Atenção, este artigo não é recomendado para pessoas que não gostam de muito nome de vinho.
Tem um momento na vida que você quer porque quer porque quer saber a resposta da pergunta mais recorrente: Qual é o melhor vinho do mundo????
É fácil: o melhor vinho do mundo pra mostrar para os outros, é o mais caro à disposição do mercado e é também, o mais longevo – Lafite Rotschild 1787, que continua sendo vendido a caixas, pelo valor de US104260$00 a garrafa, pela Fine&Rare Wines de Londres. No seu bolso não cabe um troféu assim tão volumoso ou tão ancião? Fique então com o Romanée Conti 1945, no mercado a US33000$00 a garrafa, ambas as informações de acordo com o site http://www.wine-searcher.com/find
Começo descartando os concorrentes no quesito “vinho para sobremesa”. Não sei não, não gosto muito não, não conheço muito não, até porque não como muita sobremesa (tento não comer…). Mas se gostasse, se soubesse, apontaria – como todo leigo medianamente informado – para um Sauternes bordolês, o Chateau d’Yquem.
Não quero perder todo o espaço que o Falando de Vinhos me dá só para ficar falando de vinhos que não faço muita questão de conhecer em profundidade, até porque, qualquer late harvest brasileiro me satisfaz, no máximo um montbazillac comprado no Carrefour, um vinho feito a aproximadamente 60km de Sauternes, com as mesmas uvas do famoso brotirizado, mas a quilômetros de distância no preço de seu badalado vizinho. Mas bem sei que esta discussão vai longe, principalmente porque os vinhos do Porto, os Tokaï, os Vin de Paille, os Panteleria, os Riciotos vênetos, principalmente os de valpolicella, os Marsalas, os Madeiras e os vinhos de Jerez de La Frontera vão querer disputar a primazia no quesito (que aliás, invade cada vez mais entradas com patês e queijos gordurosos)!
O melhor de todos é o vinho mais bem feito, oriundo da terra mais apta a plantar suas uvas, com a insolação mais favorável, com o gradiente térmico mais extenso, com a sazonalidade pluviométrica mais de acordo com a cartilha, com as escolhas enológicas de maior precisão e cuidado? Qual é? Alguém é definitivo?
Pela experiência adquirida em séculos de produção, muitos produtores de regiões espalhadas pela Europa pretendem atender as especificações acima, a começar pelas mais óbvias como a Borgonha e Bordeaux, mas a continuar por Rioja, Rhone, Piemonte, Toscana, Douro, Ribera Del Duero, Vêneto etc. Já pelos conhecimentos mais modernos, caberiam nesta definição, dezenas de produtores do Novo Mundo, espalhados pela Califórnia, Austrália, Chile, Argentina, África do Sul e tantos outros locais de produção que se empenham para produzir o que há de melhor, incluindo entre estes – por que não? – alguns terroirs brasileiros.
Afinando então a conversa, dentre todos estes teriam os que se utilizam das técnicas mais bem sucedidas de guarda, onde o carvalho de primeiro uso impregna os vinhos que guarda, onde a guarda se estende até quando os taninos daquela determinada uva se amansam finalmente. Finalmente, estes usariam o que há de melhor para acondicionar o líquido, em matéria de tapo, garrafa e condições ideais de guarda e de transporte. Pois sendo assim o melhor de todos não é um, mas vários como, atestam os certificadores do mundo inteiro.
O Robert Parker, em julho de 2009, deu pontuação máxima – 100/100 – para mais de 100 vinhos, alguns dos quais em mais de uma safra. Significa que um não prevalece sobre o outro, pois pontuações iguais e máximas são absolutas. No entanto, mesmo assim, alguns são mais iguais que os outros! Tem produtor com mais de um produto, como o Domaine Romanée Conti, que entra com um seu La Tache, com o seu Montrachet, seu Richebourg e seu Romenée Conti com ao menos uma safra. E tem vinho que aparece com mais de uma safra, o que o torna superior aos outros, por mais que garrafa por garrafa eles se equivalham… Neste sentido, o campeão do Parker vai surpreender você, como surpreendeu a mim – o Côte Rotie La Moliné, que aparece com a nota máxima em oito edições, uma a mais que o Chateau Lafite, duas a mais que outro Côte Rotie, o La Landome.
Se o melhor vinho não é fácil de descobrir por estas avaliações, o melhor negociante do mundo, ainda de acordo com o Parker, é indiscutivelmente o Guigal, que arremata – além de outro Côte Rotie citado, o La Turque com quatro safras e o Hermitage Ex Voto, igualmente com quatro indicações. Portanto, tem na sua carteira de vinhos com 100 pontos 22 rótulos, um recorde importante o suficiente para ser citado no Guiness!
Ainda de acordo com o certificador americano, o melhor do vinho vem de Bordeaux, por contar com mais rótulos e mais safras premiadas, mas tem seus rivais muito próximos, a começar do Rhone, não somente pelos vinhos já citados, mas também por uma pá de Chateauneuf Du Pape e outros Ermitage, além de um Côte Rotie que não é vendido pelo Guigal. Mas o melhor vinho do mundo não é nenhum desses. Até porque estas pontuações não têm nada de consensuais, visto que muitos dos vinhos apontados pelo americano, não têm primazia em outros lugares e para outros certificadores. Como simples exercício, compare os melhores do Wine Spectator e do Gambero Rosso com estes daqui. Os mais premiados com a nota máxima e por mais safras dentre os italianos não aparecem no Parker, enquanto que os dois citados por ele feitos em solo italiano não tem tanto destaque, aparecem entre outros (Sassicaia e o Tua Rita, dois supertoscanos).
Portanto, é melhor eleger o que já tomei e que faz falta, o que quero sempre repetir, o que morro de vontade de conhecer, aquele que melhor combina com as coisas que eu gosto mais, porque vinho e comida para mim são itens indivisíveis, o que coloca em xeque metade dos itens que o Parker elegeu. O melhor Barolo que lembro ter tomado não foi nenhum dos mais conhecidos, foi o Stra, já citado em outros artigos, um vinho produzido nas divisas entre Barolo e La Mora, num hectare plantado por um pai, um filho e um neto, administrado por uma nora. Um vinho de US12$00, cuja safra não rende mais do que 8 mil garrafas, vendidas integralmente a gente como eu, que passei por lá. Mas não, o melhor foi aquele Amarone que tomei em Verona, acompanhando um panino de presunto cru de Oca, ou será foi aquele Gevrey Chambertin que tomei no segundo dia de visita a Borgonha?
Ai, caramba, nem falei nada dos brancos e dos rosados, excelentes por todos os países de tradição vitivinícola, a começar por Portugal com seus Alvarinhos, a terminar pelos Pouilly Fumé do Loire. Mas não dá pra continuar, o dono do Falando de Vinhos já falou pra encerrar. Sorry.
Mais um texto do amigo e colaborador, agora com participação quinzenal aos sábados, Breno Raigorodsky; 59, filósofo, publicitário, cronista, gourmet, juiz de vinho internacional e sommelier pela FISAR. Para acessar seus textos anteriores, clique em Crônicas do Breno, aqui do lado.