Apesar da descrença de alguns para com este cronista dos vinhos quando o assunto é vinho brasileiro, deixemos, espero que pela última vez, claro de que meu problema é com o maledetto selo fiscal e quem nos enfiou goela abaixo essa aberração, não com os vinhos nacionais como um todo, até porque apoiar não significa dizer amém para tudo e todos a toda hora! Gosto que me pelo quando provo um vinho que me surpreenda, especialmente quando é brasileiro pois confirma o fato de que estamos evoluindo na elaboração de bons vinhos que, ás cegas e sem preconceitos, acabam ganhando, ou se posicionando muito parelhos com a concorrência externa em provas temáticas. Ainda temos um longo caminho a percorrer, inclusive para ganhar uma maior consistência, porém caminhamos a passos largos numa trajetória muito positiva do ponto de vista qualitativo, faltando-nos ainda, no entanto, desenvolver melhor os aspectos estratégicos e mercadológicos do mercado, mas isso é papo para outro post. Hoje quero falar de mais dois vinhos que provei recentemente, em meia garrafa, que me deixaram “saborosamente” feliz.
Hex Von Wein, (vinho da bruxa) – é nossa miscigenação cultural chegando à vinosfera tupiniquim na Picada Café, Rio Grande do Sul no caminho de Gramado. Onde mais, um vinho poderia ter suas uvas plantadas por uma família de origem italiana, vinificado por um alemão e comercializado por uma cooperativa de produtos naturais?! O Claudio Werneck, amigo blogueiro dos bons que junto com sua parceira Rafaela produzem o delicioso Le Vin au Blog no Rio de Janeiro, é que nos traz esta novidade que alguns outros amigos já provaram. O pessoal de lá devia te dar uma medalha Claudio e valeu, muito, por este agradável e surpreendente presente que degustei neste último Sábado na loja com alguns clientes. Sua peculiaridade começa pelo fato de que sua pequeníssima produção é orgânica e vendida majoritariamente em lojas do setor, não em adegas e lojas especializadas em vinho como a maioria. Vejam o que eles dizem sobre suas uvas; “As parreiras da Hex baseiam-se na BIODIVERSIDADE, ou seja, a eliminação da monocultura e cultivo de várias espécies no mesmo habitat. Em resumo, na nossa produção voltamos aos antigos modelos de produção agrícola, equilibrando o meio ambiente naturalmente e amenizando as mudanças no sistema biológico. Assim, o solo produz uma fruta mais autêntica, particular, caracterizando o produto de acordo com a região e expressando o real terroir. Quando o solo recebe quimicamente os nutrientes que lhe faltam, até chegar ao ponto ideal de produção, ocorre a massificação da variedade, ou seja, qualquer lugar do mundo o produto tem as mesmas características. Já nossas uvas estão em total harmonia com a natureza”.
Sua filosofia:
“Mas ao fim e ao cabo, nada mais inteligente que comermos e bebermos menos e melhor, contemplando vinhos mais autênticos e expressivos, inspirados em velhos valores de felicidade e bem-estar e orientados pelo respeito ao elo entre a natureza e o homem. Dedicatória a meu Mestre Schleicher R. (Germany), o qual me ensinou a fazer bons vinhos, com lucro se possível, com prejuízo se necessário, mas sempre bons vinhos. Herzlichen Dank. “A qualidade nunca é alcançada por acaso; é sempre o resultado de um grande esforço “.
A esta altura espero já ter captado sua atenção. O vinho da bruxa, ou da sogra como eu lhe apelidei (rs) , tem a ver com o fato de que estas eram sábias amantes da natureza e seus segredos. Pois bem, parece-me que aqui temos um bruxo da biodinâmica pois o Ricardo Fritsch balançou meu barco com este Cabernet Sauvignon 2007! Para quem gosta, como eu, de vinhos antigos com aromas e sabores de “vinho velho” certamente saberá ao que me refiro. São sempre vinhos que mechem muito com nossos sentidos e este possui estas características Corpo médio de boa textura, acidez no ponto, taninos suaves, sabores algo terrosos, rico, fruta presente de forma sutil e harmoniosa, muito equilibrado com um final de média persistência algo mineral que nos traz de volta à taça para curtir aromas diferenciados e sedutores. Quem me lê e vê minha empolgação pode até pensar que se trata de um grande vinho. Não é, nem pretende ser, cumprindo sim o papel que o Ricardo determinou; vinho bom e autentico que reproduz a essência do terroir através de manuseio o mais natural possível. É sim algo diferente, saindo da mesmice, sedutor e prazeroso para quem aprecia o estilo, outros talvez não o entendam ou gostem dele pois gosto é puramente subjetivo, mostrando a diversidade que podemos encontrar em nossa vinosfera, inclusive a nossa tupiniquim, sem ter que cair em receitas já batidas que pouco ou nada têm para nos surpreender. Para quem queira conhecer mais, faça uma viagem pelo site deles clicando aqui. Lá, você encontra um link para compras on-line e vi que o preço da garrafa de 750ml está na casa dos R$35,00. Vou ver se acho algumas, das pouquissímas garrafas produzidas, por aqui algures em São Paulo! Por enquanto, ainda tenho mais uma meia garrafa (da foto) para abrir com alguém, tipo eu, que curte estas surpresas, e acho que já sei quem será, mas depois comento.
Agora, o titulo fala de dois vinhos! Como optei por começar com o Hex von Wein e acabei me alongando demais na matéria – me empolguei com o vinho, o produtor e o conceito, o segundo vinho, um saboroso Reserva dos Pampas, corte de Cabernet com Merlot e uma boa dose de Tannat elaborado na região de Campanha Gaúcha pela Cordilheira de Santana ficará para o próximo post.
Salute, kanimambo pela visita e nos vemos .