Terceira Taça

                  Por mais que aceitemos o fato de que o nível de álcool no vinho não o chegue a afetar em função de um equilíbrio alcançado em sua elaboração, a pura verdade é que o teor de álcool se verifica mesmo é na terceira taça! O resto é papo para boi dormir. A meu ver, o vinho é para ser tomado em longos bate-papos e refeições sendo normal, nestes casos, que uma pessoa tome umas duas ou três taças de vinho. Se o vinho tiver 14,5 ou 15º como se verifica muito nos tintos por aí, por mais equilibrado que esteja, o álcool se sentirá na terceira taça! Nos brancos ocorre o mesmo, com vinhos de 13,5 a 14º com a agravante de que em muitas das vezes, estes vinhos são tomados sem, ou com pouca, comida, mais como aperitivo. O vinho é para termos prazer, para nos causar alegria, não para que fiquemos zonzos. Para isso existem bebidas mais baratas e mais eficazes! Com estes níveis de grau alcoólico, é difícil realmente aproveitar o vinho em sua plenitude social e é na terceira taça que está a prova final. Pessoalmente, tenho evitado os vinhos tão potentes, buscando aqueles mais elegantes e prazerosos de tomar. Agora parece que existe uma luz ao final do túnel, especialmente para aqueles que por motivos climáticos elaboram vinhos com alto teor alcoólico.

                O Instituto Nacional de Viticultura da Argentina autorizou um método de “desalcoolização” do vinho mediante osmoses inversa. De acordo com o blog El Malbec (link aqui do lado), esta resolução busca permitir a diminuição do teor de grau alcoólico nos vinhos em até 2%, conforme resolução da OIV (Organização Internacional do Vinho) aprovando esta “desalcoolização” através de técnicas subtrativas. Por enquanto somente os países do Novo Mundo estão colocando em prática esse processo já que na Europa, o procedimento ainda se encontra em fase de estudos, prevendo-se sua aprovação somente em 2009. Com esta aprovação na Argentina, quem sabe deixamos de ver vinhos brancos de 15º e tintos de 16,5 a 17º! Que falem os técnicos e enólogos.

Boas Compras I – Uruguai

         Hoje começo com uma seqüência de posts de Boas Compras que são fruto de destaques listados por nossos parceiros. Como do Uruguai, não são muitos os rótulos disponíveis e nem todos os parceiros mantém vinhos Uruguaios em seu portfolio então, afora vinhos desta origem, haverão outras boas oportunidades de compra de países diferentes. Bom proveito, como são muitos os participantes e rótulos, publicarei a lista por etapas ao longo dos próximos dias. Aqui estão 29 opções para todos os gostos e todos os bolsos, muitos ainda estão por vir nos próximos posts, então, salute e Boas Compras:

1) BR Bebidas- Os preços deles já são muito bons normalmente e ainda têm um esquema de consignação para festas e eventos. Procurem o Fredo ou o Jorge. Eis uma lista dos preços especiais para os leitores de "Falando de Vinhos".

  • Eclipse 2006. Um vinho elaborado com 100% Cabernet Franc. Vinho correto, ligeiro ótima opção para o dia-a-dia, vinho fácil, básico por apenas R$15,00. Não precisa acreditar em mim, prove uma garrafa e depois, compre a caixa!
  • Recuerdos 2006. Subimos um degrau no nível de qualidade. Na taça sobressai um frutado agradável, sem exageros,com toques de chocolate provavelmente advindos do tempo em barrica. Na boca, não se sente o álcool que está muito bem integrado e equilibrado, acidez um pouco baixa, persistência média, redondo e com boa estrutura formando um conjunto saboroso de se tomar e fácil de agradar.Por apenas R$22,00.
  • Cisplatino Tannat/Merlot 2004. Bom vinho de entrada da Pisano, que é uma das grandes casas produtoras e com vinhos de diversos níveis. Um corte muito comum no Uruguai, com a Merlot amaciando a tânica Tannat. Muito agradável e por somente R$ 21,00.
  • Tremendus Clarete 2007. Da Espanha um muito interessante rosé, bem clarinho estilo Provence, produzido pela bodega Honório Rubio de Rioja, com um corte das uvas Garnacha e Viura. É muito fresco, super aromático com frutas brancas lembrando melão, suave com leves nuances de tuti-frutti num bom final de boca. Uma delicia que certamente agradará fácil. Por R$37,00.
  • Do mesmo produtor, o Honório Rubio Crianza 2004 da região da Rioja. De acordo com o Fredo, uma delícia de vinho que está por R$57,00.
  • Guarda de Família Errazuriz 2006. Vinho chileno que recém trocou de importadora e está muito mais competitivo. Por R$15,00.
  • Veo Errazuriz Cabernet/Syrah 2006. - Um bom corte elaborado pelo mesmo produtor Chileno a um preço excelente de R$27,00.

 2)Portal do Vinho -  Sempre um ótimo atendimento da parte do Emilio e da Fátima, jovem casal que toca este simpático e bom estabelecimento inaugurado em Dezembro do ano passado.

  • Oceánico 2005. Um corte de Tannat (50%), Cabernet Franc (40%), Cabernet Sauvignon (6%) e Syrah (4%). Sem filtragem nem claraeamento, o vinho é negro, opaco e brilhante de corpo médio para encorpado. Taninos finos, acidez muito boa, aromas e sabores complexos, boa persistência, um vinho de muito boa qualidade que entusiasma, inclusive pelo baixo preço. Pronto para beber, mas ainda jovem e certamente seguirá evoluindo bem na garrafa por mais um ou dois anos. Por R$39,00, uma senhora barganha.
  • Abraxas 2002. Vinho elaborado com 100% da casta Tannat com 18 meses de barrica Francesa de primeiro uso, tendo sido usado o melhor das uvas colhidas em todo o vinhedo. Untuoso, negro, tinge a taça e precisa respirar. Certamente, se bebido agora, um vinho que necessita de pelo menos uma hora de decanter.Muito harmônico, taninos finos ainda firmes, aromas complexos, fresco, encorpado, elegante é realmente um vinho de primeiríssimo nível, o que poderíamos chamar de um "vinhaço". É vinho para mais alguns anos de guarda e certamente crescerá muito ainda.Por R$95,00.
  • Cisplatino Torrontés 2007. Da linha de entrada da Pisano, um branco muito agradável, fresco, com bastante tipicidade, que bate muitos dos vinhos Argentinos produzidos com esta casta. Por R$ 28,00
  • RPF Tannat 2004 - Linha intermediária da Pisano, uma das importantes casas produturas da região de Canelones. Este tannat está no ponto. Maduro, taninos sedosos e sabores intensos, é um vinho de muita qualidade e com muita tipicidade da casta. Gostei muito e recomendo como um belo tannat, por um preço condizente com a qualidade ofertada, R$55,00.

 3) Casa Palla - um pouco mais longe, na Granja Viana Km 24,5 da Rodovia Raposo Tavares, é um empreendimento familiar com algumas ótimas opções de vinhos para todos os gostos e bolsos. Tem uma boa noticia, nas compras acima de R$150,00 fará entrega em São Paulo nos bairros do Butantã, Morumbi, Brooklin, Itaim e Pinheiros.  Não deixe de os visitar, tem sempre ótimas opções de vinhos. Vá ao Sábado e aproveite para almoçar em um dos bons restaurantes da região como o Restaurante do Canto, A Quinta do Bacalhau, Koizan e o antigo, parte da história do bairro, o Restaurante Pátio Viana mais conhecido como Restaurante do Ney. Veja aqui endereços e telefones dos restaurantes. São seis boas dicas de vinhos

  • Don Adélio Ariano Tannat Reserve Oak Barrel 2004. Sem ser um vinhaço, é um vinho muito interessante, pujante com aromas frutados e algo floral ao final.Taninos ainda firmes, encorpado, boa acidez, um vinho que pede comida e certamente, acompanhará muito bem um churrasco de picanha. Uma das gratas surpresas, de baixo custo, disponíveis no mercado e ainda por cima de uma das melhores safras no Uruguai. Por apenas R$29,90.
  • Viña Constancia Selección 2002 - Do mesmo produtor, Adélio Ariano, um corte de Cabernet Franc/Tannat e Syrah bem elaborado e já evoluído, bem balanceado, baixa acidez, ligeiro e agradável na boca. Preço R$25,90.
  • Leonardo Falcone Reserva da Família Tannat 2004. O produtor é conceituado e elabora seus vinhos em uma região diferenciada, de Paysandú no Litoral Norte. De acordo com o produtor; Grande complexidade de aromas. Na boca, taninos redondos, potentes e equilibrados com final longo. Preço R$39,90.
  • Quinta da Cortezia Touriga Nacional 2004. Vinho Português de muita qualidade, médio corpo, bem equilibrado, boa paleta aromática e na boca redondo e elegante com um final de média persistência. Muito agradável, por R$49,90.
  • Torres Corona Tempranillo Crianza 2004. Um 100% tempranillo Espanhol da região da Catalunha, com ótimas avaliações. Preço R$35,00
  • Altano Douro 2005. Um vinho do Douro delicioso. Muito equilibrado com ótima acidez que convida a comer. Acompanha muito bem um bacalhau ao forno. Fácil de agradar, redondo, taninos finos, uma opção de bom vinho com preço idem, R$37,90
  • Cadão Reserva Douro 2000. Uma ótima safra no Douro e um vinho muito agradável, no ponto para ser tomado. Taninos presentes, mas muito elegantes, o vinho está redondo, médio corpo fácil de harmonizar, uma bela escolha de vinho por um preço que é para comprar o pouco que resta de estoque, R$32,00
  • Licor de Ginjas D'Óbidos. Licor típico Português elaborado artesanalmente com um tipo de cereja. Na garrafa, ficam um pouco dessas ginjas inteiras, o que lhe dá um caráter muito particular. Este, especificamente, é muito bom, ótimo para encerrar uma refeição ou simplesmente como aperitivo num bate papo. Preço R$65,00

4) Kylix - O Simon está sempre elaborando promoções das mais diversas. De cursos a degustações temáticas e, acima de tudo, uma boa diversidade de rótulos de qualidade com preços muito bons. Eis a lista de destaques do mês com os comentários do próprio Simon.

  • Alcyonne Tannat. Um licor de Tannat próprio para sobremesas à base de chocolate e frutas vermelhas ou sorvete de creme. Muito untuoso na boca, com um final de boa persistência e aromas de amêndoa, caramelo e cacau. De R$105,00 por R$89,00
  • Tannat Platinium 2004. Produzido pelo Viñedo de los Vientos na região de Canelones. Boa intensidade de frutas negras maduras revela-se intenso e austero com notas de tostado e especiarias. Especialmente indicado para acompanhar carnes assadas. Um vinho bastante premiado de R$59,00 por R$49,00.
  • Ripasso de Tannat 2004. Também da Viñedo de los Vientos, é um vinho potente, denso, com aromas de frutas secas e toques de couro. Na boca frutas negras maduras e notas de torrado. Bom vinho para acompanhar carnes mais condimentadas e carnes de caça assim como queijos azuis. Um vinho muito conceituado com produção de somente 600 garrafas, elaborado pelo método Ripasso usado na região de Valpolicella na Itália, que obteve 90 pontos na Wine & Spirits Magazine. De R$210,00 por 185,00.
  • Dom Próspero Tannat/Merlot 2003. Corte típico do país, com 60% Tannat com 40% Merlot. Aromas de complexos de frutas vermelhas e negras, com traços de pimentão. Na boca apresenta boa estrutura, taninos maduros e suaves com final prolongado. Ideal para acompanhar massas e carnes vermelhas. De R$30,00 por R$27,00
  • Paulo Laureano Clássico Tinto 2006. Amoras silvestres, azeitona preta e especiarias num conjunto equilibrado e atrativo. Na boca é macio, taninos sedosos e uma frescor agradável num final longo. De R$31,00 por R$30,00, a partir de 6 garrafas R$29,50 e acima de doze R$28,60.
  • Paulo Laureano Premium Tinto 2004. - Um complexo e harmonioso corte de Aragonez com Trincadeira, duas uvas autóctones de Portugal e uma característica do enólogo Paulo Laureano que só trabalha com castas locais. Estrutura marcante com aromas de compotas de frutos negros. De R$43,60 por R$42,30, a partir de seis garrafas R$41,50 e acima de doze R$40,00.

 5) Mr. Man - Importadora que recém iniciou suas atividades com os vinhos do Uruguai. Já os conhecia devido a outros produtos que trazem e, neste mês, temos o privilégio de contar com sua participação com destaque para quatro rótulos.

  • De los Man Tannat/Merlot Reservado 2006. Mais uma vez o tradicional corte Uruguaio em que o Merlot é usado para amaciar a tanicidade da tannat. Por R$19,00.
  • De los Man Tannat Reservado 2006. Um vinho com bastante tipicidade, ligeiro, sem muita complexidade, mas muito correto, frutado e fácil de agradar. Apenas R$19,00.
  • Traversa Tannat Roble 2004. O nome nos leva a pensar que vamos tomar um puro tannat, mas ao lermos o contra-rótulo vemos que é um corte com 20% de Merlot e, certamente, poderia ser denominado como um Tannat/Merlot de boa paleta aromática com bastante fruta vermelha que se confirma na boca com muita elegância. Muito redondo, macio, um vinho muito agradável, com boa estrutura, elegante, teor de álcool educado, taninos finos e boa acidez que aguçam as papilas gustativas. Em Tomei e Recomendo o coloquei na faixa de R$30 a 50,00, mas o importador nos presenteou com uma redução considerável de preço. Um achado pelo preço, R$28,52, não dá para perder. Belo custo X beneficio.
  • Sarlot Reserva Tannat Roble 2005. Vinho Premium, pertencente, teoricamente, a outra categoria, mas o preço o deixa mais perto de nós probres mortais. Um upgrade do Traversa e um belo vinho. Tudo o que Traversa apresentou e mais um pouco. Totalmente pronto a tomar, taninos maduros, muita harmonia num vinho que é  cremoso e aveludado na boca por apenas R$59,00.

Pessoal, desculpem a zorra com as fontes no texto , mas o WordPress está dando uma de difícil hoje. Assim que puder arrumo, mas achei que não deveria vos deixar sem estas dicas de compra em função disto. Espero botar ordem na casa muito em breve. Enquanto isso escolha os vinhos e busque o endreço e contato do vendedor no link abaixo. Kanimambo.

 Endereços e Telefones para contato, encontre na seção “ONDE COMPRAR”

O Especialista

                Foi no Jornal de Araraquara em 13 de Agosto de 2005, que João Batista Galhardo escreveu esta crônica genial com que me deparei, sem querer, navegando pela rede. Ressalvas feitas aos exageros inerentes a crônicas deste tipo, é por aí mesmo, é muito chato ser um enochato! Delicie-se com o texto.

Crônica
O especialista

Por, João Baptista Galhardo

Especialista é todo aquele que possui habilidades, conhecimentos especiais ou extraordinários sobre determinada prática. Fui convidado pelo Barbosa para tomar vinho numa requintada cantina. Ele convidara, também, o Beto e o Nando que não víamos há muito tempo. O Nando reside em São Paulo e uma vez por ano vem visitar parentes e amigos. Cheguei primeiro. Ocupei uma mesa para quatro pessoas. Pedi pão, salame e queijo cortados e uma porção de sardela. Quando já estava comendo pão com sardela chegaram os três. Foi Nando quem escolheu o vinho. Caro. Veio o garçom e abriu a garrafa. Entregou-me a rolha, quase esfregando no meu nariz. Não sei porque, também não perguntei para que servia. Para não correr o risco de uma resposta malcriada.

O Nando falou: “pelo seu cheiro e manchas ao seu redor, sabe-se pela rolha o estado do vinho para o consumo”. Percebi que o Nando, que na mocidade chamávamos de Fer, especializara-se em vinho. Mandou trocar de copos várias vezes até aceitar taças brancas bojudas e de cristal fino. Peguei a garrafa para me servir e ele gritou: “não faça isso”. Confesso que levei um susto, com aumento de batimentos cardíacos. Ele acrescentou: “você não sabe o que é aeração? O vinho tem que respirar para se acostumar com o ar ambiente”. Tentei de novo pegar a garrafa e nova carraspana do Nando: “limpe os lábios e dentes com miolo de pão para tirar o gosto da sardella que você comeu”. Obedeci. Peguei a garrafa para me servir e nova advertência: “deixe a boca secar. Não tome antes de diminuir a salivação para não estragar o bouquet do vinho”. Tive vontade de mastigar uns dois guardanapos de papel. Mas fiquei na minha.

Já estava me sentindo verdadeiro idiota pela minha ignorância no assunto. O Nando perguntou ao garçom se não havia no recinto uma cuspideira: “todo enólogo que se preza, a primeira dose é cuspida para sentir se o retrogosto da bebida é adorável e duradouro”. Intervi e parece que não agradei: vocês não têm um penico para colocar ao lado dele? O garçom fez que não ouviu. E o Nando retomou a palavra: “cuspideira de enólogo é de papelão”. Num ritual cerimonioso ele colocou um pouco de vinho na sua taça. Balançou a bebida em círculos. Cheirou com as duas narinas. Depois com uma só. Deu-me a impressão de que iria beber pelo nariz. Colocou na boca sem tirar o órgão do olfato de dentro do copo. Mastigou a bebida como se estivesse comendo pamonha. Bochechou. Gargarejou e disse: “trata-se de um vinho jovem, violento, agressivo, e de personalidade marcante. De perfeito equilíbrio e harmonia entre os ácidos, álcool, fruta e tanino. Isto é o que se chama vinho feito por estilista, por artista. Verdadeiro vinho de alfaiataria. De perfeita equivalência entre custo e benefício”. Eu não sabia que para tomar vinho tinha que aprender economia. A conversa já estava um saco e o Nando continuou: “olha as lágrimas que escorrem nas paredes do copo. Perfeita evaporação. É um vinho com grande parte de merlot e pequena de sangiovese. Para acompanhar carne vermelha. De preferência paleta de cordeiro ao molho leve de hortelã “.

Eu ainda não tinha dado um beiço na bebida. Como amante de coisas simples, eu estava zonzo sem ter bebido nada. Não sabia se degustava o salame, comia o vinho e bebia o pão ou se fazia um bochecho com a sardela, bebia a água e molhava o pão no vinho. Para complicar eles pediram charutos. Quatro. Mas eu não fumo, apressei em dizer. “Não…você tem que fumar. Bebedor de vinho fuma charuto”. Nesse instante tive uma idéia. Por baixo da mesa acionei a campainha do meu celular. Simulei um atendimento e informei: “é minha mulher. Tenho de ir embora”. Deixei minha parte da conta. Comprei uma garrafa do mesmo vinho e fui para casa.

Descalço, sem camisa e de bermuda tirei a rolha. Convidei minha mulher para beber comigo. – “O que você quer comer”, perguntou ela. Paleta de cordeiro com molho de hortelã, nem pensar? Ela disse “você está delirando, vou fazer omelete com aqueles ovos de gansa, bacon, queijo e salsinha”. Então pedi: “faça bem mole, para comer com pão”. Antes, porém, fechei as janelas, as portas e as cortinas para que ninguém nos visse tomando aquele vinho com omelete. E se eles resolvessem passar pela minha casa? Imagina o que diria o enófilo-enólogo Nando! Deus me livre. Enquanto bebíamos disse que se tratava de um vinho agressivo e de personalidade forte. Com olhos arregalados ela perguntou: – você tem medido a sua pressão? Não respondi e continuei: olhe para o copo. De lado é vermelho. Olhando de cima para baixo ele escurece, mas dá para perceber no fundo da taça as frutas vermelhas, principalmente amora, cereja e pitanga. Ela ficou mais assustada. Eu estava repetindo coisas que ouvi do Nando, mas quando lhe disse que se tratava de um vinho feito por alfaiate, ela quase se afogou. Colocou o copo na mesa e me advertiu: “pare de beber que você já está é troncho da cabeça”.

 

Uruguai – Regiões & Uvas

O Uruguai é um país de pequenas proporções, pouca população, mas riquíssimo em cultura e desenvolvimento de seu potencial vinícola. Sim, para quem ainda não sabia, aqui se fazem muito bons e saborosos vinhos. Com apenas cerca de quatro milhões de habitantes, tem cerca de 280 vinícolas produzindo e aproximadamente umas 120 exportando regularmente, porém só cerca de 30 com vinhos finos (VCP) engarrafados sendo o restante de vinhos de mesa a granel. São cerca de oito mil e quinhentos hectares de vinhas gerando um total de cerca de cem milhões de litros de vinho, dos quais somente cerca de trinta por cento, de acordo com o INAVI, são de vinhos finos e o restante de mesa. O Brasil é seu grande mercado exportador, para vinhos finos engarrafados com cerca de 33% do total de suas exportações, através de vinte diferentes bodegas. A Rússia é seu maior importador, porém essencialmente de vinhos de mesa a granel (97%). O consumo per capita é de cerca de 29 litros, a grande parte de vinhos de mesa produzidos com vitis-vinífera, principalmente a Moscatel de Hamburgo que gera vinhos ligeiros e meio adocicados, porém a preços muito acessíveis. È um consumo per capita maior que o do Chile, mas inferior ao do vizinho Argentina e consideravelmente maior que o Brasil com seus míseros 2 a 3 litros anuais.

Apesar de produzirem vinho a mais de 250 anos, foi realmente a partir de 1874 com a aposta na uva Tannat por parte de Pascual Harriage, que o a vinicultura começa a ganhar corpo. A moderna vinicultura, todavia, somente começa a ganhar corpo a partir do inicio dos anos de 1980 culminando com a criação do INAVI (Instituto Nacional de Vitivinicultura), uma entidade publica que vem regendo o presente e o futuro do vinho Uruguaio. Em 1992 foi feito um estudo de regionalização da produção do vinho em que se definiram oito grandes regiões de potencial de desenvolvimento baseado em parâmetros climáticos assim como da geologia encontrada. Sua marca registrada é o Tannat e sua chegada ao cenário mundial é bem recente, mas ganhando espaço com bastante velocidade apesar de ainda ter suas exportações muito concentradas, com 87%, em dois países.

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Algumas importantes normas foram definidas para a industria. Começando pelo fato de que qualquer varietal declarado no rótulo deverá ter, obrigatoriamente, um mínimo de 85% dessa variedade. Por outro, se instituiu a VCP (Vino de Calidad Preferente) que é o verdadeiro vinho fino como nós o conhecemos. Ter a chancela VCP impressa no rótulo significa dizer que o vinho foi produzido dentro das normas, região e condições estabelecidas.  Não é chancela de qualidade, ou seja, pode-se ter um bom vinho sem VCP como ter um péssimo com VCP. Na verdade, ter VCP é uma indicação de que o vinho deve ter qualidade, mas não uma verdade absoluta.

Por outro lado, o mestre Saul Galvão, em seu livro Tintos & Brancos, nos informa que as safras no Uruguai são muito importantes, tanto quanto nas regiões Francesas de Bordeaux e Borgogne então preste atenção quando for comprar. As melhores safras mais recentes são as de 2001, 2002, 2004 e 2005. Como já mencionei em meu post anterior sobre Safras, isto não quer dizer que vinhos de outras safras sejam ruins, somente de que os elaborados nestes bons anos serão potencialmente melhores. A concentração da produção ainda é muito grande sendo que 89% advém da Região Sul. Gradualmente as fronteiras se ampliam, e existem diversos bons projetos em andamento fora dessa região. Um desses destaques é a Domínio Cassis com um projeto pioneiro na Região Sudeste mais precisamente em Rocha.

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             Os vinhos Uruguaios apresentam características bem diferentes dos vinhos a que estamos habituados a tomar de origem Argentina e Chilena. Pelas próprias diferenças climáticas com temperaturas mais amenas e condições geológicas bem distintas às encontradas nestes outros paises. São vinhos com personalidade própria, elaborados por gente que tem um jeito diferente de fazer vinho e que, neste sentido, nos parecem vinhos mais parecidos ao estilo do Velho Mundo. Com menos potência, teores alcoólicos mais controlados, boa estrutura, mais elegância e sabores diferentes já que a base de sua vinicultura é a uva Tannat, originalmente da região de Mandiran na França, que encontrou aqui seu habitat perfeito. A Tannat no Uruguai é elaborada tanto em vinhos varietais como em cortes em que seu forte potencial tânico costuma ser suavizado pelo acréscimo de Cabernet Franc e Merlo assim como já vi com Tempranillo, Pinot Noir e Viognier, uma uva branca. Mas não é somente de Tannat que é feita a reputação dos vinhos Uruguaios. Bons varietais de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, também são encontrados. Nos brancos, as presenças da Sauvignon Blanc e da Torrontés se fazem presentes no portfolio da maioria dos principais produtores.

A Tannat, especialmente rica em polifenóis, tendo o maior contéudo de Resveratrol (forte poder antioxidante) entre todas as cepas Vitís Viniferas conhecidas, quando mal trabalhada, é extremamente adstringente (tannat vem de taninos) e gera vinhos muito rústicos. Afortunadamente, a maioria do que vem sendo exportado para o Brasil são de vinhos de qualidade,  bem elaborados e de boa estrutura. Mesmo assim, é aconselhável dar aos varietais desta cepa, especialmente quando 100%,  um pouco de tempo em garrafa para que possa usufruir-se de toda a sua complexidade de aromas e sabores e para que os taninos amadureçam.

No ano de 2007, mais que dobraram as importações Brasileiras de vinhos Uruguaios, demonstrando o grande interesse do consumidor Brasileiro por estes produtos, que já conquistaram 2% do mercado considerando-se volume, mas 4% no que se refere a valor. A grande parte da produção está nas mãos de empreendimentos familiares com produções relativamente pequenas, porém em franco desenvolvimento com projetos muito bem cuidados. Prove estes vinhos, têm um quê do jeito de ser Uruguaio, um quê do Velho Mundo. Os críticos sérios e grandes conhecedores, como o mestre Luiz Horta e o Didu entre outros, são unânimes em declarar que os vinhos Uruguaios estão em franco desenvolvimento e muito ainda se irá falar sobre eles. Comece desde já a descobrir, se é que ainda não o fez, os vinhos desta terra simpática e hospitaleira que é o Uruguai. São, realmente, produtos diferenciados e com um nível geral de qualidade muito bom, aproveitem.

Abril é o mês do Uruguai e, a partir da próxima semana, publicarei os destaques que nossos parceiros estarão disponibilizando, tanto de vinhos Uruguaios como outras boas indicações, e listando os vinhos Uruguaios que tive o privilégio de provar e aprovar. Veja em Tomei e Recomendo também ao longo deste mês, que para nós enófilos e amantes do vinho é especial já que é mês de Expovinis, os vinhos que provei e aprovei em cada uma das faixas de preços pré-estabelecidas (até R$30, 30 a 50, 50 a 80 e 80 a 120) .  Salute e Kanimambo!