Este segundo mês Falando de Vinhos e Regiões da França, nos traz à Borgonha (Bourgogne), uma região pequena de somente cerca de 51 mil hectares dos quais, 23 mil na sub-região de Beaujolais (menos nobre) resultando em apenas cerca de 28 mil que são distribuídos por todos as outras sub-regiões. É um retalho de pequenas micro-regiões (mais de 100 AOCs), pequenos produtores, cooperativas e negociantes. Quando um vinhedo pertence a um só dono, é denominado Monopole. Por outro lado, existem vinhedos, como o de Clos Vougeot, que possui 51 hectares dividido entre 80 proprietários diferentes, cada um fazendo o que quiser com sua parcela. No total, são mais de 4300 Domaines (denominação de propiedade similar aos Chateaus em Bordeaux) dos quais 85% têm menos de 10 hectares.
É uma região que possui características climáticas muito complicadas e a sua principal uva, a Pinot Noir, que produz verdadeiros néctares, é de difícil cultura e viníficação. Aqui, mais que em qualquer outro local, a análise das safras e o terroir são essenciais para quem quer se aventurar por estas paradas. Todos os especialistas são unânimes em dizer que as diferenças entre bons e maus produtos é muito grande tornando extremamente complexa a compra destes caros vinhos. Uma boa assessoria e boas dicas de alguém em quem confiem são, mais do que nunca, uma necessidade imperiosa.
Os tintos são menos tânicos, devendo ser tomados levemente refrescados em torno de 16º. Os bons; são vinhos sensuais, de extrema elegância e apaixonantes, produzidos em pequenas quantidades, com alta demanda e preços bastante caros. As grandes uvas são as Chardonnay e Pinot Noir, com a presença de Gamay na sub-região de Beaujolais e uma ou outra micro-região em que o corte Pinot com Gamay são permitidos. É, também, a região no mundo, onde estas cepas melhor conseguem expressar toda a sua complexidade e elegância de forma inimitável. Diferentemente de Bordeaux, aqui os vinhos são, essencialmente, varietais, mas com uma diversidade de aromas e sabores impressionante devido à grande variedade de terroirs. São mais pálidos com uma certa transparência, mas não por isso menos intensos de sabores e aromas, muito pelo contrário. Considerando-se a relativa fragilidade da Pinot Noir, contrariamente a vinhos elaborados com Cabernet Sauvignon, evite decantar o vinho deixando-o evoluir na taça. Nos brancos, Chardonnay para todos os gostos, de leves, aromáticos e minerais em Chablis, até encorpados e densos como os de Montrachet. Dados estatísticos podem ser vistos nas tabelas publicadas no post “França – Regiões e Uvas”. Agora, demos uma olhada nas sub-regiões da Borgonha:
Chablis, (100% Chardonnay) parte mais ao norte da Borgonha, produz, para o meu gosto pessoal um dos melhores, se não o melhor, vinho branco do mundo elaborado com esta cepa. Um bom Chablis possui uma leveza, paleta aromática, frescor, maciez e mineralidade difíceis de serem imitadas, tão pouco ultrapassadas, devido às características do solo da região. Os vinhos das denominações Petit Chablis e Chablis, são mais ralos, alguns bons, mas acabam sendo caros para o que entregam e são vinhos para tomar até uns 3 anos de idade, quem sabe quatro. Já os Chablis Premier Cru e os Grand Cru, apesar de caros, o que me faz comprá-los somente no exterior, quando de eventuais viagens, onde não são exatamente baratos, porém sendo bem mais acessíveis que por aqui, são outra conversa. Os Premier Crus permitem uma guarda de quatro a sete anos, enquanto os Grand Crus permitem esticar esse período por mais uns três anos. Importante considerar estes potenciais tempos de guarda para não cair em algumas eventuais armadilhas encontradas em promoções com oferta de vinhos velhos. Lamentavelmente, demasiado caros não sendo para qualquer bolso, mesmo os vinhos mais simples. Por sinal, minha adega está sem nenhum, não se acanhem! rsrsrs
Cote D’Or – É uma escarpa resultante de uma anomalia geológica que levou à erosão das bordas do planalto Borgonhês. Somente cerca de 50 quilômetros de extensão, mas o mais importante, conhecido e valorizado pedaço da Borgonha. A Cote D’Or está dividida em duas micro-regiões, ao norte a Cotes de Nuits e ao sul a Cotes de Beaune. Genericamente falando, a Cotes de Nuits produzem vinhos mais estruturados e de intensidade superior, enquanto a Cotes de Beaune mostra mais elegância e frescor. Isto, porém, não é uma regra sem exceções já que Pommard gera vinhos densos, duros e tânicos que pedem tempo na garrafa para amadurecer e, no entanto, se situa em Beaune.
· Cotes de Nuits – Quase que a totalidade de vinhos tintos e a maioria dos Grand Crus. Importantes vilarejos/comunas considerados micro-regiões são; Morey Saint-Denis, Gevrey-Chambertin, Chambolle-Mussigny, Vougeot, Nuit Saint-George, Vosne-Romanée e Echezaux.
· Cotes de Beaune – Com cerca de 20% de produção de brancos (Chardonnay e Aligoté) a maioria dos Grand Crus brancos se encontram por aqui. Os importantes vilarejos/comunas são; Aloxe-Corton, Pommard, Volnay, Savigny-les-Baune (de onde tenho provado magníficos e exuberantes vinhos), Beaune, Mersault, Puligny-Montrachet, Chassage-Montrachet e Saint-Aubin.
São, em sua grande maioria, vinhos caros sendo difícil encontrar um vinho, mesmo que básico, por menos de R$60,00 ainda que em oferta. Os vinhos de maior qualidade já se aproximam dos R$100 e os realmente bons acima dos R$150,00 tendo o céu como limite. Um dos vinhos mais caros do mundo vem desta sub-região, é o Romanée-Conti do qual se produzem pouquíssimas caixas ao ano. Preço? A bagatela de, no mínimo, R$10.000 podendo, facilmente chegar a R$20.000. Interessante é que o maior colecionador mundial destas preciosidades é Brasileiro, vive em São Paulo e é político! Legal, não? Mais um dado interessante é que, dizem, o custo de produção equivale a algo como Euros 18 a 20 por garrafa! Na hora que cola o rótulo ……. quem sabe, um dia, consigo cheirar uma rolha!!
Cote-Chalonnaise – Uma sub-região menos valorizada, ao sul de Beaune, porém com algumas AOC’s bastante interessante e com produtos menos valorizados, porém de grande qualidade. Um exemplo é Bouzeron com deliciosos vinhos brancos elaborados com Aligoté e Mercurey com belos vinhos tintos de boa concentração e equilíbrio entre os quais um dos destaques do mês. Fora estas duas, boas opções poderão ser garimpadas em Givry, Montagny e Rully.
Mâconnais – O rótulo AOC Macon, é genérico e, de acordo com Saul Galvão, produz alguns brancos interessantes, porém seus tintos costumam ser fracos e caros para o que são. Os Macon-Village são vinhos mais elaborados bem frutados, para serem tomados jovens sendo uma categoria bem superior. Duas outras AOC’s produzindo bons vinhos brancos são, Pouilly-Fuissé e Saint-Véran.
Beaujolais – Região que pouco tem a ver com o resto da Borgonha e é, muitas vezes, analisado como uma região independente. Comercial e administrativamente, está “amarrada” à Borgonha, mas tem terroir bem diferenciado usando, essencialmente, a uva Gamay na elaboração de seus vinhos. Dos mais famosos, bom marketing, são os Beaujolais Noveau que são distribuídos anualmente, todo a terceira Quinta-feira de Novembro, em todo o mundo, sendo vinhos para serem tomadas em até seis meses, com muita sorte um ano, devido ao tipo de vinificação adotada. São vinhos elaborados através de maceração carbônica, método de vinificação sob o qual produzirei post um pouco mais adiante. Se você vir uma oferta de Beaujolais Noveau com mais de um ano de vida, não caia nessa! São vinhos, em sua grande maioria, leves, frescos, bem frutados e joviais para tomar refrescado a 14º enquanto se traça um belo sanduba. Nada de sofisticação ou complexidade, são vinhos ligeiros e fáceis de tomar, sem grandes comprometimentos e baratos. Os melhores são os Beaujolais-Village que, normalmente, possuem um pouco mais de estrutura. Dentro da região existem os Crus, que aqui não indicam um vinhedo e sim comunas (vilarejos), e aí o papo é outro. Seguem sendo vinhos bem mais acessíveis que o restante da Borgonha, porém já possuem um outro nível de qualidade, maior estrutura e intensidade de sabores e aromas do que os Beaujolais mais comuns. Entre estas cerca de 10 Crus, algumas se destacam como; Moulin-a-Vent, Fleurie, Morgon, Brouilly, Juliénas e Saint-Amour todos com vinhos mais elaborados e com maior potencial de guarda podendo evoluir até quatro, cinco anos ou até mais, em especial os primeiros três aqui citados, quando tendem a se assemelhar aos vinhos elaborados com Pinot Noir. Alguns dos vinhos que Tomei e Recomendo, vêm desta região e surpreendem.
Bem, por hoje é só (?!). Nesta Quarta-feira completo este post falando das denominações de qualidade usadas na Borgonha e, logo depois, o primeiro dos Tomei e Recomendo deste mês. Ao longo do mês, posts com informações sobre as regiões do Loire e de Cotes-du-Rhône. Muito trabalho, muita pesquisa e pouco tempo, mas vamos em frente!
Salute e kanimambo.