Apesar de há décadas ter sido seduzido pelos mistérios e sabores dos caldos de Baco, faz somente cerca de oito anos que iniciei minhas escritas sobre a nossa vinosfera, uma forma de compartilhar com os amigos leitores os conhecimentos que ia adquirindo com essa experiência. O blog veio um pouco depois, há pouco mais de sete anos, e de lá para cá foram mais de 1.450 posts e, mais importante pois a interatividade me encanta, mas de 7.000 comentários. Tem sido uma viagem muito agradável e espero que os amigos leitores tenham apreciado esse período tanto quanto eu.
Não sou de ficar contando os vinhos provados anualmente, mas ao longo destes anos de maior convívio com o tema certamente mais de 4.000, muito vinho passou em minhas taças e com isso aprendi demais. Entre esses vinhos, alguns ganharam um destaque especial e neste mês de Junho vou compartilhá-los com você. Certamente tomei vinhos melhores, mas para ser destaque para mim há que surpreender de uma série de formas, então estes me marcaram e deixaram profundas marcas na memória independentemente de nome, origem ou preço. Começo pelo Brasil de onde selecionei uma meia dúzia de rótulos e hoje relembro este:
Minimus Anima 2005, vinho de Marco Danielle do projeto Tormentas. Tenho que confessar que quando o comprei movido por mera curiosidade, não tinha idéia do que me esperava. Se soubesse no momento da compra o que sei hoje, posso garantir que minha compra não se teria limitado a só uma garrafa deste doce néctar. Fazia tempo que não tomava um vinho que mexesse com minhas emoções como este mexeu e, ainda mais porque sei que desta safra não há mais e a de 2007 não tem a mesma composição de uvas. Não me lembro quanto paguei há época, creio que uns R$60 e se ainda o encontrasse a esse preço, algumas garrafas compraria, porém lamentavelmente para nós, esse está esgotado como aliás ocorre costumeiramente com as poucas garrafas de cada rótulo produzido por este artesão do vinho. Não é o vinho top do produtor, mas é um vinho surpreendente e apaixonante que me seduziu por completo tomei a garrafa todinha! Tá certo, foi de um dia para o outro e minha esposa deu uns dois ou três goles, mas foi só. Que vinho! Difícil ser muito objetivo ou tentar tecer análises mais técnicas, pois o vinho fez tudo aquilo que um vinho deve fazer com quem o toma, mexer com suas emoções e deixar um rastro de prazer no olfato, na boca e na memória. No nariz, foi abrindo devagar, mostrando aromas complexos de fruta madura, rosas e, talvez, algo de couro, mas foi na boca que ele efetivamente me seduziu. Bom volume, corpo médio, redondo com taninos muito finos e elegantes, grande riqueza de sabores e um final de boca algo herbáceo, extremamente prazeroso e longo. Um vinho diferente com uma personalidade muito própria, daqueles que acabam rápido e deixam uma eterna saudade. Este vinho tem algumas peculiaridades, entre elas o fato de ser elaborado com 70% de Cabernet Sauvignon colhida quase que em processo de passificação na safra de 2005 tendo sido cortado com Alicante Boushet da safra de 2006. Um vinho brasileiro diferenciado que merece um destaque especial e que provei em meados de 2009. Estou com uma garrafa do 2008 guardada na adega que reluto em abrir com medo de quebrar o encanto que foi essa experiência com o 2005, mas em breve tomarei coragem, até lá!
Salute, kanimambo e uma ótima semana para todos.