Momento 1 – A principio, um vinho de bom impacto olfativo com boa fruta madura, especiarias e um certo toque balsâmico, bastante convidativo. Uma entrada de boca muito elegante, sedutora e delicada que desandou daí para a frente ao me travar a boca com sua potência de taninos ainda muito agressivos, álcool ainda muito presente (15%) mostrando-se algo rústico mesmo após uma meia hora de decanter. Certamente muito over para o bacalhau que tinha sido escolhido para sua companhia. Encostei o vinho e recorri a outra garrafa (outra estória para um outro dia), um ótimo branco encorpado que mesmo com seus 14% de teor alcoólico, na temperatura certa deu conta do recado. Cerca de uma hora e meia depois, voltei ao Garrrafeira que já se apresentava melhor porém ainda “pegando” um pouco. Retornei o vinho para a garrafa usando um funil com filtro e, impressionante, a lateral do decanter (como a garrafa) era só borra! Garrafa devidamente fechada com vacu-vin e de volta para a adega.
Momento 2 – Almoço do dia seguinte, Ravioli recheado de mussarela de búfala e manjericão, molho de tomate e pernil assado. Tinha previsto um Chianti Clássico, mas me lembrei do Garrafeira já aberto que não poderia, de forma alguma, ser deperdiçado. Tirei-o da adega e voltei com ele mais uma hora e meia de decanter sobre prato com gelo para manter-lhe a temperatura. Mamma-mia, que chianti que nada!!! O vinho, finalmente, encontrara seu equilíbrio. Estava todo lá como o dia anterior, o olfato de fruta madura e especiarias, porém agora com um pouco de baunilha e nuances defumadas mostrando sutilmente as nuances de barrica e algumas notas florais provávelmente advindas de um bom porcentual de Touriga Nacional no corte. Na boca a mesma delicadeza e riqueza sem a agressividade do dia anterior que possibilitou desvendar algumas qualidades adicionais. Untuoso, denso, encorpado, taninos sedosos, ótima acidez e um mineral de final de boca longo que chama comida e compatibilizou maravilhosamente bem com o almoço. Bão demais da conta sô e uma pena que só tinha uma garrafa porque terminou rápido demais.
Conclusão, um baita vinho de grande qualidade que me foi sugerido pelo Miguel da Garrafeira Nacional em minha visita de Abril passado a quem agradeço a indicação, mostrando que nem tudo o que começa mal assim acaba! Por um preço bem camarada, por volta dos 13 euros lá porque por aqui ainda não chegou, é uma grande opção de compra para quem quiser um vinho de guarda e não queira gastar muito. Um vinho de grande estrutura que pode ser tomado já, com paciência e trato como fiz acima, mas que deve evoluir maravilhosamente por mais três ou quatro anos antes de atingir seu apogeu. Agora fiquei curioso por provar o Touriga Nacional deles do qual terei que fazer uma encomenda a algum amigo que esteja por viajar a terras Lusas! Alguma boa alma se candidata?! (rs)
Salute, felizes festas e kanimambo.