Bodega Vicentin na Taça

Recentemente tive a oportunidade de me juntar com uma série de ilustres colegas no Restaurante Piselli para conhecer os vinhos desta bodega que chegam ao Brasil pelas mãos da Galeria dos Vinhos do meu amigo Leandro Chicarelli com a assessoria de um profundo conhecedor desse mundo de Baco, o também amigo Breno Raigorodsky que um dia já foi colunista aqui do blog onde compartilhou um pouco de seu vasto conhecimento e experiência conosco.

Vicentin Rosado brutFomos recepcionados com um, a meu ver, belíssimo espumante de Malbec, o Vicentin Champenoise Rosé de Malbec, elaborado pelo método clássico, 12 meses de autólise, com um mix de uvas de cinco vinhedos diferentes em Lujan de Cuyo (Mendoza). Linda cor salmonada, fresco, ótima perlage, cítrico, acidez equilibrada que combinou ás mil maravilhas primeiramente com o bate papo entre os amigos e posteriormente com uma deliciosa Burrata sob uma cama de tartare de salmão. Para mim um dos destaques do almoço.

Combinando com a mesma entrada, foi servido um malbec branco, ou Vicentin Blanc de Malbecseja, um blanc de noir, o Vicentin Blanc de Malbec. Na verdade, não chega a ser branco e mais parece um rosado. Vinhedos de La Consulta e Vista Flores (Vale do Uco) com quase 15% de teor alcoólico, seis meses de barrica francesa aparentemente nova. Um vinho no mínimo diferente e marcante onde seu frescor equilibra bem a madeira que lhe aporta complexidade. Ficou bem com a entrada, mas explodiu mesmo quando no final da refeição foi servida uma incrível tábua de queijos do Capril do Bosque de Joanópolis (queijos de cabra) e deu tango! Para quem quer sair da mesmice e buscar algo bem diferente no mundos vinhos brancos, surpreenda-se!

Em seguida uma bateria de tintos onde dois vinhos roubaram a cena. Da linha de entrada o Dorado Blend com um corte majoritário de Bonarda com Malbec e um tico de Cabernet Franc com leve passagem de somente 15% do vinho por barricas de segundo uso, estava bem saboroso com taninos macios, fruta madura algo compotada, um vinho “cumplidor”, agradável e fácil de agradar o consumidor brasileiro em geral. Desta mesma linha o Malbec não fez muito minha cabeça tendo apostado Vicentin Malbec Blendminhas fichas no Cabernet Sauvignon.

O papo ficou sério mesmo quando chegou á mesa o Blend de Malbecs de La Consulta, Chacras de Coria, Tupungato e Las Compuertas com 9 meses em barricas francesas. Elegante, aromático, firme de boca, especiado, fruta, tudo muito equilibrado, sem arestas, tentador! Um belo vinho que seduziu a maioria dos presentes e a mim também.

Seu vinho top é o Colosso com 24 meses de passagem por barrica francesa. Vinho de boa estrutura, denso, porém sem excessos, mostrando potência mas de forma bastante elegante, longo, tendo acompanhado muito bem o Brasato di Vitello al Vino Rosso, uma feliz e muito bem trabalhada harmonização.

Na linha de seus produtos, eles possuem uma caixa de madeira Vicentin Backbonecomposta de algumas preciosidades da Bodega. A meu pedido, kanimambo, eles retiraram dessa caixa um exemplar do vinho Vicentin Backbone, um blend cofermentado de Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot, UAU! Uma pena que este vinho não vem solo (apesar de eles estarem estudando isso) e a quantidade produzida é ínfima, porque tomaria caixas caso tivesse o din-din para isso! Realmente a experiência só me comprova prova após prova que, colocou Petit Verdot no blend, pronto, garantia de um bom vinho e este não negou a regra. Grande vinho que já encanta no olfato e na boca é só prazer. Complexo, perfeita harmonia entre taninos finos, estrutura, acidez e riqueza de sabores, gostei demais, vinho para curtir sem pressa!

São cerca de 1400 Bodegas na Argentina, então sempre haverão novidades, umas boas, outras nem tanto, porém desta eu gostei e recomendo aos amigos fuçarem por aí e se permitirem aventurar nesses caldos “Vicentinos” ! Kanimambo pela visita e em breve mais algumas notas sobre outros vinhos e bodegas provadas. Salud e uma ótima semana para todos.

Vicentin Collection

Um Malbec Diferenciado na Taça!

Quem me segue sabe que minha queda é por vinhos mais elegantes com alguma idade, mais equilibrados que, pela própria maturidade, tendem a ser mais integrados e sutis. O Joffrée y Hijas Gran Malbec 2008 é um vinho com esse perfil e por isso, mais um ótimo preço, acabou fazendo parte dos vinhos da Confraria Frutos do Garimpo de Setembro.

Não me agradam os vinhos power super extraídos em tudo; cor, sabores, taninos, álcool que nunca se integram, Uma vez tomei um já com dez anos nas costas que parecia que tinha saído da barrica uma semana antes, me parecem exagerados e não fazem minha cabeça. Demorei para entender que é um estilo do produtor (deve se evitar a generalização) e por um determinado período, que graças a Deus está terminando, também uma demanda de parte do mercado. Nas minhas andanças pelo lindo país dos Hermanos, vi que a Argentina tem muito mais a oferecer tanto em diversidade de uvas quanto de estilos e este produtor é prova disso. Por sinal, gosto muito do Bonarda dele também!

2015 - Set - Joffré Gran Malbec 08Este Malbec é proveniente de uvas do Vale do Uco com passagem de 10 meses por barricas de carvalho francês e depois deixado para afinar em garrafa por um curto período de tempo. Um vinho, como seu rótulo, algo contido, comedido, sem alardes , clássico como seu conteúdo. Com sete anos nas costas já mostra um pouco de sua idade na cor e nas notas aromáticas mais evoluídas de frutos negros, tosta, frutos secos e algo de tabaco bem sutil formando uma paleta olfativa bastante agradável e complexa. Na boca é um gentleman, todo ele muito sutil comprovando os aromas, corpo médio, taninos muito finos, elegante e já plenamente integrados, macio, algo cremoso sem arestas ou exageros de extração, tudo no ponto certo. Harmonizei com um tagliatelle com bacalhau e brócolis, ficou muito bom, porém também pensei num strogonoff de filé mignon, filé á Wellington e coisas do gênero não muito pesadas ou untuosas. Cumpre seu papel,nos dar prazer,  e se o encontrar por aí não guarde, beba!
Saúde, Kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.

Um Belo Syrah Argentino

Para mostrar, por mais uma vez, que nem só de Malbec vive a Argentina e quem for hoje na ATE, vai sacar isso ao vivo e na taça. Os melhores syrahs argentinos costumam vir de San Juan, porém de Mendoza encontramos algumas preciosidades também, como este Arriero Syrah Reserva 2007, Hacienda del Plata, apenas 4600 garrafas produzidas e o vinhedo não mais existe então, quem 2015 - Set - Arriero Syrah reservetomou, tomou quem não tomou não tomará mais a não ser que tenha guardado! rs Este fez parte de minha primeira seleção na Confraria Frutos do Garimpo, conheça um pouco mais dessa pepita garimpada.

A vinha data de 1993 e a colheita foi manual, a seleção das uvas já começa nesta etapa onde são verificadas a saúde e maturidade de cada fruto. Após a fermentação alcoólica realizada em tanques de aço inox por 21 dias, o vinho é colocado em barricas de carvalho francês e americano por 9 meses onde permanece em temperatura controlada entre 9º e 14º C. O vinho é então engarrafado e envelhecido por mais 8 meses antes de ser comercializado.

Já o conhecia de outros carnavais, e voltou a me seduzir. Apresentou um nariz de boa tipicidade, fruta algo caramelada, bom corpo, entrada de boca firme que arredonda no meio de boca e termina aveludado, madeira bem colocada, especiado, com final de média para boa persistência. Mostrou estar bem balanceado, apesar de seu alto teor de álcool em torno de 14.5º que refletiu num final de boca um pouco quente que não chega a incomodar e um tempo de Decanter faz o ajuste final. Um vinho muito saboroso, mostrando que a Argentina também possui bons exemplares de Syrah, que deve fazer um belo contraponto a pratos de boa estrutura como ragu de rabada sobre cama de polenta, boeuf bourguignon, um bife de chorizo com uma boa dose de gordura, quem sabe um steak a poivre?

Um vinho ainda muito vivo, porém já mais comportado e integrado que deve ainda evoluir por mais um par de anos, mas no ponto desde já! Por hoje é isso, amanhã detalhes e preços de minha viagem à Serra Catarinense e seus Vinhos de Altitude, ficou da hora essa viagem de dia 28 de Outubro a 2 de Novembro. Kanimambo, salud e nos vemos por aí, nos caminhos de nossa vinosfera.

Catena – Uma Visita Surpreendente!

Talvez um dos maiores preços que uma empresa paga ao crescer demasiado, é a perda de sua alma, daquilo que a fez chegar lá. Dependendo do produto, creio que essa perda é mais sentida e aí eu falo desde um escriba do vinho, que somente se atém a pontuar e a ficar nas repetitivas descrições estereotipas, até grandes produtores e seus vinhos padronizados, mesmo que eventualmente lucrativos. Em algum momento perde-se a paixão, a capacidade de se emocionar, de vibrar, de viver o momento, vive-se tão somente em prol do caixa, torna-se chato e previsível. Em geral, é essa constatação que me faz escolher para os tours enogastronomicos que elaboro, dentro do possível logicamente, produtores menores onde essa alma e paixão se encontrem presentes e onde a pessoa não seja tão somente mais um número passando no caixa. Sonho, ingenuidade, talvez um pouco de cada, mas sigo perseguindo o fim do arco-íris! rs Acredito na convivência das necessidades do caixa e de crescimento com o sonho e a paixão através de um trabalho cultural onde a alma não se perde e serve, sim, como elo de união e de preservação da identidade criando uma áurea que transcende o produto e gera resultado, a essência do negócio, uma conjunção de valores difícil de encontrar.

Esta introdução tem tudo a ver com a Catena que recém descobri em minha última visita por lá. Já tinha passado por aquelas bandas algumas vezes e sem duvida alguma é um marco na vitivinicultura argentina onde a qualidade impera e não é à toa que 70% dos visitantes a Mendoza por lá passam para obter a benção na catedral de baco. Grandes vinhos, mas …….. sentia falta de algo! Onde estava a alma do lugar?! Desta feita esteve tudo lá, do jeito que eu aprecio mostrando que meu sonho não é utópico, é viável sim! Não há necessidade de se deixar de lado a paixão e alma ao se tornar grande, muito pelo contrário, isso só vem enaltecer a qualidade de seu produto agregando-lhe valor e vem com as pessoas. Óbvio que o exemplo vem de cima, porém basta uma para fazer uma tremenda diferença e isto foi feito pela simpática Cecilia a quem agradeço publicamente, por resgatar a alma da Catena dando-a conhecer a um privilegiado grupo de pessoas que Catena Estiba Reservadapor lá passou em Abril deste ano, show! Os vinhos, que já são excelentes, ganharam ainda mais, ganharam alma e persistiram além da taça.

A visita foi genial, executada com paixão, e a “recorrida” pela sala de barricas foi única com prova de alguns dos grandes vinhos que hoje produzem, do incrível Malbec Adriana, que posteriormente degustaríamos na sala de provas, passando pelo magnifico Nicolás (obra prima) e o Estiba Reservada que há muito fazem minha cabeça (são presença constante em meu wish list) e têm como protagonista a Cabernet Sauvignon. Por trás de tudo isso, uma família e a mão de seu enólogo chef Alejandro Vigil que dispensa apresentações, um dos TOP 30 enólogos do mundo de acordo com a conceituada e respeitada revista inglesa Decanter.

Na Sala de Provas, provamos e degustamos de uma forma diferente, em função da apresentação da Cecilia, a linha Angelica Zapata e o Adrianna Malbec, grandes vinhos que resumo rapidamente.

Angelica Chardonnay – Um vinho que se encontra numa fase magnifica e provado em dois momentos, mostrou que a temperatura faz sim uma tremenda diferença. Este branco de muito boa estrutura, melhora muito se tomado entre 10 a 12º quando seus aromas explodem e os sabores se acentuam. Quase 14% de teor alcoólico, vindo do vinhedo Adrianna em Gualtallary, passa por 14 meses em barrica francesa das quais 40% nova. Untuoso, encorpado, complexo é vinho que pede comida e se pensar num vinho para aperitivar, esqueça, este é protagonista! Até quem não era chegado em brancos se curvou perante a realidade na taça!

Angelica Malbec – a classe de sempre, um Malbec que é uma referência no mercado brasileiro e que apresenta de forma muito regular, safra após safra, tudo o que se espera dele. Aquela fruta mais madura, bonita cor violáceia típica, taninos finos, tudo no seu lugar sem excessos, muito agradável de tomar.

Angelica Cabernet Franc – Um dos bons e primeiros Cabernet Franc que hoje fazem sucesso na argentina sendo a uva do momento. Boa tipicidade da uva com a violeta bem presente, bom corpo, textura de boca muito agradável, um vinho rico, complexo e muito convidativo à próxima taça! Me gusta mucho!! rs

Adrianna Single Vinyard Malbec – para mim, um dos melhores Malbecs argentinos vindo de um dos mais altos (1.400m) vinhedos da região de Gualtalarry no Vale do Uco. Extremamente equilibrado, uma acidez natural na medida certa que lhe dá um frescor e mineralidade marcantes num contraponto á concentração e taninos vivos, finos e aveludados que este vinho possui. Micro fermentação em barricas novas francesas e mais 18 meses de amadurecimento também em barricas francesas novas. Sedutor e instigante, vinho para namorar!

Mais uma etapa de nossas visitas ás bodegas mendocinas em Abril e grandes momentos vividos, gracias Cecilia! Próxima parada, já atrasados, Norton estamos chegando calma!! Kanimambo

Chegamos na O. Fournier do Vale do Uco!

Sim, porque eles possuem mais bodegas em outras partes do mundo! Esta foi a segunda parada de nossa gostosa viagem a Mendoza num ensolarado Domingo, saímos da Decero e rodamos pouco mais de uma hora até chegarmos à incrível O. Fournier com seu projeto arquitetônico ímpar, moderno e marcante. Conheci a O. Fournier e o José Manuel Ortega Fournier, em uma degustação aqui em Sampa no ano passado (relatado aqui) e me encantei por seus vinhos e diversidade de uvas trazendo um pouco da cultura ibérica para este longínquo recanto de Mendoza no extremo sul do Vale do Uco. Em função do atraso, a visita á bodega e suas instalações foi algo corrido, porém sua estrutura e design, das torres de concreto que são tanques, à enorme e incrível sala de barricas e coleção de arte, um momento realmente marcante que nos deu sede e abriu o apetite para o que estava por vir, um delicioso almoço harmonizado no restaurante Urban capitaneado pela Chef Nadia, esposa do José Manuel.

O Fournier 2Chegamos na O. Fournier e realmente é de encher os olhos valendo toda a distância percorrida. Um projeto arquitetônico impressionante e arrojado, vista linda e eu bem que fiquei de olho num lote de 2 hectares bem de frente ao lago, mas o caixa anda baixo! rs A O. Fournier é de José Manuel Ortega Fournier um ex executivo internacional de bancos renomados, espanhol que entrou para o mundo do vinho com este projeto em Mendoza nos idos de 2000. Depois, em 2002 veio o projeto de Ribera del Duero na Espanha e mais recentemente iniciou um projeto no Chile onde produz algumas preciosidades também.

À primeira vista parece que um OVNI pousou por aqui, o projeto da bodega é realmente diferente e marcante. Por aqui, fazendo companhia às “mais comuns” Malbec, Syrah e Cabernet, encontramos a Tempranillo que fala mais alto em seus vinhos e um pouco de Touriga Nacional (ambas presentes no B Crux que me encanta e já mencionei em outro post) que dão uma personalidade diferente a seus vinhos.

Num almoço divino e marcante, tivemos a possibilidade de provar alguns vinhos e CAM01807sermos presenteados com uma raridade que me seduziu em meu primeiro encontro com os caldos desta vinícola. A bodega é rodeada de lotes que estão à venda (veja aqui) e podem fazer de você um “vinheteiro” em Mendoza no Vale do Uco, eu fiquei tentado,mas falta bala na agulha para este escriba. Tivesse e certamente encontraria meu cantinho por lá onde outros já têm seus lotes e fazem seus vinhos com rótulos próprios!! Agora tá na hora é de falar dos vinhos que escolhi para serem servidos pois mostram bem a diversidade de sua produção:

B Crux Sauvignon Blanc – um vinho marcante e cheio de personalidade sem perder a tipicidade da casta. Grama molhada, frescor, é fechar os olhos e lembrar de um gramado pós chuva. Intenso, fresco, cítrico, boa textura, um Sauvignon Blanc de manual que agrada sobremaneira

Urban Blend Tempranillo/Malbec – o melhor desta gama de vinhos médios, há uma linha de entrada abaixo desta, que mostra um grande equilíbrio e riqueza de sabores. Leve passagem por barrica (3 meses), nos presenteia com uma certa complexidade em que a fruta madura se mistura com notas de especiarias, tosta, corpo médio, um vinho muito prazeroso com preço módico que seduz palato e bolso! rs

B Crux Blend – já comentei este vinho e o acho o melhor custo x beneficio desta vinícola, um grande vinho que surpreende os mais incautos. De gama média alta, frutado, sem excessos, boca de boa estrutura e complexa, taninos finos presentes, médio corpo par encorpado, bom volume de boca um vinho de muita personalidade que vale bem o preço. sempre algo a considerar! Corte de Malbec, Tempranillo e Touriga Nacional, gooosto!

Alfa Crux Malbec – recentemente premiado internacionalmente, é um dos grandes malbecs argentinos da atualidade tendo sido classificado em 25º lugar entre os TOP 100 da Wine Spectator do ano passado. Textura aveludada, taninos macios, untuoso, frutos negros, muito bom equilíbrio, baunilha, final de boca especiado e longo, um belo vinho que se mostrou muito bem integrado.

Alfa Crux Blend Magnum 2001 – um regalo com que fomos premiados ao final de um estupendo almoço. Este vinho, raro por aí, obteve o troféu na Wines of Argentina Awards em 2004 e hoje existem pouca e raras garrafas escondidas por aí nos mais remotos recantos do mundo e uma pequena quantidade na adega especial do José Manuel na bodega em Mendoza. Um deleite hedonístico de pura elegância e finesse absolutamente sedutor. Já falei dele aqui no blog, mas nunca é demais repetir: “seu primeiro vinho produzido em Mendoza do qual sobram poucas garrafas no mundo e que detem um Troféu de Melhor na Categoria na Wines of Argentina Awards. Tempranillo de 70 anos de idade, Malbec de 80 anos e Merlot de vinhedos mais jovens. Acidez bem presente ainda mostrando que ainda terá alguns anos pela frente, fino, sofisticado, daquele estilo de vinho que deveria vir á mesa de fraque e cartola.”

Domingaço!! Por estas e por outras é que vale a pena seguir “viajando” por esta nossa vinosfera! Abaixo o tradicional slide show com algumas lembranças desta agradável visita que vale cada quilômetro rodado. O almoço foi excelente, mas um prato realmente me impressionou a rabada. Ela é desfiada e depois de pronta volta ao osso no prato se desfazendo na boca! O risoto estava divino e os croquetes de couve flor “exquisitos”, uma delicia que recomendo aos amigos conhecer numa próxima viagem a Mendoza. Quem sabe até lá o hotel deles não esteja pronto?!

10IMG_8320Salud amigos e kanimambo.

Um Domingo em Mendoza!

Dia complicado de visitas a bodegas em Mendoza, pois tem gente por lá que também precisa de descansar! Afora isso era dia de eleições locais, mas mesmo assim, dois grandes momentos; a visita á Decero e à O. Fournier onde também almoçamos. No dia anterior tínhamos iniciado nossas atividades com uma visita para lá de especial, à Michelini Bros então estávamos ávidos por mais neste lindo dia de Domingo e as surpesas que ele nos traria.

finca-decero-logo-rgbA Decero é uma Bodega muito jovem começada do zero em 1999 por um casal de Suiços que tinham em mente um projeto especifico a executar e por isso mesmo queriam algo que eles mesmos pudessem moldar ao seu jeito e forma. É linda, perfeitamente integrada a uma paisagem encantadora. Uma voltinha rápida para uma visita às instalações da bodega, prova de barricas com o enólogo residente Tomás Hughes e chegamos numa linda sala de degustações com uma vista que faz com que qualquer vinho tenha um gosto para lá de especial, imagina quando os vinhos possuem esta qualidade!

Os vinhedos chamados de Remolinos, em função dos redemoinhos (foto no slide show abaixo) que se formam no campo, começaram a ser plantados em 2000 e as primeiras colheitas experimentais realizadas em 2004 e 05. Finalmente em 2006 as primeiras colheitas comerciais foram realizadas, lançadas ao mercado dois anos depois e o sucesso veio rapidamente. Hoje se produzem cerca de 420 mil garrafas anuais e os troféus e medalhas começam a se amontoar. Para quem não conhece, recomendo a visita, o lugar e os vinhos merecem atenção sem desmerecer o atendimento muito simpático e eficiente, porque isso é essencial!

Já esteve presente no Brasil, porém em função do fechamento da importadora, busca outro representante para nossas terras e eu espero que achem logo, pois seus vinhos valem muito a pena, dois deles em especial são grandes destaques e vinhos inesquecíveis. Localizada em Lujan de Cuyo em uma de suas principais sub-regiões; Agrelo, só produz vinhos tintos. Você pode ver mais da bodega clicando aqui, mas agora deixa eu compartilhar com vocês os vinhos que lá provamos e nos foram apresentados pela simpática Daiana.

Decero Malbec 2012 – Boa tipicidade, floral, taninos finos bem presentes, boa persistência e harmônico, acidez bastante equilibrada. Bom vinho

Decero Cabernet Sauvignon 2013 – Frutos negros bem presentes, especiarias, jovem, taninos firmes e elegantes, gostei muito e, a meu ver, entre os três desta gama o vinho mais vibrante que mais me entusiasmou mostrando que estas terras de Agrelo realmente dão ótimos Cabernets!

Decero Syrah 2012 – Taninos doces, especiarias, boa intensidade e textura, amável na boca, um vinho bastante agradável, bem feito e fácil de tomar.

Decero Mini Ediciones Petit Verdot 2011 – somente cerca de 12.000 garrafas produzidas e um vinho surpreendente para a maioria que o prova pela primeira vez. Não é a toa que na safra 2012 levou o Troféu de melhor Vinho de Mendoza na Wines of Argentina Awards e Melhor Vinho Argentino entre USD30 a 50! Absolutamente sedutor, na contramão de tudo o que, a principio, se espera de um varietal 100% desta uva. Sem excessos, fino, nariz intenso e boca extremamente elegante com taninos de grande finesse. Uma garrafa é pouco!!

Decero Amano 2011 – baita vinho, encantador, conheci pela primeira vez na degustação Premium da Wines of Argentina em Setembro/14 (veja aqui meus destaques) e depois voltei a prová-lo em Novembro quando em Mendoza e agora novamente. Em todas as vezes senti enorme prazer ao tomá-lo, um grande vinho, um assemblage de primeira linha em que o viés velho mundista mais tradicional de perfeito equilíbrio, elegância, daqueles vinhos que já nos seduz na primeira fungada! Blend de Malbec, Cabernet Sauvignon, Tannat e Petit Verdot é um grande vinho, complexo e sedoso na boca, fruta exuberante um vinho que me encanta e não é à toa que foi o único vinho argentino a ganhar por três vezes o troféu de Melhor Red Blend acima USD50 na Wines of Argentina Awards!!

Clique na imagem abaixo para ver o slide show da visita à Decero. Dia lindo e a imagem é a vista que tínhamos da mesa de degustações, não é deslumbrante?!

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O. Fournier – saímos da Decero e rodamos pouco mais de uma hora até chegarmos à incrível O. Fournier com seu O Fournier logoprojeto arquitetônico ímpar, moderno e marcante. Conheci a O. Fournier e o José Manuel Ortega Fournier, em uma degustação aqui em Sampa no ano passado (relatado aqui) e me encantei por seus vinhos e diversidade de uvas trazendo um pouco da cultura ibérica para este longínquo recanto de Mendoza no extremo sul do Vale do Uco. Em função do atraso, a visita á bodega e suas instalações foi algo corrido, porém sua estrutura e design, das torres de concreto que são tanques, á enorme e incrível sala de barricas e coleção de arte, um momento realmente marcante que nos deu sede e abriu o apetite para o que estava por vir, um delicioso almoço harmonizado no restaurante Urban capitaneado pela Chef Nadia, esposa do José Manuel.

Deles, no entanto, falo em um post em separado porque este já tá longo demais. Inté, saúde, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui ou em qualquer outro lugar de nossa vinosfera. Uma ótima semana para todos.

Mais Que Vinho, Um Conceito de Vida – Família Michelini

Em Mendoza existe gente fazendo coisas diferentes de forma diferente, só precisa ter a mente aberta e a indicação certa para descobrir essas coisas. Mais do que vinho, este projeto é um conceito de vida então permitam-me lhes apresentar, para quem ainda não conhece, o Matías Michelini e sua família. São quatro irmãos, três enólogos (Matías, Gerardo e Juan Pablo) e o Gabriel, que têm a pureza da terra como preceito maior, seja no vinhedo, na bodega, mesa e na vida como um todo. Mas vão além disso, são revolucionários na busca de suas quimeras e liberdade de criação.

Na primeira parada de nossa visita de Abril a Mendoza, tivemos o privilégio de sermos recebidos pelo Matías Michelini em suas novas instalações em Tupungato, no condomínio The Vines, onde ele mantém a sede da Michelini Bros em que produz com seus irmãos algumas preciosidades em seus tanques de cimento (ovos) e ânforas que ele próprio desenhou. Este novo projeto é todo biodinâmico, buscando a essência e pureza da natureza em volumes limitados. É um local para deixar fluir a inspiração e criatividade num processo de plena liberdade possuindo uma energia especial. Aqui ele pacientemente esperou por nossa chegada com quase uma hora e meia de atraso devido a problemas de voo, nos recebendo com o fogo aceso e uma taça de espumante na mão, incrível simpatia, homem de poucas palavras e muito carismático, cativou a todos os presentes. Por aqui tudo é pequeno; instalações, numero e tamanho de tanques, sala de barricas e produção, as exceções são a grandeza dos personagens e a qualidade de seus produtos.

A comida, tudo orgânico, estava maravilhosa, os vinhos divinos e os convivas radiantes, não poderíamos ter começado melhor e em pouco tempo as agruras da viagem tinham ficado para trás! Hoje, compartilho virtualmente com vocês alguns desses  momentos e os vinhos provados aproveitando para dar uma dica, quando comprarem um vinho, tentem conhecer o enólogo por trás dele. Se estiverem frente a frente com um vinho do Matías, Gerardo ou Juan Pablo podem mergulhar de cabeça pois a experiência certamente será diferente do que estão acostumados a provar de caldos mendocinos! Ainda farei uma matéria sobre eles, mas por enquanto fiquem com seus vinhos e o vídeo abaixo com imagens de nossa visita.

A Passionate Wines é um projeto do Matías tão somente e melhor nome não poderia ter escolhido, pois é fruto de sua paixão e inquietude refletida em cada garrafa. Provamos vinhos dos diversos projetos dos irmãos, porém foi através de minha introdução à Passionate Wines que aqui viemos parar.

Espumante Zorzal Extra-Brut – devido ao atendimento a um de nossos companheiros de viagem que não estava bem, perdi esta prova, porém os comentários de quem o tomou foram altamente elogiosos. Elaborado com Semillon (cerca de  2/3) com Chardonnay. Da El Zorzal e um vinho a rever!

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc – pura mineralidade e sutilezas num vinho único fermentado em tanques de plástico de 1000 litros! É a natureza em sua forma mais pura em Gualtallary, uma das partes mais altas de Mendoza no Vale do Uco na base dos Andes, onde a acidez também aflora. A uva é colhida em 5 diferentes momentos durante o mês de colheita, de forma a poder-se retirar delas diversas características que comporão esta obra de arte engarrafada. Limitado a 5000 garrafas ano, é um vinho único e diferenciado até no teor alcoólico, meros 9,5%!! Vibrante, sutil e elegante, adoraria ter sempre em casa! Projeto Passionate Wines

Matias Clipboard Bodega

Calcáreo Bonarda – fermentado em ânforas desenhadas pelo próprio Matías, únicas no pedaço, uvas advindas de um vinhedo orgânico de Gualtallary plantado em 2005, amadurece em barricas de 1º e 2º uso francesas passando posteriormente por um estágio de 6 meses de garrafa antes de finalmente chegar a nossas taças. A Bonarda em sua quintessência, uva de pouco valor até cerca de 15 anos atrás, mostra aqui todo o seu valor de forma apaixonante e marcante. Mineral mostrando bem seu terroir, fruta abundante, ótima estrutura tânica e textura agradável que enche a boca, alguma especiaria, concentrado longo, um belo vinho que surpreendeu a maioria dos presentes e precisa de tempo para mostrar todo seu esplendor. Projeto Michelini Bros e produção limitada a apenas 6.000 garrafas por safra.

Demente – um projeto demente de unir uvas provenientes de quatro vinhedos distintos de Cabernet Franc e Malbec, de Diferentes alturas e solos. Depois, colhidas em tempos diferentes e adicionadas ao mosto já em fermentação. Um vinho decorrente da liberdade de criação e veia revolucionária de um enólogo em constante busca do diferente, do inusitado. O vinho arrebatou os presentes, eu já conhecia, confirmando toda a exuberância que eu já relatei; uma paleta olfativa intensa, um verdadeiro bosque de frutos silvestres com nuances florais. Entrada de boca marcante, ótima textura, acidez gostosa se fazendo presente e pedindo um teco de bife de chorizo (rs), taninos finos, final longo algo mineral e muito apetitoso. Doze meses de barrica francesa e limitado a apenas 3.000 garrafas e difícil de achar até por lá!

Já quase meia-noite e nós lá! Dó do anfitrião e sua equipe que tão bem nos recebeu, mas ele ainda tinha mais asas na manga. Como costume de alguns na Argentina, terminou a degustação com um branco seco que acompanharia a sobremesa, pouco doce, e daria uma refrescada na boca após dois vinhos tão intensos. Acho interessante esse conceito que vale usar em degustações.

Via Revolucionaria Semillon Hulk – não pela força, mas pelo verde! Sim, aqui a acidez é bem acentuada, vido de um vinhedo com pouco mais de 40 anos, sem passagem por madeira e com uma produção ínfima, não passa de 500 garrafas. Com apenas 11% de teor alcoólico, colhido cedo, preservou a fruta em sua essência. Nuances florais, cítrico, fresco e muito bem balanceado, só lamento que tão tarde e no final de uma incrível refeição e grandes vinhos tintos, muita emoção à flor da pele, não tivemos tempo de apreciá-lo com o devido cuidado. Na próxima passagem por lá vou querer comprar algumas par melhor curtir o vinho.

Matias Clipboard jantar

Bem, primeiro dia finalizado e de cara mostrando toda a diversidade de uma região produtora. Sem nenhum Malbec, viriam às taças em outros dias, mas descobrindo novos sabores pelas mãos de alguém muito especial e de uma família, tanto quanto ele, sonhadora e sem medo de ousar, nos presenteando generosamente com os frutos dessa picardia, da liberdade bem manejada e com conhecimento. Verdadeiros vinhos de autor, vinhos com alma que me fazem finalizar este texto de hoje, citando Gerado Michelini no livro do Matías (Los Otros):

Los padres son la tierra, el suelo, la raiz.
Los hermanos las ramas, los cargadores, la fuerza.
Nuestras mujeres, grandes compañeras, la brisa fresca de la mañana.
Nuestros hijos, la flor, la fruta dulce, el racimo que crece
El vino es el encuentro

Por hoje chega, já fiquei com uma saudade danada deste momento! Um ótimo fim de semana e kanimambo pela visita.

Fotos minhas e do amigo e companheiro de viagem, Godinho. Para ampliar clique nelas.

Argentina sem Malbec e Cabernet Sauvignon.

A cada viagem que faço gosto de trazer na mala algumas garrafas de vinhos provados que se destacaram na minha taça e que gosto de compartilhar com 12 de meus amigos apreciadores de vinhos, clientes e leitores do blog, são as degustações Vinhos da Mala. Desta feita o tema que escolhi é Argentina sem Malbecs e Cabernet Sauvignon e se realizará na Vino & Sapore no próximo dia 19 de Maio (Terça-feira) a partir das 20 horas. Ainda não encontrei o lugar para montar estes eventos em Sampa, então por enquanto só por aqui na Granja Viana mesmo, porém espero já em Junho ter solucionado isso, aguardem! Os vinhos provados não estão disponíveis no Brasil, salvo uma ou outra exceção e o foco, como sempre, é no inusitado e na diversidade, principal objetivo de todo o meu trabalho em nossa Vinosfera. Eis a seleção que fiz para este evento.

Ramanegra Espumante Extra-brut – os hermanos adoram espumantes extra-brut e este elaborado pela Casarena com Chardonnay, Viognier e Sauvignon Blanc , um blend inusitado, me chamou a atenção. Espero que também vos surpreendam.

Montesco Água de Roca Sauvignon Blanc– como a água que nasce entre rochas, a mineralidade é seu principal chamariz, mas tem muito mais neste vinho que mostra uma Sauvignon Blanc argentina diferente e tratada com esmero pelo Matías Michelini um enólogo revolucionário que anda na contramão das modas na busca pela pureza.

Cara Sur Criolla – poucos conhecem a uva Criolla e muito menos haverão de ter tomado um vinho elaborado com ela. Este descobri jantando no delicioso Siete Cocinas do amigo Pablo del Rio que também gosta de “viajar”! Com apenas 900 garrafas produzidas, este é um projeto dos enólogos Sebastian Zuccardi e Francisco Bugallo no vale de Calingasta em San Juan com uvas de vinhedo com mais de 80 anos de idade. Um pinot autóctone?! Só provando para tirar conclusões.

Decero Petit Verdot – Um clássico vinho que recentemente ganhou em sua safra mais nova o Troféu de Melhor Vinho Tinto de Mendoza escolhido na Wines of Argentina Awards. Divino é pouco para falar deste que mostra uma Petit Verdot mais cordata e extremamente elegante, porém sem perder sua tipicidade. Soy un incha deste vino!

Zaha Cabernet Franc – a uva da vez na Argentina e este exemplar nos vem pelas mãos de mais um enólogo importante da nova geração, Alejandro Sejanovich com uvas da sub-região de Altamira no Vale do Uco, Mendoza. Um vinho em que as uvas são colhidas em três diferentes momentos de maturação para compor uma sinfonia engarrafada. Provei e gostei, muiiito.

*Calcáreo Bonarda – mais um vinho marcante do amigo e enólogo Matías Michelini em sua nova empreitada com seus irmãos na Michelini Bros. Somente 6.000 garrafas produzidas num vinhedo de apenas 2 hectares todo cultivado de forma biodinâmica. Uma obra de arte que desperta emoções especiais com uma uva não tão nobre, mas que gera alguns grandes vinhos quando bem trabalhada. Para você conferir.

Decero Tannat – Para finalizar, deste vinho a Decero produz apenas 700 garrafas e neste caso vamos provar juntos, pois ainda não o conheço, porém não resisti e tive que trazer uma garrafa para compartilhar com os amigos presentes. Este só se compra na bodega ou na Suíça para onde os proprietários (suíços) levam o restante. Conheço ótimos Tannats argentinos de Salta, porém por Mendoza não abundam, então vamos curtir juntos esta experiência?

Sorry sold OutEsses serão os protagonistas da noite e se você, como eu, gosta de provar coisas diferentes sentir novas emoções e se deixar levar pelo desconhecido, então não deixe de participar. As vagas estarão limitadas aos primeiros 12 amigos que efetivarem suas reservas, seis ja tomadas, então não dê mole! O valor a ser pago no ato da reserva é de R$120,00 por pessoa e inclui os vinhos, água, pãozinho, queijo e chorizo espanhol, café e na Vino & Sapore o estacionamento é gratuito. O *Cálcareo virá direto da Argentina e ficamos sujeitos a que ele chegue a tempo, caso não aconteça, este será substituído por um outro grande Bonarda, o El Enemigo de Alejando Vigil, só que este já tem por aqui.

Fico no aguardo de sua confirmação, Kanimambo e amanhã tem mais. Cheers!

Quebrando Preconceitos na Argentina

Mesmo os mais experiente enófilos certamente têm lá suas cismas com alguns vinhos, produtores, regiões, uvas, etc.. Eu sempre falo que jamais se deve dizer que não se gosta de uma uva ou estilo de vinho, país ou região, porém não sou diferente de ninguém e neste último ano “quebrei” a cara algumas vezes porque tinha me deixado levar por atitudes que critico!

1 – Não era chegado em Malbecs! Não gostava de vinhos em que existe uma sobre extração e madurês das uvas que gera vinhos com taninos doces e enjoativos depois de duas taças, sigo não gostando, só que generalizei quando não devia. Para minha grata surpresa, nestes últimos dois anos viajando por aquelas terras descobri vinhos que me fizeram mudar meus conceitos; alguns mais potentes que outros, mais robustos, outros mais polidos porém em todos prevaleceu o equilíbrio e finesse de taninos. Há Malbecs e Malbecs, só tem que achar os seus e eu andava tomando os errados! Isso não me faz gostar menos dos blends que tanto venho elogiando e que seguem sendo minha preferência, porém certamente me fez rever opiniões formadas que tinha.

2 – Os vinhos da Andeluna não faziam minha cabeça! Aí provei o Passionado 4 Cepas, um blend de Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Malbec e Merlot dos quais a bodega produz apenas 5000 garrafas por safra, quando dá! Um vinho de lamber os beiços e pedir mais, apesar do preço algo salgado. Não importa, mais um preconceito no ralo e não foi o único, porque tinha a mesma impressão dos vinhos da Cobos e aí provei os vinhos Bramare Regiões (single vineyards) também me surpreenderam, especialmente o Marchiori!

3 – Grandes conglomerados do mundo do vinho só produzem vinhos padronizados e sem personalidade, as famosas “coca-colas” do mercado. Eh, eh, mais uma vez me danei! Visitei a Norton que até produz alguns vinhos básicos bem legais e descobri um novo mundo. Já tinha provado e elogiado sua linha Finca Predriel, mas agora viajei por um mar mais amplo e vim de lá apaixonado por seus vinhos e sua bodega. Tanto que fiz questão de a incluir na minha próxima viagem a Mendoza, uma forma de compartilhar com os amigos que virão comigo o que eu vivenciei!

Aprendi há muito anos de que em nossa vinosfera não existem verdades absolutas, porém existem momentos em que me deixo levar pela onda esquecendo o meu racional que é tão importante quanto o emocional nessas horas! Mantenha sempre a porta aberta, navegue sempre, porque navegar é preciso, descobrindo novos sabores e novas emoções, nunca se deixe “enquadrar”, pois o nirvana poderá estar na próxima curva, no próximo porto ou na próxima taça! Bon Voyage, um ótimo fim de semana, cheers e kanimambo pela visita. Vem comigo a Mendoza?!

O. Fournier, Uma das Gratas Surpresas de 2014

José manuelNo ano passado tive a oportunidade de participar de uma degustação promovida pela Vinci Importadora para a imprensa e especialistas do setor, em que fomos apresentados ao José Manuel Ortega Fournier, proprietário dessa vinícola ou melhor, grupo vitivinícola já que possui vinícolas na Espanha (originalmente), Argentina (onde hoje reside) e ultimamente, Chile e a seus vinhos. Fazia tempo que buscava essa oportunidade e o que provei foi bem além do que previa, uma grata surpresa que comentarei em diversas etapas.

1 – A qualidade presente de forma uniforme em tudo o que provamos e não foi pouco. Depois ainda me aventurei por seus gama de entrada (linha Urban) que confirmaram as impressões dos vinhos de gama mais alta. Importante isso, porque fazer vinhos top todos fazem de uma forma ou de outra, melhores ou piores, mas com quantidades menores de produção e alto custo, fica mais fácil. Produzir um bom gama de entrada com preço justo não é para todos!

2 – O José Manuel, uma personalidade e tanto. Franco, direto, sem floreios e ciente do que faz sempre buscando o melhor e a imprimir a seus vinhos um estilo próprio. Sua bodega em Mendoza é um claro exemplo disso e sua gentileza ao nos oferecer um regalo de final de evento que me seduziu, uma prova de Magnum A-Crux 2001, adorei, ou melhor, adoramos!

3 – o uso de uvas ibéricas pouco usuais em Mendoza; a Tempranillo e, especialmente, a Touriga Nacional. Vinhos muito interessantes e diversos do main stream, vinhos com personalidade própria que me seduziram. Gosto dessa busca pela diversidade.

Foram nove os vinhos provados, um mais saboroso que o outro e alguns grandes vinhos que me fizeram ver o quão poucos produtores e vinhos conseguimos conhecer ao longo de nossas vidas e olha que eu provo bastante! Eis um resumo dos vinhos provados e seus preços em US Dólares já que a Vinci, como a Mistral, trabalham com taxa do dia.Celular 29-09-14 003

Começamos por dois Sauvignon Blanc, o B-Crux Sauvignon Blanc (USD40,00) de Mendoza e o Alfa Centauri (USD67) do Vale do Leyda no Chile com passagem por barricas de carvalho. Ainda não consegui provar um Sauvignon Blanc varietal com passagem por madeira que me agradasse e sigo dessa forma, pois o vinho ficou algo pesado, mas tem gente que se encantou. Preferi o de Mendoza que apresenta mais tipicidade da uva com bastante frescor e grama molhada presente, gostoso de beber.

B-Crux Blend 2009, um vinho que me encantou pois afora usar 50% de uvas ibéricas (Tempranillo e Touriga Nacional) no blend, o resto é Malbec, foi uma enorme surpresa saber que a Touriga também está em Mendoza! De gama média alta, frutado, sem excessos, boca de boa estrutura e complexa, taninos finos presentes, um vinho de muita personalidade com um preço condizente com a qualidade ofertada, USD50,00. Belo vinho e aquele que eu poderia pagar, então minha melhor relação Qualidade x Prazer x Preço entre os tintos provados.

Alfa Crux Blend 2006, um senhor vinho onde a Tempranillo é protagonista tendo a malbec (25%) como coadjuvante. Vinho de alta gama com 20 meses em barricas novas que apresentava chocolate logo á primeira fungada (rs)! Taninos finos, boca redonda sem arestas, muito diferente do que se espera de um vinho mendocino e adoro surpresas destas mesmo não sendo mais para meu bolso, USD86,00. Vinho denso na boca, cremoso, acidez bem balanceada, final apetitoso que pede bis.

Alfa Centauri Blend 2008 é do Maule, chile e combina cabernet Sauvignon, franc e merlot, este último com um porcentual menor. Excelente vinho que passa 18 meses em barricas novas francesas e já custa USD100,00. Entrada de boca deliciosa e sedutora, um vinhaço que ainda vai crescer muito nos próximos três ou quatro anos quando o gostaria de revisitar. Muito equilíbrio e complexidade num estilo bem europeu (tradicional) de ser!

O. Fournier Clipboard

O. Fournier 2008, também do Maule e agora já entramos na seara de vinhos top do produtor. O corte por si só já é inusitado, Cabernet Franc (80%) e partes iguais de Cabernet Sauvignon e Carignan com passagem de 17 meses em barricas novas francesas. Elaborado só com uvas de vinhedos entre 60 a 120 anos plantadas em pé franco. Perfumado, frutos negros, taninos finos (marca registrada pelos vistos), complexo, fresco e sedutor. O meio de boca é tão saboroso que você tende a o deixar lá por um tempo a mais que o normal para só depois o deixar escorregar pela garganta. Para quem tem USD189 para bancar uma garrafa destas, eu recomendo, gamei!!

O. Fournier Ribera del Duero 2005, chegamos na Espanha e em mais um vinho top da casa com outra pegada. Tinta del país (tempranillo) 100% e 20 messes de carvalho francês é um vinho que mesmo com nove anos de vida ainda mostra muita jovialidade e promete evoluir por mais anos a fio. Concentrado, escuro, meio de boca algo mineral, carnudo, um vinho que exala o terroir de Ribera del Duero e o menos pronto a tomar de todos mesmo sendo o mais velho, com preço também na casa dos USD 189.

Urban Carignan 2011 elaborado com uvas de vinhedos com 80 anos no Chile foi uma solicitação adicional do José Manuel para que provássemos também o outro extremo de sua gama de vinhos, o de entrada. Custa USD24 e o vinho é realmente uma enorme surpresa valendo cada centavo. Posteriormente provei um Urban Tempranillo/Malbec de Mendoza e foi outro vinho que me agradou muito. Penso que quem consegue produzir bons vinhos nesta faixa de preços, certamente produz bons vinhos nas gamas acima e o inverso nem sempre é verdadeiro. Se quiser conhecer o perfil de um produtor, prove seus vinhos de entrada!

Ainda tinha mais, uma surpresa e uma enorme gentileza de José Manuel para os jornalistas, colunistas e blogueiros de vinho presentes a esta deliciosa degustação, um delicioso, fino e elegante exemplar de Alfa Crux 2001 em garrafa magnum, seu primeiro vinho produzido em Mendoza do qual sobram poucas garrafas no mundo e que detem um Troféu de Melhor na Categoria na Wines of Argentina Awards. Tempranillo de 70 anos de idade, Malbec de 80 anos e Merlot de vinhedos mais jovens. Acidez bem presente ainda mostrando que ainda terá alguns anos pela frente, fino, sofisticado, daquele estilo de vinho que deveria vir á mesa de fraque e cartola. Um regalo e um privilégio que fazem os caminhos por nossa vinosfera valer a pena.

Alfa Crux Magnum 2001 Clipboard

Hoje compartilhei com vocês mais uma experiência que ficou marcada em minha memória, os verdadeiros vinhos de grande persistênca, e que me levou a combinar uma degustação especial com ele (salvo algum imprevisto) em sua bodega em Abril, feriado de Tiradentes, quando quem for comigo poderá confirmar, ou não, se meu entusiasmo tem fundamentos. Cheers, Kanimambo e seguimos nos encontrando pelos caminhos de Baco!