Mais um Azarão Faturando uma Degustação às Cegas

breno3O amigo e colaborador Breno Raigorodsky volta e meia retorna a este blog com crônicas e relatos que deixam sempre algo para se pensar, não fosse ele também um filósofo! Neste momento em que o trabalho, aquele que rende (!), toma conta de todo o meu tempo e a inspiração teima em não aparecer, o Breno nos envia este interessante texto. Aproveitem o fim de semana para ler e reler tirando suas próprias conclusões. Salute e kanimambo.

          “Espero que você não fique angustiado com o que vai ler a partir daqui, pois suas certezas mais uma vez irão parar no lixo. Quem deveria ganhar esta degustação, o vinho mais caro ou o mais barato? Quem deveria estar no topo, o famoso Barbaresco, o consagrado Barolo o simples Nebbiolo, ou ainda o mais improvável Barbera? Numa degustação anterior, quando o mundo dos vinhos do sul do Rhone ganhou uma amplitude muito maior do que se esperava ao vermos os Côte de Ventoux mostraram-se a altura de qualquer disputa regional, desbancando os vinhos mais notáveis da degustação Chateauneuf-du-Pape incluso, ocorreu algo igual.

       Mas não, não me sinto nem um pouco privilegiado pela originalidade com estas surpresas. Agora mesmo corre pela internet um vídeo no youtube de uma degustação feita com gente muito séria e competente, onde um vinho de 14 Euros (Chateau Reignac) tirou segundo lugar, numa prova às cegas onde estavam presentes alguns dos maiores monstros sagrados da literatura específica, grandes Bordeaux, como Petrus, Lafite, Latour, Ausone etc. todos eles custando acima de 700Euros, numa desproporção que “echape”! Desde 1976, aliás, desde que os californianos bateram os franceses em terra gaulesa, as surpresas nas degustações não pararam mais.

 Agora, me permitam esticar um pouco mais esta digressão.

       Somos um poço de inseguranças trasvestidas em certezas, quando se trata de impressões sensoriais e nas degustações às cegas isso fica super evidente. Tateamos claudicantes por um castelo de cartas sempre muito disposto a desabar, feito por expectativas. Sintomático é o caso que apareceu há meses no Estadão de uma experiência feita nos EUA, onde experientes degustadores foram chamados a escolher entre dois vinhos, sabendo que o primeiro custava o quádruplo do segundo, US$80,00 e US$20. A preferência massacrante caiu sobre o primeiro, apenas por conta da excitação que a relação preço/qualidade cria em nossos neurônios porque eram exatamente iguais, eram gêmeos em garrafas diferentes, como se mostrou aos degustadores no fim do teste, para total insatisfação e incredulidade desses!

       Estas inseguranças se escondem sob a forma de informação adquirida em literatura. De fato, um vinho é melhor que o outro por várias razões bem objetivas – complexidade, tempo potencial de guarda, afinamento em madeira nova, afinamento em garrafa por determinado tempo, qualidade da vinificação, solo, clima e plantação em condições ideais, etc. E, no entanto, essas condições serão apenas percebidas como atributos positivos se forem perfeitamente alinhados com condições subjetivas tão importantes quanto – o perfume conhecido exalado pela cepa reconhecida, a cor, a untuosidade e a densidade esperados, servido na temperatura e nas condições reconhecidas ou esperadas.

 Desta feita, numa aula sobre vinhos do Langhe Piemontês, a coisa se complicou por várias razões –

  1. Lá se produz alguns dos vinhos mais desejados do planeta, aspiração dos amantes do vinho em geral, parte componente de um grupo de vinhos que sempre foram muito queridos, desde os tempos que a burguesia queria consumir o que era privilégio da aristocracia. Barolo era o vinho da corte italiana, o “vino dei re, Il re dei vini”. Se não fosse por outra razão, ele se revestiu sempre de uma aura de qualidade apenas abaixo dos vinhos dos reis vindo de Bordeaux e da Borgonha.
  2. Frustrados ficaram os que esperavam mais do Montestefano, por exemplo, um vinho que se sai com 93 pontos dados pelo Robert Parker e o que tem a melhor avaliação entre os degustados é visto assim pela equipe do Wine Advocate: “O Barbaresco Riserva 2005 Montestefano apresenta um núcleo de rosas maduro, pleno de framboesas e especiarias em torno, um vinho redondo e sensual, um Nebbiolo. A complexidade continua com couro, alcaçuz e anis num acabamento sublime e outras nuances. É um grande vinho…”
  3. Ao mesmo tempo, ao contrário dos vinhos franceses mais importantes, cuja cepa e vinificação vêm sendo imitadas e recriadas ad nauseum não apenas no Novo Mundo mas também no Velho Mundo, os grandes italianos do norte são quase desconhecidos, pois suas uvas não pululam por aí. Portanto, os degustadores esperavam afirmar impressões literárias e menos reconhecimentos sensoriais.
  4. Ao contrário dos Barolo e Barbaresco, mas na mesma força em vetor apontado para o outro lado, os Barbera e Langhe Nebbiolo, são percebidos como menores pela literatura. Portanto havia de se esperar menos concentração, menos complexidade. Aqui também, o número de goles destas uvas por participante estava abaixo de duas taças, vida afora!
  5. Os vinhos de hoje estão diferentes dos vinhos de ontem. Mesmo um Barolo, mesmo um Bordeaux, com toda a sua imponência, não resiste aos apelos do mercado comprador, bastante diferente do de 20 anos atrás. Faz-se grandes vinhos muito mais leves e amistosos, assim como se faz vinhos com as uvas menos nobres com toda a nobreza possível na vinificação, exigências do mercado! Ou seja, nebbiolo trabalhado com menos pompa e circunstância, Barbera tratado como se fosse uma uva cujo potencial não tinha sido ainda explorado. Eu, que ousei gostar demais do Barbaresco Santestefano, não o reconheci Barbaresco por um minuto sequer, menos pela complexidade de frutas e florais característicos, mas pela aparência transparente e o sabor muito pronto. Me enganaram direitinho, pois juraria que ele era um Langhe, jamais um Barbaresco, com seus 30 meses de madeira e 24 de garrafa!

 O campeão foi um Barbera D’Asti, desbancando o citado Barbaresco Montestefano e o Barolo Camilano, vinhos que custam entre duas e três vezes mais. Eis todos os rótulos que estiveram presentes na degustação, pela ordem:

  1. Barbaresco Montestefano 2005.
  2. Tenuta Carreta Barbaresco Garassino 2004.
  3. Tenuta Carreta Nebbiolo D’Alba Tavoleto 2008.
  4. Barolo Camilano 2001.
  5. Barbera D’Asti Superiore Valfieri 2005.
  6. Massolino Barbera D’Alba.

     Todos foram degustados pelos 10 participantes em duas passagens às cegas, uma primeira a pão e água, uma segunda com a colunata ou bresaola e o plin regado a azeite de trufas que o Pier Paolo Pichi nos serviu, e finalmente uma terceira passagem, então sem a proteção de alumínio, e acompanhada pelo pato, que fechou a nossa bateria de pratos salgados.

      O nº5 ganhou nas duas primeiras passagens com alguma folga (6 votos e 7 votos, contra 3 votos para o nº4), embora a disputa fosse intensa, já que todos foram unânimes ao dizer que esta foi das degustações mais equilibradas das 10 que já fizemos.”

Mais um texto do amigo e colaborador, Breno Raigorodsky; 59, filósofo, publicitário, cronista, gourmet, juiz de vinho internacional e sommelier pela FISAR. Para acessar seus textos anteriores, clique em Crônicas do Breno, aqui do lado.

Que Vinho Era Aquele? Não Parecia mas é!

Para saciar a curiosidade dos amigos, especialmente da Brenda (rs), eis aqui o vinho que me inspirou a provocá-los com o quizz da semana passada. Concordo que talvez se estivesse no vosso lugar, teria chutado, como muitos fizeram, um Rioja antigo, quem sabe até um Tondonia  ou, quiçá,  um Pinot.  Charme, um belo vinho que me impressionou na degustação dos Douro Boys também seria candidato, mas gente, esse vinho é um Brunello di Montalcino e dos bons! Quem chegou mais perto, diria até que acertou, apesar de também ter sugerido um Rioja, foi o amigo Emilio da Portal dos Vinhos, mas ele é suspeito pois tem uma certa paternidade sobre o caldo. Poggio di Sotto Brunello di Montalcino 2006, sério candidato a melhor vinho tomado em 2011! O tal do Parker lhe deu 97 pontos e, desta feita, tendo a concordar com o dito “guru” das notas, o midas dos produtores!

Minha visita ao evento promovido pelo Consorzio di Montalcino reunindo 32 produtores ainda será alvo de um post especifico, mas este vinho, o melhor que provei na mostra, merece um destaque especial, e um post especifico pois é inebriante e me mostrou uma faceta dos Brunellos que eu desconhecia. Serviu, inclusive, para eu finalmente entender do porquê que todo mundo exaltava os Brunellos e eu nunca ter me seduzido por ele. Não que não gostasse, na maioria são ótimos vinhos, mas sempre os achei muito novo mundistas, muito densos, super extraídos e potentes, um pouco over eu diria. Estes vinhos mais comumente encontrados por aqui, descobri agora, porque os Brunellos não são lá muito a minha praia, até em função de preço, são vinhos intitulados modernistas, de maior sintonia com o mercado especialmente o americano. Talvez por isso, os poucos que havia provado não tenham feito a minha cabeça, que me perdoem os apreciadores do gênero, e esta cor na taça seja estranha para a maioria dos amigos.

O Poggio di Sotto é um produtor tradicionalista num estilo em que predomina uma elegância estruturada sem excessos, porém com enorme complexidade, tudo na medida certa sem arestas nem exageros de qualquer espécie.  Muito aromático e sedutor no nariz, na boca explode com uma riqueza de sabores difícil de descrever e, mais do que tentar entendê-lo, deixei-me levar pelas emoções que me provocou, uma verdadeira massagem na alma e no espirito. Profundamente equilibrado, médio corpo, taninos sedosos, uma acidez gulosa que chamava comida que era absolutamente desnecessária, pois o vinho em si já era uma tremenda viagem de reflexão e enorme satisfação com um final interminável. Eu, essa garrafa, uma boa musica de fundo, eventualmente uma boa companhia como minha esposa que bebe pouco, eh/eh, e mais nada! Uma verdadeira experiência hedonística á qual retornei três vezes e não sei quando poderei repetir, já que por volta dos R$750,00 (em 2014 por volta de R$1.000) não tem muitas chances de visitar minha adega pessoal. Para quem tem, eis uma despesa que vale a pena, um grande Brunello, um grande Vinho, assim mesmo, com V maiúsculo!  Divino, sublime, escolha seu adjetivo, o vinho é uma tremenda viagem pelo complexo mundo das sensações gustativas, um verdadeiro vinho de reflexão.

Seu Rosso di Montalcino também é um belo vinho, mas desse e outros comentarei em meu post da semana que vem sobre esse encontro com Brunellos e Rossos promovido pelo Consorzio no mês passado, por sinal uma das melhores degustações que tive a oportunidade de participar este ano. Uma experiência inesquecível que fiz questão de compartilhar com você, pois essa é a verdadeira essência deste blog.

Salute gente, um baccio per tutti deste mais  novo discípulo de Brunello!

Diversidade Italiana num Encontro Divino com 12 Mulheres

Um grupo de amigas se encontra mensalmente para explorar os sabores do vinho e descobrir os segredos de deus Baco! Tenho a honra de ter sido escolhido por elas, sim porque a escolha é sempre delas, como seu guia nessa viagem e, desta feita, incansáveis em sua sede de saber,  após seis, ainda pediram mais e terminamos com o soberbo Amarone Ca del Pipa Cinque Stelle acompanhado de lascas de Gran Mestri, um queijo tipo Grana Padano de muita qualidade produzido em Santa Catarina. Passeamos virtualmente por parte da Itália, deixando a outra parte para uma segunda viagem, mostrando toda a diversidade e grandeza dos vinhos italianos.

       Iniciamos pelo Veneto nos deliciando com um fresco e muito bom Prosecco Incontri elaborado por uma mulher de talento, a Piera Martelozzo, e nos esbaldamos com o Costamaran Valpolicella Superiore Ripasso que é um tremendo vinho, complexo e encantandor mostrando que a região de Valpolicella tem diversas vertentes, entre elas a de grande qualidade como os vinhos deste produtor (Castellani); na Puglia provamos o Prima Mano, um belo exemplo de um primitivo muito estruturado e saboroso; passamos por Abruzzo e vimos que a colina Terramane, unico DOCG da região, pode produzir vinhos inesquecíveis e o Notari Montepulciano d’Abruzzo é um claro exemplo disso com sua cor intensa, denso, untuoso e quase mastigável, taninos finos e muita fruta no nariz;  terminando esta primeira etapa da viagem na magnifica Piemonte onde provamos um delicado Michelle Chiarlo Barbera d’Asti Superior Le Orme pleno de sutilezas e o valente Tre Ciabot um Barolo de La Morra produzido pela Cascina Ballerin, vinhos de muita qualidade e extremamente gastronomicos que imploravam por comida.

            Mas este seleto grupo de mulheres se mostrou insáciável neste encontro não resistindo a um vinho de pura reflexão, o divino Ca del Pipa Cinque Stelle um belissímo exemplo de Amarone muito balanceado em seus 15.5% de teor alcóolico, complexidade na boca com um final longo, daqueles vinhos que, na duvida entre se fungarem ou se beberem, são para ser lambidos em puro extâse, um vinho soberbo e inesquecível que marcou este encontro marcante com Baco e suas tentações!

          A grande maioria elegeu o Amarone como o grande vinho da noite (pudera!), mas a prova como um todo foi de um nível de qualidade muito bom e marcante, cada vinho com seu jeito e sua personalidade. Impressionou muito o Costamaran Valpolicella Ripasso, que passa por barricas usadas de Amarone, em função do preço e do fato de que pouco se esperava de um Valpolicella, marca regional amplamente degradada pelos fiascos de palhinha de outrora!

        Feliz por ter podido usufruir e contribuir com este encontro, fico-me perguntando como superar esta experiência em nosso próximo? Certamente um trabalho que vai demandar mais criatividade e serenidade na escolha de novos caldos e, esperamos, alguns néctares que desfrutaremos na continuação desta viagem pela Itália.

        Arriverdeci,  grazzie e una buona giornata per tutti.

Garimpando Itália

        Venho tentando tirar o atraso na minha litragem de vinhos italianos, falha em 2009, e devagarinho vou chegando lá. Estes são alguns que me agradaram bastante e que agora compartilho com vocês. Tinha publicado este post na Sexta, mas devido a falhas na internet (fiquei sem sinal no meio) tinha saído só parcialmente, então tomei a liberdade de o apagar e repostar hoje. Eis cinco rótulos de que gostei e que acho possuem uma relação custo x beneficio bastante interessante.

Comecemos por esta variação de Sangiovese de regiões produtoras diferentes; Toscana, Umbria e Marche com preços variando entre R$56 e 68,00.

  • Poggio Bertaio Stucchio da região da Umbria, o mais surpreendente dos vinhos provados. Vibrante, boa intensidade aromática com presença de fruta madura e algo de baunilha, na boca mostra-se com bom volume, taninos finos e aveludados, muito equilibrado, com um final de boa persistência e algo especiado. Um belo vinho que satisfaz sobremaneira e quando penso nele penso também num belo filé à parmeggiana, será?
  • Garofoli Montereale Rosso da região de Marche é o mais jovial e descompromissado dos três vinhos. Saboroso, taninos suaves e macios, boa acidez e fácil de agradar, me pareceu  uma ótima companhia para pizza, hamburger e carnes grelhadas sem temperos fortes.
  • Palagetto Chianti Colli Senesi, ó único que não é 100% Sangiovese, levando uma pitada de Colorino e Merlot. Foi o vinho que se mostrou com maior estrutura de boca, porém sem perder a elegância possuindo taninos de qualidade e aveludados. Apresenta  já alguma complexidade tanto aromática como de sabores adicionando á fruta, algo de cacau, café e nuances terrosas. Boa acidez, característica de um bom chianti, bem balanceado é um chianti que agrada bastante e apresenta um bom preço pelo prazer que entrega. Só faltou uma bela pasta com molho ao sugo ou porpeta !

                    

e vinhos da região do Veneto de um produtor muito especial, Tedeschi. Muita qualidade de uma DOC italiana nem sempre bem compreendida gerando muita coisa boa mas também alguns caldos de muita baixa qualidade que denigrem o nome Valolicella. Não é o caso aqui! Estamos diante de um grande produtor com vinhos muito agradáveis  que tive o prazer de provar na companhia dos amigos da Vinea.

              Tedeschi é sinônimo de qualidade no Vêneto onde a família produz vinhos desde 1824. Seus Amarones são grandes vinhos, mas a qualidade impera desde o mais básico Valpolicella provado, neste caso o Classico Superiore 2006. Mais uma bela tacada da Vinea que só vem enobrecer, mais ainda, seu bom portfólio. Neste encontro, no entanto, dois vinhos tiveram forte impacto sobre mim não só por sua riqueza, mas também pelo preço que é um fator importante a ser considerado e avaliado.

Capitel dei Nicalo Appassimento Breve Valpolicella 2005, um vinho intermediário entre o Valpolicella Superiore e o Superiore Ripasso blend de Corvina, Corvinone e Rondinella, levando ainda 10% de um mix de Rossignola, Oseleta, Negrara e Dindarella todas uvas autóctones da região. Enche a boca de prazer por cerca de R$89,00 sendo rico, pleno de sabor, bom volume de boca, taninos redondos e sedosos, gastronômico e balanceado com boa persistência. A meu ver, a melhor relação Qualidade x Preço x Prazer desta degustação.

Capitel San Rocco Classico Superiore Ripasso 2005. Gosto muito dos vinhos elaborados pelo método Ripasso (uso do resto das borras do Amarone ou adição de uvas parcialmente secas ao sol numa segunda fermentação dando-lhe mais cor e estrutura) que são mais palatáveis e fáceis de beber do que os Amarones e a um preço que cabe no bolso sem provocar grandes rombos. Sem contar que não há a necessidade de esperar um tempão olhando o vinho decantar para depois o tomarmos. rs. Bem, falemos deste bom Ripasso, o vinho que mais me entusiasmou desta leva de bons rótulos trazidos pela Vinea. Taninos macios e doces, fruta madura compotada, taninos muito finos e perfeitamente balanceados com uma acidez perfeita, rico em sabores, complexo e guloso formando um conjunto que encanta e satisfaz por um preço justo, R$113,00. Gamei!

Salute e kanimambo

Prova de Barbera

                Volta e meia o amigo Walter Tommasi da revista Freetime, por sinal uma bela revista focada no mundo dos executivos, me chama para compor sua banca de avaliação em provas de vinho com os mais diversos temas. Aprendo muito já que os vinhos são sempre de grande qualidade e os colegas presentes gente do maior gabarito em nossa vinosfera. A Barbera, uva do Piemonte (cidades de Alba e Asti próximo a Turin) sobre a qual já falei aqui, é essencialmente feminina, por isso ser tão apreciada (rsrs), gerando vinhos deliciosos, equilibrados, taninos finos e de muito boa acidez sendo uma ótima escolha para estar sobre a mesa neste Dia das Mães que se aproxima. Provamos onze vinhos, alguns de grande relação Custo x Benefício, então aproveitem para ver abaixo como foi a performance de cada rótulo na ordem de classificação final e média dos comentários a banca, lembrando que a degustação foi às cegas como manda o figurino.

Barbera D’Alba Fides 2006 – Pio Cesare – Granada de média concentração, halo de evolução. Complexo, frutas vermelhas em compota, figo seco, toque balsâmico, floral, café, tostado e especiarias lembrando pimenta-preta. Na boca, o tripé acidez, taninos e álcool perfeitamente equilibrado, sem arestas, persistência longa e retrogosto balsâmico com um toque de chocolate amargo. DECANTER – Preço R$ 191,20 – Nota 88,6. Este foi meu segundo vinho e um dos Barberas que mais me encantam por sua complexidade.

Villa Giada Barbera D’Asti Surí 2007 – Andrea Faccio– Rubi, média concentração, leve halo. Aromas evoluídos, frutas vermelhas, cereja, ameixa, especiarias, terroso, animal, couro. Na boca, muito macio, ótima acidez, taninos finos, corpo médio, persistência longa e retrogosto terroso. EXPAND GROUP –  Preço R$ 59,00 – Nota 87,6. Talvez a maior surpresa da noite no cômputo geral.

La Cresta Barbera D’Alba 2005 – Rocche dei Manzoni  – Violáceo, média concentração, sem halo. Boa complexidade com destaque para frutas vermelhas, floral, especiarias, pimenta-branca, baunilha, café. Acidez correta, taninos finos, corpo médio e persistência longa. Redondo. INTERFOOD CLASSIC –  Preço R$ 141,50 – Nota 87,4

Camp Du Rouss D’Asti 2005 – Luiggi Coppo – Rubi, média concentração, leve halo. Aromas confeitados, complementados por frutas evoluídas, cereja, sottobosco e empireumáticos. Na boca elegante, ótima acidez, taninos finos, corpo médio e boa persistência, ligeiro amargor. MISTRAL –  Preço R$ 79,00 – Nota 87,1

Valfieri D’Asti Superiore 2002 – Granada, média concentração, halo de evolução presente. Aromas evoluídos, ameixa, sottobosco, toque químico e um agradável tostado. Ótima acidez, taninos finos, bom corpo e persistência, retrogosto lembrando alcaçuz. VINEA – Preço R$ 114,00 – Nota 87,0

Braida – Il Monello D’Asti 2006 – Giacomo Bologna – Granada, pouca concentração, halo de evolução. Balsâmico, frutas vermelhas em compota, especiarias, couro e toque de baunilha. Vinho simples, mas honesto, bem equilibrado, corpo médio, boa persistência, final frutado. EXPAND GROUP – Preço R$ 58,00 – Nota 86,9

Cipressi della Court D’Asti 2006 – Michele Chiarlo – Rubi, média concentração, sem halo. Ameixa, tostado, caixa de charuto, floral, violeta, levemente adocicado. Ótima acidez, taninos presentes, corpo e persistência corretos, ligeiramente alcoólico. ZAHIL – Preço R$ 128,00 – Nota 86,7

Brea Barbera D’Alba 2005 – Azienda Bróvia – Rubi, média concentração, sem halo. Frutas vermelhas em compota, violetas, pimenta, baunilha e tostado e leve mentolado. Macio, tripé equilibrado, ligeiro retrogosto frutado, toque adocicado, fácil de beber. PREMIUM – Preço R$148,00 – Nota 86,4

Barbera D’Asti Libera 2007 – Bava  Azienda Cocconato – Violeta, muito concentrado, sem halo. Frutas vermelhas maduras, toques floral, herbáceo, especiarias, pimenta-preta e lácteo. Redondo, acidez correta, taninos finos, corpo médio, persistência longa, retrogosto frutado. WORLD WINE – Preço R$ 74,00 – Nota 86,4. Não sendo superior ao Fides de Pio Cesare, nesta noite foi o vinho que me arrebatou o coração. Ótima acidez e muito vibrante na boca, um vinho realmente sedutor mostrando toda a tipicidade e sutileza dos bons vinhos produzidos na região.

Seghesio Barbera D’Alba 2006 – Violáceo, alta concentração, sem halo. Cereja, especiarias, noz-moscada, lácteo e toque herbáceo. Ótima acidez, taninos finos, corpo e persistência média, retrogosto vinoso. MISTRAL – Preço R$ 82,00 – Nota 86,2

Arquatesi – Colli Piacentini 2008 – Granada, média concentração, sem halo. Vinoso, morango, químico, animal, toque herbáceo. Boa acidez, taninos ainda verdes, bom corpo e persistência, vinho jovem e rústico. ANA IMPORT – Preço R$ 52,00 – Nota 84,1

        Cada um dos degustadores teve seu preferido, comum nestes casos de provas ás cegas, porém tendências ficaram claras. Veja quem esteve presente neste delicioso encontro, os vinhos preferidos de cada um e nota dada.

  • Aguinaldo Záckia Albert – Barbera D’Alba Fides – Nota 89
  • Alessandro Tommasi – Villa Giada Barbera D’Asti Surí – Nota 90
  • Alvaro Cezar Galvão – La Cresta Barbera D’Alba – Nota 90
  • Beto Acherboim – Villa Giada Barbera D’Asti Surí – Nota 89,5
  • Carlos Hakim – Barbera D’Alba Fides – Nota 89
  • Gustavo Andrade – Barbera D’Alba Fides – Nota 89
  • João Filipe Clemente – Barbera D’Asti Libera – Nota 89
  • Nelson Luiz Pereira – Seghesio Barbera D’Alba – Nota 89
  • Paulo Sampaio – Barbera D’Alba Fides – Nota 88,5
  • Ralph Schaffa – Barbera D’Asti Libera – Nota 88,5
  • Walter Tommasi – Barbera D’Alba Fides – Nota 91

OS CAMPEÕES

Melhor Vinho da Noite

Barbera D’Alba Fides – Pio Cesare – Nota 88,6 – Decanter – Preço R$ 191,20

Melhor relação Custo x Beneficio

Villa Giada Barbera D’Asti Surí – Expand – Nota 87,6 – Expand – Preço R$ 59,00

              Espero que tenham aproveitado e que tenhamos podido jogar uma luz nos vinhos elaborados com esta cepa. Muito mais existe no mercado e fica claro, mais uma vez, que preço não é documento em nossa vinosfera, mesmo que o Melhor Vinho tenha sido o exemplar mais caro na prova, coisa que deve ser esperada. Senti-me muito honrado em sentar com essas feras para desfrutar desta bela disputa de vinhos, de onde saiu a idéia para meus Desafios de Vinho.  Logo após esta prova ainda fizemos uma degustação vertical do famoso vinho chileno VIU 1. Estupendo o 1999, ótimo o 2001, mas marcante mesmo, o vinho que mais me chamou a atenção pelo nível de complexidade, vigor e elegância, um grande vinho de uma grande safra.

 Salute, kanimambo e tenham um bom fim de semana.

Fui Rever um Barolo e Descobri um Barbaresco

A convite dos novos importadores da Batasiolo no Brasil, a Ferace Distribuidora (ex-franquia da Expand) do Rio de Janeiro e seu distribuidor em São Paulo a Ravin, estive presente num agradável jantar no La Vechia Cucina de Sergio Arno. A primeira surpresa da noite estava á porta do salão, quando me deparei com o amigo e mentor de meus primeiros passos no mundo do vinho, o Ângelo Fornara que já algum tempo trabalha para os irmãos Dogliani, proprietários deste importante grupo produtor, que possuem um dos poucos sites de produtores internacionais com a opção do idioma português. Sempre bom rever os amigos e brindamos com um espumante delicioso que me encantou e seduziu por seu refinamento;  Batasiolo Método Classico Dosage Zero – Chardonnay (75%) com Pinot Noir vinificados em separado quando após cerca de 8 meses em tanques de aço, os enólogos decidem o cuvée mediante a assemblage dos dois vinhos com a segunda fermentação sendo efetuada em garrafa  como manda o figurino. A perlage é abundante, fina e persistente, ótima mousse, complexo, longo, muito frescor e seco na medida certa, um belo exemplar de espumante que, se o preço estiver bom já que ainda não chegou para comercialização, deverá estar nas prateleiras da Vino & Sapore.

Essas, no entanto, foram só as primeiras surpresas da noite, pois tinha mais por vir:

Chardonnay 2007, uma ótima companhia para um Tartar de Vitelo muito saboroso que demonstrou claramente o que ocorre quando a harmonização é perfeita, o ganho de sabor e êxtase é geométrico! Uma maravilha esta combinação, não só pela maestria do Chef, mas também pelas ótimas qualidades de um vinho muito bem feito onde os 6 meses de carvalho serve de aporte a uma paleta olfativa muito frutada e um palato muito balanceado, de bom volume de boca e boa acidez. Após os seis meses de barrica, passa ainda mais seis em garrafa. Muito agradável, um vinho elaborado com uvas da região do Langhe crescendo entre os vinhedos de Nebbiolo.

Babaresco 2006, me seduziu pelo nariz e me encantou no palato onde se mesclou maravilhosamente ao Risoto de Funghi com Fonduta de queijo Brie. Doze meses de carvalho em barricas de 750 ltrs, mais doze meses de guarda e afinamento na garrafa dão luz e brilho  a este vinho que encanta pelo nariz complexo onde aparecem nuances animais, tabaco, com notas terrosas e florais, até algo tostado. Na boca é vibrante, taninos suaves e sedosos, rico, estrutura e secura no ponto, sem exageros nem excessos, tudo no ponto tendo como resultado uma perfeita harmonia. Na minha modesta opinião, o vinho da noite e mais um que terá que fazer o caminho até a Granja Viana para se aninhar nas prateleiras da Vino & Sapore.

Barolo Corda della Briccolina 2003, derivado de um “vigneto” de apenas 1,63 hectares situado no território de Serralunga d’Alba no coração da região de Barolo. É um de meus Barolos preferidos da Batasiolo, o outro sendo o Cerequio, uma outra belezura. Já tinha feito uma degustação com os Barolos deste produtor há dois anos, tendo escrito uma matéria sobre o assunto. O mesmo 2003 que tomei na degustação anterior evoluiu de forma diferente e, não sei se para melhor. Está mais pronto, mas me pareceu que perdeu um pouco daquele vigor, mineralidade e frescor que me seduziu na primeira degustação, ou será que fiquei mais exigente e chato? Segue sendo um grande vinho, mas eu o tomaria agora até no máximo 2012, depois não sei.  De vinhedos com mais de 45 anos, passa por no mínimo 24 meses de carvalho francês resultando num vinho de muito bom corpo, mas fino e elegante que cresce muito com o tempo em taça mostrando um final aveludado e mineral, mesmo que sem o “vibe” de dois anos atrás.

Moscatel Tardio e Moscato d’Asti , dois vinhos brancos de sobremesa para acompanhar uma Panacota com Calda de Frutas Vermelhas e Gengibre. O Moscatel, mesmo que muito bom, ficou um pouco abaixo da panacota devido á ausência de uma maior acidez. Já o Moscato d’Asti Bosc Dla Rei, meu velho conhecido de cara nova, com uma acidez estupenda, algo frisante na entrada de boca, casou maravilhosamente com a sobremesa mostrando-se muito harmônico e vibrante. òtima companhia como sobremesa assim como aperitivo num encontro informal, chá da tarde (rs). Vai faltar prateleira!!!

Ótima companhia, ótimos pratos, belíssimos vinhos, como diz o amigo Didu, deve ser uma pé ser vendedor de parafusos! Como os ingleses dizem, “cant get much better than this”, mas ainda bem que em nossa vinosfera sempre existirá uma nova surpresa ao virar a esquina, mesmo que a mesma de sempre.

Salute e kanimambo.

Tremenda Semana de Bons Vinhos

              Já fazia um tempinho que não postava sobre os vinhos da semana e desta feita uma bela quina de rótulos tomados que me trouxeram grande satisfação. Ah se pudesse ser sempre assim?! Para começar, tenho mais ou menos cumprido minha promessa de ano novo, tomar mais espumantes, tendo feito isso mais uma vez num gostoso fim de semana ensolarado. Por sinal, nesse mesmo fim de semana minha filha e meu genro estiveram em casa então tinha que ter um vinho do porto para o final da refeição, e que belo exemplar de LBV! Enfim, vamos aos finalmente, vamos falar de vinho.

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Veuve Paul Bur Blanc de Blancs Brut, um dos bons espumantes disponíveis no mercado e opção para quer um produto mais sofisticado que não seja de origem nacional, elaborado com Chardonnay/Sauvignon Blanc e Chenin Blanc na região de Bordeaux. Ainda tenho umas duas garrafas sobrando de minha última compra, e é sempre um saboroso porto seguro. A perlage é abundante e persistente, de tamanho médio , enorme frescor, equilíbrio, corpo leve e equilibrado, ótima acidez, aromas em que aparece um sutil brioche, boa fruta e leve floral que encanta e se repete na boca. Tudo isso sem perder a personalidade Francesa, difícil é deixar de terminar a garrafa!  Na Zahil por R$49,00, mas estas eu comprei em promoção por cerca de R$35,00, se não me engano, lá para Outubro do ano passado. Uma bela compra que segue me dando muito prazer ao abrir. I.S.P.$

Altimus 2004 um argentino que conheci há uns dois anos, produzido por Michel Torino e situada na alta gama de seus produtos. De lá para cá esta é a terceira garrafa que tomo e tem-se mostrado em plena evolução, sendo esta a melhor de todas elas. Um corte de malbec, cabernet, merlot e bonarda, no mínimo diferente, mas para o meu palato um vinho que me agrada sobremaneira. Sai um pouco da mesmice que ultimamente impera por terras argentinas, talvez pelo aporte de Bonarda que lhe traz uma concentração de fruta diferenciada. É bastante aromático, convidando á taça e na boca mostra-se bem redondo, macio, rico e harmonioso com boa acidez, um vinho para curtir e tomar nas calmas permitindo que se abra na taça. O preço, por volta dos R$85,00,  poderia ser algo mais barato, mas comprado na argentina é um vinho que vale a pena ter na adega. I.S.P .  

Ser Gioveto 2000, um super toscano, elaborado com sangiovese, como protagonista, mas tendo a cabernet sauvignon e merlot como coadjuvantes de primeira linha, que aos 9 anos começa a mostrar-se por inteiro. Já o tinha tomado há cerca de um ano atrás quando ele se mostrara mais fechado. Sua paleta olfativa  abriu-se mostrando-se bem frutado com nuances de especiarias que nos impelem a levar a taça à boca. Encorpado, denso, carnoso, ainda se mostra vigoroso, com uma personalidade muito própria, potente, porém elegante de boa textura e taninos sedosos, equilibrado com ótima acidez que implora por um bom prato. Um senhor vinho, de longa persistência e um saboroso final de boca algo terroso. Muito bom,  aliás como tudo o que a Rocca dela Macie faz já que não tem nenhum vinho deles, baixa, média e alta gama, que eu não goste. As minhas garrafas se acabaram, mas quem ainda tiver algumas, esteja certo que tem vinho por mais um bom par de anos. Na Expand por cerca de R$118,00. I.S.P. $ 

Selvapiana Bucerchialle Chianti Rufina Riserva 2003, mais um da Toscana desta feita um tradicional corte de Sangiovese com Canaiolo. Ganhei de uma amiga e ainda me resta uma garrafa, de três, que acho deverá ficar na adega por mais um tempinho, pois ainda se encontra fechado. Muito encorpado, potente, aromas algo defumado com ameixa vermelha e nuances florais, na boca é extremamente saboroso, muito concentrado, grande volume de boca, taninos ainda firmes, mas refinados, final de boca algo terroso e longo, muito longo. Um vinhaço que precisa de tempo. Uma pena que não esteja disponível no Brasil, mas certamente um vinho que os amigos podem buscar em uma viagem ao exterior, certamente um vinho que o amigo Paulo Queiroz (amante dos vinhos italianos) apreciará. Na Inglaterra custa algo em torno das 18 Libras e nos Estados Unidos entre USD25 a 30. I.S.P. . 

Niepoort LBV 2004, um grande final para uma tremenda de uma semana de bons néctares. Já gostava do 2000 e do 2001, mas a Niepoort extrapolou desta feita e elaborou um dos melhores, se não o melhor, LBV que já tomei. Esta meia garrafa eu trouxe de Portugal e é no mínimo imperdível para quem gosta deste tipo de vinho. Aromas intensos de frutos negros, chocolate, especiarias, uma paleta olfativa sedutora e complexa que convida a tomar. Na boca está cremoso, elegante, vibrante, ótima textura e muito equilibrado com um final longo e muito saboroso. Numa próxima viagem certamente trarei algumas garrafas, mas enquanto não dá compramos na Mistral por bons R$90,00, (considerando-se o restante da concorrência) ou próximo disso. I.S.P. .$ 

Que venham mais semanas destas, salute!

Vinhos de Aniversario – Última Parte

              Depois de uma semana vivida muito intensamente na Expovinis, mais um lote, misto de bons e grandes vinhos,  para finalizar a sequência de vinhos de celebração consumidos em meu niver.  Como tinha mostrado em post anterior, foram 12 vinhos escolhidos a dedo e faltava comentar estes seis. Estamos sempre aprendendo e, mais uma vez, os vinhos me mostraram como nossa vinosfera é imprevisível o que nos força, eheh, a ter que conhecer cada vez mais o que, neste caso, significa litragem. Só temos certeza das coisas quando as experimentamos e o que não falta é opção no mercado!

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Rústico de Nino Franco, mais um daqueles Proseccos de primeiro nível que me agrada muitíssimo. Uma paleta aromática mais complexa com aromas que me lembram pêra e algo de pêssego, médio corpo sem ser pesado, muito harmônico, cremoso com suave presença de sabores de levedura na boca, perlage delicada e abundante,um senhor prosecco com uma personalidade muito própria que mantém o que mais gosto num bom espumante, o frescor que o torna vibrante e difícil de deixar de pensar na segunda garrafa! Disponível na Expand.

 Abadia Retuerta  Selección Especial 2001, vinho de um produtor que me encanta e que possui em seu portfolio alguns grandes vinhos. Este é estupendo, um vinho para não esquecer apesar de que, talvez, o tenha deixado na adega um pouco demais. Nos aromas estava algo tímido, sem grande expressão, mostrando algo de frutas negras, terroso com toques herbáceos e alguma madeira. Um grande vinho que segue em pleno esplendor, mas acredito que se o tivesse tomado um ano antes, a probabilidade seria de o aproveitar em seu apogeu. Na boca não existe qualquer alusão à madeira que se torna coadjuvante, fruta madura intensa, taninos maduros mostrando um perfeito equilíbrio de grande riqueza de sabores. Entrada de boca impactante com taninos finos que se amaciam na boca mostrando um final sedoso, longo e algo mineral com nuances de especiarias no retrogosto. Já provei o 2004 que acredito esteja agora entrando no seu apogeu onde deve permanecer por mais um ou dois anos não devendo evoluir muito depois disso. Um grande vinho que no Brasil está disponível na Península.

Bindella, Nobile de Montepulciano 2004, corte de Prugnolo gentile / Canaiolo Nero / Colorino e Mammolo, um vinho que me empolga cada vez mais a cada garrafa que abro. Ainda me restou uma garrafa que pretendo abrir somente no segundo semestre do ano. Um presente de uma amiga Italiana, trader de vinhos, e por isso ainda mais gostoso (rsrs). Da primeira garrafa, tomada no inicio do ano passado, até hoje e três garrafas depois, o vinho tem mostrado grande evolução mostrando-se mais equilibrado com um final de boca menos agressivo, mais aveludado com taninos maduros formando um conjunto muito agradável de tomar. Rico, bom volume de boca, corpo médio para encorpado, belo acompanhante para um pernil de cordeiro assado no forno com batatas. Não é, lamentavelmente, importado por ninguém.

Chateau Milens, Saint Emillion Grand Cru 2001. Uma compra feita na Au Verger de la Madelaine, em plena Place de Madelaine / Paris. Comprado há cerca de 4 anos, permaneceu na adega esperando o momento certo. Depois do Selección Especial de Abadia Retuerta, achei que teria em mãos um vinho já pronto, redondo e fácil de tomar. Mezzo a mezzo, já que precisou de uma hora e pouco de decanter para realmente começar a se mostrar o que realmente ocorreu na taça. Corte de Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, mostra aromas de fruta vermelha de boa intensidade se abrindo na taça. Na boca é harmônico, firme, de boa estrutura mostrando taninos maduros, elegante, uma certa complexidade de sabores e um final de boca de média persistência com nuances de baunilha suaves e algo de café. Uma bela sugestão de quem me atendeu na época e, pelos cerca de 15 Euros que paguei, uma barganha!

Chateau +Les +Trois +Croix 1999 da região de Fronsac em Bordeaux. Não sei quem importa, mas este comprei no free shop de Paris, creio, na mesma viagem em que comprei o Chateau de Milens. Não é um blockbuster, puxa para uma certa rusticidade na boca, denso, encorpado, mais um que mesmo com 10 anos ainda teve que passar quase uma hora no decanter para se abrir. Muita tosta, alcazuz, algo terroso, boa acidez, um vinho ao qual falta refinamento e certamente pede comida. Talvez lhe tenha faltado uma carne vermelha assada na brasa para criar uma harmonização que o ressaltasse, coisa que não ocorreu. O vinho que menos me agradou em todos os 12 tomados, fazendo um estilo de vinho austero, que não é muito do meu agrado.

Quinta do Noval Unfiltered LBV 2000, um dos melhores LBV’s que conheço e, lamentavelmente (snif/snif), foi minha última garrafa. Muito aromático, algo floral, ótimo corpo, muito balanceado com ótima acidez e absolutamente no ponto de beber. Muito rico,boa concentração, fruta, especiarias, doçura equilibrada, taninos maduros firmes porém sedosos sem qualquer agressividade mostrando ótima estrutura. O ano de 2000 foi um grande ano para o Vinho do Porto e este sem filtragem certamente seguirá evoluindo por mais alguns anos, todavia já está absolutamente divino mostrando um saboroso e muito agradável final de boca que acompanha maravilhosamente sobremesas à base de chocolate. Trouxe de Portugal, mas está disponível na Grand Cru.

             Amanhã comento o incrível Desafio Decanter Falando de Vinhos de Syrah realizado na Enoteca Decanter. Grandes vinhos e algumas surpresas!

Salute e kanimambo.

Falando dos Vinhos de Aniversário I

Dizer que todo o vinho caro é bom é uma heresia, mas que certamente os bons vinhos custam uns “trocados” a mais, disso não restam duvidas. Mais uma vez esse fato fica constatado neste belo conjunto de vinhos tomados durante a celebração (30 dias) de meu aniversário, todos de mais de 100 Reais, exceção feita ao Prosecco. Como não era uma data assim tão especial, só considero especiais os aniversários a cada 5 anos, deixei algumas preciosidades para os meus 55 e meus 60, mas os escolhidos de agora deixaram-me extremamente satisfeito dando-me enorme prazer ao tomá-los. Nesta primeira parte, todos vinhos de muita qualidade que adoraria poder tomar, não diariamente, mas pelo menos semanalmente. Para quem pode, recomendo todos eles com grande ênfase.  

 

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Prosecco Bedim, um dos melhores disponíveis no mercado, freqüentando minha taça com uma certa assiduidade. Extremamente saboroso, sedutor, delicado e muito fresco com ótimo balanço de acidez, bem cítrico e macio de perlage abundante e fina com muito boa persistência. Retrogosto agradável de quero mais, e mais, e mais, ………..Para quem ainda não experimentou, uma grande opção de Prosecco, até para quem não é muito chegado em proseccos! A importação é da Decanter.

 

Peter Lehmann Cabernet/Merlot 2004, um vinho australiano de primeira linha que me foi presentado por meu sobrinho que mora por aquelas bandas. Sim, já provei alguns vinhos de lá que mostraram ser excessivamente concentrados, potentes e repletos de madeira. Por outro lado, a maioria do que tenho tomado, confesso não serem muitos, têm me surpreendido por sua elegância e madeira bem balanceada no conjunto. Este é mais um desses exemplos de vinho com classe que mexem com nossas emoções. Não é grande, mas é um vinho que provoca enorme prazer ao ser tomado devido a sua harmonia, riqueza de sabores e ótima estrutura. Os taninos estão domados, aveludados final de boca muito agradável e frutado, um vinho sedutor. A importação deste produtor é feita pela Expand, mas não vi este rótulo em seu portfolio.

 

Il Brusciato 2005, um vinho da região de Bolgheri na Toscana, produzido pela Tenuta Guado el Taso, Antinori, muito elegante e extremamente saboroso. Um delicioso corte de 40% Merlot com 40% de Cabernet Sauvignon que passam por barricas francesas, aos quais é adicionado Syrah que passa por barricas americanas. Boa paleta aromática em que sobressaem as frutas vermelhas, algo de especiarias e salumeria. Na boca é muito agradável, mostra boa estrutura, fruta madura e taninos leves e macios, acidez moderada, elegante e harmônico com um bom e longo final de boca. De médio corpo para encorpado, possui ótimo volume de boca com um final algo mineral que convida à próxima taça. Uma das boas relações Qualidade x Preço x Satisfação no mercado e um vinho que me encanta cada vez mais cada vez que o tomo. Disponível na Expand.

 

D. Pedro de Soutomaior 2007. Vinho branco elaborado com Albariño na região de Rias baixas na Galicia, Espanha. Esta uva também tem grande importância na região do Minho, norte de Portugal, onde é conhecida por Alvarinho, sendo usada tanto em varietal como em cortes, na produção de Vinhos Verdes. Os Albariños são algo mais encorpados e secos do que seus primos portugueses, porém sem perder seu frescor e característica cítrica que tanto me encanta. Este vinho é um reflexo de seu terroir mostrando aromas de frutas brancas como pêra e melão, muito agradáveis ao nariz. Na boca é super saboroso, fresco na medida e muito bem balanceado, bom volume e algo cremoso com um agradável final de boca de ótima persistência que nos deixa um retrogosto que lembra pêssegos. Um belo vinho que acompanhou maravilhosamente bem um prato de lulas recheadas. Importação da Península.

 

Emme Grande Escolha 2003. produzido em Azeitão, Terras do Sado, próximo a Setúbal por um produtor que me agrada muito, a Cachamoa. Um dos poucos varietais tomados neste lote de belos vinhos, este sendo elaborado com 100% Cabernet Sauvignon e um senhor vinho ainda com muita vida pela frente. Ainda no outro dia comentei sobre um outro vinho deles que me seduz, o Barão do Sul Garrafeira 2002 que fica melhor a cada garrafa que tomo e acho que este seguirá o mesmo caminho. Nariz intenso, algo tostado com nuances vegetais. Na boca é austero, terroso firme e de grande estrutura, potentoso e gordo, muito rico em sabores, complexo, taninos finos presentes, cheio bastante equilibrado e muito longo. Com este vinho, esta casta mostra sua perfeita adaptação à região da península de Setúbal, trazendo-nos mais um ótimo Cabernet Sauvignon português. Acompanhou uma rabada desfiada, puxada num molho do próprio vinho, maravilhosamente! Importação da Lusitana.

 

Allende 2004, mais um dos varietais tomados, aliás acho que os três estão aqui nesta primeira metade da matéria já que o Albariño também o é. Este é da Rioja e 100% Tempranillo, um vinho que já andava na adega há algum tempo me tentando cada vez que lá ia buscar um vinho. Achei que merecia uma ocasião de maior importância e finalmente a abri e que beleza. Um vinho que necessita de decantação de cerca de uma hora, por sinal o EMME ficou 45 minutos, para mostrar todos os seus predicados. Mais um vinho potente e opulento com um nariz complexo.  Muito rico, denso e complexo na boca, harmônico conseguindo balancear muito bem esse seu vigor com elegância, taninos firmes, mas aveludados mostrando que com 5 anos de idade ainda é uma criança em plena evolução. O final de boca é longo, saboroso e algo mineral com nuances de baunilha advindos de uma madeira muito bem trabalhada. Importador Península.

 

         Não existe um preferido, cada um destes vinhos me fez sorrir bastante, deixando-me imensamente feliz. Cada um me atendeu de uma forma diferente e é isto que faz com que nossa vinosfera seja tão intrigante. É a diversidade que seduz nossa curiosidade sempre na busca do novo e de satisfação total. Estes primeiros 6 vinhos, de um total de 12 tomados nesta celebração, deixaram-me com água na boca e mal acostumado!

Salute e kanimambo.

Planeta Sicilia

Vinhos Planeta, caldos com história apresentados pelas bonitas e simpáticas; Penny Murray, uma inglesa siciliana, e Coleen Clayton, uma americana mendocina, que são por si só exemplos vivos da globalização em nossa vinosfera. Mais uma vez no Aguzzo, um conceituado restaurante e café que harmoniza divinamente com os vinhos servidos, recepcionados pela equipe simpática da Interfoods e organização impecável da Fernanda Fonseca. Há muito que andava curioso para degustar estes vinhos, procedidos que são de comentários preciosos dos maiores críticos internacionais e mídia especializada, que os colocam num patamar de qualidade bastante alto. Finalmente cá estou com as taças na mão provando alguns desses néctares.

Sicília, um total de 22 DOC’s e 1 DOCG (Cerrasuolo de Vitória) com terroirs dos mais variados que vão de vinhedos ao nível do mar até 1200 metros de altitude, produção total em torno de 5 milhões de garrafas (somente 15% da produção é engarrafada), das quais 64% de vinhos brancos,  450 produtores dos quais somente 7 são responsáveis por 80% do vinho engarrafado. planeta-sicilia-mapUm destes grandes, é a Planeta que está aqui presente desde o Século XVII. Hoje são cinco vinhedos em diferentes partes da Ilha produzindo cerca de 13 rótulos de vinhos brancos e tintos assim como azeites. Engarrafa cerca de 2 milhões de garrafas com vinhos originados de seus 391 hectares de vinhas. Deste volume, 50% fica na Itália e o restante é exportado para 65 países. Dos vinhos produzidos, tive o privilégio de provar seis rótulos os quais comento abaixo.

Da principal linha, La Segreta que representa 50% da produção da empresa gerida por 7 irmãos e 15 sobrinhos, tomamos o Bianco e o Rosso, vinhos que estão na faixa de excelentes R$46

 

la_segretabianco07_72La Segreta Bianco 2006, com passagem de 100% em inox, é um corte de Grecanico, Chardonnay, Viognier e Fiano que possui aromas muito complexos e intensos em que aparece um floral bastante acentuado com nuances doces. Na boca apresenta uma certa mineralidade, acidez e equilíbrio um pouco prejudicados pela idade, boa persistência, um vinho marcante para quem busca algo diferente. Gostaria de ter provado o 2007, ou melhor ainda o 2008 que certamente deverão apresentar uma outra vivacidade. Este 2006, a meu ver, já se encontra em final de vida.

 

la_segretarosso07_72La Segreta Rosso 06, também fermentado em inox, foi decididamente a melhor relação Qualidade x Preço x Satisfação encontrada nesta prova. Corte de Nero d’Avola, Merlot, Syrah e Cabernet Franc, produz aromas de fruta madura, algo compotada, de boa intensidade que te chamam à taça. Ao primeiro gole sente-se um vinho redondo e macio, taninos finos já equacionados mostrando uma boa harmonia e acidez equilibrada que nos convida a tomar a próxima taça. Um vinho jovem, alegre, saboroso, fácil de tomar e agradar que deve ser tomado entre dois a três anos de vida. Um vinho muito saboroso com preço idem que o torna imperdível.

 

         Na escala de qualidade e preço, damos um pulo quando iniciamos a prova dos vinhos da linha mais conhecida deles com os varietais Merlot e Syrah.

 

planeta-merlot07_72Planeta Merlot 05, um vinho que leva um tempero de Petit Verdot que lhe dá uma complexidade a mais. Fica um ano em adega após um ano em carvalho francês e mostra uma personalidade bem Novo Mundo, com muita potência, alto porcentual de álcool (14.8%) e concentração de fruta. O nariz é intenso, bem frutado com algo de menta ao final. Muito boa estrutura, taninos firmes mostrando estar ainda jovem e com um longo tempo de evolução pela frente, ótimo volume de boca, rico e complexo de grande persistência. Dentro do estilo, um vinho que me agradou bastante por um preço de R$142.

 

planeta-syrah06_72Planeta Syrah 03, talvez o mais emblemático dos vinhos deste produtor, elaborado com uvas de vinhedos plantados em 95 tendo gerado as primeiras garrafas na safra de 99. Os aromas mostram toda a tipicidade da cepa de forma intensa e agradável em que a pimenta aparece de forma abundante. Entrada de boca impactante, especiado, taninos finos com um final de boca muito saboroso e extremamente longo. Efetivamente um belo vinho que mostra bem todo o potencial da Syrah nesta parte do mundo. O preço, R$142,00 é compatível com o nível de qualidade do vinho.

 

         Para finalizar provamos algumas novidades e vinhos de exceção produzidos pela Planeta. Um tinto poderoso e um vinho de sobremesa de primeiro nível.

 

planeta-et_burdese_2005_72Burdese 04, um corte de 70% Cabernet Sauvignon com Cabernet Franc fermentado em barricas de carvalho francês por cerca de 14 meses e um conteúdo de álcool próximo a 14.5%. Muito potente ainda muito jovem o que prejudicou, pelo menos para mim, uma melhor avaliação. Mostra muito potencial, mas o nariz ainda está algo desiquilibrado com o álcool sobressaindo-se à fruta. Na boca está mais harmônico, mostrando-se algo balsâmico, muito rico e concentrado, opulento, taninos firmes porém finos e uma ótima acidez que demonstram uma enorme capacidade de guarda e evolução, final de boca saboroso e muito longo. Não chegou a me encantar, mas ainda é muito jovem e tenho a certeza que quem tiver paciência e souber esperar, dizem que o apressado come cru, certamente estará diante de um grande vinho dentro de mais uma meia dúzia de anos. O preço R$165,00 é bastante bom quando comparado aos produtos similares disponíveis no mercado.

 

planeta-moscato06_72Moscato di Noto, com 180grs de açúcar e 9 graus de acidez um senhor vinho de sobremesa realmente encantador, produzido com 100% da uva Moscato Bianco. O nariz não entusiasma, muito químico com aromas intensos de acetona, mas na boca explode em grande complexidade de sabores (cítricos, chá, nectarina?) e perfeita harmonia. Estupendo, com uma acidez que equilibra perfeitamente a doçura do vinho tendo-se harmonizado de forma perfeita com torta quente de nozes, avelãs e amêndoas com sorvete de creme. Disponível em meia garrafa por R$150,00.

        

         Salute e Kanimambo.

 

Para quem eventualmente tenha visto este post anteriormente, houve uma revisão em função da grande redução de preços negociada com o produtor o que possibilitou um novo reposicionamento, mais correto a meu ver, estratégico de preços por parte da Interfood.

 

Junho 2009