur lie o que lhe aporta mais corpo e complexidade. Grama molhada com nuances cítricas compõem uma paleta de aromas de intensidade média que convida a levar a taça à boca. Na boca um frescor bem presente, notas de limão, maçã verde, corpo médio, meio de boca cativante e um final mineral de média intensidade. Um vinho muito agradável que deve se dar muito bem com os mais diversos pratos de frutos do mar grelhados e fritos num final de tarde na praia em boa companhia! rs Ceviche, sushi, salmão, as opções são muitas, vale experimentar todas!!

Um vinho que fez feliz e me deixou sorrindo o que nem sempre acontece. rs O preço em São Paulo fica aí entre R$90 a 95 pelo que pude pesquisar na net. Fim de semana chegando, boa dica para quem for para a praia. Kanimambo pela visita, saúde e tenham um ótimo fim de semana.

 

 

Trebbiano & Bacalhau?

Olha, apesar de ter ficado só nos bolinhos de bacalhau, a prova me faz concluir que, definitivamente SIM! rs Para tudo o que é fritura creio que um vinho branco de acidez impactante vai sempre muito bem e tradicionalmente minha escolha recai sobre um vinho verde.

Neste caso os bolinhos foram assados no forno, não fica tão bom nem tão “bronzeado” mas…, porém o resultado teria sido o mesmo, quiçá melhor. Quis enovar,  afinal “navegar é preciso” e eu gosto (rs), tendo gostado do resultado porque este Arenile Trebianno d’Abruzzo produzido pela Cantina Ripa Teatina, uma cooperativa de cerca de 400 viticultores, nos entrega essa acidez bem característica da casta e casou muito bem com os bolinhos.

Esta garrafa é de 2016, tendo se mostrado com uma cor algo mais dourada, nariz cítrico mas tímido, na boca médio corpo, seco, notas amendoadas, maçã verde, porém no final de boca uma “limonada” bem fresca se faz presente dando um up no conjunto, um vinho muito agradável e bem balanceado que se deu bem com os bolinhos e certamente irá bem com outras versões de pratos com bacalhau como pataniscas, Bacalhau na brasa, à Brás, à Gomes de Sá, pil-pil, ouse!

A Trebbiano disputa com a Pinot Grigio a coroa de uva branca mais plantada na Itália e está presente em mais de 80 docs. Na França é conhecida como Ugni Blanc sendo muito usada na produção de Cognac e Armagnac. Na Emilia Romagna é base do azeite balsâmico, ou seja, uma uva bastante versátil que se dá bem numa variedade de terroirs. Eu gosto dos vinhos que trazem a influência do mar Adriático e minha sugestão é buscar exemplares dessas regiões. Este está na casa dos 78 a 84 Reais no mercado de São Paulo e é um bom exemplar da casta. O mesmo produtor elabora um delicioso Pecorino sobre o qual falei aqui, prove ele também, uma dupla que vale muito a pena.

 

La Carrasca 2010, Um Grande Reserva Espanhol

Este vem de La Mancha (região central vermelha no mapa ao lado), a maior região produtora de vinhos na Espanha, e por isso bem diferente dos vinhos de Rioja e Ribera regiões que muitos de nós estamos mais acostumados a ver com denominação Grande Reserva. De La Mancha, a grande maioria dos vinhos são Jovens (sem madeira) ou Roble (permanência mínima em barrica de carvalho de 60 dias) ou Crianza (período mínimo de envelhecimento de 24 meses, dos quais pelo menos 6 em barricas de carvalho), de preços mais acessíveis e que nos últimos anos têm melhorado e muito o nível de qualidade.

Vemos poucos Gran Reservas (período mínimo de envelhecimiento é de 60 meses, dos quais ao menos 18 deverão ter sido de barricas de carvalho e em garrafa o restante do período) por aí e portanto fiquei curioso para conhecer mais e provar óbviamente! rs Afora uma exigência menor de tempo em barrica que Rioja e Ribera, aqui também a diversidade de uvas homologadas é bem maior > Bobal, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Cencibel (Tempranillo), Garnacha, Graciano, Malbec, Mencía, Merlot, Monastrell, Moravía dulce o Crujidera, Petit Verdot, Pinot Noir y Syrah e aprodutividade maior. Consequentemente, nos deparamos com melhores preços e uma maior diversidade de estilos já que os produtores estão mais livres para criar.

Este Marqués de La Carrasca Gran Reserva 2010 é elaborado pela Bodega Lozano, uma empresa familiar (desde 1853) que está já na quarta geração em atividade. Um corte de 80% Tempranillo com Cabernet Sauvignon que passou por 24 meses de barrica, parte americana e parte francesa, e o restante dos 36 meses em garrafa nas adegas antes de sair ao mercado em 2015. Tomado em conjunto com amigos, a avaliação foi bastante positiva tendo sido ressaltado que para um Gran Reserva espanhol a madeira estava muito bem trabalhada e bem integrada ao conjunto o que me leva a crer que ao menos parte desse estágio em carvalho tenha sido em barricas de segundo uso.

O vinho se mostrou bastante frutado, com algumas notas mais químicas (acetona) tanto no nariz quanto em boca, taninos muito finos e bem integrados, macio, médio corpo, com uma gostosa acidez de final de boca e boa persistência. Fácil de agradar, teor alcoólico educado (rs) de 13.5% em perfeito equilíbrio, um vinho que em São Paulo está na casa dos 110 Reais o que, para um Grande Reserva espanhol, é uma tremenda barganha que vale bem o preço, mas longe dos vinhos de grande estrutura e potência, se você gosta desse estilo este não é seu vinho. Este é um vinho para quem valoriza elegância, se você gosta então vai se dar bem com ele.

Kanimambo pela visita, saúde

Chenin Blanc com Risoto de Camarão, Brie e Limão Siciliano

Pouca gente conhece a Chenin Blanc o que é uma pena, é um vinho muito fresco e vibrante que acompanha maravilhosamente frutos do mar e peixes. Originária da região do Loire onde se produzem alguns néctares tanto secos como de sobremesa e espumantes, especialmente na AOC de Vouvray, se deu muito bem na África do Sul onde existe um pouco de tudo entre eles alguns ótimos vinhos como o deste produtor KWV o qual produz também um bom pinotage. A Chenin chegou na África do Sul com os Huguenots expulsos da França por motivos religiosos em 1580, tendo sido uma das primeiras cepas a florescer por lá onde também era conhecida como Steen.

Por muitos anos a superprodução e falta de controle nos vinhedos geraram vinhos de qualidade duvidosa, mas de uns 15 anos para cá novos investimentos, redução na produtividade dos vinhedos e tecnologia aplicada mudaram essa onda. Hoje há muitos grandes vinhos elaborados com Chenin Blanc na África do Sul e normalmente com preços mais acessíveis que os nobres do Loire. Entre eles gosto muito deste KWV Classic Collection que volta e meia habita minha taça.

Neste final de ano, noite de reveillon, preparei um jantar especial a dois, um delicioso (humildade sempre foi meu ponto forte! rs) Risoto de Camarão com Brie e Limão Siciliano que harmonizei com esse vinho de leve nuance floral, crocante, fresco, com notas cítricas bem presentes, maçã verde, ótimo meio de boca e persistente final com um toque mineral que ornou à perfeição. Está certo que a presença de minha loira, a luz de velas e mais uma passagem de ano juntos (a 42º), ajudam a tornar o momento especial, mas a harmonização atingiu seu objetivo com louvor porque, acima de qualquer coisa, ela gostou!

Explorem a Chenin Blanc sul africana, para quem gosta de vinhos brancos e desta casta, acredito que o resultado será muito positivo e eu recomendo muito esse que anda na casa dos R$129 aqui em São Paulo.

Dicas do risoto? Nada complicado. O caldo faço com os rabinhos do camarão, para acrescentar sabor, e um tablete daqueles prontos. Os camarões tempero antes com limão, tico de sal e um pouco de salsinha e deixo descansar por uma meia hora. Refogo cebola, alho e quase todo o camarão ( os maiores reservo para finalização) que ao ficar rosadinho retiro e guardo para acrescentar mais ao final para não cozinhar demais. Arroz, vinho branco e caldo, colher grande manteiga, aos poucos ir acrescentando as raspas do limão (eu também coloco um tico do suco para aumentar a acidez), quando o arroz começar a ficar no ponto acrescento os camarões e finalizo com queijo Brie para dar aquela cremosidade. Na frigideira coloco um tico de manteiga para grelhar os camarões maiores que vão na finalização do prato. É isso, facinho, facinho, mas não esqueça que pilotar o fogão esquenta, mantenha a taça do “chef” abastecida, porque taça vazia dá azar e cozinhar sem vinho não rola e aí o prato pode desandar!! rs

Saúde, kanimambo pela visita e até a próxima!