Vigneau-Chevreau Cuvée Silex Vouvray Sec, Um Vinho de Arrepiar!

Como comentei no face, Domingo passado estava a fim de me tratar e abri esta belezura! Adoro vinhos brancos e não canso de repetir que é a pós graduação em vinhos, as nuances, sabores e frescor neles encontrados são melhor apreciados quando a litragem é de bom tamanho! rs

Por outro lado, há vinhos que classifico como “I” de Irretocável, Impressionante, Inesquecível e, especialmente, de Incuspível mesmo que numa enorme prova, este teve todos os I’s possíveis e imaginários, ish esse também!! Também há os que classifico como egoísticos! Todos sabemos que os vinhos melhoram com boa companhia, mas há uns que fazem o pior de nós aflorar e de repente nos vemos escondidos no armário traçando as últimas gotas do elixir, é, este é um desses. rs

Sabe aquela história que você conta de um momento de tua vida que te emocionou e quando você vê a pele de seu braço está toda arrepiada, pois bem ainda ontem à noite ao conversar com amigos na degustação dos Douros, me deparei com isso. Ah, tenho que falar do vinho né? Na verdade acho que já estava, mas … vamos lá. Difícil falar de algo que mexeu tanto contigo despertando tantas emoções num momento hedonístico não técnico, mas vou tentar.

Primeiramente Vouvray é uma região do Loire onde os vinhos brancos e a Chenin Blanc imperam. O produtor com mais de 150 anos de história, converteu seus vinhedos ao biodinamismo (total ausência de produtos químicos) há cerca de 30 anos, sendo este vinho elaborado com uvas de vinhedos com 30 a 40 anos de idade plantados sobre solo calcário (Silex) Vigneua chevreau Vouvrayque lhe aporta uma mineralidade excepcional e marcante.

Ao abrir esta garrafa de 2013 ele tomou conta de todos os meus sentidos; cor linda como espigas de milho brilhando ao sol e logo à primeira fungada > sutil, complexo, vibrante com notas florais (flores brancas), ervas frescas, maçã verde, lima, grape fruit, mel de laranjeira (?!), sei lá dá para viajar só ali, no nariz! rs Na boca explode de forma vibrante e intensa mostrando uma acidez acentuada, a mineralidade muito presente ditando sua personalidade, fruta fresca, inebriante e ficar aqui tentando encontrar adjetivos para tentar descrever o vinho no palato seria pura perda de tempo, quase uma heresia, até porque parei de tentar prestar atenção e decifrar o elixir para simplesmente me entregar nos braços de Baco e me deixar levar. Se o objetivo do vinho é te entregar prazer, como diria meu mestre Saul Galvão, então este transbordou e mais que cumpriu seu papel!

Já o tinha provado, mas tomar é sempre diferente do que degustar e sim, minha loira ajudou! Pouco, ufa, o que aumentou minha alegria pois estando em casa e não pretendendo sair para lugar nenhum, pude me esbaldar não restando gota. Não é barato, os Vouvrays assim como os bons Chablis ou Sancerres não o são, porém comparado com vinhos similares de outros produtores, está com um preço bem bacana, na casa dos R$180,00 e quem comprou ontem se deu bem!

Por hoje é só; viva o Vinho branco,viva o Loire, viva Vouvray, viva a Chenin Blanc, Viva a Vigneau-Chevreau (por sinal tem também um ótimo espumante), viva a Vida! Kanimambo e até Sábado harmonizando pratos e vinhos espanhóis no encontro do food truck gourmet Perfil de Chef com a Vino & Sapore.

As Portas do Céu se Abriram e eu Entrei ou, Bordeaux Extasy!

Só figurativamente e adorei a experiência , tanto que tenho esse título pronto faz TRÊS ANOS! A experiência foi tamanha que fiquei sem palavras e sigo sem as encontrar, já que descrever emoções é sempre um exercício dos mais difíceis. Todos ou pelo menos a maior parte dos aficionados por vinho, sabe que 2009 foi um graaande ano para os vinhos de Bordeaux e em 2012 os produtores de Grand Crus estiveram em São Paulo para dar a provar alguns néctares da região. Grandes produtores, vinhos com pontuações perfeitas (100 pontos), brancos, tintos, doces, um festival hedonístico difícil de ser esquecido, daqueles que ficam na memória ad eternum.

A grande maioria, para não dizer todos, está longe dos bolsos de nós pobres mortais então minha sugestão é, tem interesse, vai viajar, traga de fora! São esses grandes vinhos que, em minha opinião, devem ser aproveitados nas viagens e, neste caso, mesmo assim precisa ter um bolso algo gordo! Para não dizer que nunca falo das estrelas, ganhei coragem e decidi compartilhar com vocês alguns destaques do que provei e que comporiam maravilhosamente uma grande degustação com uma visão regional deveras interessante, vamos lá!

Bordeaux Pessac

Pessac- Léognan – esta AOC, mesmo tendo uma maior produção de tintos, gera os melhores e mais importantes brancos de Bordeaux. Três grandes vinhos de muita classe, Chateau Carbonnieux, Chateau Pape Clement e, para mim o destaque entre eles, o incrível Chateau Larrivet Haut-Brion, uma grande forma de se iniciar uma degustação deste porte.

Bordeauxs Tintos – mesmo não sendo um expert nas apelações (AOCs) de Bordeaux, tenho as minhas regiões preferidas e na prova confirmaram na taça as razões de minhas preferências. Destas AOCs, escolhi alguns vinhos (tinha mais de 50 não dava para ver tudo) para provar e destes alguns destaques que certamente colocaria na mesa dessa imaginária degustação, caso houvesse “cascalho” o bastante para tal.

Bordeaux Saint Emilion
Saint-Émilion – Por aqui reinam a Cabernet Franc e Merlot, vinhos teoricamente mais suaves (na prática nem sempre), de menor estrutura porém de boa guarda, profundo equilíbrio com fruta mais presente e macios. Alguns grandes vinhos como os; Chateau Troplong Mondot, Chateau Pavie Macquin, Chateau Angélus e meu preferido, um dos melhores, se não o melhor, vinho do evento. O Chateau Figeac! ABSOLUTAMENTE ESPETACULAR, um daqueles vinhos que figuram entre meus TOP 10 de todos os tempos e não dá para descrever, tem que lhe sacar a rolha e desfrutar com um outro grande apaixonado por este néctares. Este já estava divino, imagino daqui a mais uns cinco ou seis anos!

Bordeaux Pomerol

Pomerol – Terra do famoso Chateau Petrus e por isso muito valorizada, gera vinhos elegantes e finos porém de maior estrutura que os de St Émilion, idade média de maturação entre 6 a 8 anos com alguns grandes vinhos de guarda. Daqui se destacaram o Chateau Clinet a quem Robert Parker deu 100 pontos. Provei, não mudou minha vida (rs), não vale a nota perfeita (que não dou a nada nem ninguém), mas é um grande vinho. Com ele, mais dois destaques, o Chateau L’Évangile e meu xodó deste AOC, o Chateau Gazin do qual tomaria garrafas se a grana permitisse. Rico, delicado e complexo, absolutamente sedutor.

Bordeaux margaux
Margaux – Nas grandes safras estes vinhos costumam se superar e é, certamente uma das mais emblemáticas apelações de Bordeaux. Mesmo tendo a Cabernet Sauvignon como protagonista, são conhecidos como os vinhos mais elegantes, perfumados e sedosos de Bordeaux, especialmente da margem esquerda. Curto os vinhos desta parte de Bordeaux! Provei algumas preciosidades, entre elas os; Chateau Angludet, Chateau du Tertre e Chateau Giscours foram destaque e são todos grandes representantes da AOC, mas o Chateau Malescot Saint-Exupery está, em minha modesta opinião, um degrau acima dos outros escolhidos e é o que eu colocaria para representar a região nesta verdadeira seleção de craques. Pura poesia engarrafada, nada a falar, só beber!!

Bordeaux Pauillac

Pauillac – Três dos cinco Premier Crus de Bordeaux, vêm desta região, vinhos algo mais potentes e muito estruturados com enorme potencial de guarda, décadas! Aqui provei menos e só dois rótulos ambos muito parelhos; o Chateau Lynch-Bages e por nariz, ficaria com o Chateau Pichon-Longueville mesmo sabendo que o melhor seria guarda-lo por mais uns 15 anos antes de abrir. O problema é que já fiz 60, então guardar vinhos ficou meio relativo! rs Graaande e complexo vinho que mostra bem todo seu potencial de guarda.

Bordeaux Sautern
Sautern et Barsac – Mais que uma apelação (AOC), uma marca mundial de excelência em vinhos doces que harmoniza maravilhosamente bem com Foie Gras (ops é proibido! rs) e queijos azuis e frutas frescas, mais que com sobremesas. Dizem que um Sautern deve ser tomado com mais de quatro anos e os bons (como estes baixo) precisando de tempo para mostrarem todo seu esplendor. Os “velhos” com trinta ou quarenta anos nas costas, dizem ser verdadeiros elixires, não sei, nunca provei, mas topo convites! rs Para encerrar em grande estilo dois grandes representantes e um que extrapola e nos deixa boquiabertos com tanto esplendor. Chateai Doisy Daëne e Chateau Guiraud, ambos excelentes, mas o Chateau Coutet é verdadeiramente um vinho classe I, de Inesquecível e Incuspível! DIVINO, um conjunto de emoções na taça indescritível, e a uma fração do preço dos mais famosos, muito próximo da perfeição!

O que pode causar estranheza é como vinhos que são de longa guarda como estes podem já despertar tais emoções e prazer hedonístico. Pois bem, o que tenho verificado ao longo destes longos anos de provas, é que a grande safra costuma apresentar esse perfil, vinhos com grande capacidade de guarda, porém já muito palatáveis desde cedo! Só para citar alguns; Safra 2007 e 2011 em Portugal, 2006 na Itália, 2005 no Chile, 2015 no Uruguai entre outros, e agora 2009 em Bordeaux. Enfim, mais uma grande experiência e as características de cada uma dessas regiões foram colhidas no livro de meu saudoso mestre e mentor, Tintos & Brancos de Saul Galvão, que segue sendo meu principal socorro em momentos de dúvida sobre nossa vinosfera.

Vai montar essa degustação, não esquece de mim não tá?! Digamos que será minha cobrança de royalties! rs Gente, kanimambo e um ótimo fim de semana para todos (aqui tem leitura para todo o fim de semana prolongado)  e não esquece, dia 12 de Setembro agora tem o food truck gourmet com vinhos harmonizados saudando a França! Aguardo os amigos

Loire o Jardim da França e Eterno Desconhecido no Brasil

O Loire é uma das mais lindas regiões da França produzindo vinhos excelentes porém um pouco fora da curva no gosto novomundista de vinhos potentes e viris. Estamos aqui diante de vinhos que primam pela finesse, pela elegância, pela sutileza mais do que pela força bruta e, talvez por isso ou pelos preços algo mais salgados, bastante desconhecido de nossa vinosfera tupiniquim.

Para mostrar um pouco da região e dos vinhos de lá, montei uma degustação temática que mostrará um pouco da região e, especialmente, seus principais vinhos. Veja só:

Dia 26 de Fevereiro, a partir das 20 horas, a primeira grande degustação temática do ano que realizarei na Vino & Sapore (Granja Viana) quando conheceremos melhor a região do Loire, suas principais AOC’s, suas uvas e seus vinhos ainda tão pouco explorados no Brasil. Nesta degustação temática com prova de alguns vinhos de muita qualidade escolhidos por mim especialmente para este evento, faremos uma visita virtual à região.

Loire
A região é especialmente pródiga nos vinhos à base de Sauvignon Blanc, de Chenin Blanc, da Muscadet (não confundir com Moscato) e de Cabernet Franc. Na taça, vamos provar a enorme diversidade de estilos e ver como uma mesma uva pode gerar espumantes, vinhos tranquilos secos, meio doces e doces com a mesma graça e qualidade. Como parceiros nesta empreitada, a Premium Wines, importadora que possui um dos melhores portfolios de vinhos da região, a Decanter e Vinci.

  • Vigneau-Chevreau Vouvray Brut (R$115,00) – PremiumSorry sold Out
  • Carré Muscadet Chasseloir Maine-et-Sévre sur lie 2013 (R$96,00) – Premium
  • Fournier Sancerre l’Ancienne Vigne 2011 (R$180,00) – Premium
  • Chateau de Tracy Mademoiselle T Pouilly-fumée 2012 (R$159,00) – Decanter
  • Domaine Huet Vouvray Sec Clos du Bourg 2011(R$214,00) – Premium
  • Pensée du Pallus Chinon 2009 (R$180,00) – Vinci
  • Domaine Huet Vouvray Moeilleux le Haut Lieu 2009 (R$269,00) – Premium

A região é berço da Tarte Tatin, então encerraremos o evento com o vinho doce Moielleux da Huet harmonizado com a célebre torta elaborada pelo amigo Ney Laux. Ao final, cada participante receberá um CD com imagens da região. Tudo isso por apenas R$135,00 por pessoa com café e estacionamento inclusos, pagos no ato da reserva.

Cheers, bom feriado e se alguém souber de um espaço em Sampa onde possa vir a realizar algumas destas degustações (tem gente reclamando que só faço na Granja Viana), me avise! Procuro um espaço onde possa reunir de 14 a 24 pessoas, eventualmente com comida. Kanimambo e um ótimo carnaval para todos. Eu estarei trabalhando, até porque alguém precisa matar a sede dos foliões né?!

* Eventuais troca de rótulos por produto similar ou superior poderão ocorrer.

Harmonizando Vinhos e Pratos Franceses

O segredo de uma boa harmonização, que não é uma ciência exata, a meu ver passa pela soma de diversos fatores e não só de vinhos e pratos, mesmo que esses sejam os protagonistas. É essencial que a atmosfera (local) seja adequada, que as pessoas sejam entusiastas e de boa e que o custo caiba no bolso pois, caso contrário, indigestões podem ocorrer! rs Tudo isso estava presente no dia o que resultou numa noite muito agradável que gostaria de compartilhar com quem não pôde estar presente. Falarei separadamente de cada prato e vinho, finalizando com minha impressão (nota) para a harmonização deste gostoso encontro na Casa de Culina da Chef Sandra Souza.

casa de Culina V

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Casa de Culina - Harmonização vouvrayRecepção – as boas vindas foram dadas com um espumante que curto muito é uma bela opção aos bem mais caros champagnes. Um Cremant (espumante francês elaborado pelo método champenoise) do Loire, Domaine Vigneau-Chévreau Vouvray Brut elaborado com 100% de Chenin Blanc. Complexo, perlage muito fina e persistente, seco, notas cítricas com algum brioche sutil e um frescor bem presente fazem deste Cremant um espumante deveras sedutor. Para acompanhar, a Chef Sandra elaborou um Blinis de Créme Fraiche com caviar que casou muito bem. Na harmonização sempre buscamos um resultado que seja superior á soma aritmética dos dois o que ocorreu neste caso. Harmonização nota 7/10

 

Entrada – O vinho escolhido foi o Domaine Servin Chablis AOC 2012. Eu fui seduzido há Jantar Frances Chablispoucos meses, pelo irmão mais “galardoado” deste vinho de entrada, um belo 1er Cru de ótimo preço e achei que este rótulo poderia se dar bem com uma entrada de Suflê de Queijo Camembert com Gruyere. Por sinal o suflê estava muito bom e o vinho muito vibrante. Algum abacaxi, leve floral, damasco em perfeito equílibrio, ótima acidez e uma mineralidade marcante, adoro os vinhos de Chablis! Ambos muito bons, mas a harmonização não saiu como eu esperava, pois faltou untuosidade ao vinho para encarar o suflê. Harmonização apenas mediana, nota 5/10, acho que devíamos ter levado adiante a ideia das vieiras!

 

Jantar Frances PinotPrimeiro Prato – A esta altura o pessoal já estava ficando animado e foi hora de apresentar os convivas ao delicioso magret de pato da Chef que eu tinha provado fazia dois dias e adorado! O segredo foi um molho á base de carne, creme de leite, cogumelos e uvas verdes, estava absolutamente di-vi-no! Delicado, macio e rico de sabores, complexo tal qual o sedutor L. Tramier Bourgogne Rouge Le Minée 2011 que se mostrou um vinho com os mesmos predicados e aqui o resultado foi próximo da perfeição! Um plus a mais é o preço deste vinho (R$79), outro ponto importante a se considerar quando se harmoniza, e difícil encontrar um Pinot básico da Borgonha com essa qualidade e tipicidade nessa faixa, um vinho que surpreende. Esta harmonização, para mim, bateu os 9/10 pontos.

 

Segundo Prato – este Boeuf Bourguignon com Fettucine é uma das especialidades da Chef que usa um pouco de Jantar Frances Bordeauxchocolate amargo na preparação o que lhe dá uma complexidade a mais. Para harmonizar escolhi um Bordeaux do Haut-Médoc de que gosto muito e rebate a máxima de que um bom Bordeaux tem que ser caro. Com um preço ao redor dos 110 reais, o Peyremorin de Villegeorge 2010 é um belo vinho que deve seguir evoluindo por mais uns dois anos porém já se mostra pronto a beber. Aquela riqueza de sabores típica da região em que a Cabernet é protagonista, apresenta médio corpo, taninos finos, boa acidez e cresceu bem com o prato mostrando seu viés gastronômica. Uma boa harmonização, dei-lhe nota 7,5/10.

 

Jantar Frances SauternSobremesa – quando comecei a servir as taças já senti que o clima ia esquentar! Chateau La Bouade 2010, um Sautern econômico (R$110 na garrafa de 500ml) que vale muito a pena tendo seus aromas tomado conta do pedaço. A harmonização foi clássica, com Crème Brulée, mas QUE crème brulée, dos deuses! A Sandra realmente se superou neste prato que acabou brilhando e criando uma harmonização digna do final de uma grande noite, um Grand Finale inesquecível ao qual só posso dar nota 10, maravilha!

Como sempre, esses eventos são fruto de parcerias, tivemos a colaboração de duas importadoras, a Premium e a Viníca assim como a Casa de Culina, inauguramos a casa, que é um atelier gastronômico onde pequenos grupos podem se reunir num ambiente muito especial e aconchegante, tudo sob a batuta da Chef Sandra Souza. Uma kanimambo especial a todos e aos presentes que fizeram do evento mais um momento muito especial com muita alegria e Joy de Vivre. Como já diria o famoso, impagável e já falecido colunista social dos anos 80 e inicio de 90, Ibrahim Sued, “ademã que eu vou em frente”, santé!

Clipboard Jantar francês

Um Achado em Chablis, Coisa Rara

Borgonha com chablisAchados, ótimas relações Qualidade x Preço x Prazer, há em todos as gamas de produto, porém em algumas regiões são muito difíceis de se encontrar e quando isso ocorre é sempre motivo de festa, pelo menos para min! Adoro, mas não tomei tantos assim porque a palavra Chablis vem normalmente atrelada a uma série de cifrões os quais dificilmente consigo bancar e acredito que a maioria dos amigos compartilha comigo do mesmo mal! rs Do que tenho provado fica claro que os Petit Chablis e Chablis AOC  disponíveis no mercado não chega a encantar e quando são um pouco melhores já se fala de vinhos na casa dos 100 a 130 Reais. Quando damos um pulo na escada de qualidade e partimos para os Premier Cru  a qualidade sobe assustadoramente e o preço idem, já chegando na faixa dos R$180 a 200 sendo mais comum encontrá-los na faixa dos 200 a 300 reais! Se subirmos mais um degrau na escada, aí a coisa realmente fica séria e haja carteira!!

Nesse cenário, este achado foi para mim a melhor descoberta feita até aqui neste ano, um vinho absolutamente delicioso que possui toda a tipicidade que se espera de um vinho desta classificação e, graças à perseverança e garimpo da amiga Paula Fonyat da importadora Vínica, sem os altos preços que se espera desses mesmos vinhos. Domaine Servin Vaillons Premier Crus Chablis LabelDomaine Servin Vaillons Premier Cru Chablis, um vinho absolutamente sedutor que habitou minha taça neste último fim de semana e já deixou saudade! Sempre gostei muito dos vinhos de Chablis, que para quem não conhece é uma região produtora francesa que faz parte da Borgonha. Sua uva, a majestade Chardonnay! Para quem gosta de chardonnays untuosos, pesados, madeira bem presente, fique com os exemplares do dito Novo Mundo ou até de outras regiões europeias, porque aqui os vinhos são de outra estirpe.

Em Chablis, diferentemente dos vinhos elaborados na Cote D’Or, a madeira é muito pouco usada e quando presente é muito sutil, normalmente usada somente em parte do vinho e na maioria das vezes barricas velhas de forma a preservar sua majestade, a uva.Região fria, mais próximo aos vinhedos de champagne do que os da Borgonha, região a qual pertence, possui um solo muito característico argilo-calcário com sedimentos de conchas marinhas fossilizadas. Uma mineralidade e acidez em perfeita harmonia com um final onde aparece muito sutilmente uma certa salinidade, são marcas registradas destes vinhos.

Este Premier Cru foi elaborado com uvas advindas de vinhedos com 33 anos, sem passageDomaine Servin Vaillons Premier Crus Chablism por madeira, aromas de frutos brancos, algo de melão Orange (viajei?!) na primeira fungada, mineral, toques florais e ao final notas de abacaxi fresco. Dá para deixar o nariz na taça por um bom tempo, pois a paleta olfativa é já bastante complexa mesmo que não explosiva, pois aqui reina a finesse. Na boca, hummm, a mineralidade e acidez em perfeita união, sabores que me levaram num passeio por um pomar de pêssegos e nectarinas, e aquele final leve toque de salinidade muito peculiar.  Pensei em lagosta, ostras gratinadas ou frescas, casquinha de siri e peixes (linguado, salmão, truta) com temperos suaves, spaghetti alle vongole (sem tomate!!) me parecem boas opções de harmonização, mas este dá para tomar só acompanhado de boa companhia e basta! Encontrar este 1ºer Cru por apenas uns 20 a 30 Reais acima do preço de um Chablis AOC,  foi realmente um verdadeiro achado!

              Por hoje é só e precisava compartilhar estas sensações com os amigos. Quem chegou a tempo, tomei com um escondidinho de bacalhau (na foto) que não harmonizou muito bem, ainda tomou uns goles já os outros ficaram no desejo mesmo, sorry. Salute, kanimambo e aguardem minha degustação de Grandes Malbecs ás Cegas (dia 10/04) antecipando a celebração do Malbec World Day e postergamos a data do Riedel Tasting para dia

Só Borgonha 1er Cru na Saca Rolha

Mais uma vez a confraria Saca Rolha se reuniu para desfrutar amizade, alegria e vinhos. Desta feita elevamos o patamar e por decisão unânime decidimos juntar alguns bons borgonhas e mais, só rótulos 1er Cru! A Raquel, nossa porta voz , dá aqui seu testemunho do evento porém antes deixem-me dar só uma interessante informação sobre a região. Recentemente vi uma lista dos 50 vinhos mais caros do mundo e dos top 10, oito, repito, oito são da Borgonha inclusive os primeiros dois! Vamos ao relato da Raquel:

A Borgonha divide com Bordeaux a notabilidade de região produtora de vinhos na França. Se por um lado, Bordeaux bourgogne_mapimprime seu caráter austero e tradicionalista, personificado através de seus châteauxs e suas grandes propriedades, a Borgonha se mostra principalmente pelas características agrícolas, com pequenas propriedades de gestão quase sempre familiar. Para seus produtores, a importância do “terroir” é o que diferencia e dá identidade ao vinho, sendo seus vinhos produzidos com apenas duas castas, Pinot Noir e Chardonnay, em suas principais sub-regiões de; Chablis, Cotes de Beaune e Cotes de Nuit sendo que na Cotes Chalonnaise também são autorizadas as brancas Pinot Blanc, Pinot Gris e Aligoté assim como a tinta Gamay que reina quase que absoluta nas regiões sul de Maconnais e Beaujolais.

            Quando surgiu a ideia de fazermos o encontro da confraria só com vinhos da Borgonha, a primeira preocupação foi o custo. Sim, são vinhos caros e sempre assustam os que querem se aventurar por essas pequenas parcelas de terra, que os “bourguignon” chamam de “Crú” e que tratam como se fossem seu solo sagrado! Desde o Século XI, os monges da Abadia de Cluny começaram a estudar e desenvolver a vitivinicultura nessa região, baseando-se principalmente na influência que as diferenças do solo exerciam na qualidade das uvas. Até hoje,  esses estudos são aprimorados e mapeados minuciosamente, mostrando cada vez mais  as diferenças geológicas, e o respeito pela excelência de cada terroir, principal fator que qualifica a produção desses vinhos. Cada “Crú” é dividido em “Climats” , lotes de vinhas, que por sua vez são divididos em “Lieu-dit” , que são vinhas com uma designação própria.

            Além disso, adotam uma classificação de qualidade com regras rígidas, onde se leva em consideração o tipo de solo, drenagem, insolação, densidade de pés por ha, rendimento por pés, etc….. que se divide entre os Comunais ou Villages, que é a maior parte da produção. Premier Crú (apenas 10%) e Grand Crú (apenas 1,7%). Por aí, já dá para entender um pouco o porque do altíssimo preço! A produção além de artesanal, é muito pequena. Só para se ter uma ideia, as vinhas do famoso “Romanée-Conti” , limitam-se a uma área de 1,62ha (16.200m2).

           É nessa escarpa, resultante de uma anomalia geológica, que mais parece uma colcha de retalhos que vamos nos divertir! E como diversão pouca é bobagem, nossa confraria munida de todo hedonismo que tem direito, escolheu degustar apenas vinhos de qualidade Premier Crú.

            Como sempre, começamos com um espumante e desta feita da região:

         Crémant de Bourgogne François Labet – elaborado pelo método tradicional com uvas Chardonnay. Cor amarelo palha, bem clarinho. Delicado e seco na boca. Tem a mineralidade típica do solo dessa região.

SR - Mercurey

           Próximo a Auxerre, está a região de Chablis. Possui um tipo de solo único, que lhe caracteriza e imprime em seus vinhos, uma identidade inimitável. Seu solo Kimmeridgiano do período jurássico (150 milhões de anos atrás) é formado de conchas  pré históricas. Dessa região provamos o Chablis Montée de Tonnerre 1er Cru 2009 – do produtor Billaud-Simon. Muito fresco e aromático. Boa acidez, bom corpo e longa persistência. Um vinho com alma marinha que combina com um final de tarde de verão na praia. Se tiver um prato de ostras frescas por perto, melhor ainda!!

             Na parte central da Borgonha, próximo a vila de Chalon-sur-Saône, está a Côte Chalonnaise. De lá, veio o Le Clos du Roy Mercurey 1er Cru 2009 –  produzido pela Domaine Faiveley. Bem clarinho na taça. Aromas frescos florais e de especiarias. Na boca mostrou-se bem diferente da expectativa incitada pelo nariz. Mostrou-se mais robusto e duro, com as mesmas especiarias, porém de maneira mais pungente. Frutas vermelhas compotadas dividiam sua doçura com a acidez, dando um equilíbrio no todo. Um vinho inquieto como a juventude. Acho que se for lhe dado um tempo de guarda deverá ter grande evolução.

             Foi chegada a hora da surpresa da noite. Estava previsto um Pinot Noir intruso para ser degustado às cegas. A primeira impressão, ainda na taça , era de um vinho mais turvo, sem o brilho do anterior. No nariz mostrava aromas suaves, vegetais, florais e animais. Em boca era bem frutado (frutos vermelhos maduros), algo lembrando vermute. Taninos macios , bom extrato e acidez bem colocada. Os que apostaram na América do sul acertaram : Este veio do Chile – Little Quino 2012 – Elaborado por William Févre,  importante produtor de Chablis. Evoluiu bem na taça, apesar de tratar-se de um vinho jovem.

             Voltando à Borgonha, mais precisamente ao norte de Beaune, está a vila (ou comuna) de Savigny-les-Beaune. Tomamos o Savigny-les-Beaune “La Dominode” 1er Cru 2008 do Domaine Pavelot. A primeira impressão desse vinho foi um enorme frescor nos aromas. Algo lembrando mentol, lavanda e sensação gelada. Sua cor, rubi  muito vibrante e luminosa. Boa acidez de frutinhas de bosque (framboesas, cerejas) , taninos suaves e corpo médio , mas com persistência. Com o tempo os aromas e sabores foram evoluindo com muita complexidade. Podia-se sentir um pouco de couro, terra molhada e um fundo floral. Um vinho que estava pronto!

             Na sequência do nosso tour enófilo, caminhamos para o sul de Beaune, onde encontramos a vila de Volnay. O escolhido foi o Volnay 1er Cru-Marquis d’Angeville 2008. Pudemos notar que nesse caso não foi especificado no rótulo o nome do 1er cru de onde se originou suas uvas. Depois pesquisando sua ficha técnica descobri que nesse caso ele é feito com uvas de três vinhedos diferentes. Ou seja, um assemblage de três “climats”,1er Cru. Assim como o anterior, o primeiro ataque dos Borgonhas é sempre muito fresco e perfumado. É como se nos convidassem a um encontro elegante e sedutor. Poderia ficar divagando horas à respeito das sensações desse vinho! Mas isso foi a minha experiência e evidentemente cada um tem a sua.

            O final do passeio foi em Côtes de Nuit , mais precisamente em Gevrey-Chambertin tendo degustado o Gevrey-ChambertinLe Champeaux” 1er Cru 2005 de Olivier Guyot, um produtor biodinâmico. A primeira coisa que me chamou atenção nesse vinho foi o rótulo. Apesar de muitos desprezarem essa informação, a mim ela diz muito, afinal é a roupagem que o produtor dá ao seu produto. Garanto que alguém pensou muito na escolha de uma imagem, que conseguisse transmitir ao menos no primeiro contato, um pouco daquele conteúdo. E nesse caso, a imagem de um camponês , com seu cavalo, trabalhando a terra, mostra bem a importância que a agricultura tem na região da Borgonha. É um rótulo simples, mas elegante, onde em primeiro lugar vem o nome do produtor, depois o ano da colheita, e em seguida o Cru e o Climat. Depois das apresentações, vamos às taças! Logo já podíamos notar uma cor mais acobreada  por tratar-se de um vinho mais evoluído (2005). Nariz discreto, mas dando dicas que está tudo ali. Aquele frescor mineral, quase um vento gelado, trazendo depois um floral, muitas frutas, ervas do campo, terra úmida, etc…….No primeiro gole, toma conta da boca uma sensação aveludada que aos poucos, vai confirmando todas aquelas dicas preliminares. Um vinho redondo, sem arestas que chamem a sua atenção a um detalhe especifico. É tudo junto e misturado e loooongo. Equilíbrio perfeito.

            Os vinhos da Borgonha, principalmente os de Pinot Noir, encontram a perfeita harmonia com o solo e clima. Sua exuberância e plenitude é copiada no mundo todo. Os que buscam um “estilo bourguignon”, em outras terras, lutam por algo que não existe nem lá. A palavra estilo só pode ser usada quando se faz o mesmo vinho todo ano e na Borgonha estão interessados no caráter de cada terroir. No vinhedo, as uvas recebem o mínimo de intervenção possível. E foi nesse pedacinho de terra, ela que é tão sensível ao clima, encontrou seu perfeito habitat. Gosta do frio, que proporciona amadurecimento mais lento dando-lhe tempo para desenvolver todo seu potencial. Por outro lado, sua casca fina, precisa de muito sol, pois o frio continuado a deixa exposta a fungos e outras doenças. Ou seja, busca por locais onde haja grande amplitude térmica. Dizem que a Pinot Noir é uma uva feminina. Delicada e melindrosa, ela dá trabalho a quem quer cultivá-la. Exige obstinação, perseverança e principalmente entendimento da natureza. Mas estando no lugar certo, e sendo muito bem cuidada, devolve com alegria tudo que recebeu.

           Para finalizar uso as sábias palavras de Carlos Drummond de Andrade que um dia disse: “Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.”

Conhece a uva Melon de Bourgogne?

choblet-fief-guerin-muscadet-534x712Francesa, mais uma, gosta de climas frios e solos de granito e xisto gerando vinhos vibrantes, leves e refrescantes sendo ótima companhia para frutos do mar, em especial de ostras. Não sei se o amigo Nilson vende bem esses vinhos no seu Armazem Conceição lá em Floripa, porém de lá aos camarões grelhados e lagosta do nosso quente nordeste, me parece a companhia ideal. Uma pena que os preços desses vinhos, assim como dos bons Gruner Veltliner austríacos, não sejam mais camaradas, porque abriria uma por semana tranquilamente. Falo dos Muscadet, como são mais conhecidos, que na verdade é uma região do Loire, e agora você já começou a conhecer a uva não? Só não DSC02915consegui saber, até agora e contribuições são bem vindas, em que momento a Melon vira Muscadet?!! rs Certamente modismo e marketing provavelmente, caiu na boca do povo já viu né!

Os vinhos desta região mais ocidental do Loire, em que a Muscadet (Melon de Bourgogne) é rainha dos vinhedos com bem mais área plantada que qualquer outra cepa, são normalmente bem secos, muito ligeiros e sem grandes atrativos, porém os que vem da região de Sévre-et-Maine e passam por uma elaboração Sur Lie, ganham essa algo mais tornando-se vinhos vibrantes com maior riqueza aromática e de sabores sem perder a sutileza que os caracteriza. São mais de 2500 produtores, alguns poucos engarrafando, que vendem seus vinhos para uma meia centena de negociants que engarrafam e distribuem esses vinhos. O frescor do vinho é essencial, então sugiro consumi-lo nos primeiros dois anos de vida, eventualmente três se o produtor for realmente bom.

Não sendo um campeão de vendas, muito em função do desconhecimento que as pessoas têm destes vinhos e um pouco por preço, em minha última promoção na Vino & Sapore “matei” umas garrafas dessas e sobrou uma que levei para casa matando saudades. Desta feita sem comida, só um queijinho de cabra, mas me deliciei com ele e seus educados 12% de teor alcoólico que permite que se tome sem muita moderação. Apesar da foto horrível acima (abaixo o rótulo para uma melhor identificação) este Domaine La Haute Févrie (Zahil) é um dos vinho de que gosto bastante e sempre tive por perto, porém o mercado possui diversas outras opções então aventure-se um pouco, saia fora de sua zona de conforto e descubra novos sabores e novos produtores, é tudo de bom!

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Salute e bom fim de semana.

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Rhône e seus Vinhos na Confraria Saca Rolha

Mais uma vez a amiga e confreira Raquel Santos nos relata sua experiência em mais um agradável encontro desta nossa gostosa Confraria. Mais que os vinhos, a oportunidade de pelo menos uma vez por mês podermos desfrutar da companhia dos amigos. Desta feita “viajamos” para a região de Côtes-du-Rhône na França e, para variar, uma diversa e saborosa seleção de rótulos culminando com uma soberba surpresa! Vejamos o que a Raquel tem a nos dizer:

  “O vale do rio Rhône, está localizado entre os Alpes Suíços e o mar Mediterrâneo. Ao norte, está a cidade de Lyon, que além de ser um polo industrial, também possui um entorno rural que abastece toda a região com uma produção de excelente qualidade. Ao sul, está a cidade de Avignon, que se desenvolveu quando no século XIV o Papado mudou o Castelo de Roma para a região e começaram a cultivar as primeiras videiras.

Mapa do Rhone - Dobra Vinoteka

Percorrendo os vinhedos que margeiam o rio Rhône de norte a sul, pode-se perceber uma grande diferença de clima, solo, e variedade das uvas. Ao norte, (Rhône Setentrional), o clima é continental com verões bem quentes e invernos frios. As videiras são plantadas em penhascos pedregosos de granito, entremeados de florestas de carvalho que refrescam o ar pela neblina ao amanhecer. A uva predominante é a Syrah. Resultam em vinhos robustos, de cor escura e longevos. Para os brancos, destacam-se a Marsanne, Roussanne e Viognier.

 Desta região, degustamos um “ Brunel de la Gardine” – 2007 – da região de St-Joseph.

        Syrah 100%, aparentemente um pouco fechado, mas aos poucos foi mostrando uma riqueza de aromas e sabores que seduziu os mais incrédulos. Talvez pelo equilíbrio, ficou mais difícil identificar uma característica isolada. Aromas de frutas, frescor e um leve defumado, alternavam-se com com a textura macia na boca sem perder intensidade.

        Continuando o passeio, em direção ao sul, (Rhône Meridional), podemos notar que à partir de Montélimar as características da região se transformam. O clima passa a ser mediterrâneo, com influências do mar. Os verões são quentes e o inverno ameno, mas as vezes chega a 0 grau. Os ventos frios que vem do sul (Mistral) fazem as chuvas serem fortes e rápidas, baixando a temperatura rapidamente à noite. Os vinhedos se expõem ao sol forte durante o dia, que também aquecem as pedras que cobrem todo o solo, protegendo a videira do frio à noite. Aqui predomina a uva Grenache que junto com a Mourvèdre, Cinsault, e também a Syrah. Das variedades brancas, encontra-se a Marsanne, Roussanne, Viognier, Clairette, Bourboulenc, entre outras que são vinificadas para tintos, brancos e rosés.

Clipboard Rhone

            Além das diversidades de solo e clima, a região do Rhône meridional, é mais recortada no que diz respeito às apelações de origem. A mais comum delas é a de Côtes du Rhône, usada genericamente. As denominações que indicam o nome das comunas provenientes, representam um fator de maior qualificação. É o que acontece no caso dos Côtes du Rhône-Village, que representa 95 comunas qualificadas.

Degustamos o “Clos Petite Bellane“-Valreas –  Um Côtes du Rhône-Village de 2007.

Logo já percebemos um aroma bem frutado, característica das castas mediterrâneas (Grenache/Syrah). Boa acidez, taninos presentes, porém delicados. De médio corpo e mostrou muita evolução na taça. Aromas herbáceos com algumas especiarias (pimenta verde e anis).

De outras duas pequenas propriedades (Cru), incrustradas entre Côtes du Rhône e Côte du Rhône-Village, foram degustados:

“Château Saint Roch Brunel” – Lirac -2008.

Aromas florais e frutas vermelhas. Bom equilíbrio entre acidez, taninos e extrato. Madeira bem incorporada. Corte de Syrah/Grenache/Mourvèdre.

Domaine la Monardière Les 2 Monardes” – Vacqueyras -2006.                                                            

Ataque floral, sobrando um pouco de álcool. O mais austero deles. Acidez e taninos bem  incorporados que alternavam com um sabor picante e frutas doces e maduras. Aromas que evoluíram bem na taça.

          Ainda circundando a região do Rhône Meridional, não poderíamos deixar de conhecer a região icônica de Chateauneuf du Pape. Conhecida não só pela sua história, mas também pela qualidade, produz vinhos com até treze castas, embora, na prática, nunca se utilize todas elas. A Grenache domina nos tintos. Os brancos, produzidos em menor quantidade, são encorpados e estruturados, com aromas delicados e grande persistência gustativa. A região demarcada fica ao norte de Avignon, onde está localizado o Castelo Papal de verão em ruínas. O clima é muito árido, pedregoso, onde só os arbustos de lavanda e tomilho selvagem, sobrevivem ao vento e a grande amplitude térmica do dia. Foi com grande prazer que conhecemos dois exemplares desse terroir:

“Domaine Font de Michelle” – 2010–

Elaborado com 70% Grenache/10% Syrah/10% Mourvèdre/10% outras: Cinsault/Counoise/Terret/Muscardin. A primeira sensação no nariz, é de frescor, ervas  aromáticas (alecrim/tomilho) e florais. Na boca, revelou-se voluptuoso, apesar de ser jovem. Me pareceu um pouco tímido (sem ser um defeito), necessitando que déssemos mais tempo a ele. Elegante muito bem equilibrado, com vocação gastronômica pela acidez bem incorporada. Grande potencial de guarda.

“Château de Beaucastel” – 2001

Essa preciosa garrafa veio da adega dos amigos Luiz e Ana, que gentilmente nos presenteou. O Beaucastel, juntamente com o Clos des Papes, são os únicos que ainda usam as 13 variedades das castas permitidas em Chateauneuf du Pape. Diferentemente do anterior, já mostrou todo seu potencial de prazer! Muito aromático (flores, frutos vermelhos silvestres, fruta seca, amêndoas, baunilha, etc….etc….e etc….). Na boca confirmava todas essas qualidades com muita elegância, mostrando através da rica paleta gustativa, as cores, sabores, e cheiros daquela paisagem.

O vale do Rhône  tem a questão do clima muito presente. Através dos seus vinhos pode-se viajar, como num filme, que nos conta a história e ensina a cultura de uma civilização. E o melhor dessa historia é quando nos identificamos com ela e temos a impressão que também podemos pertencer um pouquinho à tudo aquilo.

 Basta descobrir o caminho das pedras. “.

Coluna da Eliza – O Languedoc

            Antes dela se apresentar e começar a introduzi-los no mundo enogastronomico do Languedoc, deixa eu falar um pouco da Eliza. Durante muitos anos ela foi a alma e força motora por trás da Lusitana de Vinhos, uma importadora que fechou há uns anos e deixou saudades. Lembro bem dos; Quinta Giesta, especialmente o rosé, vinhos bem honestos da região do Dão, do incomparável e inesquecível S. Leonardo Tawny 20 anos, dos Portos da Quinta de Baldias em especial o delicioso Tawny que mais parecia um reserva e os Barão do Sul e Barão do Sul Reserva que eram incríveis relações Qualidade x Preço x Prazer. Fechou a empresa e a Eliza alçou voo rumo a uma terra distante porém encantadora e repleta de cultura, conhecimento e muito vinho! Agora, enquanto não encontra seu caminho de volta, compartilhará conosco suas experiências. Benvinda amiga e espero ansioso por mais posts.

 

            Atualmente moradora do Sul da França (quelle chance) e completamente apaixonada pela cultura local, aproveito esse espaço (gentilmente cedido pelo queridíssimo João Filipe) para compartilhar com vocês algumas descobertas, minhas impressões e ainda muitas novidades do mundo vinícola francês, disponíveis ou não no Brasil.

            Neste primeiro momento, eu proponho um resumão da história da vinha e do vinho na região Languedoc-Roussillon. Preparados?

            Foram os gregos os primeiros a cultivar a vinha na região méditerrannée, 5 séculos A.C.. Naquela época, o vinho era uma importante moeda de troca e os proprietários das vinhas possuíam poder e prestígio.

            No entanto, quem realmente expandiu a cultura da vinha, desenvolveu o comércio do vinho e até criou as primeiras regras de produção, foi o povo romano. Imaginem que, um século antes do nascimento de Cristo, ao longo de toda a voie domitienne, os centuriões romanos cultivavam a vinha e vendiam o seu fruto mais precioso: o vinho. Mas, como nada dura para sempre, com o declínio do Império, as invasões germânicas e a expansão da presença muçulmana, o comércio se desestabilizou e muitos vinhedos foram esquecidos ou arrancados…

            Por mais de 15 séculos, a região perdeu a sua vocação vinícola… apenas os monges pareciam se interessar pelas práticas vinícolas herdadas da época romana. Muitas Abadias possuíam um pequeno vinhedo, instalações para a vinificação e ainda uma cave para estocar as preciosas garrafas. Mas atenção: tudo isso para consumação própria.

            Foi somente durante os séculos XV e XVII que algumas personalidades se interessaram em desenvolver o comércio no sul da França e, em consequência, a vinha. Mesmo sendo a rota de passagem mais importante entre a Itália e a Espanha, as estradas da região eram muito perigosas e o mar repleto de piratas, o que dificultava énormément o desenvolvimento do comércio. Com a construção do Canal du Midi, em 1681, tudo mudou! A vinha expandiu, expandiu sem parar… o Languedoc tornou-se, em apenas um século, o maio produtor de eau-de-vie, aguardente de uva, do mundo. E, logo em seguida, tornou-se o maior produtor de vinho barato da França. Títulos que marcam a reputação da região até os dias de hoje.

            Mas, atualmente, muita coisa mudou por aqui. Após anos de crise e de falências de caves cooperativas, os antigos produtores preocupados com a quantidade, cederam espaço à uma nova geração de vignerons. A região, enquanto produtora de vinho, se estrutura, descobre seu terroir, tão diverso e tão rico. E nós, hoje, podemos fazer parte dessa história, degustando os vinhos da região, com toda a atenção e o carinho que eles merecem!

Destaques 2011 – França

           França e Itália são países de difíceis escolhas quando nos referimos a vinhos mais em conta pois existe muita zurrapa por aí só vivendo em função do prestigio do nome do país e/ou região. Mais comum é a qualidade e complexidade dos rótulos aparecerem mais nas faixas médias e altas de preços. Isso, no entanto, começa a mudar e já se pode encontrar produtos muito interessantes no mercado pelo que chamo de preços “acessíveis” vis-à-vis nossa realidade preços, apesar de ainda ser mais comun encontrar italianos do que franceses nessa faixa.

           De R$58 a 190,00 alguns vinhos que me agradaram bastante e merecem status de Destaques 2011 lembrando: os vinhos são destaque por “n” número de razões de cunho pessoal, inclusive a relação custo x beneficio, mas não só, pois isso sozinho não categoriza o rótulo a estar aqui, acima de tudo ele tem que surpreender nossas emoções e sensibilidade deixando marcas. Eis alguns vinhos, não deixando de antes fazer aqui uma menção honrosa a dois rótulos que também poderiam estar aqui sendo belas entradas ao mundo de Bordeaux; o Chateau la Croix du Duc e o Chateau Bellevue Lugnanac Bordeaux Superieure, ambos na casa dos R$57,00.

  • Les Gavières Chinon – produto recém chegado ao Brasil e ainda pouco conhecido do grande publico que, até por falta de boas opções, que ainda não descobriu as delicias da Cabernet Franc em varietal. Precioso e importante nos cortes de Bordeaux, na AOC de Chinon no Loire ela se supera em varietal. Já comentei aqui algumas belezuras da região, porém em outros patamares de preço. Este rótulo é uma ótima opção de porta de entrada a este saboroso mundo da Cabernet Franc (ainda listarei um brasileiro bem interessante nestes Destaques de 2011) de vinhos bem frutados, taninos macios (mais lá que por cá) e uma pimentinha de final de boca mito interessante. Neste vinho isso está tudo de lá de forma muito prazerosa até no preço justo, por volta dos R$75,00.
  • Paul Mas Estate Carignan – de um país onde a característica é de assemblages (blends) mais um varietal este sendo de produtor inovativo (sua linha Arrogant Frog é muito interessante assim como seu Viognier), midiático e modernista no estilo de seus vinhos. Produzido com vinhas velhas, este surpreende tanto na boca quanto no preço, em torno de R$58,00. Bom corpo, rico, taninos aveludados, boa fruta, especiarias, notas tostadas no olfato, um bom vinho que pede pratos de bom peso como guisados, carnes ensopadas e coisas do genêro. Gostei bastante.
  • Chateau Les Hautes Tuileries – é um Bordeaux da sub-região de Lalande de Pomerol, um muito bom vinho que mostra bem a classe dos caldos desta região. Com maior participação de Merlot e Cabernet Franc, possui taninos bem sedosos, notas terrosas e frutos negros, toques químicos no nariz, boa acidez, madeira bem aplicada ressalta o conjunto. Termina com boa persistência e uma gulosa sensação de fruta levemente apimentada. Custa ao redor dos R$110, valor que me pareceu bastante justo para um Bordeaux deste porte. Foi muito bem com um filé ao poivre.
  • Renaud de Valon St. Chinian – os vinhos desta sub região são dos que mais me agradam no Languedoc  e este não foge á regra. Por sinal, o Languedoc produz hoje alguns dos vinhos mais interessante e de boa relação Qualidade x Preço x Prazer na França e é por si só uma região a ser explorada inclusive por sua diversidade de terroirs e uvas. Este vinho me agradou muito em função de sua textura, estrutura de boca, fruta muito presente, taninos finos e uma boca densa e redonda, um conjunto muito harmônico que seduz e pede bis. Boeuf Bourguignone me parece um belo parceiro gastronômico. Custa por volta dos R$85,00.
  • Brunel de la Gardine St. Joseph – do mesmo produtor do Chateau de la Gardine Chateauneuf-du-Pape, é um Syrah 100% que costuma levantar suspiros em minhas degustações ás cegas. Um vinho que atrai sobremaneira por sua complexidade, riqueza de sabores e forma como se abre na taça tanto no sentido olfativo como no palato. Especiarias, fruta tudo lá de forma muito equilibrada e elegante, num conjunto sem arestas. O primeiro Syrah a se contrapor ao Schild Shiraz (campeão nas minhas degustações de Syrah), um belo vinho! Custa ao redor dos R$110,00.
  • Baron de Brane 2007 – numa faixa de preço que considero ainda aceitável, mesmo que não facilmente acessível à maioria entre os quais me incluo, um dos vinhos que mais me agradou neste ano que passou. É o segundo vinho do Chateau Brane-Cantenac da região de Margaux, consequentemente com uma maior participação de Cabernet Sauvignon no seu assemblage. Corpo médio, muita fruta (ameixa bem presente), especiarias, notas terrosas, taninos muito finos, boa acidez, equilíbrio, um final de boca saboroso e de boa persistência. Deu-se bem com cabrito assado no forno com batatas, mas sozinho já é um deleite! Um vinho que mostra bem porquê a AOC de Margaux é tão valorizada primando pela elegância de seus vinhos. Preço na casa dos R$190,00.

        Amanhã, espero, estarei de volta aqui para apresentar os Destaques 2011 italianos com mais algumas novidades. Por hoje é só e espero você na Vino & Sapre para brindarmos ao Dia do Vinho do Porto nesta Sexta e Sábado. Salute e kanimambo