Começando a prestar atenção no mundo do vinho, então você deve estar repleto de perguntas. Pois bem, não se sinta só, pois duvidas é que não faltarão nessa fantástica viagem pelos caldos de Baco e nunca cessarão. Eu sigo tendo um monte e quanto mais leio, estudo e provo, mais vejo o quão imensa é nossa vinosfera e quão pouco a conhecemos. Há gente que acha e se apresenta como se tudo soubesse, desconfie. Há tanta coisa a aprender neste mundo que nunca paramos de o fazer e isso não é só no mundo do vinho não!
Tudo em nossa terra brasilis está pela hora da morte e o vinho, que embute algo entre 52 a 58% de impostos, não é diferente então é importante tomar alguns cuidados na compra para não levar para casa gato por lebre.Mais ainda numa época de crise e inflação em alta, há que se cuidar de nosso rico dinheirinho, então eis algumas dicas para você ter em mente na hora da próxima “aventura” pelos caminhos de Baco!
1 – A uva no vinho. Varietal, uma obsessão do novo mundo que a maior parte de nós apreciadores de vinho pratica ou já praticou. Os produtores e a crítica se esforçaram muito para isso sem explicar o que realmente é, mas de qualquer forma é uma escolha mais sensata para começar mesmo que dois Cabernets do mesmo país e região produtora não sejam exatamente iguais, muito pelo contrário. Será que aquele Cabernet, Malbec ou Carmenére que você tanto gosta realmente é elaborado com 100% dessa uva? Você sabe o que está bebendo? Pessoalmente tenho uma queda pelos blends,prefiro sempre o conjunto da obra, porém o que poucos sabem é que muito desses varietais realmente são blends, leia mais aqui.
2 – Comprando Pontos? Pontuações nos vinhos são indicações ou tendências de qualidade e não devem servir de única base para sua escolha, tão pouco serem tomadas como conceitos de absoluta qualidade. Esse é mais um equívoco que muitos praticamos com maior ou menor parcimônia e por isso adoro colocar rótulos em provas às cegas, ajuda a desmistificar essa prática até porque alta pontuação num vinho não quer dizer que ele agradará seu palato da forma como o fez a quem pontuou. Veja como são dados os pontos, medalhas e troféus e cuidado com as chamadas dos marqueteiros de plantão para os ditos “melhores do mundo”, coisa inexistente! Existem um monte de rótulos de muita qualidade sem qualquer pontuação e outros altamente pontuados que nem sempre performam como esperado em nossas taças. Leia mais detalhes nestes posts Vinhos com Medalhas , o Valor das Notas e Notas no Vinho, Um Mal necessário?
3 – Idade, quanto mais velho melhor? – Ledo engano e uma das maiores falácias de nossa vinosfera que provoca muitos erros na hora da compra. Existem vinhos feitos para serem tomados jovens, a grande maioria, e outros para guardar ou deixar para serem tomados com mais idade e mesmo estes com capacidade de guarda é importante saber onde e em que condições foram guardados. Não compre vinhos antigos (mais de cinco anos) sem saber de seu histórico de vida. Já vi gente gastando uma nota preta numa “liquidação” e comprando vinho decrépito e sem vida. Um Beaujolais Noveau em 1 ano virou Beaujolais Velheau, cuidado. Evite vinhos brancos muito amarelados a não ser que sejam sugestão de alguém de confiança que garanta o produto (alguns são assim mesmo) e vinhos tintos amarronzados com excessiva evolução, podem ser ótimos porém se não os conhecer, evite! Leia mais aqui em Tempos de Guarda.
4 – Cuidado com excesso de desconto! As margens do mundo comercial dos vinhos não são grandes e o maior porcentual (cerca de 57%) fica com o governo que não dá desconto para ninguém! Grandes descontos podem ser encontrados quando o comerciante muda de portfolio para renovar estoque com novidades, mas fora isso é importante ficar de olho. Sempre compre uma garrafa e prove antes de comprar caixa, não se deixe levar pela “oportunidade” que pode ser um tiro no pé! Compare preço final e não desconto lembrando-se do velho ditado de que “quando a esmola é demais o santo desconfia”. Não deixe de aproveitar, porém sempre com um pé atrás e sem se deixar levar pela emoção!!
5 – Só vinhos caros são bons. Mais uma falácia que o mercado e os maus vendedores tentam repassar para o apreciador do vinho. Vinhos bons são caros sim, mas o inverso não é verdadeiro e existem vinhos bons em todas as faixas de preço. Tem muito vinho caro por aí que carece de qualidade ou, pelo menos, não vale o que custa então pesquisar é essencial! Compre vinhos não só que possa pagar, estejam dentro de seu orçamento, porém mais importante é comprar dentro de seu estágio de desenvolvimento enófilo. Se você está na fase dos Reservados, não adianta sair queimando uma nota num “Brunelão” que provavelmente você não irá apreciar. Comece pelos vinhos mais paliativos ao bolso e vá “crescendo” gradativamente dando chance ao seu palato para apreciar alguns grandes néctares. Já vi gente torrando os tubos em grandes vinhos e reclamando depois que não eram tudo isso quando em boa parte das vezes lhes faltava “litragem” para poder apreciar a complexidade daquela taça. Tudo a seu devido tempo, não dá para tirar a carta num dia e no seguinte entrar numa Ferrari a 200 por hora, a probabilidade de se dar mal será imensa!
6 – Cuidado com os termos Reservado, Reserva e Grande Reserva. Dependendo do país produtor isso não quer dizer nada, especialmente o tal do Reservado! Oriente-se, peça ajuda ao sommelier de plantão. Nesse sentido um comerciante especializado e honesto poderá ser de grande valia, encontre um de sua confiança especialmente quando estiver em busca de algo diferenciado. Nas lojas especializadas, que só vivem disso, sua chance de ser melhor atendido é bem maior.
7 – Infidelidade. Fidelidade é um valor importante social e comercialmente, mas furado na relação com o vinho. A infidelidade é essencial para o conhecimento do vinho e o enófilo que se preze; troque de uva, de país, de estilo, prove muito e de tudo, a única forma de se tornar um enófilo é investindo num saca-rolha! Tudo bem, tenha seus “portos seguros”, mas como já dizia o poeta, navegar é preciso e um bom timoneiro (comerciante/sommelier) de confiança é importante nessas horas.
8 – Avalie o local onde está comprando vinho. Vinhos ao sol, ambientes quentes, tudo isso ajuda a deteriorar os vinhos. Ainda no outro dia uma cliente me trouxe uma garrafa cara por sinal, de um Borgonha de 10 anos em estado decrépito. Ela achava que tinha comprado comigo e só depois viu o adesivo com o nome da loja, mas de qualquer forma o que mais impressionou foi o estado do vinho, parecia que tinha passado por uma estufa, cozinhou! Ambientes e vinhos bem tratados mostram cuidado e respeito para com estes caldos de Baco então, conheça seu fornecedor e a origem de seus vinhos! O cara que traz do Paraguai/Puerto Iguazu e outros que tais onde o vinho nem sempre permanece em locais climatizados (regiões quentes para dedéu) e sequer sabemos as condições em que foi para lá transportado, deve ser evitado. Sua “economia” pode ir para o saco ao abrir e aí já sabe, dançou mesmo porque não tem nem para quem reclamar depois!! Se for vinho de guarda então, mais cuidado ainda.
9 – Prove muito, pois isso vai facilitar sua vida na hora da compra e de alçar voos fora de sua zona de segurança. Participe de degustações, confrarias, etc., pois essa “litragem” lhe será útil na hora da escolha ao identificar um produtor ou origem que seja de seu agrado. Importante, registre o que mais gosta (Rótulo, uva, estilo, país de origem, região, preço e onde comprou) e aqueles do qual quer distância, porque também os há!
10 – Seja objetivo. Em uma loja, abra-se com o atendente sommelier ou proprietário. Fale quanto quer gastar, qual o estilo de vinho de que gosta (encorpado, leve, tânico, amadeirado, macio, elegante, etc), se for para acompanhar uma refeição, se for para presente, etc. Quanto mais informação você fornecer mais chance haverá de você se dar bem.
11 – Comprando Vinho Por caixa – Sempre de um fornecedor conhecido e confiável (cuidado com ofertas via internet e muito abaixo da média de preços) e de vinho que você já conheça.
Se tiver alguma dica a adicionar, por favor compartilhe conosco, envie seu comentário. Bem amigos em breve também darei algumas dicas sobre o serviço do vinho, porque alguns leitores e clientes têm me pedido isso. Para quem começa a se aprofundar nessa “viagem” pelos caminhos de nossa vinosfera, as perguntas vão surgindo aos montes e falo de experiência própria, então fico ao dispor dos amigos para ajudar no que estiver ao meu alcance. Saúde,kanimambo e espero poder atualizar o blog com maior frequência a partir desta semana inclusive com coisas da última viagem a Mendoza que seguem represadas!