Cheguei ao final de meus posts sobre os vinhos que tomei e aprovei nesta minha viagem pelos vinhos da França. Foram dois meses de muito prazer, algumas desilusões, uma ou outra frustração e diversos ótimos achados. Nas regiões da Borgonha, Loire e Rhône, como aconteceu quando falei sobre Bordeaux e Languedoc, a faixa de R$50 a 80,00 é tão fértil, que sobra pouco espaço e disponibilidade financeira para viajar além. Os próprios parceiros trabalham mais esta faixa, então fica mais difícil provar vinhos de maior envergadura, chamemos assim. Todavia, alguma coisa provei e muitos são verdadeiros néctares, alguns imperdíveis. Para finalizar estes posts, dividi este em duas partes; a da faixa de R$80 a 120,00 e uma outra com valores acima disto. Vamos lá, falemos dos vinhos!
De R$80 a 120,00 alguns vinhos de tirar o chapéu a começar pelo Loire com três magníficos e exuberantes vinhos, um ótimo vinho do Rhône e dois da Borgonha;
Loire – Mademoiselle T 06 Pouilly-Fumée* (Decanter), nenhum outro Sauvignon Blanc terá a mínima graça depois de provar este vinho. Daqueles vinhos que uma pessoa não sabe se funga ou se bebe! Uma paleta aromática de grande intensidade e complexidade, absolutamente sedutora que nos faz abrir um enorme sorriso. Na boca é de um enorme frescor, intenso, frutos cítricos, uma boa dose de mineralidade em perfeita harmonia e elegância. Um vinho inesquecível e apaixonante. Ainda nesta linha, um delicioso Acquarelle Pouilly-Fumée 06 de Pascal Jolivet ( Mistral) muito suave, sem a mesma pujança que o anterior, mas apresentando uma delicadeza muito especial com um final de boca longo e prazeroso. Com a uva Chenin Blanc, um exuberante vinho produzido por uma das principais e prestigiadas vinícolas da região, a Hüet, É o Vouvray Séc Le Haut Lieu 2005* (Mistral), um grande vinho de um nariz estupendo em que sobressaem frutas brancas tipo maça verde e pêra, ótima acidez, cheio na boca, seco no ponto certo, um vinho extremamente saboroso, de grande qualidade e persistência que certamente elevará qualquer refeição à quase perfeição. Dizem que cresce com mais uns cinco ou dez anos na garrafa, será? As minhas, quando as tiver, não agüentarão tanto tempo, pois não tenho tanta força de vontade assim!
Cotes-du-Rhône – Não tomei muitos nesta faixa de preços e, um em especial me cativou e me encantou, Rasteau Village 05 de Domaine la Soumade 05* (Zahil), um corte de 80% Grenache com 10% cada Syrah e Mourvédre que resulta num belíssimo vinho com um nariz não muito intenso. É daqueles vinhos que cresce assustadoramente na boca com forte presença da uva Grenache que lhe traz intensa fruta vermelha, boa acidez, taninos finos e elegantes, denso, de corpo médio com um longo e suculento final de boca com leves toques de especiarias. Beleza de vinho que, certamente melhorará ainda mais com um ou dois anos de garrafa.
Borgonha – Afora os tintos, finalmente o meu primeiro Chablis um dos meus vinhos brancos preferidos. Lamentavelmente, por seus preços serem bastante caros, provei poucos dos que há disponíveis no mercado. Quando viajava, mais assiduamente, internacionalmente, volta e meia encontrava algumas boas oportunidades e comprava umas duas ou três garrafas, porém, a maioria, não estão disponíveis no mercado. Vi diversas opções mais baratas em catálogos, mas este Chablis 1er Cru Montmains do Domaine Race 05 (Nova Fazendinha-RJ) foi um verdadeiro achado. Muito bom, ótima cremosidade, acidez adequada, médio corpo, na boca é complexo, de boa estrutura e muito saboroso. Para ser exuberante falta-lhe, em minha opinião, aquela mineralidade presente nos grandes vinhos desta região, Agora, pelo preço, em torno de uns R$80,00 no Rio de Janeiro, é imbatível. Dos tintos, um excelente, talvez o melhor de todos os Borgonhas genéricos que tive a oportunidade de provar, o Bourgogne Pinot Noir 05 de Olivier Leflaive* (Wine Premium) produzido na região de Cotes de Beaune. Faz lembrar alguns Villages, parece um vinho mais evoluído, com uma linda cor ruby, brilhante e límpida como só um Pinot de qualidade possui. Um nariz muito elegante, aliás como tudo neste vinho, em que se destaca uma fruta vermelha (Ameixa?) fresca e leves toques florais. Na boca é de médio corpo, sedutor, taninos finos e aveludados, um vinho realmente encantador e de boa persistência.
Acima de R$120,00 o céu é o limite o que, na Borgonha, nos leva a preços realmente estratosféricos. Mas também não exageremos, há muitos rótulos deliciosos e exuberantes entre todos aqueles que já apresentei nestes posts de Tomei e Recomendo na França. Não reconhecer, todavia, que esses são grandes vinhos e verdadeiros néctares é impossível, pois seria negar o óbvio. Quanto maior for o preço, melhor o vinho, certo? Bem, deveria ser sim, aliás, se espera isso de um vinho de alto preço, mas não necessariamente. Nestas degustações que tive, provando vinhos da França, provei vinhos bastante caros que, na minha humilde opinião, eram bem aquém do esperado, inclusive de vinhos bem mais em conta. Os que aqui listo, foram os que mais se destacaram e que acho, havendo caixa, são imperdíveis e vinhos inesquecíveis. Nestes casos, pela simples questão de que, tivesse eu essa capacidade financeira, os poderia tomar sempre, não há preferidos e não há asteriscos. Como não são muitos, não os dividirei por região e darei idéias de preços, vamos lá.
Dois brancos excepcionais, um da Borgonha e outro do Loire. Aligoté de Bouzeron 05 do Domaine Aubert et Pamela Villaine (Expand) um projeto biodinâmico da mesma família que controla o famoso Domaine de Romanée-Conti. Um vinho realmente excepcional e surpreendente para uma cepa que não é das mais conceituadas. Este 2005 tem uma tendência de maior cremosidade, enquanto o 2006 puxa mais para um frescor, algo mais jovial e “irrequieto”, se é que um vinho pode ter esse perfil. Em qualquer um dos dois, uma elegância impar, extremamente complexos, muito aromáticos e de grande harmonia com um toque mineral absolutamente cativante que ajuda a arredondar a acidez bem acentuada. Um belo vinho por um preço condizente com o que é oferecido, R$138,00. O vinho do Loire é um dos melhores vinhos que já tive a oportunidade de provar e, certamente fará parte de minha adega muito em breve. Quarts de Chaume de Domaine Baumard (Mistral), um vinho de reflexão, uma verdadeiro elixir dos Deuses, sob o qual já tive o prazer de escrever e descrever a enxurrada de emoções e sensações que me causou. Propositalmente não mencionei a safra, porque pouca diferença deve fazer já que todas as avaliações lhe dão 90 pontos ou mais. Eu não sigo muito esse negócio de notas, mas elas ajudam a nos mostrar tendências, o que ocorre neste caso. O preço varia de algo ao redor de R$150,00 para o de safra 2000, até R$260,00 para o da safra 2006 que, dizem, está excepcional e levou 98 pontos da Wine Spectator enquanto o da safra 2000 teve “somente míseros” 90 pontos!. Eu provei o de safra 2003 e até agora não me recuperei, uma incrível experiência. Este é para quem não gosta de vinhos doces, para aniquilar com seu preconceito, e para o deleite daqueles que gostam.
Três Borgonhas de grande qualidade, dois dos quais do mesmo produtor, Philippe Bouchard. Primeiramente o excepcional Savigny-lès-Beaune, 1er Cru Clos de Guettes 03 (Vinea Store) que é difícil de descrever. Tentei fazê-lo em um post específico, não sei se consegui, mas resumindo em poucas palavras é mais um daqueles vinhos que você não sabe se ”funga” ou toma e, na boca, é a personificação da elegância, um maravilhoso e inebriante néctar, sonho de qualquer enófilo. Por R$276,00, é um achado perto de outros que há por aí. Não é para todos, mas para quem pode pagar esse preço por um vinho e tem uma queda por vinhos sedutores, a escolha é esta! O primo mais novo deste vinho, é o Hautes Cotes-de-Nuits 05 (Vinea Store) que provei na Expovinis e, mesmo com já diversas provas nas costas nesse dia, fui surpreendido por este vinho, também produzido por Philippe Bouchard, e mais uma vez me senti “fisgado”. Não tem a mesma intensidade aromática e complexidade do Savigny, mas é um vinho que ainda te seduz pelo nariz. Depois, na boca, só vem confirmar as promessas olfativas resultando num vinho muito equilibrado, de taninos finos e boa acidez, num conjunto muito redondo e saborosíssimo final de boca de longa persistência. Um vinho encantador e muito, mas muito agradável por um preço que, acho, já dá para aprontar uma estripulia, R$133,00. Um outro grande vinho que tive o privilégio de degustar, foi o Nuits Saint Georges 05 de Corton-André (Fasano), um vinho de grande sutileza, suave mas repleto de sabor e aromas complexos. Grande harmonia, taninos elegantes e aveludados, vinho que encanta e seduz, mas o preço é bem salgado, R$539,00.
É isso meus amigos, daquilo que provei, o que listei foram os vinhos que mais me encantaram e me despertaram sensações muito prazerosas. Acho que é para isso que o vinho existe, para nos dar prazer e, com maior ou menor intensidade, foi isto que senti ao degustar estes vinhos. Salute, bom proveito e, ao longo da próxima semana falaremos um pouco sobre a região do Loire e do Cotes-du-Rhône, haverão posts com as Boas Compras que nossos parceiros destacarão e sempre alguma coisinha mais. Nos vemos por aqui.
Salute e kanimambo.
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