Mais da SISAB 2010

              É, já faz um pouco mais de dez dias que a feira acabou, mas só agora estou conseguindo terminar a reportagem do que vi e provei no último dia, sendo que alguma coisinha ainda fica para a semana que vem. Realmente foi uma feira em que os resultados foram, aparentemente pelas informações obtidas junto aos expositores, muito positivos e incrível como os países do leste europeu estão descobrindo os sabores de Portugal. Eram muitos os visitantes dessa região numa feira de negócios enogastronomica que teve seus objetivos alcançados, gerar novos negócios para os produtores portugueses.

Provam – esta é uma casa produtora composta de 10 vinicultores da sub-região de Monção no Minho, norte de Portugal e fundada em 1992 sendo importado e distribuido pela Casa Flora. Produtor que priva de minha intimidade pois é de constante presença em casa (será na loja também) com seu Varanda do Conde e, menos costureiramente, como o Portal do Fidalgo. Não conhecia ainda o Vinha Antiga que é um alvarinho delicioso, fresco e complexo, de bom corpo que passa por cerca de quatro a cinco meses em carvalho.  Ótima prova e passei mais de um dia para dar uma bicada, eheh!

Adega Cooperativa do Cadaval – CVR Lisboa, é um produtor em ascensão. Sou fã de seus brancos e recém conheci seu espumante Confraria Bruto, um DOC Óbidos sobre o qual tecerei maiores comentários em post em separado quando falarei de alguns bons espumantes provados durante esta curta visita a Portugal, fora dos que participaram do Desafio. Dois vinhos para o dia-a-dia e que têm tudo a ver com nosso calor e nossos pratos costeiros, os Adega da Confraria branco leve e rosé, vinhos que de certo se dariam bem por terras brasilis com uma vantagem adicional, são baratos e gostosos, mesmo que sem qualquer objetivo de complexidade. Esta, podemos encontrar sim, no Espumante e no Confraria Tinto, um tinto bastante agradável e fácil de tomar mas já situado num patamar diferente e ainda possuem um reserva em fase de apuramento. Seu Confraria Branco Leve é outro parceiro do verão que regularmente visita minha casa e minha mesa. Gente para ficar de olho por aqui e em Maio na Vino & Sapore.

Domingos Alves de Sousa – produtor que dispensa apresentações e que há muitos anos faz parte do portfólio da importadora Decanter, um parceiro meu tanto no blog quanto na loja. Dificil encontrar um vinhos deste produtor que não se goste. Desde o mais simples, Estação Douro, um daqueles rótulos de ótima relação custo x beneficio no mercado até seu mais elaborado vinho, Abandonado, todos são vinhos que enobrecem sua região, o Douro. Sem contar que o Domingos, quarta geração e seu filho Tiago vem seguindo seus passos para compor a quinta, é uma pessoa muito especial, muito gentil, simpático e sabedor das coisas, difícil separar o homem dos vinhos. Último dias, já meio da tarde e eu e ele sentados batendo papo e conhecendo alguns de seus vinhos topo de gama aos quais, por aqui, são de acesso mais difícil do ponto de vista monetário.

                “Brincamos” de fazer uma vertical com seus vinhos, porém com rótulos diferenciados. O interessante, é que as parcelas são colhidas e vinificadas separadamente, para depois serem feitos os blends que comporão os diversos rótulos baseado na caraceristica que se quer dar a cada rótulo. Não pergunte qual a composição de castas de cada vinho pois, a principio, todos são um blend das castas autóctones da região; Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Cão, Tinta Barroca e Tinta Roriz mais um montão de outras menos conhecidas,  podendo o porcentual de cada uma variar ano a ano dependendo de como cada parcela colhida se desenvolve. Eis os principais vinhos provados em ordem de safra, não na que foram provados.

  • Reserva Pessoal 2003 – composto de três vinhedos da mesma parcela com uma complexidade de aromas produzidos por cepas de idades diversas. Cor ainda rubi, muito vivo com uma presença tânica bem maior que os outros três vinhos anteriormente provados, taninos esses que se desenvolvem na boca de forma elegante terminando aveludado e muito harmônico mostrando ser um vinho de grande estrutura que ainda deve evoluir bem por mais alguns anos.
  • Porto LBV 2004 – sou fã deste vinho. Já tinha provado anteriormente, mas não canso de me surpreender com sua elegância, riqueza de sabores, fruta compotada, doce mas equilibrado por uma acidez no ponto em perfeito equilíbrio. Não é produzido todos os anos e são poucas as garrafas, sendo que desta safra foram só 8.000! Um dos ótimos LBVs existentes no mercado e na minha adega (eheh).
  • Quinta da Gaivosa 2005 – um dos ícones do Douro, um blend de 15 a 20 cepas de vinhedos com mais de sessenta anos. Um grande vinho, encorpado, denso, de taninos finos e grande elegância, notas tostadas, final longo com notas minerais, um vinho de grande personalidade e complexidade que encanta e dignifica a região. Elaborado a três cabeças e seis mãos; do próprio Domingos, seu filho Tiago e seu enólogo consultor Anselmo Mendes, outro nome que dispensa apresentações.
  • Quinta Vale da Raposa Grande Escolha 2006 – Nariz de boa intensidade com algumas notas florais, fruta madura  e algum chocolate que convidam à taça. Ótimo volume de boca, firme, um pouco austero no inicio, encorpado, fruta compotada com alguma presença de madeira e um final com toques  algo vegetais. Um belo vinho.
  • Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo 2007 – só vinho bala meus amigos, só vinhaço! Esse realmente mexeu com minhas estruturas. Para terem idéia do privilégio, é um vinho elaborado com uvas de um vinhedo com mais de 100 anos e dos quais se fazem, quanto muito, umas 4.000 garrafas ano! Estamos diante de um daqueles vinhos de autor muito especiais e longo, extremamente longo tanto na boca como na memória que é onde os grandes vinhos marcam presença. É daqueles vinhos para serem tomados daqui a 10 anos com grande satisfação, mas que já está magnífico e pronto a beber. Tenho provado alguns vinhos desta estirpe que, arrisco dizer, são o que os fazem grandes e me lembro muito claramente do Viñedos Chadwick 2005 (chileno) que possuía bem essa característica.  No nariz ainda algo tímido, alguma fruta madura compotada, mas é na boca com uma entrada marcante e sedutora que ele diz ao que veio. Complexo, muito rico, denso, de taninos ainda bem presentes porém muito finos mostrando uma elegância ímpar, no final aparecem uns toques de especiarias entre os frutos negros e alguma mineralidade. Acho que não preciso dizer que gamei, né?!

Segredos do Paladar – no estande do lado, uma empresa que comercializa e distribui diversos produtos que nos enchem o palato de satisfação. Seja com a ginginha Amo-te com flocos de ouro 24k, passando por delicias como o queijo de cabra biológico (orgânico) Herdade do Escrivão, as Broas de Alfarim com passas e pinhão, a Farinha Torrada um quitute que não conhecia e é de lamber os beiços, até chegar nos vinhos do Dão das Terras de Sto. Antonio. Pequeno produtor com uma produção de cerca de somente 25.000 garrafas produz dois rótulos, o Colheita (20.000 gfas) e o Reserva, provei ambos, até porque não resisto aos vinhos do Dão, muito pouco trabalhados no mercado externo e mesmo no doméstico.

  • Terras de Sto. Antonio Colheita 2005 – passa dez meses em barricas de carvalho francês e americano que passam despercebidos. Corte de Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz, é um vinho que já se apresenta mais pronto a beber, redondo, elegante com um final mineral muito agradável e sedutor, fácil de agradar e muito apetecível.
  • Terras de Sto. Antonio Reserva 2006 – mesmo blend de castas porém com cerca de 3 meses mais de barrica, mostra-se ainda um pouco fechado, médio corpo, taninos finos, fruta escura muito bem casada com a madeira, uma acidez muito boa que pede comida, final longo, maior complexidade, mas que já se toma bem hoje devendo melhorar e evoluir com mais um a dois anos de garrafa.

           Bem por hoje é só, mas ainda tem mais. Tem a reportagem sobre os vinhos da Enoport (Caves Velhas) e sua nova investida no Brasil em parceria com a Domno (furo, em primeira mão) e meu agradável jantar com a Raquel e o Carlos da Quinta Mendes Pereira onde tomei um delicioso lançamento Escolha da Produtora entre outros rótulos com o já tradicional carimbo de qualidade desta casa.

          Falei que essa feira foi dez e tudo isto em somente três dias! Salute, kanimambo e amanhã tem o resultado do Desafio Luso-Brasileiro de Espumantes.

SISAB 2010 – Acabou!!! Sniff.

Acabou-se, a feira que a meu ver foi um grande sucesso, inclusive pelo feedback que obtive de uma série de expositores. Há no entento, muita matéria acumulada em que parte relato abaixo de forma resumida e que finalizarei no meu retorno ao Brasil. Por enquanto, vejam um pouco do resultado de meu garimpo:

Quinta de Baldias – Vinhos do Porto de muito boa qualidade e preço convidativo. Já fez parte do portfólio da Lusitana de Vinhos e Azeites, mas hoje está em busca de novos caminhos. No Sudeste do Brasil já iniciou um trabalho, mas esperemos para ver o que acontece nos mercados mais interessantes; São Paulo /Minas e Rio de Janeiro. Gosto muito de seus tawnies que são de excelente qualidade, tendo provado um estupendo 10 anos e um LBV 1987 de muita qualidade que está muito sedoso, cor atijolada mostrando a idade, mas ainda muito vivo. Este é dos bons, como são todos os outros.

Quinta Seara d’Ordens – Por falar em bom, este que já andou no portfólio da falecida Wine Premium e negocia com alguns potenciais novos importadores, possui uma linha de produtos de excelente qualidade, tantos os deliciosos Vinhos do Porto como alguns vinhos tranqüilos, já conhecia mas o conjunto da obra me surpreendeu.

Seu Douro 2007 é um belo vinho, muito agradável, boa pegada,sedutor, porém seu destaque é o Talentus, um grande vinho em qualquer lugar e por qualquer parâmetro comparativo, produto de um blend de Touriga Nacional, Touriga Franca e Roriz que passa 12 meses em carvalho francês. Ataque de boca delicioso e vibrante com bastante complexidade em que se destaca alguma especiaria, taninos firmes ainda, mas sem agressividade amaciando no meio de boca terminando sedoso e longo.Vinho de grande persistência onde ele mais interessa, na memória!

É nos Portos, no entanto, que a empresa mostra toda a sua vocação. Tanto o Fine Ruby quanto Fine Tawny são acima de média e os Reserva Ruby e Tawny são excepcionais com um preço muito bom o que lhes aporta um plus difícil de bater. Espero vê-los em breve no Brasil. Como o Baldias, têm lugar cativo neste blog e nas prateleiras da Vino & Sapore.

Azeite, Mel e otras cositas mais na Mafyl – Eis uma empresa que surpreende, especialmente no que se refere ao design arrojado e criativo de seus produtos. Azeites em garrafas que farão uma mesa ainda mais bonita com rótulo de tecido e conteúdo bem saboroso com diversos temperos, mel com gengibre ou com rosas, compotas, patês, etc. Muito legal, talvez um pouco exagerado o apelo publicitário que confunde um pouco o consumidor, mas uma lufada de ar fresco na mesmice que tende a imperar no segmento. Para quem quiser conhecer toda a linha de produtos em maior detalhe, sugiro uma visita ao site, vale a pena e tem uma série de seus produtos disponíveis no Free Shop de Lisboa que servem como belos presentes.

Casa de Sabicos ou Casa Agrícola Santana Ramalho – Para terminar a cobertura do dia (tem ainda muito mais) deixei para falar desta casa que nos é trazida pela Adega Alentejana. Pequeno produtor, pesquisador das coisas do vinho com amplo conhecimento da vinosfera brasileira, é um estilista do vinho. Desde seu “básico” Montoito, um vinho muito agradável, redondo e fácil de gostar, passando pelo muito bom Casa de Sabicos Reserva 2005, com um meio de boca incrível e cheio, rico, bom volume e textura, que termina muito fresco e longo, passando pelo estupendo Joaquim Madeira Branco 2006 um incrível corte de Chardonnay e Antão Vaz fermentados juntos em barrica, ao qual se adiciona posteriormente o Arinto que foi fermentado em inox separadamente. Um corte magnífico em que a untuosidade e corpo advindos do Chardonnay e Antão Vaz, são cortados pela ótima acidez e fruta do Arinto. Um grande branco que envelhece maravilhosamente bem!

Para finalizar, uma obra prima, o Avó Sabica 2004 que decantou por 4 horas e ainda estava com uma grande estrutura e complexidade ímpares que enchem a boca de satisfação deixando marcas difíceis de apagar. Um vinho único, de grande personalidade como são todos os vinhos deste produtor. O Sr. Joaquim Madeira, produtor, e sua simpática  esposa Graça, são duas pessoas muito especiais e gentis que me atenderam de uma maneira tal que também deixaram suas marcas, tal como seus vinhos. Uma experiência e tanto no meio de um monte de grandes momentos passados neste evento,

Bem, agora só haverão mais posts após o meu retorno a Sampa, pois ficarei uns dias com algumas dificuldades de acesso á rede. Salute, kanimambo e na volta finalizo a reportagem sobre esta interessante feira de negócios e suas peculiaridades.

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Directamente da SISAB 2010

 Meus amigos, cá sigo minha sina navegando pelos corredores da SISAB conversando e provando, não sei qual é melhor! Visitando os stands tanto de produtores de queijo quanto de embutidos, a grita é geral quanto às barreiras fito-sanitárias brasileiras aos produtos portugueses. Aliás, a grita também é geral em função de toda a absurda burocracia (ou será burrocracia?) nas importações e alta carga tributária que faz com que o Brasil seja um dos países mais difíceis de serem trabalhados no mercado mundial. Protecionismo disfarçado que só complica e encarece os produtos que nós consumidores compramos. Enfim, deixem-me lhes contar um pouco do que vi ontem (23) e que vocês lerão aqui nesta Quinta-feira, dia em que a feira já terá se encerrado.

Altas Quintas – Produtor Alentejano bem conhecido em Terras Brasilis onde é importado e distribuído com exclusividade pela Decanter. Dois lançamentos aqui em Portugal que já chegaram ao Brasil e em breve deverão estar disponíveis nas lojas.

  • Mensagem 2007 – um vinho elaborado com 100% trincadeira de 600metros de altitude que passa 12 meses em barrica. De nariz é tímido e algo químico, porém cresce muito na boca mostrando-se muito rico, taninos sedosos, ótima acidez e um vinho realmente sedutor. A casta é complicada de trabalhar sozinha, mas o produtor conseguiu um grande resultado.
  • Obsessão2004 – 80% de Alicante Bouschet com Trincadeira, 18 meses de barrica e 3 anos em garrafa antes de chegar ao mercado. Com reduzida produção, foi lançado em Outubro de 2009 e já em Novembro se havia esgotado. Dos poucos no mercado internacional que puderam importar o produto, a Decanter e o padrinho do vinho ao qual deu o nome, o Adolar.

Belos vinhos de um produtor já conhecido por seus produtos de qualidade.

Luis Pato II – Só um adendo ao meu comentário anterior sobre os novos vinhos A.M. , provei or três. O Branco é muito sutil e delicado, fresco e equilibrado; o tinto é diferente, talvez um pouco mais complicado de harmonizar, mas bem saboroso por si só; o Rosé, para meu gosto o mais divertido e vibrante dos três, talvez o vinho desta família que mais surpreende. Vinhos a conferir e que eu recomendo, esperando que o preço seja condizente.

Ervideira – Um produtor de vinho Alentejano com uma vasta linha de produtos. Provei um Antão Vaz com leve passagem por madeira  (Conde d’Ervideira Reserva Branco) e recém engarrafado (ainda sem rótulo) que é de muita qualidade. Seu Tinto Reserva é também um grande vinho e hoje pego dois ou três outros vinhos que levarei ao Brasil para uma degustação mais detalhada. Hoje trabalha no Brasil via Mercovino em São Paulo e a Domaine Montes Claros em Fortaleza. Breve, espero, também deverá estar nas prateleiras da Vino & Sapore (eheh)

Adega Mayor – adega pertencente ao grupo de café Delta, com azeites vinhos de muita qualidade. A linha de vinhos é composta de dois brancos com um mais “básico” resultado de um corte de Roupeiro/Antão Vaz/Arinto e Fernão Pires sem madeira só passando por inox com fermentação em câmera fria, um vinho  saboroso, frutado e fresco, mas é o Reserva do Comendador, que passa por seis meses de estágio em madeira nova francesa, o grande vinho branco da casa demonstrando muita sofisticação,complexo e de ótima acidez que pede comida.

Nos tintos; um vinho de gama de entrada interessante e bem feito bom para o dia-a-dia, um Touriga Nacional diferenciado menos floral e macio e, mais uma vez, é o Reserva do Comendador 2006, corte de Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet com 18 meses de garrafa e um ano de garrafa que impressiona por seua elegância e ausência de super extrações, taninos macios e um final com notas de café muito sedutor.

Olho neste pessoal!

Queijo da Serra – quem nunca comeu não sabe o manjar dos deuses que é este queijo artesanal produzido na região da Serra da Estrela (norte de Portugal) elaborado com leite de ovelha e amanteigado. Tradicionalmente, corta-se a casca acompanhando a circunferência superior do queijo e retira-se a “tampa” servindo-se o queijo com uma colher. Comido com torradinhas e, preferencialmente, acompanhado de um bom vinho do porto ruby, é de babar. Eu babei, mais uma vez, e desta feita com o saboroso queijo da Queijaria Flor das Beiras.

 Por hoje é só, amanhã tem mais. Salute e kanimambo.

Em Directo da SISAP 2010

como diriam os amigos da imprensa portuguesa. Pois bem, cá estou na linda Lisboa que mostra uma modernidade a que os turistas que por aqui passam poucovêm já que se limitam a visitar a parte mais antiga da capital portuguesa. Sobre isso, no entanto, comentarei mais tarde, hoje quero só dar algumas curtas noticias do pouco que vi ontem com alguns furos de reportagem. Hoje tem muito mais e não é só vinho não!

Luis Pato – é, o mestre também está por aqui e me mostrou algumas novidade que estão por chegar ao Brasil pelas mãos da Mistral.  Um espumante de Maria Gomes (a cepa) e três vinhos de sobremesa sob a mesma bandeira (marca) a A M (abafado molecular) nas versões branco, rosé e tinto todos com um toque de Baga, sua marca registrada, e teor alcoólico em torno dos 10 a 11% e, de acordo com ele, muito boa acidez para balancear a doçura do vinho. Como exemplo, me disse que o rose está com 12 de acidez para 180grs de açúcar residual e no branco 7,5 para 136grs. Não provei, mas é algo d novo a ser conferido.

Henriques & Henriques Bual 15 anos – um dos néctares provados na Expovinis de 2009 e um de meus Best in Show.  Este estupendo produtor de vinhos Madeira estava com a Expand, não está mais, e descobri que acabaram de assinar com a Zahil, oba!!! Também provei o néctar e realmente é impressionante, um daqueles vinhos que podemos passar largos momentos somente cheirando-o para depois sorver pequenos e extasiantes goles deste verdadeiro elixir dos deuses. Boa noticia e um grande vinho.

Porco Preto – uma iguaria portuguesa que poucos no Brasil conhecem e sobre o qual ainda falarei em mais pormenores, porém um manjar dos deuses que os amigos que aqui vêm não devem deixar de provar. Seja no formato de presunto cru, rivaliza com os melhores italianos e espanhóis, seja em churiços, paios, painhos e outras coisas tais. Imperdível e por aqui na SISAB vi muito!

Alimentos – por trás de normas e dificuldades impostas pelo governo brasileiro à importação de queijos e embutidos, nos vemos desprovidos de algumas das delicias que por cá existem. Interessante que estes produtos portugueses sejam exportados para o mundo inteiro (EUA, Reino Unido,França, Austrália, Japão, Alemanha, etc) e no Brasil as dificuldades são imensas e os caminhos dos mais tortuosos. Algo que, a meu ver, deveria receber das autoridades portuguesas um enfoque especial nas conversas e negociações entre estados pois, pelo para mim, fica claro que são barreiras alfandegárias impostas sob um disfarce duvidoso de proteção á saúde do consumidor.

AZAL – delicia de azeites gourmet que estavam no Brasil (RJ) nas mãos da C-Trade mas que agora chega em São Paulo pelas mãos da Allfood. Esse, podem crer, estará nas prateleiras da Vino & Sapore, esperem e verão. Muita qualidade e eu me apaixonei pelo Terra, produção orgânica, uma de-li-cia!!! Como diz seu logo, azeites com alma e digo mais, com personalidade e respeito pela natureza.

Amanhã ou depois tem mais, já que tenho mais dois dias de feira, mas a reportagem completa só na minha volta. Salute de terras lusas e kanimambo pela visita.

SISAB 2010!

            Para quem ainda não conhece, a SISAB é uma das mais importantes feiras de negócios do setor agro-alimentar português que neste ano comemora sua décima quinta edição. Em um setor em que Portugal possui grande destaque internacional, é uma feira que nossos empresários brasileiros não deveriam deixar de lado colocando-a em sua agenda anual de eventos a visitar.

            A feira será realizada no Pavilhão Atlântico do Parque das Nações, região que respira modernidade, em Lisboa, onde estarão reunidas cerca de 250 empresas exportadoras, algumas com presença por aqui e outras não, das mais diversas atividades do setor agro-alimentar entre eles; pescados, azeites, laticínios, pecuária, confeitaria, etc. sendo o setor de vinhos o de maior representação com cerca de 120 empresas exibindo seus produtos. Certamente uma grande oportunidade de, em apenas três dias, ver e negociar com um grande número de potenciais fornecedores. Entre outros estarão presentes a Herdade do Meio, Herdade do Pinheiro, Herdade Grande, Quinta do Infantado e Quinta do Lago que pouco ou nada tenho visto entre nós, porém também vi uma série de vinícolas menos conhecidas que aguçaram a minha curiosidade já que é nesses encontros que muitas vezes descobrimos as pepitas mais valiosas! Uma das quais aguardo ansiosamente a visita é a Adega Cooperativa do Cadaval com seus brancos sutis, leves e saborosos.

             Agora, ir a Lisboa e ficar só na feira não dá, né? Tire pelo menos uns dois ou três dias (já fique a semana) e gaste sola de sapato caminhando pelas estreitas ruas da baixa e ir de elétrico até Belém para visitar o Mosteiro dos Jeronimos / Torre de Belém e Museu dos Coches, pagar penitência na fábrica de pastéis de Belém (rs), comer castanhas assadas no cais do Sodré, dar uma passada no Castelo de São Jorge e deslumbrar a linda Lisboa a seus pés, ir almoçar aos pés do Cristo Rei (Almada) no Amarra ó Tejo, dar uma passada no Solar de Vinho do Porto, comprar um CD com as melhores canções de Carlos do Carmo e escutar o “Amarelo da Carris”, “Lisboa Menina e Moça” e “Estrela da Tarde”  (poesia em forma de música) entre outras delicias desse ícone da música portuguesa, jantar no O Caseiro ou dar um pulo a Cascais para desfrutar de uma refeição divina com frutos do mar no Montemar que fica em lugar idílico com o mar batendo nas rochas, enfim, Lisboa e arredores são uma festa para os olhos e porquê não dizer, para o palato com ricos sabores a serem desfrutados e apreciados.

            Eu estarei por lá e na volta conto como foi. Para quem tiver interesse e oportunidade, a feira se realizará no próximos dias 22, 23 e 24 e os dados para contato estão aqui.

Salute e kanimambo, nos vemos por lá?

Vinho do Porto Garrafeira e Demijon?

          Você que já sabe tudo, já tinha ouvido falar em pelo menos um dos dois? Bem, eu que sigo sendo um eterno “gafanhoto” nesse caminho de aprendizado das coisas de nossa vinosfera confesso que não e aprendi mais uma ontem ao abrir o blog Copo de 3 do amigo João Pedro de Carvalho. Um dos melhores enobloguers de Portugal, com o Pingas no Copo os meus preferidos, nos traz um matéria muito legal sobre mais uma preciosidade saída das encostas do Douro, o Niepoort Garrafeira!  Eis parte do post, o restante você terá que clicar no Copo de 3 para apreciá-lo em sua totalidade.

Situadas na Rua Serpa Pinto, Vila Nova de Gaia, as caves da Niepoort servem de ginásio a todos os vinhos do porto deste produtor, é ali que os vinhos se colocam em forma até estarem prontos a sair para o mercado. As máquinas à disposição naquele espaço variam desde as madeiras, garrafas ou os peculiares demijons, sob batuta atenta do Masterblender, Sr. José Nogueira, cuja ligação familiar à Niepoort remonta já ao seu pai, e estendeu-se em 2006 ao seu filho. É neste mesmo local que a magia acontece, uma autêntica fábrica de sonhos engarrafados, seja no formato Ruby, Tawny ou Garrafeira.

Nos dias que correm, o estilo de Porto, Garrafeira, é um exclusivo da Niepoort, e pelos preços que atingem tendo em conta a raridade dos mesmos, tornam-se objecto de culto e poucos são aqueles que lhes têm acesso. Comprova a sua raridade as poucas vezes em que foi feito e se apontei correctamente todos os anos (caso falte algum é favor indicarem): 1931, 1933, 1938, 1940, 1948, 1950, 1952, 1964, 1967 e 1977 (este último ainda por sair para o mercado).

O Garrafeira Niepoort é sempre de um ano específico, tal como os Colheita, onde após um estágio em madeira que poderá variar entre os 3 e os 6 anos, o vinho é transferido para demijons. Um demijon ou “demijohns”, é uma espécie de balão de vidro que varia entre os 7 e os 11 litros de capacidade. Foram comprados pelo bisavô de Dirk Niepoort no séc. 19, tendo sido produzidos na Alemanha em Flensburg no século 18.”

             Sei que ao terminar de ler o post fiquei com uma água na boca e me perguntei, será que esse elixir ainda passará por minha taça e minha boca? Não sei, mas que vai para o topo de meu wish list, lá isso vai!!!

Salute e kanimambo

Uvas & Vinhos – Touriga Nacional

       Este primeiro post do ano sobre as mais diversas castas de nossa vinosfera, traz a estréia de um novo parceiro que muito me honra e que tem tudo a ver, pois daremos enfoque ás uvas autóctones durante os próximos meses. Alguns poucos o conhecem, mas a grande maioria não, então deixem-me lhes apresentar o Miguel Ângelo Vicente Almeida , jovem enólogo português formado no instituto Superior de Agronomia em Lisboa, berço de alguns dos mais conceituados enólogos portugueses, com licenciatura Agro-industrial em Enologia. Antes de chegar ao Brasil e à Miolo, andou por terras germânicas, Douro e Alentejo, tendo assumido o projeto da Fortaleza do Seival em 2008 e agora também da Almadén. É uma grande honra para mim, e acredito que para os amigos leitores, ter o amigo Miguel a escrever sobre as uvas autóctones portuguesas, começando pela mais famosa delas. apresentação feita, fico por aqui. Deixemos quem sabe das coisas, quem elabora os vinhos falar sobre esta emblemática cepa portuguesa, a Touriga Nacional.

“Tanta parra para tão pouca uva” – A Touriga Nacional

           Como enólogo, sempre achei nesta frase uma consequência técnica positiva, a tão moderna e famosa concentração. Mas se falar com o agrônomo, este já é capaz de lembrar a falta de equilíbrio entre parte vegetativa e parte produtiva, mais, avisa-nos do cuidado e assistência que é preciso entregar à gestão e manejo da copada. O viticultor tem a prima e primária tendência de se sentir burlado e foi este sentimento de fraude que levou a melhor casta tinta portuguesa e provavelmente a melhor do mundo – para o ser faltou-lhe a origem gaulesa – à quase extinção. Veio depois o seu massivo ressurgimento nos rótulos dos vinhos e só agora e em resultado de investigação massal e clonal é que muito tem aparecido nas vinhas.

              Em Portugal é a casta mais difundida por todo o território continental, daí o termo Nacional como complemento democrático-geográfico a esta surpreendente Touriga. Estados Unidos da América, Austrália, África do Sul, Argentina, Chile, Brasil são países que a naturalizaram porque dupla-cidadania, como um Shiraz australiano, um Malbec argentino, um Carménère chileno, um Tannat uruguaio ou o mais recente Merlot brasileiro, ainda ninguém lhe conferiu.

               Com natural singeleza, elegância, potência e monstra polivalência a Touriga Nacional pode aparecer na forma de:

  • – vinho espumante, como por exemplo os Murganheira Blanc de Blancs Touriga Nacional e do Luis Pato na Bairrada;
  • – vinho tinto seco fino, aqui prefiro a delicadeza dos Tourigas do Dão em detrimento dos Tourigas do Douro porque são fruto de solos de origem granítica e sedimentar e de amenas temperaturas bem típicas de um qualquer verão beirão;
  • – vinho licoroso, seja qual for Vinho do Porto Vintage ou Late Bottled Vintage originário dos melhores patamares de um bardo da mais antiga Região Demarcada do Mundo.

         Por característica, a Touriga Nacional é uma variedade muito fértil, isto é, todas as gemas deixadas à poda brotam e brotam também muitas feminelas que adensam a copada, embora seja pouco produtiva porque é propícia ao desavinho (acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto) e à bagoinha (acidente fisiológico em que no mesmo cacho aparecem, além de bagas normais, bagas de dimensões reduzidas, bagas que não são bagas). Possui, no entanto,  baixa produtividade geralmente decorrente do seu elevado vigor e do seu carácter retumbante que juntos dificultam o ótimo arejamento da flor, impedindo assim o correto desenvolvimento da fecundação, resultando menos cachos. Portanto, esta é uma casta muito exigente quanto à forma de ser conduzida.

Como virtudes ela revela:

– estar bem adaptada a uma grande diversidade de solos;

– ser satisfatoriamente rústica, suportando condições médias de stress hídrico;

– ser muito resistente às doenças e pragas habituais da vinha;

– ter uma maturação intermediária, originando cachos pequenos a médios, ligeiramente compactos, de baga pequena com película espessa e cor negro-azulada.

Comportamento enológico

           A Touriga Nacional é uma casta muito consistente em termos de qualidade dos vinhos originados ao longo dos anos. Os mostos apresentam um teor alcoólico médio a elevado e uma acidez total titulável média a elevada, ou seja, gerando equilíbrio.  Os vinhos têm cor retinta intensa, com forte presença de tonalidades violáceas. O aroma é igualmente intenso desde os frutos pretos maduros (amoras, framboesas) às perfumadas flores (violetas, rosas), lembrando por vezes também algo mais silvestre, rosmaninho, alfazema, esteva, etc. Muito rico em substâncias fenólicas, na boca é volumoso, estruturado e persistente, possuindo um elevado potencial para envelhecimentos prolongados.

        Portanto, vinificada em varietal, por si, sem carvalho, a tendência é gerar vinhos intensamente corados, frescos, bem equilibrados em álcool e ácidos, de taninos macios. A passagem por barrica aumenta a sua complexidade aromática e tende a melhor estruturá-los. Quando usada em cortes, porta-se como o nariz, o perfume do vinho. 

            Em suma, que raio de casta tinta é esta que produz poucos cachos, cachos pequenos, de bagas pequenas, intensamente coradas, plenas de precursores aromáticos, espessas e bem resistentes a pragas e doenças e ótimas para suaves e longos processos de maceração?! A Touriga Nacional Portuguesa é com certeza uma grande casta a nível internacional. Para findar lembro e como bom português puxo a brasa à minha sardinha: quem tiver oportunidade não deixe de ser surpreendido pelo brasileiro Sesmarias 2008! E com isto não afirmo que a Touriga Nacional é uma das seis variedades deste lindo vinho. Mas posso estar enganado!

Harmonização

Agora é a vez do amigo Álvaro Galvão (Divino Guia) dar seus pitacos sobre a harmonização dos vinhos elaborados com esta cepa muito especial que é a Touriga Nacional, que ainda espero ver  adotar seu nome de direito “Touriga Portuguesa” .

Falar da Touriga Nacional no quesito harmonização é muito fácil, pois ela abrange vários pratos, cocções e paladares. A ´Touriga Nacional, uva “símbolo” de Portugal, tem uma característica multifacetada em aromas e paladar, o que contribui muito para facilitar a harmonização. 

Com seu toque frutado, me vejo degustando uma lebre(coelho) ao molho, e leitão assado, as partes mais gordas. Suas especiarias me seduzem a fazê-lo com comida Indiana, que leva coco, especiarias diversas, que ao contrário do que muitos possam imaginar, é uma gastronomia leve, complexa, mas leve. Caças em geral vão bem com a Touriga Nacional, em várias cocções, tanta assadas, como cozidas em molhos, e quando falo de caça penso também em aves, apesar destas não terem tanta gordura para amaciá-las, e fazerem contraponto com o bom nível de acidez desta uva.

Quem nunca experimentou um marreco ao molho de damascos e uma taça de Touriga, não sabe o que está perdendo. Carneiro fica ótimo, mas na minha preferência a paleta e pernil ficam melhor, o lombo e carré(com o ossinho), são mais delicados. Pelo seu tradicional toque floral de violetas, me vejo em plena ousadia, degustando uma entrada fria com figos maduros, alcachofras(não aquelas curtidas em azeite ou vinagre), e Cream Chese(esta entrada eu já testemunhei).

Saladas de palmito Pupunha, com tomates cereja e especiarias, também creio que a Touriga não faria feio. Se não for para ousar, basta ler o que os tradicionais manuais que falam das harmonizações descrevem, não acham?

Os Vinhos

Bem, agora chegamos na minha praia com a difícil tarefa, de enumerar alguns bons rótulos para vocês conhecerem, ou para quem já conhece eventualmente curtir um ou outro rótulo que provei e recomendo.  Tenho uma predileção muito especial por vinhos elaborados com esta cepa e existem alguns grandes vinhos no mercado. Tenho que compartilhar uma curta estórinha com os amigos; no Desafio de merlots do Mundo, tinha um português entre os cerca de 14 rótulos degustados ás cegas. Um dos vinhos da taça, encantador por sinal, dava demonstrações aromáticas que nos transportavam aos Vinhos do Porto, tendo a maior parte da banca apontado esse vinho como o português. Ao descobrir as garrafas, a enorme surpresa de ver que era o Wente Merlot Crane Ridge, da Califórnia. Aí, pesquisamos e verificamos que a cada ano esse vinho passa por um corte diferente tendo nesse ano recebido um aporte de 2% de Touriga Nacional! A conclusão tire você.

Rótulos 100% Touriga Nacional de satisfação garantida

  • Quinta da Cortezia/CVR Lisboa (Casa Flora)
  • Adega de Borba/Alentejo (Adega Alentejana)
  • Dal Pizzol/Brasil – Vale dos Vinhedos
  • Angheben/Brasil – Encruzilhada
  • Quinta do Cachão/Douro – (Casa Flora)
  • Raquel Mendes Pereira/Dão (Malbec do Brasil)
  • Quinta dos Roques/Dão (Decanter)
  • Cortes de Cima/Alentejo (Adega Alentejana)
  • Só Touriga Nacional (Portuscale)
  • Quinta dos Carvalhais/Dão (Zahil)
  • Quinta do Crasto/Douro (Qualimpor)
  • Quinta do Vallado/Douro

Saindo fora dos primeiros cinco rótulos, dê tempo aos outros néctares que só desabrocham mesmo a partir do quarto ou quinto ano devido a sua complexidade. Por sinal, a Raquel Mendes Pereira tem um Rosé de Touriga que é uma delicia. Uma pena que a produção é muito pequena e não chega ao Brasil.

Cortes com Touriga Nacional – aqui a lista seria imensa, já que a maior parte dos vinhos do Douro, do Porto e cada vez mais do restante das regiões produtoras portuguesas, têm algum porcentual desta cepa. Do Brasil, um bom exemplo de um vinho desse estilo é o Quinta do Seival Castas Portuguesas 2005, vinho que destaquei em uma de minhas listas de Melhores do de 2009, elaborado pela Miolo sob a batuta do amigo Miguel de Almeida.

Quer mais? Então sugiro que tome alguns desses bons vinhos acima e tire suas próprias conclusões. Por hoje é só.

Salute e kanimambo

Quinta das Marias Garrafeira 2005, um Vinho em Dois Tempos

Momento 1 – A principio, um vinho de bom impacto olfativo com boa fruta madura, especiarias e um certo toque balsâmico, bastante convidativo. Uma entrada de boca muito elegante, sedutora e delicada que desandou daí  para a frente ao me travar a boca com sua potência de taninos ainda muito agressivos, álcool ainda muito presente (15%) mostrando-se algo rústico mesmo após uma meia hora de decanter. Certamente muito over para o bacalhau que tinha sido escolhido para sua companhia. Encostei o vinho e recorri a outra garrafa (outra estória para um outro dia), um ótimo branco encorpado que mesmo com seus 14% de teor alcoólico, na temperatura certa deu conta do recado. Cerca de uma hora e meia depois, voltei ao Garrrafeira  que já se apresentava melhor porém ainda “pegando” um pouco. Retornei o vinho para a garrafa usando um funil com filtro e, impressionante, a lateral do decanter (como a garrafa) era só borra! Garrafa devidamente fechada com vacu-vin e de volta para a adega.

Momento 2 – Almoço do dia seguinte, Ravioli recheado de mussarela de búfala e manjericão, molho de tomate e pernil assado. Tinha previsto um Chianti Clássico, mas me lembrei do Garrafeira já aberto que não poderia, de forma alguma, ser deperdiçado. Tirei-o da adega e voltei com ele mais uma hora e meia de decanter sobre prato com gelo para manter-lhe a temperatura. Mamma-mia, que chianti que nada!!! O vinho, finalmente, encontrara seu equilíbrio. Estava todo lá como o dia anterior, o olfato de fruta madura e especiarias, porém agora com um pouco de baunilha e nuances defumadas mostrando sutilmente as nuances de barrica e algumas notas florais provávelmente advindas de um bom porcentual de Touriga Nacional no corte. Na boca a mesma delicadeza e riqueza sem a agressividade do dia anterior que possibilitou desvendar algumas qualidades adicionais. Untuoso, denso, encorpado, taninos sedosos, ótima acidez e um mineral de final de boca longo que chama comida e compatibilizou maravilhosamente bem com o almoço. Bão demais da conta sô e uma pena que só tinha uma garrafa porque terminou rápido demais.

            Conclusão, um baita vinho de grande qualidade que me foi sugerido pelo Miguel da Garrafeira Nacional em minha visita de Abril passado a quem agradeço a indicação, mostrando que nem tudo o que começa mal assim acaba! Por um preço bem camarada, por volta dos 13 euros lá porque por aqui ainda não chegou, é uma grande opção de compra para quem quiser um vinho de guarda e não queira gastar muito. Um vinho de grande estrutura que pode ser tomado já, com paciência e trato como fiz acima, mas que deve evoluir maravilhosamente por mais três ou quatro anos antes de atingir seu apogeu. Agora fiquei curioso por provar o Touriga Nacional deles do qual terei que fazer uma encomenda a algum amigo que esteja por viajar a terras Lusas! Alguma boa alma se candidata?! (rs)

Salute, felizes festas e kanimambo.

Sou um Privilegiado! Provei os Porto Vintage 2007.

              Eu e mais umas 25 a 30 pessoas que se reuniram a convite do IVDP (Instituto do Vinho do Douro e Porto – link aqui do lado) para provar alguns dos Vinhos do Porto Vintage 2007. Quem me acompanha há um tempo, sabe que uma de minhas taras são os Vinhos do Porto  e o Vintage é quintessência dos vinhos ruby, necessário explicar porque os tawnies envelhecidos são também preciosidades abençoadas pelos deuses, especialmente quando, pelo menos a meu ver, são tomados com algumas décadas de tempo de guarda. Um Vintage de qualidade de um grande produtor com vinte ou trinta anos, é um verdadeiro elixir dos deuses, e algo que me traz imenso prazer tomar e compartilhar com amigos.

            Tenho uma pequena coleção em casa, pois a cada casamento de um de meus filhos abro uma garrafa com sua idade, tendo a última sido um Quarles Harris 1977. Depois, cada filho tem mais uma garrafa que deverá ser aberta somente quando completarem 50 anos, nesse momento nenhuma das garrafas terá menos de 30 anos, com a obrigatoriedade de a compartilhar com os irmãos. Aí tem uma garrafa para aniversários de casamento, outra para quando completar sessenta anos, outra para setenta, e por aí vai, desculpas/razões é que não faltam para celebrar.

           Pois bem, apesar de diversas casas produtoras declararem vintage num determinado ano, porque sua produção especifica alcançou os padrões mínimos de qualidade exigido pelo IVDP, o ano somente será declarado clássico quando a grande maioria das casas atinge esse patamar e o Instituto assim o declare. Costumam existir de dois a três anos clássicos por década e nesta já tivemos em 2000, 2003 e agora 2007. O Ano Vintage de 2007 tem algumas  peculiaridades que o tornam especial e potencialmente o melhor da década até agora, provavelmente semelhante em qualidade ao fantástico ano de 1994. A principio, este é o ano da elegância, de taninos mais prontos e aveludados, riqueza de sabores e equilíbrio com enorme frescor. Foi isso que fomos comprovar nesta excelente prova de 29 Vinhos do Porto Vintage 2007. A primeira degustação deste porte a ser realizada fora de Portugal para este Vintage, uma honra estar presente nessa degustação.

           É, essa taça aí em cima é de um dos meus preferidos da degustação, o Fonseca Vintage 2007. Mas não foi só ele que possuía essa cor retinta, púrpura que literalmente tingia a taça. Por sua tenra idade e ausência de decantação não foram vinhos de grande intensidade aromática, exceção a uns dois ou três, sendo na boca que mostraram seu enorme potencial. Provamos; Burmester, Churchill, Cockburn’s, Companhia Velha, Dalva, Dow’s, Duorum, Ferreira, Fonseca, Graham’s, Kopke, Messias, Niepoort, Poças, Quevedo, Quinta da Pedra Alta, Quinta da Romaneira, Quinta das Tecedeiras, Quinta do Crasto, Quinta do Noval, Quinta de Noval Silval, Quinta do Portal, Quinta do Vale D. Maria, Quinta do Vesúvio, Quinta Nova de Nossa Sra. do Carmo, Rozés, Taylor’s, Vallegre e Warre’s.

          De todos estes bons Portos Vintage e ao meu palato, dez se sobressairam, me encantaram e mexeram com minhas emoções dando-me grande satisfação e prazer e, na minha humilde opinião, aqueles rótulos que os amigos colecionadores e apreciadores destas preciosidades devam colocar em seu “wish list”, todos grandes vinhos com enorme capacidade de guarda. São eles, por ordem de preferência; Quinta do Vesúvio,  Fonseca, Graham’s, Quinta do Noval, Warre’s, Cockburn, Taylor’s, Churchill, Dow’s e Quinta da Romaneira. Todos maravilhosos, mas os primeiros três, no entanto, me arrebataram e seduziram, deixando-me com uma vontade danada de fazer algumas adições a minha coleção, somente precisando de encontrar alguma desculpa, o que não é difícil já que agora começo a chegar no estágio dos netos! Três vinhos excepcionais, todos absolutamente retintos na cor, sobre os quais tentarei tecer alguns comentários, apesar da dificuldade que é tentar colocar emoções no papel.

  • Graham’s, daqueles vinhos que ficarão na história e os que tiverem o privilégio de abrir uma garrafa dessas daqui a quinze, vinte ou trinta anos certamente o tomarão de joelhos. Púrpura, denso e carnoso, equilibrado, muito frutado, taninos redondos e finos, complexo e muito rico em boca com um final interminável.  Nariz frutado, especiarias com nuances florais sutis mostrando a presença de um bom volume de Touriga Nacional no blend. Delicioso, ótima acidez e textura um vinho que espero rever dentro de 18 anos. Porquê dezoito? Porque precisarei comemorar os 18 anos de meu neto, ué!
  • Fonseca, talvez o vinho que mais me tenha surpreendido nessa prova. Tradicionalmente, pelo menos os que já provei e confesso que não sou nenhum Cabral, os vinhos do porto da Fonseca tendem a ser extremamente encorpados, robustos e duros, especialmente na sua juventude. Pois não foi nada disso que encontrei, muito pelo contrário, um vinho de grande estrutura sim, porém delicado, sedoso e cremoso, fruta em compota, algo de capuccino e menta num conjunto muito complexo no palato. No olfato fruta escura, fechado, pedindo tempo. Arrebatador e certamente será com ele que comemorarei os 18 de meu segundo neto que sequer foi concebido ainda!
  • Quinta do Vesúvio, o mais pronto deles todos e o que melhor transmite todas as carcteristicas da safra. Não sei se terá a mesma longevidade dos outros dois acima ou até de vinhos como Dow’s, Quinta do Noval e Warre’s por exemplo, mas está excepcional no momento e foi o que mais me seduziu. Fruta negra madura em abundância, licor de ginjas com nuances florais de violeta compõem uma intrigante paleta olfativa que nos chama á taça. Na boca sente-se bem a presença de taninos doces, ótima acidez que lhe dá um frescor muito especial, equilíbrio, harmonia, concentrado, taninos finos, macios e sedosos num corpo de boa estrutura, enorme riqueza de sabores com um final longo e algo terroso. Um gentleman, um lorde de fraque e cartola para ser apreciado desde já, mas que deverá estar ainda melhor quando o abrir daqui a dezessete anos nas minhas, inshala, bodas de ouro!

           Bem, como viram, razões para celebrar não faltam e sua criatividade certamente encontrará diversas outras e pessoais razões para o levar a comprar uma destas garrafas que, por lá, valem entre 45 a 55 Euros o que, convenhamos, não é nenhuma fortuna para o produto. Grato ao Carlos Soares do IVDP, à Fernanda Fonseca a organizadora do evento, ao pessoal da Aicep, do consulado, realmente um momento único em minha curta, porém intensa, vida de enófilo comentarista das delicias que tornam esta vinosfera um lugar muito especial para se habitar.

Salute e kanimambo.

Final de Desafio à altura do Derby

Desafio Alentejo x Douro 004         Neste derby Alentejo x Douro, os grandes ganhadores somos certamente nós consumidores e, em especial, a banca degustadora presente ao embate. Alguns crêem numa maior complexidade dos vinhos do Douro e outros num marketing excessivo dos vinhos do Alentejo que prometem mais do que o vinho entrega. Nesse derby, a discussão sobre os prós e contras de cada um será eterna, mas sem duvida alguma estamos muito bem servidos pois há vinhos de grande qualidade de ambas as partes.

        Para finalizar este agradável encontro em que os vinhos claramente se harmonizavam com os amigos presentes, o Franciacorta aceitou meu desafio, especialmente seu chef José Gomes da Silva. Por minha solicitação eles deixaram de lado seu bom menu de influência francesa para atacar de comida portuguesa com duas receitas que tirei do meu cofre!  Para acompanhar estas receitas, dois vinhos muito saborosos; o Aveleda Follies Alvarinho 07, contribuição do importador exclusivo a Interfood e o tinto alentejano Herdade Paços do Conde 2007 gentilmente cedido pela Lusitana de Vinhos & Azeites que o importa e distribui. Agora vejamos o que aconteceu:

Alentejo x Douro 019Pataniscas de Bacalhau da Maria Santos. Receita da amiga virtual à qual o Chef deu um toque particular ou adicionar um misto de folhas temperadas com um toque de pesto que combinou muito bem com as gostosas pataniscas. Quanto ao vinho, uma delicia. Este Aveleda Follies é um vinho de bom corpo, talvez um pouco superior às pataniscas que são bastante leves, mas a harmonização não chegou a ser prejudicada por isso. Um belo vinho que traz em seus aromas um certo floral com nuances de apricot, frutas brancas e uma certa mineralidade. Na boca mostrou–se mais cítrico, boa textura, ótima acidez, bom corpo, balanceado e fresco com um final muito agradável e algo especiado. Um Alvarinho de qualidade que achei que também se mostrou bastante interessante com a carne de porco que tem um estilo meio Thai de ser tendo combinado bem com o frescor do vinho.

Carne de Porco á Alentejana da Tia Rosa. Adoro e poucas comi que conseguissem chegar Alentejo x Douro 023aos pés do que a minha tia faz, porém o chef se superou e, com uma receita dessas, provocou um burburinho à mesa. Um prato diferenciado que combina a carne de porco com vôngole, uma mistura inusitada que traz ao palato sensações diferentes e muito, muito gostosas lembrando sabores tipicos da gastronomia thailandesa. O vinho é de grande qualidade e uma das boas opções no mercado abaixo de cinqüenta reais, já que anda por volta dos R$40,00. O Herdade Paços do Conde 2007, num patamar inferior ao Reserva que tão bem participou do embate, é muito saboroso bastante frutado no nariz com nuances de salumeria e algo tostado. Na boca é carnoso, taninos ainda bem presentes devendo evoluir durante os próximos dois anos quando deve atingir seu apogeu, porém sem agressividade e bem incorporados num corpo médio para encorpado, boa acidez, equilibrado , alguma madeira ainda aparente, final especiado e tostado muito agradável. Um vinho que está bom agora e só melhorará com um tempo maior em garrafa tendo acompanhado a carne bem, porém se sobreposto um pouco. Harmonização, no entanto, é uma coisa muito particular e certamente cada amigo presente tem lá sua opinião e história para contar. Agora, que o vinho está muito bom disso não sobram quaisquer duvidas.

         Alguns ainda se divertiram provando um pouco dos vinhos que tinham sobrado do Desafio e brincando de harmonizar com os pratos servidos. No todo, mais uma bela experiência e momento de descobertas que compartilhamos com você. Bons vinhos, bons preços, mostrando o porquê Portugal detêm hoje a maior fatia do mercado Brasileiro de vinhos importados, exceção feita aos nossos vizinhos Chile e Argentina. Essa relação de custo x prazer não tem erro!

Alentejo x Douro 016

        Um Kanimambo especial aos parceiro que nos ajudaram a promover mais este Desafio, em especial ao Restaurante Franciacorta, Chef José Gomes, à eficiente equipe liderada pelo sommelier Steffano Lima , à Maria Santos pela genorisidade em ceder sua receita de pataniscas e á minha querida e saudosa tia Rosa. Aos amigos leitores que me honram com sua preferência, um brinde. Salute e gratos por mais uma vez fazerem com este blog tenha, em Outubro, batido mais um record de acessos com 13.400 no mês e 21.000 page views ultrapassando os 300.000 em menos de dois anos.

Valeu!