e eu estava lá! Sim, fiz parte de um pequeno e privilegiado grupo de pessoas convidado para participar do pré-lançamento, em grande estilo diga-se de passagem, deste produto que é único no Brasil. Fui expectador de um momento importante da história vitivinicola brasileira, “history in the making” diriam os ingleses, em que vieram á tona; a criatividade de Roberto Rabaschino que teve a idéia, de Wander Weege que “comprou “ a idéia e perseguiu o objetivo na sua Pericó, assim como a maestria de Jefferson Nunes o enólogo encarregado da elaboração muito bem sucedida deste primeiro e único “vinho do gelo” brasileiro.
No Canadá e Alemanha, onde este vinho já fez história e é objeto de cobiça dos amantes do vinho espalhados pelo mundo, as uvas usadas são essencialmente brancas porém neste caso usaram a Cabernet Sauvignon por ser a uva que com amadurecimento mais tardio nos vinhedos da vinícola capaz de persistir nas parreiras até a chegada das temperaturas negativas do inverno na altitude na região de São Joaquim. Vem daí a cor rosada, puxando para o âmbar, que aparece na deslumbrante taça da Strauss especialmente desenvolvida para acompanhar este vinho.
Baixíssimo rendimento de um cacho por broto, cerca de meio quilo de uva por planta, e um enorme problema, os pássaros que já com menos disponibilidade de comida em Junho, descobrem nas doces uvas maduras um verdadeiro pitéu! Por falar em doçura, estas uvas alcançaram 34 brix (340grs de açúcar por kg) atingindo 15% de teor alcoólico natural. Colhida congelada após a temperatura ideal de menos de seis graus negativos ter sido alcançada, exatos – 7,5°, em dois dias diferentes numa vigília diária entre os dias 4 e 22 de Junho de 2009, o pequeno volume de uvas chega à cantina onde as máquinas são cobertas por gelo para que o mosto obtido alcançasse a menor temperatura possível. A glória, quatro graus negativos!
Com um total de cerca de 13.400 kgs de uva que geraram aproximadamente 600 litros de mosto, estamos diante de um vinho surpreendente do qual somente 3.676 garrafas foram produzidas, algumas das quais tivemos o enorme prazer de degustar após um ano de passagem por barricas francesas novas. São 84grs de açúcar residual perfeitamente balanceados por uma acidez total de 6,73 que conferem a este vinho um tremendo equilíbrio. Em 2010 não tiveram colheita e só Deus sabe quando terão novamente pois a dependência das condições ideais climáticas é total e todos sabemos que a natureza anda se revoltando contra os maus tratos sofridos, então há que se tratar bem cada uma dessas poucas garrafas produzidas.
Não sou nenhum expert neste estilo de vinho e muito menos de Icewine, porém gosto de vinhos de sobremesa especialmente daqueles que conseguem esse equilíbrio tão delicado entre doçura e acidez. O Pericò Icewine tem esse predicado e mostra-se com uma cor linda, brilhante, límpido com nuances que fazem lembrar um Tawny Colheita 10 ou 20 anos, com aquele toque âmbar. Nos aromas é doce, sutil com um toque de licor de cereja inicial que evolui para algo mais complexo como figos secos, segundo alguns, e eu encontrei baunilha. Na boca é uma coisa! Muito rico, um equilíbrio perfeito do álcool, doçura e acidez extremamente bem integrados com um final de boca longo e persistente com notas amendoadas. Vibrante, sedutor, sem arestas, estamos diante de um vinho cativante, extremamente elegante e fino que deve ser tomado a uma temperatura em torno dos 10°.
Vem numa latinha linda, aliás todo o projeto gráfico é muito bem feito e de extremo bom gosto mostrando uma eficiência profissional nos mínimos detalhes, preta com imagens extraídas do quadro “Vindima na Neve” da artista Tereza Martorano também Catarinense, mas bem que poderia vir de fraque e cartola que lhe caberiam muito bem! Na apresentação, a descoberta dos chocolates Nugali de Pomerode, um projeto todo Catarinense, que elaboraram para este momento tão somente, uns bombons exclusivos que têm como ingrediente um pouco deste Icewine, DI-VI-NOS!
Já tenho preço para divulgar, mas com todos esses predicados e exclusividade, certamente não poderia ser barato. Esta pequena, delicada e linda garrafa com apenas 200ml, mais parecendo um perfume que uma garrafa de vinho, deverá estar nas prateleiras de algumas poucas lojas especializadas, em torno de R$280 a R$300,00 aqui em Sampa com toda a carga tributária em cima das “importações” de Santa Catarina. Caro? Sei lá, é único, é histórico, é exclusivo, é inovador e de quantidade limitada então me parece lógico que tenha que ser altamente valorizado, mas… Não o vejo como um produto de massas e sim como um objeto de desejo e curiosidade hedonista para os amantes dos doces néctares, algo diferente para aquele que já tem tudo, só não tem um Icewine brasileiro e, ainda por cima, de grande qualidade. Na vida tudo é relativo, preço também, então …….., sei lá. Desta feita não faço juizo de preço, mas acho que se estivesse em torno dos R$200 seria mais aceitável. De qualquer forma, o mercado será o julgador final desse quesito.
Eu tenho uma garrafa e penso em adquirir mais uma. Tomo uma, dia 1 de Janeiro para que o ano se inicie doce e assim perdure, e a outra guardo, é história! Segue imagem do vinhedo a 7,5° abaixo de zero, lindissíma e idílica paisagem.
Salute e kanimambo. I’m Back!