Bacalhau Luso-Italiano e Tannat de Salta, Combinação Inusitada

Hoje falo de comida, meu prato de Domingo (rs), e de “prefácio” uso o texto que o Jair Oliveira (Jairzinho para os mais antigos) colocou no cardápio do restaurante de sua mãe aqui na Granja, o Escondidinho, onde em breve realizarei alguns eventos. Adorei, pura poesia de quem entende do riscado.

“Quando a boca torna-se a porta do paraíso,

a alma delicia-se sem juízo e o prazer cresce quase sem medida.

Pois é assim que é bom levar a vida; com o sabor escondidinho num sorriso

e o paraíso escancarado na comida.”

(Jair Oliveira)

Bacalhau Luso-Italiano, a união de Baca & Pasta deu samba em terras brasileiras acompanhado de um Tannat de Salta, é o samba do crioulo doido em véspera de carnaval!. Mais um prato fácil e gostoso para você testar em sua casa, tenho a certeza que o pessoal vai curtir, eu me deliciei. Já o vinho, esse fica a seu gosto, mas como já tinha um Tannat de Salta aberto, imaginem só,  tomei junto e ………….. surprise, “ornou” legal! Tannat com bacalhau, o João pirou? Pirei não minha gente, este Tannat é para lá de especial e deu muito certo! Vamos à receita para 4 pessoas com sobra para a marmita de Segunda! rs

400 grs de bacalhau em lascas ou desfiado Gadus Morhua.

1 cebola média

2 dentes de alho

600grs de spaghetti de grano duro

200grs de tomate cereja bem madurinho

Salsinha, cebolinha, azeitona preta picadinha, pimenta do reino a gosto, muito azeite e três ovos cozidos.

Dessalgue o bacalhau em água gelada na geladeira por 24 horas trocando a água pelo menos duas vezes. Guarde a água da segunda e terceira (derradeira) troca e adicione na panela em que o spaghetti será cozinhado. Como essa água já é salgada, sugiro esquecer o sal nesta receita! Escorra bem o bacalhau e deixe-o descansar por cerca de uma hora bem regado com azeite, um foi feito para o outro, pois realça o sabor do bacalhau. Desfie, lasque bem o bacalhau e guarde.

Bacalhau Luso-Italiano by JFC

Refogue no azeite a cebola, alho, tomate e salsinha finalizando com o bacalhau. Misture bem e quando o bacalhau começar a dourar adicione um pouco de cebolinha e pimenta do reino moída a gosto. Jogue a spaghetti na panela ou frigideira alta, que é a que gosto de usar, e misture bem. Desligue o fogo, termine adicionando o ovo cozido grosseiramente cortado por cima para finalizar o prato. Sirva com um bom azeite do lado, eu adoro regar bastante! Viu, não falei que era fácil!

Quanto ao vinho, recomendo um tinto não muito tânico e redondo, mas harmonize CAM00017como queira, afinal se há 1001 maneiras de fazer bacalhau, há outras tantas para harmonizar. Eu, que não sei cozinhar sem vinho, já tinha aberto um que curto muito e que, lamentavelmente, por aqui não chega, é o Colomé Lote Especial Tannat de Salta comprado no produtor.  Apenas 1430 garrafas produzidas, 14 meses de barrica e imperceptíveis 14.9% de teor alcoólico, juro! Macio, frutos negros típicos da casta, algum tabaco, meio de boca extremamente rico e absolutamente sedutor, sedoso com um final de boca longo e muito saboroso não tendo passado por cima não! Certamente que não é a harmonização clássica, mas ficou muito bom!  Bem, por hoje é só, mas na semana ainda falaremos mais de gastronomia aqui no blog com a participação da Rejane, pois onde há boa comida há sempre a presença de vinho e vice-versa. Salute, kanimambo e seguimos nos encontrando por aqui.

O vinho faz da refeição uma ocasião, torna a mesa mais elegante e cada dia mais civilizado.” Andre Simon, comerciante e wine writer francês.”

Noite Mundial de Malbecs, The Day After!

        Noite de dia 17 de Abril, certamente a grande maioria dos aficionados pelos caldos de Baco tinham ontem uma taça de Malbec nas mãos. Em atos solitários, em confrarias, com a esposa ou amigos, em degustações, ontem foi dia de celebrar esta cepa e na Vino & Sapore levei adiante uma bela degustação de sete tintos e um espumante de malbec, todos argentinos. Presentes; Salta, Mendoza e San Juan. Não me estenderei muito sobre o tema nem sobre os vinhos, mas os mais diversos estilos foram contemplados e numa degustação às cegas o ganhador foi ………. Bem, primeiro a lista de participantes e um comentário especial sobre o espumante que entrou de última hora e surpreendeu, muito bom com grande equilibrio e bom corpo, o Alma Negra Rosé de Malbec Bru, talvez a maior surpresa da noite!

Vinhos Provados > DV Catena Malbec-Malbec, Bodega Riglos Quinto, Decero Malbec, Colomé Estate, AVE, Altos las Hormigas Terroir,Las Moras Black Label Malbec servidos na ordem da foto abaixo.

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Eis o resultado dos top 5 escolhidos pelos 12 felizes participantes do evento realizado às cegas e completado por um festival de empanadas argentinas:

  • 1º Lugar – Bodega Riglos Quinto Malbec
  • 2º Lugar – Las Moras Black Label Malbec ( o mais barato do painel)
  • 3º Lugar – DV Catena Malbec-Malbec
  • 4º Lugar – Colomé Estate Malbec
  • 5º Lugar – Decero Malbec

Uma observação; o Quinto foi degustado às cegas também, numa outra prova de 22 vinhos do mundo (Bordeauxs, Rhônes, Sicilia, Espanha, Portugal) de diversos preços tendo sido destaque do mesmo pois nesse dia havia vinhos bem caros na parada e ele levou o troféu! Salute, kanimambo e amanhã tem mais.

Finalmente – Os Vinhos de Colomé!

 JFC em Colomé    Demorou mas cheguei à segunda parte dessa epopeia que foi a visita a este lugar mágico. Já falei um pouco da vinícola, do local e dos vinhos Amalaya, porém hoje quero falar sobre os vinhos Colomé . As uvas vêm de vinhedos de três diferentes altitudes; 2300 (Calchaqui), 2700 (El Arenal) e 3100  (Payogasta – os vinhedos mais altos do mundo) e geram vinhos realmente surpreendentes, porém há também algo do vinhedo San Isidro situado a 1700 metros de altitude em Cafayate.

       Após visita ás instalações e ao incrível museu, fomos brindados por uma degustação muito especial em que quase todos seus vinhos passaram por nossas taças. Tecerei alguns breves comentários sobre estes vinhos, porém alguns deles me marcaram muito positivamente e esmo recomendando a todos, estes, a meu ver, são imperdíveis havendo a oportunidade!

Colomé Torrontés 2012 – divino exemplar de Torrontés, nariz sedutor e enorme equilíbrio de boca, fresco e amplo. As uvas são colhidas em duas etapas, uma mais cedo para garantir uma maior acidez e a segunda para uma maior complexidade de aromas e peso em boca. Um belo parceiro para as famosas empanadas salteñas e cozinhas especiadas como a Tailandesa e Mexicana. No Brasil por cerca de R$52,00 é uma bela pedida!

Malbec Lote Especial 2010 – Na verdade são três, um de cada vinhedo; Cafayate – Calchaqui e El Arenal, todos com 10 meses de barrica ½ a ½ francesas e americanas.  Foi da opinião de todos presentes que o de San Isidro é mais sedutor em tudo, tanto no olfato como no palato. Todos muito bons, porém o equilíbrio encontrado no San Isidro faz toda a diferença, um vinho delicioso que terei que encomendar já que por aqui não tem e eu esqueci, vejam só, de trazer umas duas ou três garrafas!.

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Colomé Estate Malbec 2010 – leva 85% de Malbec de El Arenal, porém os restantes 15% tem um pouco de tannat, Syrah e Petit Verdot c 20% do vinho passando por barricas francesas de 1º uso e o restante de segundo uso. Um belo vinho, muito marcante com personalidade própria, ótima textura, bom corpo mas repleto de finesse. Na linha de seus vinhos considerados top, me pareceu o de melhor relação qualidade x preço x prazer. Custa por aqui em terras brasilis, algo ao redor de R$98,00 e vale!

Autentico Malbec 2011 – Sem passagem por madeira, advindo de cepas oriundas dos vinhedos mais antigos (1854) e clones destes, consequentemente, caro e de baixa produção! Vinho para guarda devendo estar pronto daqui a três ou quatro anos, bebê-lo agora é puro infanticídio.

Colomé Reserva Malbec 2009 – Só 7000 garrafas produzidas, 90% malbec e o restante um tempero de Syrah e Petit Verdot. Potente, denso, untuoso, 24 meses de barricas novas francesas, boca quente com toques mentolados. Vinho para guardar e beber com calma, está muito novo ainda, porém demonstra muita complexidade e  capacidade de evolução. R$ 270 por aqui.

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Lote Especial Sauvignon Blanc – ao estilo neo zelandês , nariz de muito boa intensidade, fresco e equilibrado. Me surpreendeu!

Lote Especial Tannat 2010 – apenas 1430 garrafas produzidas, 14 meses de barrica e 14.9% de teor alcoólico. O DSC03397Vinho! Trouxe uma garrafa para cá (aqui no Brasil não há) e todos adoraram. Álcool perfeitamente enquadrado e imperceptível, macio, frutos negros, algum tabaco, extremamente rico e absolutamente sedutor. Meu primeiro contato com os tannats de Salta que posteriormente tiveram sua qualidade confirmada por rótulos provados de outros produtores. OJO na Tannat de Salta!

Syrah Lote Especial – não tem a mesma pegada do tannat, álcool mais aparente e algo disperso. Correto, mas não deixa marcas!

DSC03390Colomé Lote Especial Misterioso branco – um field blend em que até agora foram identificadas cinco cepas; chardonnay/semillon/sauvignon blanc/riesling e torrontés porém há mais! Complexo, muito aromático e vibrante na boca, delicioso, uma pena que só tem por lá. Produção de somente 1600 garrafas e as duas que trouxe já foram! Sniff….

       Uma das coisas que mais me surpreenderam nos vinhos foi o álcool bem integrado e moderado mostrando enorme elegância. Essa coisa de vinhos muito potentes, álcool desacerbado e de grande extração mostra ser muito mais a marca de um produtor da região, do que uma marca de Salta como somos erroneamente levados a crer, conforme pude sentir e comprovar nas visitas subsequentes realizadas. Enfim, hora de partir e a certeza de que este lugar vai deixar saudades. Alguns de seus vinhos estão no Brasil, ótimo, mas voltar aqui vai ser um projeto de médio prazo e, quem sabe, porquê não com um pequeno grupo?

Colomé, Um Oásis no Meio do Deserto

       Chegar em Colomé já é por si só uma odisseia! Vilarejo de cerca de 700 habitantes espalhados por pequenas casas de terracota (com aquecimento solar), fica situada no vale de Calchaqui a cerca de  250kms e cinco horas de carro (melhor SUV) da cidade de Salta no norte da Argentina.  Boa parte da estrada é asfaltada, mas os últimos 80kms são de estrada de areia de uma pista só (boa parte) subindo a mais de 3450 metros de altitude (Piedra del Molino) para depois chegar a cerca de 2300 metros após passar por um altiplano com uma reta de 10kms cercada de cactos por todos os lados e um paredão que cresce no horizonte.

Caminho de Colomé

        Não é um passeio para quem não tenha um mínimo de espirito de aventura! A região é linda, agreste, rios secos atravessam a estrada e a cidadezinha (que separa o asfalto da areia) de Cachi é uma graça com sua praça central em estilo colonial espanhol onde nos salta aos olhos a limpeza do local. De repente chegamos á Bodega, um espetáculo á parte pois aqui, entre o cinza/bege da areia, aparece o verde das vinhedos e alfazemas em flor, um verdadeiro oásis no meio do deserto.

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       A estância cheia de história circunda a primeira bodega argentina datada de 1831, repleta de obras de arte espalhadas pelos mais diversos cômodos (outra das paixões de Donald Hess proprietário da vinícola), decoração lindíssima, árvores centenárias, jardins delicados e algo minimalistas é um lugar que a vinícola hoje somente usa para receber convidados e mostra um certo toque místico comprovado pelo Buda que nos recebe logo no primeiro pátio. Acreditem ou não, no meio do vinhedo experimental e próximo à bodega, um museu construído para mostra das obras de um só artista, é o James Turrel Museum, uma experiência sensorial única!  O lugar em si, mesmo que não tivesse vinho, já valeria as longas horas da viagem, com vinho então……! Sou, decididamente, um privilegiado e não podería ter melhor forma de iniciar este tour pelos diversos terroirs argentinos, mas tinha mais ………….tinha vinho e do bom!

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       A sala de jantar que nos recebeu para a primeira parte de nossa degustação é por si só, já uma obra de arte que nos seduz por completo ao entrar. Acompanhando um jantar delicioso que pouparei os amigos dos detalhes, provamos a linha de vinhos Amalaya (á espera de um milagre) que vem de vinhedos mais próximo a Cafayate a capital do vinho em Salta.

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Amalaya Branco – Este já conhecia e me agrada sobremaneira pois o Riesling adicionado ao Torrontés, transfere um frescor delicioso a este vinho.

Amalaya Rosé –  de malbec que leva uma pequena parte de Torrontés possui uma cor lindíssima e convidativa. O Torrontés dá um toque diferenciado a este vinho que surpreendeu a todos por seu frescor e final seco de boa persistência. Uma pena que o importador não traz este vinho para o Brasil.

Amalya tinto – sempre muito bom e consistente ano após ano, um velho e conhecido parceiro de taça. Redondo, saboroso, untuoso, taninos sedosos e um final muito apetecível é daqueles vinhos pouco midiáticos mas que satisfaz e surpreende mais ainda em função do preço, por volta dos R$40 aqui no Brasil, o mesmo do branco.

Amalaya Gran Corte –um vinho que surpreendeu, mais um, por diversos motivos; teor alcoólico de 14% o que para um vinho argentino desta região é mais do que educado e muito bem integrado, preço no Brasil ao redor dos R$70,00 e muito fino. Blend de Malbec, Tannat e Cabernet Franc com 12 meses de passagem por barrica é um vinho guloso com notas tostadas e fruta madura em abundância. Taninos aveludados e macios, bom volume de boca e um final muito saboroso.

     Começamos assim nosso primeiro dia de viagem a Salta e certamente não o poderíamos fazer de forma mais saborosa e para tanto vale aqui a mão e atenção que nos dedicou Pedro Aquino sommelier nascido e criado na região que foi nosso anfitrião. Os vinhos da Bodega Amalaya primam pela bela relação Qualidade x Preço x Prazer o que bate em cheio com minha visão de nossa Vinosfera e, portanto, merecem minha recomendação. O lugar tem muito mais a mostrar e no dia seguinte muitos mais vinhos foram provados, mas isso é papo para outro dia e outro post.

Salute, kanimambo e nos vemos por aqui.

Ps. para dar zoom nas fotos clique duas vezes sobre elas.

 

 

 

 

Diversidade Argentina

           Nesta minha recente viagem exploratória pela vinosfera argentina, ficou mais claro que nunca, que esta não é só terra de Malbec e que, mesmo desta cepa, a diversidade impera só que está muito mal trabalhada tanto pelos produtores quanto pelos importadores. Queria compartilhar com os amigos leitores um pouco dessa experiência de diversidade e fui comprando ao longo da viagem alguns vinhos que ainda não estão disponíveis no Brasil e que agora disponibilizo numa degustação especial na noite de dia 20 de Dezembro, um dia antes do fim do mundo pois se acontecer vamos felizes (rs), para tão somente 12 pessoas lá na Vino & Sapore!

         Na última degustação do ano, pretendemos mostrar um pouco da diversidade da vinosfera argentina com oito diferentes vinhos entre cepas, vinificação e processos distintos entre si. São vinhos que me surpreenderam na viagem a Salta e Mendoza a convite da Wines of Argentina.

Diversidade Argentina

Trumpeter Rosé de Malbec Brut – os espumantes da Rutini, casa produtora da linha Trumpeter, não são trazidos ao Brasil, mas este rosé me impressionou muito positivamente e os incentivei a rever essa estratégia pois, se bem precificado, certamente seria um sucesso!

Colomé Lote Especial Misterioso – é uma família de rótulos de reduzida produção, em torno das 1500 garrafas cada, sendo que este vinho vem de um vinhedo antigo cultivado num estilo mais conhecido na região do Douro em Portugal, um Field Blend. Os antigos plantavam as uvas todas juntas por segurança e estes vinhedos velhos por vezes têm uvas não identificadas, porém geram vinhos de grande qualidade. Este branco advém de um Field Blend antigo em que pelo menos cinco das cepas foram já identificadas – Chardonnay, Torrontés, Sauvignon Blanc, Semillon e Riesling.

Colomé Lote Especial Tannat – a Tannat de Salta me surpreendeu por sua complexidade e elegância, perfil aromático sedutor, taninos domados e bem integrados com um final de boca longo e saboroso. Este exemplar me deixou especialmente satisfeito e espero que achem o mesmo. Somente 1400 garrafas produzidas de vinhedo a 2300 metros de altitude, um dos mais altos do mundo.

Tacuil RD Corte – Raul Davalos é um nome meio místico na região de Colomé, ele que foi um dos desbravadores e pioneiros na região. Sua bodega  de nome Tacuil, está situada a cerca de 2600 metros de altitude e seus vinhos, que são de guarda porém não têm passagem por barrica, Raul é inimigo dessa prática, envelhecendo seus vinhos em tanques de cimento. Este vinho, corte de Malbec e Cabernet, é um vinho encorpado, viril, que necessita de aeração para que mostre todo seu potencial, um vinho diferenciado a que Parker deu 92 pontos na safra de 2010.

La Celia Heritage Cabernet Franc  – a La Celia, agora pertencente ao grupo San Pedro chileno, é pioneira no Vale do Uco em Mendoza no cultivo da Cabernet Franc com vinhos muito interessantes. Tive oportunidade de provar o ótimo Pioneer seu mais novo lançamento ainda não presente no Brasil, porém não o encontrei então trouxe um rótulo num patamar acima, a linha Heritage. Esta uva está produzindo vinhos muito interessantes na região que me seduziram e mostram claramente que há muito mais além da Malbec por aquelas bandas.

Quieto Reserva 2010 – vinho ainda por engarrafar e com rótulo provisório de uma das mais excitantes bodegas provadas nesta rápida viagem, a Montequieto. Me entusiasmei com o que vi, escutei e provei (por sinal a safra de 2011 ainda em tanques está divino!). Um blend de Cabernet Franc (olha ela de novo), Malbec e Syrah muito bem elaborado por um jovem enólogo muito criativo, o Fernando Sota. Uma mostra de que os blends deste país produtor estão alcançando parâmetros de qualidade muito bons e devem ser encarados com mais seriedade.

De Angeles 2008 Gran Malbec – uma mostra de uma linha mais tradicional argentina com bastante potência, denso, escuro e firme com madeira bem integrada mostrando a tipicidade dos vinhos com a mão de Michel Rolland. Um vinho num estilo mais tradicionalmente conhecido dos brasileiros, bem feito e marcante.

Achaval Ferrer Dolce – um vinho doce, colheita tardia de Malbec, que acompanhou muito bem pedaços de chocolate com amêndoas, o que faremos aqui também, nos surpreendendo a todos. Vinho que sequer consta do site da importadora, pequenas quantidades e muito sedutor vendido em algumas poucas lojas como a Lo de Joaquin Alberdi em Palermo Soho com link aqui do lado em “lojas”

        Para acompanhar os vinhos serviremos em parceria com a Cachaçaria Água Doce Sabores do Brasil, nossos amigos e vizinhos; Iscas de Tilápia, Bolinhos de Carne de Sol, Empanadas de Carne (estas são da Caminito) e finalizaremos com um escondidinho de Carne de Sol e chocolate Florentine da Heidi ou um panetonde Loison Grand Cacau, na hora vemos! Tudo isso por apenas R$100 por pessoa e na compra de qualquer vinho da loja nessa noite tão somente, um desconto especial de 7%!

       Começa ás 20 horas e reservas deverão ser feitas via o e-mail comercial@vinoesapore.com.br ou então ligue para o telefone (11) 4612-6343 entre as 11 e 20 horas para maiores informações. Salute, kanimambo e espero vê-los por lá!

Desafio Torrontés

        Para o primeiro Desafio de Vinhos, que aconteceu na semana passada na Portal dos Vinhos contando com a presença de 8 amigos, escolhi os vinhos brancos elaborados com a uva Torrontés que está para os brancos como a Malbec para os tintos em terras argentinas. A banca de degustação foi composta de; dois outros blogueiros amigos o Alexandre do Diário de Baco e o Cristiano do Vivendo Vinhos, o Emilio proprietário da casa e profundo conhecedor, 4 enófilos leitores amigos do blog (Evandro Silva, José Roberto Pedreira, Fabio Gimenes e Dr. Luiz Fernando Leite de Barros) e euzinho aqui. Participaram do evento 9 rótulos de 7 diferentes importadoras, todos argentinos à exceção de um que era uruguaio. Enormes surpresas, algumas decepções e incrível como uma degustação às cegas pode contribuir para resultados inesperados.

Em um encontro descontraído, provamos os seguintes vinhos; Lorca Fantasia 06 de Mauricio Lorca (Ana Import), Crios 08 (Cantu/Br Bebidas), Alta Vista Premium 07 (Épice/Casa Palla), Santa Julia 07 (Expand), Alamos 07 (Mistral), La Linda 07 (Decanter) Don David 07 (Bruck/Portal dos Vinhos), Pisano Cisplatino 07 (Mistral) o único do Uruguai e o Colomé 06 (Decanter). Todos deram notas de degustação seguindo planilha básica e costumeira para este efeito, analisando-se os quatro parâmetros padrão; Visual, Olfativo, Gustativo e Final em que se determina o nível de equilíbrio e persistência em boca assim como o “conjunto da obra”. A soma de pontos dados por cada um foi somada e dividida pelo numero de membros da banca, apurando-se assim a média aritmética das notas, razão pela qual chegamos em notas fracionadas. Para efeitos comparativos, acho interessante, e sempre que disponíveis, relaciono n.os resultados as notas obtidas por estes vinhos na midia especializada tanto nacional como internacional.

Agora falemos dos vinhos, na ordem em que foram provados, que é o que interessa e razão pela qual você entrou neste post. Os comentários são uma composição das observações encontradas nas fichas de degustação tendo as garrafas sido cobertas por papel alumínio, numeradas e colocadas em baldes de gelo sendo servidas em torno de 7 para 9º.

 

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Alamos Torrontés 2007, produzido por Catena Zapata na região de Mendoza, importado pela Mistral com 87 pontos na Wine Spectator. Sem nenhuma passagem por barrica com boa tipicidade da cepa, mostrando um floral muito presente no nariz com algumas nuances de frutas tropicais. Na boca é suave fresco, equilibrado em seus parcos 13% de teor alcoólico, não muito comuns neste vinhos, com agradável final de boca com leve amargor que não chega a incomodar. Preço por volta de R$38,00 e nota média final obtida 80.43 pontos.

Colomé 2007, produzido em vinhedos biodinâmicos de cerca de 90 anos de idade, na região de Salta pela Bodega Colomé entre 1700 a 2300 metros de altitude, importado pela Decanter. Obteve 88 pontos da Wine Spectator. Uma paleta olfativa muito interessante e de boa intensidade lembrando maça verde e algo de chiclete, tipo tutti-fruti. Na boca mostrou um certo desequilíbrio alcoólico (teor de 13.6%), seco, com um final de boca amargo faltando-lhe frescor. Preço ao redor de R$42,00 e nota média final 73.86 pontos.

Don David 2007, produzido pelo grupo El Esteco, mais conhecido por aqui como Michel Torino, na região de Cafayate/Salta a 1700 metros de altitude. Importadora Bruck, tendo o vinho sido gentilmente cedido pela Portal dos Vinhos. O diferente deste vinho é que 10% do lote fica por três meses em barricas “sur lie”, um dos poucos torrontés no mercado que possui alguma passagem por madeira, tendo Robert Parker lhe dado 90 pontos e a Wine Spectator 81. Possui um nariz mais tímido, porém sedutor em que desponta o floral típico e algo de frutas brancas com toques de baunilha . Entrada de boca impactante, seco de bom frescor com algumas notas cítricas e um final de boca algo doce. Preço ao redor de R$37,00 e nota média final 77.43 pontos.

Cisplatino 2008, produzido no Uruguai pela Pisano, um dos melhores produtores daquela terras, com teor de álcool de 13.5% e trazido pela Mistral. Obteve 17 pontos/20 de Jancis Robinson. Nariz de grande complexidade, intenso e algo mineral que vai se abrindo na taça quando aprecem nuances de abacaxi, casca de laranja. Untuoso na boca, ótima acidez, leve, fresco, um torrontés diferente com uma personalidade muito própria, o que mais mexeu com as sensações dos presentes gerando calorosos comentários. Daqueles vinhos que precisa de um tempo em taça para se mostrar e o faz bastante bem mostrando um final de boca agradável e de média persistência. Preço ao redor de R$34,00 e a nota média final foi de 81.57 pontos.

Santa Julia 2007, linha de entrada da Família Zuccardi região de Mendonça na Argentina, importado pela Expand e com 83 pontos da Wine Spectator. O vinho apresentou-se com um nariz de uma certa tipicidade com um floral bastante intenso e só. Na boca é muito leve, magro, bastante desiquilibrado, final curto, algo verde com amargor forte. Pelo que conheço dos vinhos deste produtor, apesar da garrafa não aparentar quaisquer problemas, ainda acredito que tivemos azar com esta garrafa. Um dos membros da banca (Cristiano) tinha tomado um havia pouco tempo e estranhou a própria nota dada não se conformando até hoje! rsrs Acho que este vinho merece uma outra chance, até porque os R$23 permitem facilmente uma nova prova, porém desta feita a nota média final foi de 65.43 pontos.

Lorca Fantasia 2006, o único com um pouco mais de idade, é trazido pela Ana Import (www.anaimport.com.br) sendo produzido na região de Mendoza pela Bodega Mauricio Lorca de vinhedos de elevada densidade, apresentando um teor alcoólico de 14%. O Nariz e de boa tipicidade abrindo-se na taça quando aparecem aromas que lembram pêssego e damasco. Na boca é seco, untuoso, macio, algo desiquilibrado faltando-lhe frescor, final um pouco curto  com um amargor bastante presente. Em fevereiro de 2008 em uma degustação na ABS-SP, recebeu 86 pontos. Acho que a idade deve estar pesando. Preço em torno de R$36,00 e nota média final 71.29 pontos.

Crios 2008, um produto produzido nas Bodegas Domínio Del Plata na maestrina Suzana Balbo na região de Cafayate/Salta a 1760 metros de altitude, com 13.8% de teor alcoólico e importado pela Cantu. Paleta olfativa intensa e muito sedutora em que aparece maçã verde com nuances de algo químico. Balanceado, bastante cítrico, ótima acidez o que o deixa muito fresco e apeticível na boca que faz com que acabe rapidamente na taça. Final saboroso, vibrante e de muito boa persistência lembrando casca de laranja. O da safra de 2006 recebeu 84 pontos da Wine Spectator e ganhou medalha de ouro no último Argentina Wine Awards. O preço no mercado anda à volta de R$45,00, tendo recebido uma nota média final de 84.57 pontos.

Alta Vista Premium 07, mais um vinho da região de Cafayate/Salta trazido pela Épice e gentilmente cedido pela Casa Palla (Tel. (11) 4612-9402  e-mail casapalla@casapalla.com.br) para esta degustação. Possui 87 pontos na Wine Enthusiast e um teor de álcool de 14.5%. Bem claro, de aromas florais com algo de lichia e um jasmim desabrochando depois de um tempo em taça, na boca é macio e bem equilibrado, apesar do alto teor de álcool, agradável , bastante rico em sabores, fresco e vivo, final de boca de boa persistência e algo cítrica. Com preço em torno de R$50 teve uma nota média final de 81 pontos.

La Linda 2007, produzido pela Luigi Bosca na região de Cafayate/Salta é importado pela Decanter, possui 14.7% de teor alcoólico e passa 3 meses sur lie antes de engarrafar. Tem uma paleta olfativa muito intensa, mas delicada com algo que lembra flores do campo como lavanda, algo de rosas. Na boca fruta confeitada, seco, forte amargor, o álcool se mostra bem presente, mesmo variando a temperatura, o que desequilibra o conjunto. Na boca não cumpre as promessas do nariz, termina com uma persistência média e algo doce.  Preço em torno de R$35 e nota média final 70,56 pontos.

O podium fica então composto de: Crios 08, que ganhou este desafio, seguido do Alta Vista Premium, Cisplatino, Alamos e Don David.  Grato aos que participaram deste primeiro encontro, que serviu de aprendizado e preparação para os próximos a serem realizados, assim como a todos que cederam os vinhos para degustação devidamente sinalizados abaixo com o link para seu site. Lembrando, ser o ganhador do Desafio não necessariamente quer dizer que esse vinho seja melhor que todos os outros e sim a confirmação de que, nessa noite especifica; esse vinho, dessa garrafa caiu mais no agrado dos participantes de Desafio. Como um experiente atleta pode perder um jogo ou uma competição num dia e ganhar em outro, estar bem num dia e mal no outro, assim são os vinhos e nossa vinosfera.

Existem muitos outras dezenas de rótulos no mercado, impossível conhecer a todos, mas estes foram os rótulos que mais me tinham chamado a atenção. Uma avaliação importante resultante desta prova, e de alguns outros Torrontés tomados ao longo dos tempos, é que quanto mais jovens forem tomados melhor. Pela pesquisa que fiz e pelos vinhos que tenho provado, aparentemente esta cepa não envelhece bem, sendo recomendado seu consumo em até dois anos, até por uma margem de segurança. Então, compre e consuma com esta dica em mente

Salute e kanimambo