Meu Primeiro Bequignol

Já conhecia essa uva? Eu não! rs Sempre aprendendo, esta nossa vinosfera não pára de nos apresentar novidades, mesmo que de origem antiga. Novidades, antigas? Que contra senso é esse?? rs De tão esquecidas pelos produtores, passam a novidade por meio das mãos de jovens buscando na história e tradição novos sabores para nos surpreenderem, este foi mais uma grata surpresa, “Aqui Estamos Todos Locos Bequignol”.

A Bequignol é uma uva de origem francesa usada em Bordeaux até o ano de 1777. Hoje em dia existe pouco mais de  um hectare de vinhedos na França e um pouco mais de 900 na Argentina, normalmente de vinhedos antigos como neste caso, de 1940. De corpo ligeiro, dá cor e aporta acidez aos blends e quando elaborado como varietal tende a dar vinhos ligeiros, de poucos taninos, para serem tomados jovens. Também é conhecida como Red Chenin e possui uma relação parental com a Savignin da região francesa do Jura. Leva uma parcela de Buonamico (também conhecida como Sangioveto de origem italiana) que é cofermentada com a Bequignol.

A Bodega é Viñedos Niven em Mendoza, produtor que trabalha com conceito de vinhos orgânicos. Este “Estamos Todos Locos” tem fermentação semi carbônica em ovos de cimento e uma leve passagem por barricas usadas, sendo produzidas somente cerca de 1700 garrafas ano. E o vinho, que tal?

Na minha opinião um típico vinho de verão que ao ser refrescado fez com que seus taninos quase inexistentes aparecessem equilibrando o conjunto. Fruta vermelha, fresca, um vinho jovial, fresco e vibrante com ótima acidez e alguma especiaria de final de boca. Para acompanhar pratos leves, carpaccio, quibe cru, salmão, gostei bastante. Não é um blockbuster, mas é uma experiência super agradável que certamente se dará bem como companheiro da Primavera e do Verão, lembrando de o servir por volta dos 12 graus quando creio que ele mostra toda a sua vivacidade.

Apesar de ser bastante usado em blends, creio que só tem mais um produtor elaborando varietal de Bequignol, vale pesquisar outros produtores caso não encontre este e espero que tenha uma experiência tão gostosa quanto a minha, puro prazer e é para isso que o vinho existe! Saúde e Kanimambo!

Cara Sucia, Gostei!

Gostei, ponto! Aliás, gostei muito porque me deram enorme prazer tomar e me deixaram feliz. Afinal, o que é esse tal de Cara Sucia? Cara Sucia é um projeto dos irmãos Durigutti que dispensam apresentações, produtores de vinho em Lujan de Cuyo (Las Compuertas), Mendoza numa bodega inicialmente criada em 1959 e comprada pelos irmão em 2008. Na época essa bodega tinha uma capacidade para algo ao redor de 700 mil litros, mas a família já elevou essa capacidade para mais de 2 milhões. Seus vinhos “tradicionais” são altamente premiados por gente como Robert Parker, Wine Spectator, Wine & Spirits, Wine Magazine, Stephen Tanzer, Jim Atkins, James Suckling e outros ban-ban-bans da critica mundial. Aqui eles se dão ao luxo de voltar às origens com vinhos de uvas pouco conhecidas e valorizadas, em pequenas produções buscando vinhedos no leste de Mendoza, em Rivadavia, região menos midiática. Eu gostei muito do que provei e tomei, por isso estar aqui compartilhando com vocês estes dois rótulos.

Cara Sucia Cereza – mal sabia eu que esta uva existia! É uma uva criolla, dos tempos coloniais, cruzamento da Moscatel de Alejandria com a Listan Prieto. Vinhedos antigos (1940) e orgânicos, engarrafado sem filtrar nem clarear, somente 3 mil garrafas produzidas. Sem passagem por madeira, somente ovos de cimento, é um vinho que a maioria das pessoas, que como eu provou, o definiu como vibrante e divertido. Seus 13,5% de álcool são imperceptíveis, fresco que nem um branco, taninos quase inexistentes, cor brilhante cereja claro, seco, é vinho que surpreende, encanta e nos seduz. Não é Rosé, não é tinto, é um Claret! Uma experiência diferente para tomar de golão e que deixa em seu final um persistente sorriso no rosto. Já comprei algumas garrafas para minha adega pessoal.

Cara Sucia Cepas Tradicionales – mais uma viagem dos irmãos!  Bonarda, Syrah, Sangiovese, Cardinale, Beiquiñol, Barebera, Buonamico cofermentados. Vinhedos orgânicos antigos, também de 1940, leveduras autóctones, ovos de cimento, engarrafado (só 5 mil garrafas) sem filtrar nem clarificar. O conceito é o de menor interferência enólogica possível o que costuma me assustar um pouco, mas ao abrir a garrafa todos os possíveis preconceitos caem por terra. Nariz que pede para levar a taça à boca, fruta fresca, ervas, taninos sedosos e amáveis, muito boa acidez, absolutamente delicioso na boca, um vinho guloso que pede a próxima taça e acaba rapidinho. Sem protocolos, nem grandes harmonizações, é um vinho acima de tudo muito prazeroso de se tomar.

Os vinhos acabaram fazendo parte da seleção de Agosto da Frutos do Garimpo, espero que os amigos que levaram kits os curtam como eu. É isso por hoje, kanimambo pela visita e vem comigo a Santa Catarina? Saúde e nos vemos par aí nas curvas sedutoras de nossa sempre surpreendente vinosfera.

Um Torrontés Para Quem Torce o Nariz!

É, preconceito de monte com essa uva branca ícone dos hermanos argentino, parcialmente justificável pelo histórico, porém de uns dez anos para cá o perfil tem mudado muito. Por insistência da amiga Cristina Passos após ter provado, me deliciado e aprovado o vinho de Criolla elaborado pelo mesmo produtor, ontem provei este vinho. Vinho para quebrar qualquer preconceito para com esta uva e, para quem gosta, uma tremenda de uma viagem!

Vallisto Torrontés 2018, belo exemplar da uva Torrontés da altitude (1800 metros) de Cafayate (Salta) que ao sair da geladeira e às cegas nos leva a viajar por outras uvas como a Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, porém após algum tempo em taça com aumento de temperatura se mostra de forma diferente ganhando estrutura e complexidade surgindo notas florais sutis tipicas da casta. Um vinho para ser tomado não a oito graus, mas a 10 ou 12, ganhando untuosidade + complexidade e a mineralidade aflora com tudo, uma viagem de descobrimentos que recomendo.

A Torrontés, de vinhedos antigos com cerca de 60 anos, é a protagonista com 90%, o que pela legislação vigente o classifica como um varietal, porém foi adicionado um tempero extra de 6% de Viognier que certamente ajuda no corpo e textura, assim como Chardonnay que lhe aporta um pouco mais de complexidade e elegância. Frutos tropicias, ótima acidez, médio corpo, sutil floral, notas cítricas no final de boca como fizeram falta umas empanadas, mas um ceviche também ia bem!! rs Sur lie de 6 meses, 40% do vinho estagia por seis meses em barricas de carvalho usadas e o restante permanece em tanque até que seja feito o blend final para engarrafamento.

Gostei muito, equilíbrio perfeito, sem arestas nem excessos, marcante, um vinho que certamente encontrará abrigo na minha adega e frequentará minha taça com uma certa assiduidade. Preço entre 115 a 130,00 Reais o que, no nosso contexto tupiniquim vale, porém seria ótimo se estivesse abaixo de 100! rs

Bom fim de semana com bons vinhos e não importa se brancos, rosés ou tintos o clima está bom para isso e se adicionar um fondue então, aí dá namoro! rs Kanimambo pela visita, saúde

Vinho de Prazer, Alto Las Hormigas Tinto

Afinal, como já dizia meu mentor Saul Galvão, “o vinho nasceu para nos dar prazer” e a busca é incessante! rs Dar uma volta numa Ferrari ou numa bela BMW top de linha é (deve, porque nunca o fiz! rs) algo esfuziante mas para poucos assim como tomar um dos grandes vinhos do mundo. Na maior parte das vezes andamos mesmo é com nossos carros médios, alguns com boas SUV da vida e outros de transporte público mesmo e o grande barato de nossa vinosfera é fuçar por vinhos que se encaixem no tamanho de todos esses bolsos gerando prazer. Tem alguns que têm prazer com seus reservados e tudo bem, porém eu busco essa sensação em vinhos num patamar algo melhor a nível de qualidade. Aliás, uns amigos andaram me pedindo uma listinha de alguns desses achados e em breve montarei uma.

A maior parte dos vinhos que bebo não são grandes vinhos salvo se com amigos rachando a conta, tenho que comprar vinhos com qualquer um, então fico buscando vinhos que me satisfaçam entre as 50 e 150 pratas, esses últimos para momentos já mais especiais e, volta e meia (raro) cai um mais barato na minha rede. Hoje venho falar de um desses vinhos que me entusiasmou na faixa intermediária dos preços citados, o Alto Las Hormigas Tinto, argentino de Mendoza com alma italiana que não é um grande vinho, nem pretende ser, porém é um vinho muito bem feito, versátil e que me deu imenso prazer de tomar, cumpriu seu papel, tanto que lembrei da foto já com a taça vazia! rs

O vinho vem pelas mão do enólogo italiano Alberto Antonini (veja abaixo*) e nos traz um blend algo inusitado, Bonarda com Malbec e um tico de Semillon, uma uva branca para quem não conhece. Sem passagem por madeira é rico de boca e aromas, muito equilibrado, taninos macios, fruta abundante sem excessos de extração nem madurez, fresco com uma acidez e vivacidade que pede sempre mais uma taça. Vinho literalmente sem arestas, gostoso e mais não digo! Versátil de harmonizar de um bate papo informal, queijos – embutidos – antepastos, massas, carnes mais leves e tudo isso por um preço que varia no mercado entre 68 Reais (site da importadora) a 89,00 nas lojas especializadas. Para quem gosta de pontuação, um vinho de 90 e 91 pontos pela Revista Adega e Guia Descorchados, para mim um tico abaixo disso.

*Alberto Antonini é considerado pela revista Decanter um dos cinco mais influentes “flying-winemakers” (enólogos que dão assessoria a vinícolas) do mundo. Após trabalhar durante anos nas mais prestigiadas e importantes vinícolas da Toscana, como Antinori e Frescobaldi, ele se juntou a Pedro Parra, único especialista em terroir da América do Sul, e Antonio Morescalchi, responsável por apresentar a Malbec para o mundo há mais de 20 anos, e fundou a Altos de Las Hormigas, em 1995, na Argentina.

Uma ótima semana a todos. Dentro do possível, ando um bastante ocupado tentando fazer uns trocados (rs), em breve estarei de volta por aqui compartilhando um pouco mais de minhas experiências. Kanimambo pela visita, saúde!

Salud, Cheers, Prosit, Santé

Um Malbec Bom de Boca e Bom de Preço, Gostei!

é isso, não é Cepacol mas é bom de boca! rs Malbec Reserva 2015 da Domaine Bousquet de quem já falei aqui e que só trabalha com vinhos ôrganicos, sempre um plus em sendo vinho bom e este é. Este Malbec leva um tempero de 5% cada de Merlot, Cabernet Sauvignon e Syrah, passa 10 meses em barricas francesas, que aparece de forma muito sutil, e 4 meses de afinamento em garrafa antes de sair para o mercado.

Houve dia que só de escutar a palavra Malbec eu arrepiava, sério! Ainda arrepio com alguns, rs, aquelas bombas alcoólicas, super tânicas, fruta excessivamente madura por muitas vezes enjoativa, dava calafrios vinhos que apelidei de excessivos, vinhos over. Bom que isso ficou para trás porque ao longo dos últimos anos a filosofia de produção foi mudando por lá se adequando a um mercado que também mudou e eu tive a felicidade de conhecer mais a região e seus produtores podendo assim filtrar melhor o que bebo, vinhos que me deem prazer sem me derrubar. Este é um desses vinhos, onde a potência foi trocada pela elegância.

Um vinho sem excessos, fruta abundante, final de boa persistência levemente apimentado, taninos aveludados com acidez equilibrada, corpo médio, textura gostosa que formam um conjunto de boa qualidade tendo sido ótima companhia para este Risoto de Funghi com tiras de Bife Ancho na frigideira. Trivial de almoço nesta Segunda, rs, deu vontade uai! Precisa ter hora para essas coisas? Quer saber preço né, em São Paulo entre 95 a 100 Reais nas melhores casas do ramo, eh, eh!

Kamimambo pela visita, saúde

Salud, cheers, prosit, santé

Belo Pinot Noir na Taça, Domaine Bousquet Reserva.

Domaine Bousquet é um projeto francês na altitude de Gualtallery, Tupungato, Vale do Uco, Mendoza. O compromisso com a agricultura orgânica impulsiona o melhoramento da biodiversidade dos vinhedos. Quanto mais saudáveis os vinhedos, melhor a uva e consequentemente (na maioria das vezes) o vinho elaborado sendo esse o principal objetivo desta família francesa que chegou a Tupungato em 1997 depois de 4 gerações produzindo vinhos na terra natal, Carcassonne no sul da França. As raízes de vinhedos cultivados de forma orgânica tendem a ser mais profundas permitindo que as plantas absorvam e distribuam melhor os minerais e intensifiquem sabores já que o rendimento das vinhas tende a ser menor. O uso de leveduras selvagens, compactuam com o trabalho nos vinhedos de forma a trazer o melhor retrato do terroir. O resultado são vinhos menos industrializados, mais verdadeiros, mas que, obviamente, têm que ser bons antes de qualquer coisa e isso eu conferi, só assim para estar aqui!

    A altitude de Gualtallary, 1200 metros de altitude, permite uma melhor e mais tardia maturação da uva e uma acidez mais presente nos vinhos por lá produzidos devido à amplitude térmica bem acentuada na região. Resultado; vinhos mais frescos, fruta madura no ponto (sem sobremadurez), taninos mais finos e tudo isso se confirma neste delicioso e equilibrado Pinot Noir.

Um misto de elegância e finesse francesa com a generosidade típica de fruta que esta região aporta aos vinhos. Sem excessos, sem aparas, um meio caminho entre os tânicos e excessivamente escuros super extraídos Pinots que abundam o Novo Mundo, um perfeito equilíbrio entre o velho e novo mundo. Dez meses de barrica francesa muito bem usada, penso que deve ser de segundo uso com talvez um pequeno porcentual de novas, já que se nota essa presença, porém de forma bem sutil com algumas notas tostadas. Seco, boa acidez, muita fruta fresca (cerejas, framboesa?), alguma especiaria, corpo médio, taninos sedosos, ótima textura, álcool muito bem integrado, um vinho que precisa de tempo em taça onde vai se abrindo com a taça seguinte sempre apresentando algo a mais e diferente da anterior, vinho que deve evoluir muito nos próximos dois anos já que tem pouco mais de ano de engarrafamento. Muito boa persistência, fresco, vivo e cativante, um tremendo prazer de tomar e uma grande surpresa que me encantou inclusive pelo preço.

Preço bom, característica da SYS Importadora do amigo Juan Rodrigues, abaixo das 100 pratas o que aporta em minha avaliação um ponto extra e o faz uma das melhores relações PQP (Preco, Qualidade, Prazer) que tive o prazer de provar este ano. Por falar em pontos e para quem aprecia o quesito, Wine Magazine 90 / Tim Atkins 90 / James Suckling 92 e eu fico entre eles! rs

Esse é o teaser da semana, pois há mais alguns posts programados compartilhando algumas de minhas mais recentes provas. Que seja uma bela semana para todos, kanimambo e saúde!

cheers!

Mais de Um Século na Taça, Pireko Malbec.

Soa meio estranho, mas o Pireko é bom! rs O nome de origem indígena significa “água do degelo das montanhas” e vem de Perdriel, sub região conceituada de Lujan de Cuyo em Mendoza, onde Rodolfo Spielmann se deparou com esta propriedade na Calle Cobos com 17 hectares de vinhas de Malbec plantadas até 1910 em pé franco. Porquê comprá-lo, porquê não comprá-lo, foi lá e comprou-o em 2009 como investimento de retorno a sua terra natal. Para tocar enologicamente o projeto, ninguém mais ninguém menos que Pepe Galante que para os aficionados dos vinhos argentinos dispensa maiores apresentações.  Hoje provei meu primeiro vinho, o de entrada deles, que me deixou muito boa impressão, o vinho não tem 100 anos, mas as vinhas que geram o caldo são e fazem diferença!

Vinhedos velhos neste nível, cerca de 109 anos, são poucos produzindo comercialmente e possuem algumas características bastante valorizadas porque transmitem ao vinho particularidades diferentes. Apesar de alguns projetos mais apressados, um vinhedo novo começa a produzir alguma coisa aceitável por volta de 3 anos e atinge um patamar de produtividade/qualidade comercial adequada a partir de 5 anos, aqui falamos de 109 anos! A produtividade foi para a glória, o número de cachos por planta é pequeno, porém a concentração, intensidade e acidez se acentuam e os taninos se tornam mais amistosos. Tudo isto me pareceu muito presente neste vinho de entrada e me aguçou a curiosidade para conhecer seus outros rótulos. Da linha Pireko só provei este Malbec centenário, mas ainda há o Cabernet Sauvignon e o Pedro Gimenez.

Pireko Malbec Centenário 2016, (primeira safra lançada) é um single vineyard sem passagem por madeira somente inox, traz uma textura e volume de meio de boca deliciosos. Cor de rubi intenso, aromas de frutos vermelhos frescos, levemente encorpado sem pesar, taninos firmes mas sedosos, fruta abundante  sem excessos de madurez, acidez balanceada, longa persistência algo apimentada que deixa um retrogosto de quero mais na boca. Um vinho que vai se abrindo na taça e melhorando a cada gole, vinho para derrubar qualquer eventual preconceito para com os vinhos Malbec e que se beneficiará de uma meia horinha de aeração. Para um vinho de entrada, de pequena produção (750 caixas), surpreende duplamente começando pela qualidade mas também no preço, na casa das 100 pratas hoje de acordo com o importador que é o próprio produtor.

Como curioso que sou, agora quero descobrir o resto e quero conferir se meu conceito de que quem faz um vinho bom de entrada não nega fogo conforme subimos a escada se confirma mais uma vez. Tem um corte que leva Petit Verdot, já esfregando as mãos! rs Kanimambo pela visita, saúde e uma ótima semana para todos.

Os Catena; Seus Vinhos e Sua Gente

Recebi recentemente um press release sobre os grandes resultados dos vinhos da família Catena em 2018 que me serviu de inspiração para expandir um pouco seu conteúdo para aqueles que tão somente conhecem seus vinhos. Durante muito tempo carreguei comigo uma imagem diferente sobres estes vinhos, até que conheci em diversas visitas esse mundo incrível que leva a marca Catena direta e indiretamente. Tanto que no dia de hoje, meu aniversário, abrirei um La Piramide Cabernet Sauvignon 2012, que me encantou lá em minha última visita, para comemorar.

Nicolás Catena Zapata é o principal nome do vinho argentino e grande responsável por colocar seu país no mapa dos melhores rótulos do mundo. Na década de 70, impressionado com a produção vitivinícola do Napa Valley (Califórnia, EUA), percebeu que o terroir de Mendoza, na Argentina, também podia dar origem a vinhos excelentes. Com determinação, trabalhou por décadas nos vinhedos e na adega, pesquisando e implementando novas técnicas. O resultado são vinhos extraordinários e de grande personalidade, que surpreendem a imprensa especializada pelo mundo afora. Talvez uma de suas principais teorias hoje, seja de que a época para inovação através de tecnologia já era, hoje todo mundo tem acesso a ela. O segredo hoje para inovação é a descoberta e o entendimento dos mais diversos terroirs. Também acredito nisso, pois com tecnologia já se consegue tomar bons vinhos da Venezuela, do Peru e até Tahiti, mas os grandes vinhos, esses só de grandes terroirs!

Em meados dos anos 90, Laura Catena, sua filha, o ajudou a emplacar uma identidade argentina nos vinhos da Catena. Vinhedos foram plantados em diferentes altitudes para produzir uma ampla gama de vinhos, entre eles o Nicolás Catena Zapata onde a Cabernet Sauvignon e não a Malbec é a protagonista. A primeira safra vinificada feita pelo enólogo José Galante foi 1997. Depois do seu lançamento em 2000, ele entrou em degustações as cegas com outros da mesma safra, como Chateau Latour, Opus One, Caymus Special Selection e Solaia tendo o Nicolás com frequência levado o primeiro ou o segundo lugar.

Passados quase 20 anos desde sua estreia, este verdadeiro ícone sul-americano segue surpreendendo a todos e o último que tomei, um 2009, estava de lamber os beiços! rs Na edição de outubro, a revista inglesa Decanter elegeu este grande tinto como seu “vinho lendário”: vinhos que não apenas estão entre os melhores do mundo, mas que também têm uma importância histórica. É elaborado com um corte de Cabernet Sauvignon (predominante) e Malbec dos melhores vinhedos das zonas mais frias e elevadas da Catena Zapata. A Cabernet talvez tenha sido o maior ponto de divergência entre Nicolás e seu pai que preferia a e via a Malbec como protagonista. Nicolás valorizou a Malbec, porém ampliou seu espectro de castas e terroirs e mostrou ter uma “quedinha” pela Cabernet! rs

Laura Catena, bióloga e 4ª geração da família é a atual diretora da Catena Zapata e também proprietária das prestigiadas vinícolas Luca e La Posta, tendo sido homenageada pela revista Wine Spectator como “Wine Star”, durante evento anual Wine Experience. Sua rotina é entre a Califórnia e Mendoza onde cuida das vinícolas e do Catena Institute of Wine. Sou fã incondicional do Luca Syrah, apesar e toda a linha ser muito boa, e do Pinot Glorieta da la Posta, um pinot com jeito de Borgonha por um preço bem camarada.

Alejandro Vigil, foi uma grande aquisição feita pela família no inicio dos anos 2000 e que, com sua juventude, conhecimento e criatividade, ajudou a catapultar os vinhos da família a um patamar ainda mais alto num projeto de expansão e exploração de regiões de grande altitude. Na Catena, começou desenvolvendo o instituto de pesquisa. Na época, havia um consultor australiano, o grande John Duval criador do mítico Penfolds Grange, fazendo o corte de Nicolas Catena Zapata 2001. Como conta o próprio Alejandro numa entrevista à revista Adega, John Duval se virou para mim e me perguntou; “Vigil, anima-se a fazer um corte?” Eu, com toda a ignorância – pois, para mim, era uma brincadeira –, fiz. Estavam todos: Nicolas, Laura (sua filha), Pepe Galante (enólogo), e fui com minha garrafinha. Colocaram-na sobre a mesa, com outras cinco. Fizeram uma prova às cegas e todos votaram no meu corte. Eu, cara de pôquer. “O que você fez?” “Mesclei isso e isso”. “E quantas garrafas pode fazer disso?” “Nem faço ideia” [risos]” Alguns meses depois, Nicolás o encarregou de todos os vinhos premium da empresa. Os da safra 2004 foram seus primeiros como chefe e, em 2007, encarregava-se de todas as vinícolas da família. Não é à toa que é reconhecido pela critica internacional como um dos 30 principais enólogos do mundo!

Essa parceria foi além e Alejandro em sociedade com Adrianna Catena (a caçula da família) montou um novo projeto chamado Aleanna que hoje é mais conhecida como El Enemigo e Grande Enemigo, nomes dados a seus vinhos altamente premiados

Na família ainda há Ernesto Catena que tem uma pegada mais direcionada aos vinhos orgânicos e bio dinâmicos com diversos rótulos entre eles a linha Animal, gosto muito do Malbec, e do Siesta que tem seu Cabernet Franc Bio como um de meus vinhos favoritos elaborado com esta uva na Argentina.

Fritar dos ovos, tem mão dos Catena e de Alejandro Vigil, pode mergulhar de cabeça que dificilmente vai dar ruim. Em cada linha de produtos, bons rótulos de entrada e grandes vinhos que ganharam em 2018 os holofotes dos mais importantes críticos, mas não só, porque 2017 também trouxe grandes conquistas. Vejamos alguns dos mais pontuados:

Os tintos Adrianna Vineyard River Stones Malbec 2016 e Gran Enemigo Single Vineyard Gualtallary 2013 (Cabernet Franc c/Malbec) foram classificados com 100 pontos pelo crítico Robert Parker, a nota mais alta já concedida para vinhos argentinos, os colocando num patamar de excelência que poucos no mundo frequentam.

Uma outra grande e recente premiação foi o El Enemigo Chardonnay 2016 que obteve 98 pontos de James Suckling tendo sido selecionado entre os TOP 100 vinhos de 22.000 vinhos provados por ele em 2018

Já o Adrianna Fortuna Terrae 2014 recebeu 95 pontos do jornalista Kim Marcus e é o no.1 da lista de indicações da última edição da revista Wine Spectator (Dez18/Jan19). Também recebeu alta pontuação de Robert Parker (96 pts), James Suckling (98 pts)

Catena Zapata Malbec Argentino com novo rótulo, A grande ilustração reveste a garrafa em 360graus. Desenhos que contam o drama da vida, morte e ressurgimento da uva Malbec, ilustram o novo rótulo do Catena Zapata Malbec Argentino . Esta repaginada  safra 2015 obteve 95pts da publicação The Wine Advocate e 94pts de James Suckling e Tim Atkin.

Talvez um dos maiores feitos dos vinhos Catena Zapata tenha sido a eleição por James Suckling do Melhor Vinho Argentino de 2017, não um Malbec ou um Cabernet Sauvignon, mas sim um vinho branco, o Adrianna White Stone Chardonnay 2014. Eu há muito venho falando dos brancos argentinos, este é só mais um atestado que confirma o estágio desses vinhos por lá e o quanto devemos estar abertos a eles.

Pessoalmente, sou um fã do Adrianna Single Vineyard Malbec e na ultima visita lá me encantei com o Cabernet Sauvignon La Piramide 2012  assim como o melhor Bonarda que já tomei, o Parcela Nicolás Catena 2014 sem contar seu estupendo Semillon botrytizado que poucos conhecem, o Catena Semillon Doux . Ah, não podia deixar de mencionar e indicar aos amigos um vinho da linha Gran Enemigo que fez minha cabeça e me fez suspirar quando o conheci há uns dois anos e naquele dia disse que poderia ser ainda melhor que o Gualtallary, ao menos parelho com ele, o El Cepillo!!! Para minha satisfação o 2014 recebeu 98 pontos na safra 2014 (acho que Parker), acima do Gualtallary. Posso até não entender nada de vinhos, mas sei reconhecer um grande vinho na taça! rs

Hoje falei de Catena Zapata, e como falei (rs), porém a verdade é que apesar do que esta casa produtora significa para a vitivinicultura argentina, o nível geral dos vinhos dos hermanos cresceu excepcionalmente com novos e criativos enólogos sem medo de explorar novas técnicas, rever velhas receitas  assim como a descoberta e exploração de novos terroirs. Eu mudei muito os conceitos que tinha quanto aos vinhos argentinos depois de mais de 2000kms rodados pelas diversas regiões produtoras e prova de inúmeros rótulos e visitas a produtores que me mostrou que essa revolução promovida pelos Catena desde 1970 não cessou, segue em plena evolução, explorem, desfrutem!

Kanimambo, saúde e uma ótima semana para todos

 

Dois Blends Inusitados!

Tem qualidade em toda a faixa de preço, mas é lógico que nas mais baixas esse garimpo tende a produzir resultados menos abundantes. Por filosofia, apesar de adorar tomar grandes vinhos como todos, adoro fuçar o mercado por vinhos que a maioria possa tomar e neste fim de semana provei dois vinhos sob o mesmo rótulo que me agradaram bastante e gostaria de compartilhar com os amigos. São vinhos que ficam numa faixa de preço entre 45 a 50 Reais, faixa esta que tradicionalmente traz vinhos algo mais ligeiros e aí minha primeira surpresa, especialmente no branco. A segunda surpresa é com referência aos blends, bastante inusitados, ambos sob um mesmo rótulo, La Pradera produzido em Mendoza pela Bodega Toneles que acredito sejam vinhos para serem tomados jovens, entre este e o próximo ano.

Blend de Blancs 2017 – vejam só, Viognier + Torrontés + Chenin Blanc! No nariz aquele aroma floral da Torrontés bem presente, na boca vem o frescor da Chenin com a Viognier dando-lhe corpo, ótima sacada do enólogo que conseguiu elaborar um vinho frutado, fresco, mas de mais corpo do que normalmente se esperaria num vinho nesta faixa de preço. Um vinho muito agradável e fácil de se gostar, inclusive para quem tenha algo mais de litragem. Para um apreciador de brancos como eu, uma surpresa muito agradável

Blend de Tintas 2017 – mais uma vez um corte diferente, Bonarda + Merlot + Syrah sem nada de malbec! rs Outra coisa que me deixou algo com um pé atrás antes de abrir, o vinho é elaborado com maceração carbônica o que tradicionalmente não me encanta pois por muitas vezes me deparo com um certo gás carbônico inicial que me incomoda. É uma maceração muito comum na Espanha para vinhos jovens sendo que o mais famoso entre nós é o Beaujolais na França. Aqui não senti traços disso e tão pouco dá para obter grandes recados das uvas lá presentes, o corte está muito uniforme, uma uva não sobressai sobre as outras, existe equilíbrio numa harmonização muito bem conseguida. Aqui impera a fruta, o frescor, um vinho descompromissado, taninos bem macios, cor clara, para tomar refrescado (15º) e de golão. Gostei, ótimo para o verão que está por chegar.

Saúde, kanimambo pela visita e uma ótima semana

Nem Todo o Dia é Dia!

Tem gente que acha que só porque militamos neste vasto mundo do vinho, todo o dia abrimos uma garrafa de vinho e, quando o fazemos, são sempre grandes vinhos. Bem, certamente haverão algumas poucas estrelas de nossa vinosfera que eventualmente o façam, especialmente “se me dão” (rs), mas eu e a maioria sabemos que na verdade isso não passa de apenas mais uma imagem equivocada que se faz de nós. Sim, na maioria bebemos bem, não muito, porque nossa “litragem” nos permite garimpar bons vinhos a bons preços, sim porque também os compramos!

Desde que comecei a escrever sobre vinhos há mais de dez anos, sempre dividi os vinhos por classes; os do dia a dia, os do fim de semana que volta e meia são os do dia a dia, os do mês e os para ocasiões especiais que são os vinhos do topo da pirâmide e que volta e meio abrimos também porque simplesmente merecemos! rs Galgando degraus e preços, tomando menos por vezes, porém melhor porque a vida é curta demais para tomar vinho ruim!

Recentemente fui almoçar na casa de minha filha e genro (o que sabe cozinhar!! rs) que mais uma vez se esmerou e fez um panelão de um tremendo de um arroz carreteiro de lamber os beiços! O moleque é bom de cozinha, sem frescuras, cozinheiro raiz que, como eu gosta mesmo é de PC, vulgo Prato Cheio!

Queria algo singelo, sem grandes complexidades, algo que harmonizasse e não complicasse o momento e tão pouco os tomadores presentes. Optei por este Malbec Prisionero, que a Galeria de Vinhos traz, e caiu que nem uma luva. Vinho de gama de entrada da ótima Vicentin Family Wines do Vale do Uco em Mendoza, prima acima de qualquer coisa pelo equilíbrio entre a simplicidade e a qualidade. Um vinho pode ser bom, bem feito e barato, este custa menos de 50 Reais, havendo momentos em que qualquer coisa mais complicada pode estragar o momento, este se encaixa nesse perfil. Um vinho simples mas apetitoso, 100% Malbec de San Raphael com passagem de seis meses em barrica (imagino que de terceiro ou quarto uso), fácil de agradar, taninos aveludados e bem integrados, muita fruta mas sem ser aquela coisa madura excessiva que enjôa, alguma especiaria e uma ótima acidez completam o quadro. Corpo leve para médio, com o arroz ficou da hora e é uma harmonização que poderei repetir quantas vezes meu genro quiser! rs

Obviamente que ainda saí com marmita e deu para mais duas refeições, estava bom demais como sempre. Bem, fico por aqui com mais esta dica onde o menos é mais, sem frescuras assim é nossa vinosfera, apesar de alguns teimarem em a complicar, deu prazer cumpriu seu papel! Kanimambo pela visita e seguimos nos encontrando por aqui ou, quem sabe, você não vem comigo explorar os Vinhos de Altitude de Santa Catarina comigo!

Saúde